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O politicismo na nova missão do PT: “a democracia até as últimas consequências 106 ”.

No documento JOANA DARC VIRGÍNIA DOS SANTOS (páginas 115-135)

Impelidos a uma nova função social: a construção de consentimentos espúrios

DO IDEÁRIO DA REPRESENTAÇÃO DAS DEMANDAS SOCIAIS, PARA A EFETIVAÇÃO DO PROJETO POLITICISTA

3. O politicismo na nova missão do PT: “a democracia até as últimas consequências 106 ”.

Com o objetivo de discutir as divergências entre os princípios partidários e as ações da primeira administração petista em Diadema, realizou-se em 21 de maio de 1983 uma convenção extraordinária presidida por Lula, José Dirceu, Terezinha, Gentil, Gilson Meneses e Tonhão. Para esclarecer como se deram as atuações em sua administração política, Gilson Meneses iniciou a convenção extraordinária tratando sobre a proposta de aumento das passagens de ônibus urbano, promovida pela Viação Diadema e as acusações de que não estaria consultando os CMPs.

Declarou que apesar de alguns companheiros não concordarem, muitas vezes era obrigado a conversar com patrão, comerciante, industrial; que tem participado de reuniões do partido, apesar de ter vindo pouco ao diretório; que a proposta do PT de governar pelos conselhos populares estava sendo cumprida, embora passando por sérias dificuldades (...). Afirmou também que o estatuto do Partido estava sendo seguido, apesar dos erros, que a população estava sendo consultada, dentro da própria realidade; que não podíamos

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Documento: Diretório do PT Diadema. “Ata da Convenção Extraordinária do Partido dos Trabalhadores de Diadema”. 21.5.1983.

115 governar somente fazendo reuniões do PT; que existem algumas diferenças ideológicas107.

Os esclarecimentos de Gilson Menezes expressam as dificuldades vivenciadas na implantação da plataforma de governo do PT, em seus primeiros meses como prefeito. Em momentos de conflitos entre os interesses dos grupos econômicos da cidade e da população, ele se viu obrigado a negociar com os patrões e a reconhecer a legitimidade de seus interesses na esfera política. Como prefeito, precisou encarar realidades e interesses múltiplos, que necessitavam ser conciliados na esfera política. Esta nova realidade trouxe questionamentos sobre a viabilidade de alguns princípios estabelecidos na carta de compromissos, de 1982, dentre eles, destacou-se o atendimento prioritário das demandas oriundas dos CMPs.

Como administrador, na prática politicista, Gilson Meneses viu-se obrigado a separar as questões políticas das necessidades da população. Cumprindo o seu papel, em muitos casos, o prefeito petista precisou proteger os grupos econômicos, pois estava em jogo o interesse geral de promover o desenvolvimento da cidade. Em sua prática, buscou fazer aquilo que lhe era possível, dentro dos estreitos limites do Estado, conciliar as discussões e mudanças no plano político, sem conseguir de fato alterar os fundamentos sócioeconômicos vigentes.

Um dos representantes da bancada de vereadores do PT, Ivo Ribeiro Santos, reafirmou que, mesmo entre os vereadores do partido, havia divergência de compreensão quanto à atuação da administração:

(...) uns achavam que as propostas discutidas nos núcleos deveriam ser levadas à tribuna; outros não. Com isso, a bancada foi se dividindo não havendo concordância quanto ao horário de reuniões, posições sobre conselhos populares108.

Segundo a análise do vereador Ivo, muitos representantes eleitos pela população discordaram que as demandas oriundas dos CMPs devessem ter prioridade no âmbito legislativo, pois a natureza da Câmara dos Vereadores exigia outras ações para além destas demandas.

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Documento: Diretório do PT Diadema. “Ata da Convenção Extraordinária do Partido dos Trabalhadores de Diadema”. 21.5.1983.

116 Apesar de os vereadores terem se comprometido em realizar as demandas sociais na esfera política, eles sentiram dificuldades em cumprir a promessa, em virtude da natureza específica da administração pública, que dificulta a prioridade de atendimento das necessidades da população, em conflito frente aos múltiplos interesses coexistentes no município.

