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5 CONSIDERAÇÕES FINAIS

5.1 Pontos Essenciais do Trabalho

Para analisarmos as concepções de escrita e as práticas pedagógicas das professoras do 2º ano no município investigado, fez-se necessária a construção de tipos ideais que revelaram as tendências dominantes para seu ensino desenvolvido por esses sujeitos. Nessa perspectiva, os tipos ideais formulados a partir dos posicionamentos das professoras alfabetizadoras, permitiu-nos analisar as concepções de escrita e de ensino da escrita que norteiam as práticas pedagógicas destas professoras bem como identificar os principais aspectos inerentes às justificativas e proposições de atividades que permeiam o universo da alfabetização nesse município.

Dito isso, passaremos a nos referir sobre o que concluímos ao longo do processo da pesquisa a fim de consolidarmos o alcance dos objetivos propostos para este trabalho. Os objetivos específicos desta pesquisa versavam sobre as concepções de ensino da escrita que norteiam as práticas pedagógicas das professoras e suas justificativas para as atividades de

escrita propostas em sala de aula. Concluímos que há três tendências dominantes de ensino da escrita que justificam suas práticas com as crianças. São elas:

a) o ensino de um código para ser lido (decifrado); b) a introdução à escrita como uma prática social; c) um treinamento a serviço das avaliações externas.

No primeiro desses tipos ideais, podemos dizer que o ensino da escrita se configura como a aprendizagem de um código, haja vista que os aspectos inerentes à aquisição do sistema de escrita alfabética ainda são muito presentes nas práticas pedagógicas destas professoras, nas proposições de atividades de escrita e na própria conjuntura dos materiais usados no processo de alfabetização das crianças deste município. Nesse sentido, constatamos que, embora as práticas de leitura se façam presentes em sala de aula, como atividade permanente para o desenvolvimento da fluência leitora, seus objetivos estão mais voltados para a consolidação dos itens avaliativos do que para a construção das habilidades leitoras.

Considerando que as avaliações externas perpassam toda a conjuntura educacional desse município, constatamos que as práticas de leitura auxiliam nos resultados destas avaliações. Na visão da maioria dos sujeitos pesquisados, a prática de avaliações externas se constitui como ponto principal na organização do trabalho pedagógico, nas práticas de alfabetização, na proposição das atividades e no próprio planejamento educacional deste município. Sendo assim, as entrevistas revelaram que grande parte das professoras se enquadra nesse tipo ideal e por esta razão suas práticas pedagógicas são justificadas por esta tendência dominante. As professoras que com esse tipo se identificam nos mostraram que, embora tragam concepções de letramento em suas respostas, e que considerem a aquisição da escrita como importante para a criança, todavia, a reflexão que fazemos acerca das práticas pedagógicas destas professoras é a de que suas proposições de atividades enfatizem a aquisição da escrita meramente como um código a ser apreendido e não como prática social.

As entrevistas revelaram que essas professoras confundem os conceitos de alfabetização e letramento e, por esta razão, suas concepções e práticas pedagógicas estão mais voltadas para um ensino que prioriza a língua como aquisição de um código. Nesse sentido, as concepções e as práticas pedagógicas construídas por estas professoras versam sobre o ensino fragmentado, pautadas em descritores. Constatamos também que os aspectos relacionados a esse ensino se configuram como uma das maiores dificuldades enfrentadas por estas professoras, haja vista que, as avaliações externas “cobram” a aprendizagem de descritores e isso se contrapõe pelas propostas difundidas e defendidas pelo PAIC. A análise

que fizemos dos momentos de planejamento tanto individuais quanto coletivos revelou a ênfase dada ao ensino voltado para a aprendizagem dos descritores e essa recomendação se dá pela Secretaria Municipal de Educação.

As evidências do planejamento do trabalho docente e as concepções de escrita destas professoras trazem, em suas vertentes, paradigmas de um ensino em que a aprendizagem da língua se dá de forma artificial, haja vista que as estratégias didáticas se voltam mais para um ensino em que se prioriza a aquisição do código. Os momentos de observação dos planejamentos pedagógicos nos permitiram concluir que as formações continuadas ofertadas pelo PAIC se configuram como um dos aportes para a consolidação da prática docente, entretanto, não são consolidadas no âmbito escolar.

