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por último, em toda inovação se planeja desenvolver um proces-

so de acompanhamento dela mesma por meio de um sistema de avaliação

adequado e permanente, da participação de uma assessoria externa que permita ver melhor e com mais objetividade o deslanchar do projeto, a participação dos docentes debatendo a implantação cotidiana do pro- jeto, suas realizações, suas dificuldades, a necessidade de correção de rota ou aperfeiçoamento de posturas de compreensão e interiorização da inovação, por parte dos atuais participantes do movimento de ino- vação e de todos os futuros participantes.

Toda esta reorganização de um curso de graduação que pretende tornar-se inovador não tem condições de se efetivar sem a participação

da Gestão e governança no Ensino Superior. A participação e o compro-

misso desta com o projeto inovador são fundamentais para as mudanças que serão necessárias, haja vista, por exemplo, as três últimas conside- rações acima, além dos aspectos de alterações de espaços, tempo, currículo, formação de professores e outros.

Esta participação é tão decisiva que muitos projetos inovadores se inviabilizam, por exemplo, por falta de investimento na formação dos professores, ou por não se contratar assessorias externas, por falta de recursos tecnológicos, e assim por diante. A Administração de Ensino

Superior precisa assumir o projeto inovador como seu e estar dispos- ta a apoiá-lo efetivamente.

2.5. INOVAÇÃO E FORMAÇÃO DE PROFESSORES

A participação de professores em projetos inovadores não é uma ati- tude fácil para a maioria dos docentes, pois sua formação e sua cultura estão fundamentadas em organizações curriculares tradicionais.

Este fato exige todo um cuidado especial voltado para atividades de seleção do corpo docente que vai pensar e realizar um projeto inovador, um tempo de sensibilização deste corpo docente para compreender, assumir e se comprometer com a realização do novo projeto, um plano de formação continuada e em serviço daqueles professores que optarem por participar no projeto que lhes ofereça apoio, assessoria e colabora- ção em suas atividades docentes cotidianas com seus novos alunos, na análise e encaminhamento de possíveis problemas ou dificuldades que venham acontecer.

A condição básica de um currículo inovador ser levado adiante é con- tar com a participação daqueles que o irão construir desde seu início. O sentimento de “pertença” ao projeto é fundamental para a vivência e trabalho desde o início com seus construtores.

Necessita-se de um envolvimento individual e coletivo com o novo currículo, com atitudes de percepção e vivência das necessidades sen- tidas, abertura para a inovação, ousadia, coragem, compromisso, participação, disposição de modificar crenças, culturas, atitudes e ideias; disposição para um trabalho de equipe, de corresponsabilidade e para “pôr as mãos na massa”; disposição para discussão, implantação e desen- volvimento do projeto.

Espera-se que o professor assuma um papel de mediador no pro- cesso pedagógico e de planejador de situações e práticas pedagógicas inovadoras que melhor colaborem com a aprendizagem de seus alunos. Aponta-se ainda para a valorização da parceria e da coparticipação entre professores e alunos e entre os próprios alunos na dinamização do pro- cesso de aprendizagem, da comunicação entre os participantes gerando novas formas e recursos de trabalho e aproveitamento das atividades escolares revitalizando a formação profissional.

Tais mudanças exigem que o papel do professor se altere de um espe- cialista em determinado assunto a ser comunicado a todos os alunos para o de um educador que se sente corresponsável com seus alunos

por realizar uma mediação pedagógica que facilite a aprendizagem do aluno como processo pessoal e grupal, que o oriente em seus traba- lhos, que discuta com ele suas dúvidas, seus problemas, suas perguntas, que o incentive e motive para avançar, que interaja com o grupo e faça com que o grupo interaja entre si.

Ao discutir questões relacionadas à inovação educativa e profissão docente, Francisco Imbernón (2010) destaca que a inovação perde boa porcentagem de inserção e melhoria quando se produz isoladamente e se converte em simples experiência pessoal. Dessa forma, o autor acredita na possibilidade de um protagonismo coletivo e, portanto, ins- titucional, implicando uma nova concepção da instituição e da formação, imersa em processos de pesquisa e reflexão que sejam capazes de modi- ficar contextos institucionais, sociais, profissionais e educativos.

O professor Antônio Joaquim Severino (2011) assevera que a educa- ção, por sua própria natureza, tende a atuar como força centrípeta de conformação, de conservação da memória cultural e não como força centrífuga, de transcendência, de criação do novo e de uma nova cultu- ra, de transformação social. E nessa direção temos as palavras de Antonio Angarita ao apresentar o livro “Construção de um Sonho”, que narra a história recente da criação de um curso de Direito e de um novo tipo de docência, inovadora pela forma e pelo conteúdo, transformando o aluno em protagonista, ampliando sua compreensão do mundo para além do simples ouvir e fazer exames:

As críticas às grandes aulas expositivas (longas e eloquentes) não podem ser apenas um mal-estar “moderno” ou uma tola idiossincrasia. Essas críticas devem levar professores e escolas a saírem da mera impugnação para novos exercícios [...] O que precedeu a tudo, no marco da criação da Escola propriamente dita, foi reunir pessoas interessadas não somente em fazer a crítica do statu quo, mas em pensar com liberdade novos padrões para o ensino do Direito (ANGARITA, 2009, p. 16 e 18).

Sabemos que não encontramos tão facilmente docentes com estas características e muito menos já preparados para discutir, propor e implantar um currículo inovador.

Necessita-se de um tempo para selecionar os professores e desen- volver atividades de uma formação continuada destes.

Mesmo com um processo de seleção docente e a boa vontade e com- promisso assumido por eles, a implantação de um novo modelo curricular exige um programa de formação pedagógica contínua que seja institucionalmente estabelecido. Não é uma opção ou escolha de o docente continuar seus estudos e discussões sobre conceitos, políticas, competências e ferramentas envolvidas no percurso de cada aula. Essa deve ser uma ação intencional, curricularmente instituída e vivida pelos docentes e gestores.

REFERÊNCIAS

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3. A NECESSIDADE DA TRANSVERSALIDADE NO

ENSINO JURÍDICO PARA UMA EFETIVA CONTRIBUIÇÃO