A mística da participação popular no PT de Diadema se impôs como um corolário que ultrapassou a primeira administração política. Em vários momentos esta mística foi utilizada para afirmar que em Diadema a política era diferente. Em muitos casos os fatos foram distorcidos para comporem o marketing da participação popular em Diadema, como é o caso relatado por Cleusa, em relação a uma matéria publicada no Jornal dos Trabalhadores:

Cleuza de Oliveira, primeiramente fez um protesto quanto à publicação da matéria do Jornal dos Trabalhadores afirmando que ele não refletia a situação em Diadema, pois foi publicado que os diretores foram escolhidos e levados para aclamação da população. Argumentou que isto não aconteceu assim. Disse também que omitir dados da prefeitura à população seria mentir; pediu que o Gilson explicasse a diferença entre PT e PMD [Prefeitura Municipal de Diadema]109.

A constatação de que os fatos veiculados pelos canais de comunicação petistas estavam distorcidos, levou uma militante a evidenciar que havia diferenças entre a plataforma de governo do PT e as atuações da primeira administração política de Gilson, em Diadema. Diferentemente do que haviam proposto durante a campanha, os diretores desta administração política foram escolhidos, em detrimento da opinião dos CMPs, e eles estavam “omitindo dados da prefeitura à população”, o que seria equivalente a “mentir”.

Ao longo da convenção extraordinária, convocada para mediar os conflitos em Diadema, foram feitas diversas denúncias de desrespeito às diretrizes do partido, dentre elas, destacamos o não pagamento da contribuição partidária por parte dos diretores da administração política e uso de autoridade para alcance de favores pessoais:

Cláudio disse que a democracia interna do partido estava sendo desrespeitada; que a PMD [Prefeitura Municipal de Diadema]

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Documento: Diretório do PT Diadema. “Ata da Convenção Extraordinária do Partido dos Trabalhadores de Diadema”. 21.5.1983. (grifos meus).

117 deveria respeitar e acatar a deliberação do partido, que o compromisso de pagar a porcentagem devida ao partido estava comprovada pela porcentagem afixada na parede num quadro (...) Dos diretores que não cotizou [sic]: Amir, Pedro Luiz, Jorge Flores, José Augusto, Paulo Afonso, Júlio Morandi (...).

Pai do Ivo denunciou o diretor de gabinete, dizendo que foi enviado a ele (pai do Ivo) uma carta mentirosa. Disse que pegou a fotografia de Gilson, Paulão e Juracy e colocou num quadro e agora não acreditava no que estava acontecendo no partido, tendo em vista a posição destas pessoas110.

Embora a contribuição de 50% dos salários dos diretores e portadores de cargos eletivos tenha sido decidida democraticamente e registrada na Carta de Compromissos, vários daqueles que assumiram em 1983 desrespeitaram esta diretriz. Desponta desta constatação uma questão ainda mais ampla, como aquela administração poderia levar a cabo a tarefa de democratizar o Estado, se não foram capazes de efetivar a democracia dentro da instância partidária? Um dos participantes da convenção extraordinária revelou ter custado a acreditar que havia sido enganado por aqueles em quem confiou para transformar a cidade.

Outra denúncia, deflagrada na convenção, versou que o diretor do gabinete, Juracy Magalhães, teria negociado com o dono de um bar a doação de um litro de conhaque, com a justificativa de que teria direito a um tratamento diferenciado, por ser diretor de gabinete. Em resposta, Juracy afirmou que “fora firmado um acordo com os donos dos bares da região no sentido de ceder bebida aos músicos de graça”.

Era nítida a percepção de que os representantes petistas, no âmbito municipal em Diadema, estavam paulatinamente se descolando da realidade dos trabalhadores. Não se tratava de uma simples situação de status pessoal, ou de uma disputa entre tendências do mesmo partido, mas da compreensão de que o domínio político do aparato estatal, em âmbito municipal, não garantia o atendimento das demandas populares. Aqueles que foram considerados heróis, por colocarem a classe trabalhadora em um espaço deliberativo pretensamente transformador, no exercício de suas funções eletivas, viviam cotidianamente dificuldades para efetivar as demandas populares, a partir do Estado. Tornava-se

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Documento: Diretório do PT Diadema. “Ata da Convenção Extraordinária do Partido dos Trabalhadores de Diadema”. 21.5.1983.

