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Portugal: o modelo de welfare da Europa do Sul

Capítulo II- Estado Providência e Políticas Sociais em Portugal

1.3 Portugal: o modelo de welfare da Europa do Sul

A chamada Europa do Sul é uma realidade marcada essencialmente por fatores sociopolíticos e não geográficos. Desta Europa do Sul fazem parte países como a Espanha, Grécia, Itália e Portugal. Sendo Espanha, Itália e Portugal países católicos onde a Igreja Católica e o Estado estavam intimamente ligados, o que resultaria em dois acontecimentos: “um atraso no processo de secularização e um principio da subsidiariedade na produção do bem – estar, que é particularmente intenso mesmo quando comparado com outros países “corporativos””. (Adão e Silva,2002:34)

No entanto outros factores ajudaram estes países a serem classificados como Europa do Sul, como a introdução do Estado- Providência nos seus países. Estes foram lançados tardiamente, num contexto económico recessivo prejudicando o desenvolvimento das instituições. Com a mesma linha de raciocínio, Rodrigues (2006) afirma que os Estados- Providência dos países da Europa do Sul foram os últimos a serem desenvolvidos no contexto europeu. Tendo isto em conta, compreende-se a razão pela qual estes não assistiram a tempos alargados de prosperidade. “Com efeito, o seu surgimento deu-se num contexto de elevados índices de desemprego, principalmente de desemprego de longa duração, marcado por baixas qualificações, elevadas taxas de analfabetismo e o envelhecimento demográfico, este último a um ritmo mais rápido do que na restante Europa.” (Rodrigues,2006:86)

Malefakis (in Adão e Silva, 2002) afirma que estes países desenvolveram –se recentemente, podendo verificar dois factos: amplo processo da modernização e consolidação de regimes democráticos. Mas o que acontece é que estes processos surgiram mais tarde do que nos países da Europa do Norte e por isso não tiveram a hegemonia suficiente para substituir na totalidade as estruturas pré-existentes. “ O resultado deste processo foi o crescimento de sociedades semelhantes às dos países industrializados, mas ligadas a uma estrutura reprodutiva típica dos países periféricos e caracterizada por uma marcada heterogeneidade social.” (Sapelli cit in Adão e Silva,2002:37)

Castles, Katrougalos e Esping- Andersen (in Adão e Silva, 2002) referem-nos que os países da Europa do Sul são considerados versões pouco desenvolvidas do modelo “ corporativo”.

De acordo com Rodrigues (2006) este modelo de Europa do Sul aglomera debilidades estruturais, constrangimentos económicos e que não possui uma orientação politica clara.

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Segundo Ferrera (1999), as características do modelo da Europa do Sul podem sintetizar-se da seguinte forma:

 Elevada relevância das remunerações de transferência e da polarização interna dos sistemas de manutenção de rendimentos da Europa meridional;

 Desequilíbrio da proteção social pelos escalões de riscos padronizados;

 Sistema de saúde universal e público;

 Persistência do particularismo institucional e formação das chamadas máquinas de proteção para distribuição de subsídios monetários;

 Grande desequilíbrio na distribuição dos custos pelos grupos ocupacionais;

 Elevada ocorrência de economia paralela;

Segundo Rodrigues (2006) no que diz respeito aos sistemas de proteção social nos países do sul, estes determinaram que o Estado apenas compensaria os indivíduos na velhice e infância. No entanto a Europa do Sul depende cada vez mais das importações, o que vai resultar o aumento do défice externo o que conduz aos países do sul a empréstimos externos para conseguirem financiamento para novos projetos.

De acordo com Rodrigues (2006) o baixo crescimento económico resulta uma maior vulnerabilidade destes países, o que vai gerar situações de pobreza e exclusão social. No que se refere aos trabalhadores que se encontram fora do mercado do trabalho, Ferreira (2000) afirma que temos um sistema de fraca proteção. “(…) possuímos o sistema de segurança social mais ineficaz na redução da pobreza, na redistribuição dos rendimentos e na redução das desigualdades sociais.” (Ferreira,2000:5) As prestações sociais revelaram por um lado ineficácia redistributiva e por um lado ineficácia na redução da pobreza. Ferrera (1996) refere que este modelo não é apenas uma fase subdesenvolvida do modelo corporativo e que estes países não têm o mesmo grau de subdesenvolvimento nas áreas da segurança social.

