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2.10 Pólo Médico de Recife

2.10.2 Pontos a Ponderar

Alguns veículos de comunicação e entidades importantes como a FACEPE (Fundação de Amparo à Ciência e Tecnologia do Estado de Pernambuco) costumeiramente divulgam o Recife como sendo o segundo pólo médico do Brasil sem explicitar qual a variável ou o critério utilizado em tal avaliação.

Segundo Freitas (2002), em termos de número de leitos hospitalares, públicos e pri- vados, a cidade do Recife tem a quarta maior quantidade do país, sendo superada por São Paulo, Rio de Janeiro e Belo Horizonte, nessa ordem. Freitas (2002) mostra ainda que, em relação ao número de equipamentos de diagnóstico por imagem e ao número de estabelecimentos de saúde, Recife ocupa entre as capitais estaduais a quinta e a sétima posição respectivamente.

Iludidos com a crença de que o Pólo Médico de Recife fosse o segundo do país, muitos médicos e empresários investiram nos últimos anos um volume relativamente elevado de capital na aquisição de equipamentos de diagnóstico por imagem e de novas instalações. O crescimento acima da demanda foi motivado pela expectativa de que o Recife se tornaria rapidamente um pólo de atração regional da demanda nordestina, o que, na prática, não se verificou plenamente.

As razões para o desempenho abaixo do esperado do pólo recifense podem ser mais bem compreendidas pelo exame dos seus principais problemas (SICSU; LIMA, 2004):

1. excesso de capacidade instalada; 2. falta de planejamento empresarial;

4. baixo nível de renda da população;

5. baixa remuneração pelos serviços de saúde prestados;

6. hegemonia das operadoras de planos de saúde e dos grandes hospitais; 7. carga tributária elevada;

8. deficiência na formação de recursos humanos;

9. falta de apoio governamental e institucional (apoio tecnológico e qualificação pro- fissional);

10. limitações quanto à cooperação entre os agentes envolvidos.

O primeiro aspecto a ser analisado é o excesso de capacidade instalada. A expansão dos investimentos do Pólo tem evoluído em proporção muito maior do que o crescimento da demanda. Sem um planejamento adequado, o setor empresarial de saúde em Recife tem cometido excessos na aquisição de equipamentos de diagnóstico por imagem, na moder- nização de suas instalações e na oferta de serviços de saúde, inviabilizando a amortização dos recursos alocados nos prazos idealizados.

Some-se a isso a redução da clientela associada aos planos de saúde, em vista de perdas de níveis de renda e de emprego em geral, dos reajustes das mensalidades acima da inflação, ao lado do baixo nível de remuneração da população nordestina.

Devido à alta concentração de entidades médico-hospitalares na cidade e à inexistência de parceria ou união no setor, o poder de barganha dos estabelecimentos de saúde, em geral, acaba por ser muito baixo frente aos planos de saúde. Sem ter uma grande re- ceita arrecadada por serviços particulares, os estabelecimentos privados de saúde acabam sujeitando-se aos baixos valores oferecidos pelas operadoras.

Diferentemente do que acontece com os estabelecimentos de saúde de porte inferior, os grandes hospitais da cidade ainda conseguem enfrentar em melhores condições as opera- doras de planos de saúde na negociação de tabelas de preços e de condições de pagamento, pois apresentam uma considerável participação no mercado e atuam de forma verticali- zada em diversas atividades de prestação de serviços de saúde, entre elas o diagnóstico de doenças por imagem.

Diante disso, nota-se, em geral, uma profunda dependência do Pólo em relação às operadoras de planos de saúde, que, apesar de muitas estarem em crise, ainda detêm

um grande poder no setor de saúde. A hegemonia das operadoras e a inexistência de um público demandante, de altíssimo padrão de renda na região, em volume que pudesse substituí-las, são apontadas como um dos principais elementos que têm levado o setor empresarial a repensar as estratégias do Pólo.

Outro problema freqüentemente apontado por empresários do setor é a aplicação da maior alíquota (5%) do ISS em Recife para o setor de saúde. Em 2000, o setor de saúde encontrava-se em primeiro lugar no ranking do ISS, proporcionando naquele ano R$ 12,9 milhões aos cofres da Prefeitura de Recife, apenas com esse tributo.

Com a evasão de beneficiários dos planos de saúde a partir de 2001, a arrecadação registrada em 2003 foi de R$ 7,9 milhões, o que resultou numa queda de arredação desse setor para os cofres públicos de quase 40%. Por causa da crise no setor, hoje as em- presas do Pólo Médico de Recife ocupam o segundo lugar no ranking de arrecadação do ISS da Prefeitura da Cidade, deixando o primeiro posto para instituições financeiras e securitárias.

A deficiência na qualificação de mão-de-obra de nível médio, especificamente técnico e auxiliar de enfermagem, também é outra dificuldade apontada pelas entidades médico- hospitalares. Ademais, atualmente não se observa uma articulação com as instituições locais de ensino e pesquisa, faltando ainda o apoio dos órgãos oficiais para superação de problemas no setor.

O Pólo Médico de Recife é mais um exemplo dentre outros existentes no Brasil onde há fraca articulação interfirmas, quase nenhuma cooperação entre os agentes e uma parti- cipação limitada das instituições de apoio tecnológico no suporte à superação dos gargalos e à introdução de inovações de caráter endógeno.

Desse cenário, resultam atualmente dificuldades financeiras e operacionais nos estabe- lecimentos médico-hospitalares, o que coloca em dúvida suas possibilidades de consolida- ção e expansão futura.