118 imperativo, a estes representantes, seguir a rotina burocrática, firmar acordos propiciadores da governabilidade e usar os poderes conferidos pelos seus cargos.

O presidente nacional do PT, Lula, durante sua fala nesta convenção, reafirmou sua amizade, oriunda das lutas no sindicato, com Gilson e os diretores acusados e buscou uma conciliação entre os membros do diretório de Diadema. Sobre a contribuição de 50% do salário dos diretores, Lula afirmou que considerava o pagamento uma loucura, mas que, até a discussão da redução da taxa, todos deveriam pagar, pois “na questão da administração a democracia deveria ser levada às últimas consequências, isso quer dizer, que a prefeitura necessitava de organização partidária”. Evidencia-se nesta afirmação uma nova missão para o PT governista: realizar o projeto democrático através de uma organização partidária, articulado aos outros partidos. Assim, nesta tarefa mais ampla, tornava-se indispensável conciliar interesses divergentes no âmbito político, para alcançar a democratização do Estado.

Para acabar com o impasse local, um obstáculo para a construção da democracia, Lula propôs a negociação da dívida dos diretores com o partido e o cumprimento da carta de compromissos. A importância da ligação entre atuação partidária e ativismo nas lutas sociais foi reafirmada por Lula, no sentido de congregar forças para a realização do projeto democrático, pois “não podia conceber a ideia de que um filiado não fosse sindicalizado ou participasse de uma associação de classe”.

Ainda distante da realidade do PT de Diadema, Lula atuou como um conselheiro, com o objetivo de apaziguar os ânimos e fortalecer os interesses do partido. Durante sua fala, explicitou que alguns dos princípios da carta de compromissos deveriam ser repensados, mas até o alcance do consenso entre os correligionários, todos deveriam pautar-se pela última decisão.

Naquela reunião não havia uma conjuntura favorável para revisar os fundamentos da carta de compromissos de 1982. O encontro já estava demasiadamente longo111, em peso, os militantes questionavam as ações da administração política de Gilson e pediam a expulsão dos diretores de governo. Nestas circunstâncias, os fundamentos da carta foram reafirmados na convenção e

119 a punição estabelecida no descumprimento desta proposta, referendada pelos presentes, foi a expulsão do partido.

Logo após a aclamação desta deliberação, o vereador Washington Luís Mendes, afirmou que não iria cumprir a carta de compromissos, especialmente o item sobre o pagamento de taxa para o fundo partidário, pois “a conta do partido não estava em banco oficial; que era irregular a cobrança da carta de compromissos”. Desmentindo a informação do vereador, Cleuza informou que o partido já dispunha de uma conta no Banco do Brasil. Diante dos pedidos da plenária, Lula solicitou aos representantes do diretório que mantivessem contato com José Dirceu para viabilizar juridicamente a expulsão do vereador Mendes.

A proposta de expulsar o vereador Mendes do PT não foi adiante. Porém uma série de denúncias de desrespeito ao estatuto e adoção de práticas contra os interesses dos trabalhadores levaram o Diretório Nacional a criar uma comissão exclusiva para acompanhar a crise interna do diretório de Diadema.

Um caso exemplar de práticas que contrariavam os interesses dos trabalhadores foi a punição estabelecida pelo prefeito da cidade de Diadema para os funcionários públicos que participaram da paralização nacional de 21 de julho de 1983, contra a política de arrocho salarial promovida pela ditadura militar e decretos de redução dos benefícios dos trabalhadores de empresas estatais. Esta paralização colaborou para aumentar a pressão sobre o governo militar, cuja saída para o acirramento dos conflitos foi colocar em prática o programa de descompressão.

