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3 PERCURSO METODOLÓGICO

3.3 Técnicas de Construção dos Dados

Levando em consideração as peculiaridades da pesquisa qualitativa para o alcance dos objetivos dessa pesquisa, utilizamos os seguintes instrumentais e técnicas de coleta de dados: a observação, a consulta de amostras de atividades propostas às crianças e a entrevista semiestruturada.

Na sequência, apresentamos os procedimentos metodológicos empregados nesta pesquisa, as justificativas de escolha de cada um deles, bem como a descrição do percurso investigativo trilhado ao longo desta investigação.

3.3.1 Observação

A observação é uma técnica imprescindível em toda pesquisa científica, desempenhando um relevante papel no contexto da pesquisa, levando o pesquisador a um contato direto com o objeto de estudo (MINAYO, 1994) e é considerada como um elemento básico de investigação científica utilizado na pesquisa de campo. Ainda sobre essa técnica de investigação, Gil (2008) afirma que é uma das que mais possibilita a percepção direta dos fatos pelo investigador. Isso se justifica por ser a observação um

[...] elemento fundamental para a pesquisa. É, todavia, na fase de coleta de dados que o seu papel se torna mais evidente. A observação é sempre utilizada nessa etapa, conjugada a outras técnicas ou utilizada de forma exclusiva. [...] A observação nada mais é que o uso dos sentidos com vistas a adquirir os conhecimentos necessários para o cotidiano. (GIL, 2008, p. 100).

Ainda segundo Gil (2008, p. 100), “A observação apresenta como principal vantagem, em relação a outras técnicas, a de que os fatos são percebidos diretamente, sem qualquer intermediação”. Nesta perspectiva, a observação, embora utilize, principalmente, o sentido da visão e da audição para obter determinados aspectos da realidade, ela não consiste apenas em ver e ouvir, mas também em examinar fatos ou fenômenos que se deseja estudar (MARCONI; LAKATOS, 2002). Por esta razão, optamos por esta técnica, visto que consideramos que ela nos possibilitaria captar uma variedade de situações e ter um maior contato com o objeto estudado: as características no ensino da escrita desenvolvido pelas professoras do referido município.

De início, a observação utilizada foi denominada de simples, devido ao fato de termos passado um mês tratando de nos fazer familiar entre os sujeitos, bem como coletando amostras de atividades de escrita das crianças para que pudéssemos perceber, posteriormente, as características das proposições de atividade de escrita que o município oferece às crianças. Nesse período, visitamos a secretaria de educação e as escolas para tentarmos entender um pouco os programas e projetos vigentes nesse município, bem como delinearmos e caracterizarmos a conjuntura educacional desse município.

Esse momento inicial foi importante, pois tivemos algumas redefinições para a construção dos instrumentais de pesquisa e para a escolha das amostras de escrita, possibilitando também o aporte necessário para a aproximação gradativa entre nós e os sujeitos envolvidos, bem como o objeto de estudo. Demandou, portanto, um período de um mês, centrando-se, principalmente, em cinco escolas municipais.

Logo em seguida, utilizamos a observação com uma natureza mais participante, ou observação ativa, em que tivemos uma participação real em campo a fim de obtermos um conhecimento mais aprofundado das práticas pedagógicas desenvolvidas por esta professora para o ensino da escrita, tomando por base as concepções de escrita que norteiam essas práticas e as atividades propostas para as crianças sob a orientação dessas concepções. Seguimos, portanto, as ideias de Gil ao afirmar que “[...] o observador assume, pelo menos até certo ponto, o papel de um membro do grupo que observa [...]” (2008, p. 103). Daí o porquê de definirmos a observação como participante e de ter sido esta a técnica pela qual acreditamos ter sido possível de chegar a um melhor conhecimento acerca das práticas do grupo com o qual estudamos, a partir do interior dele mesmo.

Esta técnica nos possibilitou estarmos inseridos no contexto da sala de aula, levando-nos a compreender melhor as práticas pedagógicas desenvolvidas, principalmente, pela professora Iara. Nos primeiros momentos da observação participante foram vistos os aspectos inerentes ao ensino da escrita no 2º ano, tendo como base as práticas pedagógicas desenvolvidas em sala pela professora partícipe da pesquisa, bem como as justificativas e proposições de atividades de escrita. Isso se deu porque as proposições de atividades de escrita feitas por essa professora foram acompanhadas paulatinamente para que não perdêssemos os seus principais objetivos. Desta forma, teríamos um embasamento maior para percebermos algumas das características do ensino da escrita no município.

No acompanhamento dessa observação, o principal instrumento utilizado foi um diário de campo, visto que o diário de campo se constituiu em um instrumento eficiente de registro do nosso trabalho de pesquisador, ou seja, “[...] um instrumento ao qual recorremos em qualquer momento da rotina do trabalho que estamos realizando.” (MINAYO, 1994, p. 63).

Como aporte para as observações seguimos um roteiro previamente elaborado (APÊNDICE D) de acordo com os objetivos desta pesquisa que possibilitou a descrição minuciosa dos aspectos que envolvem o ensino da escrita em atividades cotidianas de sala de aula, considerando os sujeitos da pesquisa, suas práticas pedagógicas, as atividades de escrita desenvolvidas em sala, o desempenho das crianças nessas atividades e a eficácia dessa escrita ensinada em situações diversas.

