4 TECENDO OS FIOS: ANÁLISE DOS DADOS
4.2 AS PRODUÇÕES ESCRITAS EM RESPOSTA ÀS TAREFAS
4.2.3 Nível 3 – Intermediário Superior
4.2.3.1 Pontos falhos: não recontextualiza informações necessárias
A não recontextualização de informações necessárias no nível 3 se dá em relação ao cumprimento do propósito dentro do contexto de produção solicitado. Desse modo, no caso da T4, não são recontextualizadas informações relevantes para explicar o problema de roubo de azulejos nos casarões históricos de Belém ou para argumentar sobre a necessidade de se tomarem medidas imediatas para solucioná-lo. No exemplo a seguir, a argumentação é realizada recontextualizando informações do material de insumo e mobilizando informações do repertório do examinando:
Quadro 20 - Nível 3, T4-66
20 de Outubro de 2015, Paraná Carta Aberta
S...ID
Rua José Alves 789
Prezados Srs: sou uma cidadá que esreve en busca de despertar em vocês uma maior valorização do nosso patrimônio histórico. Hojê é noticia que nossa cidade, uma das maiores con azulejos preservados do século XIX e trazidos por nosso antepasados de Europa; está sindo vandalizada, roubandou-se assim parte da história do lugar.
Tenho 58 anos e é para mim orgolho fala dessos azulejos e sua historia a meus netos, contar para eles que eu nasci perto do Palacete V. Maria da Silva, e que minha infança foi marcada por essas fachadas coloridas.
A segurança e a preservaçao depende de vocês, permitindo as próximas generações ser testigos dessas obras de arte que nos contan do passado. Confio em seu trabalho, e tenho a disposição dos restauradores das UFPA minhas fotografias familiares, que contam com detalhes de varias dessas fachadas roubadas. Se você tem uma forma de ajuda, não perça o tempo.
Com muita dor pela situação, mais com a esperança de que pronto se ache uma solução deixo esta carta para pedir também apoio dos vizinhos; e no momento de frequentar os casarões históricos ficar ligados com a preservações dos mesmos.
Obrigada e a disposição.
Ana Clara Batista. Fonte: Disponibilizado pelo Inep.
Nessa produção escrita, a examinanda assume a posição de moradora inconformada, demonstrando propriedade para realizar a solicitação: “Tenho 58 anos e é para mim orgolho
fala dessos azulejos e sua historia a meus netos, contar para eles que eu nasci perto do Palacete V. Maria da Silva, e que minha infança foi marcada por essas fachadas coloridas”.
Desse modo, as informações do material de insumo são atribuídas a um novo contexto, isto é, recontextualizadas para cumprir com os propósitos da tarefa. Essa argumentação também se dá a partir da responsabilização da prefeitura pela preservação do patrimônio para as gerações seguintes: “A segurança e a preservaçao depende de vocês, permitindo as próximas
A partir disso, a examinanda se insere na prática social como uma moradora inconformada e oferece sua ajuda: “Confio em seu trabalho, e tenho a disposição dos
restauradores das UFPA minhas fotografias familiares, que contam com detalhes de varias dessas fachadas roubadas. Se você tem uma forma de ajuda, não perça o tempo”. O referente
“restauradores das UFPA”, entretanto, é inserido no texto sem qualquer contextualização, tal como o Palacete Vitor Maria da Silva, perto do qual a moradora diz ter nascido. Assim, ainda que o texto argumente sobre a importância da preservação do patrimônio e, no primeiro parágrafo, mencione vandalismo e roubos, faltam informações para explicar o problema para o interlocutor projetado. Informações como a suspeita de que haja um mercado de azulejos na cidade e que os roubos sejam encomendados, por exemplo, não são recontextualizadas.
Desse modo, ainda que as informações mobilizadas do repertório do examinando demonstrem uma boa compreensão do material de insumo, a falta de algumas informações necessárias para explicar o roubo de azulejos prejudica o cumprimento desse propósito e o desempenho da examinanda. Em outros textos, mais informações do material de insumo são recontextualizadas, mas ficam de fora informações que seriam mais relevantes para o cumprimento dos propósitos, como no exemplo a seguir:
Quadro 21 - Nível 3, T4-72 Belém, 20 de outubro de 2015.
Prefeitura Municipal
Assunto: Roubos em Belém – Azulejos valiosos Prezados senhores
Sou João Silva morador desta capital paraense e escrevo para vocês pela degradação arquitetónica da nossa cidade debido aos roubos em Quatro casarões do século XIX.
Uma dos casarões depredados é o palacete Vitor Maria da Silva. Nesta construção foram roubados mais de 1000 fragmentos de azulejos e logo foram encontrados e levados ao Laboratório de conservação e restauração da UFPA, onde estão decidindo se os fragmentos seram restaurados ou refeitos. O particular deste roubo, é que o casarão é muito simples por fora e não chama a atenção de ninguém. Debido a esto, pessoas como Claudia Nascimento (Arquiteta) pensa que os roubos são efeitos para desqualificar a propriedade e se possa fazer o que quiser com o patrimônio.
Pelo Anterior, eu pido ajuda para que vocês façam tudo o possível e não permitam a degradação arquitetónica da cidade. Atenciosamente.
João Silva. Morador da cidade de Belém
Fonte: Disponibilizado pelo Inep.
Diferentemente do exemplo anterior, a explicação sobre o problema do roubo de azulejos é mais contemplada pelas informações recontextualizadas nessa produção. Algumas
dessas informações, inclusive, não são tão necessárias para o cumprimento da tarefa, como o detalhamento sobre os azulejos do Palacete Vitor Maria da Silva: “Nesta construção foram
roubados mais de 1000 fragmentos de azulejos e logo foram encontrados e levados ao Laboratório de conservação e restauração da UFPA, onde estão decidindo se os fragmentos seram restaurados ou refeitos”. Além disso, o examinando também mobiliza muito pouco do
seu repertório, seja em relação a outras informações legitimadas pela prática social, seja em relação a recursos linguísticos diferentes dos do material de insumo. Assim, ainda que o examinando anuncie que escreve “pela degradação arquitetónica da nossa cidade debido aos
roubos em Quatro casarões do século XIX”, explique o problema e reitere a solicitação ao
final do texto “Pelo Anterior, eu pido ajuda para que vocês façam tudo o possível e não
permitam a degradação arquitetónica da cidade”, faltam informações que contextualizem a
importância dos casarões históricos de Belém, de modo que a argumentação sobre a necessidade de se tomarem medidas para sua preservação fica prejudicada.