2.Politicas Sociais: a sua evolução e contração

De acordo com Sousa et al (2007) as políticas sociais devem promover um padrão mínimo de bem- estar e proteção social aos indivíduos. As políticas sociais são consideradas uma aquisição das sociedades mais desenvolvidas. Segundo Ferreira (2012) a proteção social iniciou-se na Alemanha com Bismarck com a implementação do seguro social obrigatório que rapidamente se alastrou a outros países europeus. De acordo com Rodrigues (2010) este seguro social obrigatório aparece como um mecanismo de dependência e também de contrapartida. No entanto uma parte da classe operária não tinha rendimentos suficientes para pagar este seguro. Só no século XX é que a proteção social passou a ser universal. “ Estes sistemas de protecção social, pioneiros enquanto formas de redução das incertezas sociais, eram igualmente o resultado das práticas políticas visando compensar as disfuncionalidades do mercado e uma resposta política ativa face à mobilização social das associações laborais e

profissionais da época.” ( Mozzicafreddo,1997:7). Na Grã- Bretanha em 1942, surgiu uma proteção social universalista, que é conhecido como o Relatório de Beveridge. Este era destinado aos indivíduos que tinham baixos salários, instabilidade laboral e que tivessem um agregado familiar alargado.

No entanto importa compreender, como ao longo do tempo, as políticas sociais responderam às situações de pobreza em Portugal. De acordo com Carreira (1996) a intervenção do Estado Português para colmatar os contextos de pobreza só ocorreu no século XIX.

A proteção de riscos sociais em Portugal foi criada inicialmente com a assistência pública em 1835, com o Conselho Geral de Beneficência que intencionava extinguir a mendicidade. Em 1911 foi criado o Fundo Nacional de Assistência (Carreira, 1996). Contudo, as medidas executadas no início da República mostraram-se insuficientes e sem efeitos sociais “(…)o alcance das medidas tomadas nos primeiros tempos da República revelou-se insuficiente e sem efeitos sociais significativos, dado o contexto de grande turbulência política e de enorme fragilização socioeconómica” ( Rodrigues,2010:204) Perante este contexto de incapacidade, demorou algum algum tempo até ser publicado o Estatuto da Assistência Social. Este tem o intuito de “(…) melhorar as condições morais, económicas ou sanitárias dos indivíduos com sérias dificuldades.” (Carreira,1996:58) No entanto os resultados deste Estatuto não obtiveram um balanço positivo, pelo facto de ainda existir insuficiência na proteção fornecida pela assistência pública. Meio século depois dos seguros de Bismarck, e com a intenção de corrigir a ausência de uma proteção social permanente, Portugal insere-se no domínio social pela via dos seguros sociais obrigatórios (Carreira, 1996). Em 1913 (e até 1919) surgiu o seguro social obrigatório no caso de doença, em acidentes de trabalho, invalidez, velhice e sobrevivência. Em 1929, é criada a Caixa Geral de Aposentações que assegurava proteção exclusivamente a funcionários públicos. Na década de 70, assistiu-se à reorganização do Ministério da Saúde e Assistência, que segundo Rodrigues (2010), tinha o intuito a ampliação do direito à saúde, através de um investimento nos centros de saúde. “(…) os riscos cobertos foram sendo sucessivamente acrescidos, com especial incidência na assistência ao desemprego (através da criação do subsídio de desemprego) e na criação da pensão social, que foi a primeira prestação social de natureza não-contributiva.”( Rodrigues,2010:205)

Perante este contexto, manteve-se uma indefinição de uma política social global e um baixo nível de direitos sociais. No entanto a proteção social conheceu uma evolução que nem sempre foi linear. De acordo com Rodrigues (2010) é a partir da Revolução de 1974, que se dá o alargamento da proteção social para todos os indivíduos, com a melhoria de coberturas das prestações sociais que levaram à institucionalização das políticas sociais.

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