Além do diário de campo, outras formas de registro foram utilizadas como procedimentos auxiliares na composição das descrições, dentre elas: a gravação de vídeos, de áudios e a captação de imagens fotográficas que foram consentidas pelos partícipes desta pesquisa. Contudo, estas formas de registro se configuraram muito mais como

complementares do que propriamente essenciais à análise dos dados, assim como veremos mais adiante.

3.3.2 A entrevista

Segundo Gil (2008), a entrevista se caracteriza como uma das técnicas que melhor proporciona uma compreensão do problema, gerando hipóteses e fornecendo elementos para a construção de instrumentos de construção de dados, mas também pode ser utilizada para investigar um tema em profundidade, como ocorrem nas pesquisas designadas do tipo qualitativa. Nesse tipo de pesquisa, a entrevista é

[...] mais flexível de todas as técnicas de coleta de dados de que dispõem as ciências sociais. Daí porque podem ser definidos diferentes tipos de entrevista, em função de seu nível de estruturação. As entrevistas mais estruturadas são aquelas que predeterminam em maior grau as respostas a serem obtidas, ao passo que as menos estruturadas são desenvolvidas de forma mais espontânea, sem que estejam sujeitas a um modelo preestabelecido de interrogação. (Gil, 2008, p. 111).

É importante perceber que esta técnica favorece não só a descrição dos fenômenos sociais, mas também sua explicação e a compreensão de sua totalidade, além de manter a presença consciente e atuante do pesquisador no processo de coleta de informações (TRIVIÑOS, 1987). Por esta razão, optamos por esta técnica visto que nos possibilitou um contato maior com o nosso objeto de estudo e nos forneceu elementos essenciais para a construção dos dados. Desta forma, utilizamos a entrevista do tipo semiestruturada para podermos ter acesso a mais e melhores informações necessárias ao percurso investigativo desta pesquisa.

Para Triviños (1987), a entrevista semiestruturada se caracteriza como uma série de questionamentos básicos que são apoiados em teorias e hipóteses que se relacionam ao tema da pesquisa. Os questionamentos iniciais deram frutos a novas hipóteses surgidas a partir das respostas dos partícipes desta pesquisa. Ainda segundo Triviños, esse tipo de entrevista oferece

[...] amplo campo de interrogativas, fruto de novas hipóteses que vão surgindo à medida que se recebem as respostas do informante. Desta maneira, o informante, seguindo espontaneamente a linha de seu pensamento e de suas experiências dentro do foco principal colocado pelo investigador, começa a participar da elaboração do conteúdo da pesquisa. (1987, p. 146).

Para esta técnica, fez-se necessário um roteiro que norteou as perguntas utilizadas na entrevista e que tinha como base os objetivos propostos inicialmente por essa investigação (APÊNDICE E). O roteiro da entrevista contou, inicialmente, com questões abertas que foram desenvolvidas em forma de conversa informal, mas que sofreram modificações ou acréscimos durante o processo de sua realização. Tais questões possibilitaram às professoras expressarem suas concepções acerca da escrita, de como desenvolvem o ensino desta relevante prática social, de suas justificativas das proposições de atividades de escrita para as crianças e suas relações com as avaliações externas.

Como instrumentos de registro dessas entrevistas foram utilizados o diário de campo e um gravador de voz, com o qual registramos de forma precisa as falas dos entrevistados, garantindo assim, informações as mais fidedignas possíveis. Esta técnica possibilitou o desvelamento dos objetivos específicos, levando-nos a uma reflexão acerca das características do ensino da escrita na ótica das professoras, bem como os fatores de implicação ou ressignificação das práticas de avaliações associadas a esse ensino.

É importante ressaltar que esse tipo de entrevista possibilitou aos sujeitos pesquisados uma liberdade na expressão dos seus pensamentos, sentimentos e posicionamentos acerca do processo de alfabetização e letramento, das perspectivas em relação à aprendizagem da escrita pelas crianças e, principalmente, dos principais entraves enfrentados em sala no tocante ao ensino da escrita. A priori, todos os instrumentos pertinentes para essa técnica foram utilizados mediante o consentimento das entrevistadas.

3.3.3 Amostras de material de escrita

Durante as observações, complementando as técnicas supracitadas, foram recolhidas amostras de materiais propostos pelas professoras para as crianças, conforme já anunciamos. Essas amostras incluíram as atividades realizadas em sala, o próprio caderno de plano do professor, as diretrizes de atividades propostas pela SME, as orientações de atividade promovidas pelo PAIC e algumas cópias de atividades avaliativas realizadas pelas professoras com as crianças. Todo esse material foi fotografado e analisado de forma conjunta com as falas das professoras entrevistadas e com as anotações do diário de campo.

Outrossim, as professoras envolvidas, sobretudo a professora observada, foram também acompanhadas tanto em sala de aula quanto nos momentos de planejamento, bem como nos estudos individuais.

Portanto, o material analisado nesta pesquisa é composto pelo conjunto das anotações em diário de campo, das amostras de atividades recolhidas e das entrevistas feitas com as professoras. Na sequência, buscaremos detalhar como se deu a análise de todo esse material.