Com o objetivo de cumprir as metas da carta de intenções com o Fundo Monetário Internacional, assinada em janeiro de 1983, em momento de grande endividamento externo, a ditadura militar brasileira adotou uma política de reajustes salariais inferiores à inflação e a eliminação de negociação de aumentos por produtividade. Uma série de decretos foi sancionada reduzindo os reajustes automáticos para todas as faixas salariais e os benefícios dos funcionários das empresas estatais, a fim de diminuir os gastos públicos. Tais fatos mobilizaram organizações de luta dos trabalhadores de todo o Brasil em greves e conferências que culminaram com a criação da CUT (PERES; NETO, 2010). A greve de 21 de julho de 1983, que contou com a participação de mais de três milhões de pessoas

120 e diversos segmentos sociais, dentre eles trabalhadores do setor público e privado, contra a política de arrocho salarial, foi ignorada pela administração municipal diademense, que preferiu continuar a realizar suas demandas ordinárias. Obstacularizada pela ausência dos servidores, a prefeitura diademense resolveu cortar o ponto dos grevistas para aplicar uma medida exemplar e passou a perseguir politicamente alguns funcionários (MONTE; TAVARES, 2004).

Insuflados pelo descontentamento com a punição, que mais parecia oriunda dos quadros da ditadura militar, os funcionários públicos de Diadema articularam- se com o diretório do PT Diadema e convocaram uma reunião extraordinária para discutir a atuação de Gilson Meneses e seus diretores. Dentre as denúncias apresentadas na reunião extraordinária do diretório municipal do PT de Diadema112, que contou com a presença de Francisco Weffort como representante da Comissão da Executiva Nacional (CEN), podemos citar as perseguições políticas e as demissões daqueles que criticavam a administração, o uso do aparelho estatal como cabide de empregos, os descontos dos dias em greve no salário dos servidores públicos, a inadimplência dos diretores e prefeito quanto à contribuição obrigatória ao partido, a distorção no processo de filiação, a escolha de diretores de administração sem consulta aos conselhos populares e corrupção na administração municipal.

O desentendimento entre administradores municipais e militantes petistas aprofundou-se de tal forma que o Diretório Municipal passou a divulgar boletins de informação denunciando o posicionamento da administração pública frente às demandas sociais e carta de princípios. Nestes boletins o prefeito foi chamado de “patrão”, “explorador de funcionários”, “traidor do PT”, “novo general”, dentre outros.

Tornou-se frequente o aparecimento de pichações nos muros da cidade com o mesmo teor dos boletins113. Eleitores e militantes constataram que a promessa dos candidatos eleitos, sobre o uso eficiente e racional do aparato estatal para atender a necessidade dos trabalhadores, tornou-se uma falácia e sentiram a

112 Documento: Diadema. “Ata de reunião extraordinária dos membros do Diretório Municipal do PT

de Diadema”. 19.8.1983.

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Ibid. “Agrediu o diretor de saúde, física e moralmente, soltando boletins informativos a população”. “... o que foi aprovado foi o documento ´Gilson traiu` (...) alguns folhetos chegaram a ir para a rua”.

121 necessidade de alertar a população. Antigas práticas políticas, como a utilização de cargos públicos em comissão para troca de favores e cooptação política, intimidações e posturas autocráticas, foram denunciadas durante a primeira administração política petista em Diadema. Os interesses da coisa pública passaram a ser subordinados à condição e mando dos governantes. As práticas cotidianas da administração petista, na administração de Gilson Menezes, levaram o militante Ivan a concluir que houve manutenção “[d]o empreguismo que é fruto do tráfico de influências, pratica de jagunços, prática de intervencionismo nos diretórios e a distância deles do diretório” 114.

Corroborando para a constatação de que houve manutenção das práticas governistas, condenadas pelos militantes petistas, Anastácia descreve o clima autocrático imposto pela administração pública ao afirmar que “sempre depois das reuniões alguém é mandado embora, sempre se falou na campanha que os conselhos populares seriam atendidos e não fomos, e só atendeu [sic] quando fomos com muito quente115.” Os planos que inauguraram a administração política 1983-88 em Diadema foram traçados pelos diretores e prefeito e impostos aos demais funcionários públicos e militantes. Ao longo da administração política, aqueles que questionavam estes planos foram demitidos. Apenas em momentos de grande pressão popular, que colocavam em risco a governabilidade, houve atendimento às demandas dos CMPs.

A compreensão de que “se a base fosse consultada, aí é que não iria dar nada”116, foi externada pelo diretor Pedro Luiz Benedicto, em uma das reuniões ordinárias do diretório, como uma estratégia para agilizar os planos de ação da administração política. Esta análise era compartilhada por muitos diretores, mas também muito combatida por diversos militantes117. Tais fatos não significaram que Gilson Menezes e seus diretores pautaram suas ações nos interesses de empresários e grupos políticos dominantes. A estrutura burocrática do Estado e a necessidade de manter-se no poder, e realizar acordos, obrigaram os

114 Documento: Diadema. “Ata de reunião extraordinária dos membros do Diretório Municipal do PT

de Diadema”. 19.8.1983.