O segundo tipo ideal está associado ao ensino da escrita com rápidas nuances de práticas de letramento. Nele, percebemos proposições de atividades de escrita para os usos sociais, visto que a tendência dominante é a de atender minimamente a perspectiva do “alfabetizar letrando”. Desta maneira, as concepções e práticas das professoras alfabetizadoras desse município também giram em torno dos processos de alfabetização na perspectiva do letramento. De forma bem peculiar, o ensino e a aprendizagem da escrita se constituem nas relações sociais estabelecidas pelas crianças, nos sentidos construídos por estas interações com o outro e nas possibilidades de inserção ao mundo letrado.

Para analisarmos as concepções e as práticas pedagógicas destas professoras que participam deste tipo ideal, fez-se necessário um delineamento das atividades do PAIC, visto que os usos da escrita em situações sociais eram propostos por estas professoras a partir destas atividades. Este contexto nos remete a pensar acerca do processo de alfabetização e as nuances do letramento, levando-nos a refletir sobre os processos de aprendizagem e as concepções que fundamentam o ensino e a aprendizagem da escrita desse município, visto que a escrita, como instrumento cultural, é carregada de significados e construída nas relações e interações sociais e, por esta razão, configura-se como um processo comunicativo nos diversos contextos sociais.

As concepções teóricas que conduzem as práticas de letramento nas salas de 2º anos desse município se expressam através dos fazeres e dizeres pedagógicos destas professoras e se efetivam a partir das propostas do alfabetizar e do letrar. Portanto, ainda que de modo bastante superficial, as professoras que podem ser associadas a este tipo ideal, levam em consideração os sentidos da escrita não apenas como a apropriação de um código.

No terceiro tipo ideal, as observações em sala de aula, os resultados das entrevistas realizadas com as professoras participantes da pesquisa, a conversa com a técnica

responsável pelas formações do 2º ano do município e a coleta de materiais relacionados ao ensino da escrita evidenciaram que as práticas de escrita estão muito voltadas aos ditames das avaliações externas. Desta forma, os sentidos da avaliação no contexto educacional e suas implicações no ensino da escrita surgiram como um dos pressupostos que orientam as práticas pedagógicas das referidas professoras. Assim, a maioria das professoras investigadas se relaciona com esse tipo ideal e, por isso, este acabou sendo um instrumento para analisarmos o contexto do ensino da escrita nesse município.

Mesmo que o município defenda a perspectiva do letramento, constatamos que permanecem vigentes atividades de escrita descontextualizadas. Ainda que as práticas pedagógicas de muitas professoras tenham se voltado para o ensino da escrita como instrumento social, comunicativo e cultural, as práticas de avaliação acabam distorcendo esses princípios. Por esta razão, consideramos que se faz necessário um (re)pensar acerca das avaliações que estão sendo impostas às salas de alfabetização do país e suas implicações na prática pedagógica e na aprendizagem das crianças. É preciso aproveitar os resultados obtidos por estas avaliações para ressignificar mudanças no quadro de alfabetização e nas práticas pedagógicas dos professores alfabetizadores. Além disso, esses resultados devem estar atrelados ao processo de ensino e ser significativos para a aprendizagem, não apenas lançados como uma política censitária, ou seja, números em escalas de proficiência que não correspondem à realidade instrucional. Não adianta utilizarmos as avaliações externas para compararmos os avanços e os retrocessos de cada estado, município e/ou escola, sem promover uma aprendizagem concreta em termos de leitura e escrita.

O discurso dos sujeitos partícipes deste estudo realça o quão as avaliações externas se configuram como propulsoras para o fazer docente e isso é evidenciado tanto nas práticas pedagógicas destas professoras como nas justificativas das atividades de escrita postas para as crianças. Portanto, concluímos que as avaliações externas perpassam toda a prática pedagógica das professoras, interferindo de forma sistemática e, de certo modo, contraproducente nos processos de alfabetização e de letramento das crianças neste município.