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No Brasil, cerca de um quarto da população possui cobertura de pelo menos um plano de saúde. O percentual de usuários aumenta conforme o rendimento mensal familiar. Para não precisar fazer uso dos serviços ofertados pelo SUS, a maior parte dos beneficiários compromete uma fatia considerável de seu orçamento com os planos privados.

No entanto, a queda da renda da população, os altos preços cobrados pelos planos e os sistemáticos reajustes das mensalidades acima da inflação colocam o consumidor numa situação difícil e angustiante. Sem ter como pagar as mensalidades, muitos migram para operadoras mais baratas, com qualidade de serviço inferior, ou até desistem de ter um plano (FUTEMA, 2005).

De acordo com estimativas da Abramge, por ano cerca de 1 milhão de usuários mi- gram dos planos privados para o SUS. Trata-se de um drama concreto, real e que se agrava à medida que o consumidor vai envelhecendo e, sob o olhar frio das operadoras, transformando-se num cliente muito caro.

Os usuários que, não raras as vezes, estão desprotegidos e têm pouco ou quase ne- nhum poder de articulação, podem dar sua parcela de contribuição para mudar o atual quadro em que se encontra hoje a saúde. Para isso, basta deixar de adotar uma postura inadequada na busca por serviços de saúde, inclusive de valorizar o excedente de exa- mes complementares — por vezes desnecessários — como forma de sentirem-se assistidos adequadamente, e de aceitar a preponderância da quantidade sobre a qualidade.

Esse comportamento inconseqüente de buscar formas muitas vezes desnecessárias de assistência médica provoca elevação dos custos da operadora, que nada mais faz do que transferi-los a seus beneficiários. O usuário precisa ser reeducado e deixar de exigir exames sofisticados quando não há indicação, pois o sistema de saúde não dispõe de recursos infinitos para atender as necessidades de saúde da população.

2.3.1 Internet e Informação

Nos últimos anos, tem ocorrido uma verdadeira explosão no número de sites sobre medicina e saúde na web. Antes esse conteúdo era direcionado principalmente para a comunidade de profissionais de saúde (www.bibliomed.com.br). Agora, começa a se vol- tar também para os usuários que buscam na internet uma forma de dialogar com o

médico e de aprender a respeito de sua doença e suas possíveis terapias (www.md.com; www.cardiol.br). Os sites com informações sobre doenças e tratamentos estão mudando a relação entre médicos e pacientes.

Hoje, nas salas de consulta, há um novo perfil de paciente. Informado sobre matérias de saúde que recolhe principalmente na internet, ele prepara uma série de perguntas sobre sua doença, arrisca sugerir remédios e exames, e, no limite, até coloca em dúvida o tratamento prescrito pelo especialista. No Brasil, estima-se que mais de 10 milhões de internautas acessem páginas de informações médicas com regularidade (BUCHALLA,

2005).

A mudança de comportamento do paciente ao exigir uma troca mais intensa de in- formações com seus médicos tem levado a que seja rediscutido o modelo atual em que o especialista simplesmente solicita uma bateria de exames ou indica um determinado tratamento, sem que haja um maior esclarecimento ao paciente sobre os propósitos dos procedimentos prescritos. Até que ponto isso pode ser positivo?

Um paciente bem informado não aceita com resignação as decisões do seu médico. Ao aprender sobre a própria doença, ele pode ajudar o médico a tomar decisões. Além disso, força indiretamente o médico a manter-se atualizado sobre o que acontece nos principais centros de saúde.

Segundo Botsaris (2001), muitos médicos, por se sentirem testados ou até mesmo ameaçados, não gostam de pacientes que perguntam bastante, questionam sua conduta e exigem explicações detalhadas sobre o diagnóstico ou o tratamento. Para se prote- gerem de pacientes mais questionadores nas consultas, costumam usar termos técnicos (“medicinês”), acreditando que o leigo não tem formação para compreender as sutilezas da medicina. Isso geralmente ocorre com profissionais que têm uma formação acadêmica deficiente e não se interessam por uma educação continuada.

Hoje o especialista tem de estar mais atualizado do que nunca para atender à expec- tativa de seus pacientes. Não há outra forma de ser na era da internet. Médicos que não estavam habituados a conversar detalhadamente com seus pacientes estão tendo de mudar de atitude, sob pena de perdê-los a outros companheiros de profissão. A web está ajudando a estabelecer um maior diálogo entre médicos e pacientes.

No entanto, deve-se atentar para o perigo de existirem vários dados errados sobre doenças em circulação na web. A demanda por informações médicas levou a uma pro- liferação de sites, mas vários deles apresentam equívocos, são imprecisos ou alarmistas.

Outro problema é que, mesmo quando reúnem dados corretos, nem sempre os pacientes dispõem de capacidade de absorção para as informações obtidas (BUCHALLA, 2005).

Nessa nova realidade proporcionada pela internet, as consultas com esse perfil de usuário ficaram mais longas. Os médicos gastam boa parte do tempo para esclarecer dúvidas trazidas pelos pacientes. É uma mudança significativa na relação médico-paciente — e irreversível, visto que a web está gradativamente mais acessível à população, tornando- se um enorme consultório informal.

A boa relação médico-paciente é aquela em que o segundo, munido de todos os dados sobre seu problema, é incentivado pelo primeiro a ponderar os riscos e os benefícios do tratamento prescrito e a opinar sobre a alternativa mais adequada a seus anseios (SILVA,

2002). Segundo o cirurgião Marco Tulio Baccarini Pires, de Belo Horizonte, diretor do

site nacional da Bibliomed, “a decisão compartilhada, fruto de um bom diálogo, é a melhor solução para os dois lados, pois possibilita maior adesão à terapia e menor probabilidade de desentendimentos futuros”.

É evidente, portanto, que ter informação é sempre melhor do que a falta dela, e o acesso crescente das pessoas leigas a um enorme acervo de informações de todo tipo, facilmente disponível, é uma tendência sem volta. Cabe ao médico, pois, adaptar-se a essa nova realidade. Eles precisarão reencontrar novamente seu lugar e readquirir sua autoridade nesse novo mundo, sabendo coexistir com a falta de formação do leigo e com a diversidade de informação propiciada principalmente pela internet.