115

Ibid.

116 Documento: Diadema. “Ata de reunião ordinária dos membros do diretório municipal do PT de

Diadema”. 15.4.1983.

117

Ibid. “Gentil disse que a consulta ao diretório era uma obrigação, que era neste local que tudo deveria ser resolvido. Alvino disse que na plenária de Santa Rita afirmou ao Gilson, que se não acatasse, o PT ficaria sozinho”.

122 administradores petistas a agirem contrariamente às suas promessas de campanha.

Havia um consenso de que a conquista da prefeitura constituiu-se como divisor de águas, quanto ao comportamento e ideologia dos membros petistas, que assumiram cargos públicos eletivos e de confiança. Segundo o militante Pedro:

Na campanha eleitoral falávamos que o PT era feito com honestidade e quem iria governar seria [sic] os trabalhadores, mas não é isto que está acontecendo; todo mundo que é petista bom está sendo perseguido pela administração que se diz petista118.

Aqueles considerados “petista[s] bom[ns]” eram os seguidores da carta de compromissos, construída pelos militantes petistas em momento de campanha, que teve por objetivo tornar pública a plataforma de governo, tática e objetivos do PT, assim como garantir o exercício destas normas no mandato político. Compreende-se que o descompasso em relação aos princípios da carta de compromissos acontece a partir da assunção da nova função social dos militantes na administração pública municipal. Enquanto militantes, suas ações estavam dirigidas para a conquista do poder político, através do processo de eleições em que buscaram catalisar as necessidades e desejos da população e representá-la politicamente. Ao assumirem a administração pública municipal, perceberam que sua nova função social tinha limites reais. Tratava-se de lidar com as dificuldades de efetivar as demandas populares, a partir de recursos parcos e comprometidos, encarar a incapacidade do governo municipal de resolver os problemas de desenvolvimento social, pois a situação precária dos trabalhadores estava intimamente ligada à superexploração da força de trabalho, resultante do modelo econômico imposto em âmbito nacional e construir constantemente ações de governabilidade para conseguir exercer o poder político.

O atendimento das demandas sociais em Diadema estava circunscrito em uma perspectiva futura, dependente das estratégias que os membros petistas traçariam a partir das dificuldades enfrentadas logo no início da administração política. Ao invés de concentrarem suas lutas no âmbito do trabalho, por melhores condições de vida dos trabalhadores, contra a superexploração, os administradores petistas aprofundaram laços com sua nova função social, conciliaram interesses

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Documento: Diadema. “Ata de reunião ordinária dos membros do diretório municipal do PT de Diadema”. 5.8.1983.

123 inconciliáveis pela via política, sufocando lutas sociais na busca pela governabilidade.

As análises da destinação orçamentária do município, na administração política 1983-88119, evidenciam a prioridade de investimento na área periférica sobre a área central. Porém, os processos que envolveram esta inversão de prioridades revelam a manutenção da velha estrutura política de negociatas que, longe de promover a emancipação humana, construiu relações corruptas e autocráticas. Em análise sobre o cenário de conflitos em Diadema, Francisco Weffort afirmou que:

O problema de Diadema não é só daqui, afetou todo país. Há pontos não definidos, houve um atraso considerável por parte da nacional e não tínhamos consciência da gravidade da situação. Não percebemos a importância das nossas experiências em Diadema e Santa Quitéria; nós erramos e assumimos, porque somos homens e não deuses. Estamos aprendendo sobre a marcha na luta e nossa união em torno das propostas, e esta era a nossa situação em eleições120.

Como representante da CEN para acompanhar o caso Diadema, Weffort refletiu uma compreensão colegiada. Embora as duas prefeituras conquistadas pelo PT nas eleições de 1982, Diadema e Santa Quitéria (MA) tivessem vivido processos de formação121 muito diferentes entre si, passaram por problemas

No documento JOANA DARC VIRGÍNIA DOS SANTOS (páginas 115-135)