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por que não aconteceu de ter se tornado evangélica antes, mais jovem ?

CONSIDERAÇÕES FINAIS

E, por que não aconteceu de ter se tornado evangélica antes, mais jovem ?

Talvez, porque eu morei na roça até os meus vinte anos, eu trabalhava na enxada mesmo. Tudo quanto era trabalho de roça eu fazia. E até passei por perigos que eu não conhecia. Uma vez eu estava limpando as covas de café e tinha uns escorpiões enormes e eu comecei a brincar com um pauzinho, eu comecei a brincar com eles. Aí eu falei, pai vem ver que coisinha mais lindas têm aqui. Meu pai chegou, falou: “Minha filha isso é escorpião”. Aí meu pai matou. Mas não me atingiu. E, também cobra, eu achei a coral linda. Ai o meu pai falou: “Ela é perigosa, quando você vê que tá arrastando você foge. Você foge porque é perigoso”.

Quer falar mais, pode falar.

É. Quanta, quanta coisa meu pai me ensinou. Meu pai me contou a história dos meus avós. E eu escrevi esta história. Eu tenho escrita ali num caderno. A minha bisavó ela era rainha na Áustria. E ela chamava Francisca. Então, ela era a rainha Francesca. E ela tinha uma filha, uma única filha que foi a minha avó. Ela se chamava Ana Riul. Não. Ela chamava Ana Felipe, depois é que ela recebeu o nome do meu avô. E eles vieram aqui pro Brasil. Eles vieram com um navio emigrante, ela saiu fugida para não perder o marido dela porque ela não podia se casar.

Casou com um plebeu?

É ela se casou com um plebeu e quem fez o casamento foi o tio dela que era irmão da minha bisavó. Ele fez o casamento escondido. Ele era um bispo e era também um detetive. Acho que era Carlos, o nome dele. Ele foi um grande escritor. Lá na Áustria, tem bibliotecas das coisas que ele escreveu. Ela foi uma pessoa muito boa. E, ele escondeu da irmã dele que tinha feito o casamento escondido e ainda trocou o nome da Ana, no casamento, para ninguém descobrir. Aí depois de dois anos que ela estava casada, ele levou ela para morar numa província longe, pra ninguém descobrir.

Aí ela veio para Brasil?

E um dia ela leu um jornal, lá da província que a mãe estava procurando, aí eles fugiram. Vieram pro Brasil. É sua mãe ou seu pai que é descendente dela?

É meu pai. É meu pai que é filho dela. E ela veio pra cá. O meu avô trouxe uma capa toda cheia de pedras preciosas. Porque meu avô também era rico lá. Mas chegou aqui foi mendigo também, quase, não mendigo. Aí se empobreceu?

Aí pegou esse paletó e trocou com uma fazenda muito grande que tinha algumas vacas. Acho que era umas quatro ou cinco vacas e cavalo, burro alguma coisa assim. E ele foi trabalhar na roça. Saiu até a pele das mãos da minha avó, porque ela foi ajudar meu avô na roça. Ela cantava o dia todo e falava que ela era muito feliz, porque eu estou com “mi amore” (risos). Eu nunca vi uma discussão nem dos meus avós e nem dos meus pais. Nunca o meu pai falou alto com a minha mãe. Foi sempre um amor muito lindo. E isto eles passaram pra nós. Por isso, que a nossa família é muito unida. E a minha avó depois dos cinco anos ela foi internada num convento, porque não ficava na casa do rei. Ela ficou até os cinco anos, depois foi ela foi internada no convento. No convento ela só bordava, tocava harpa e cantava, porque ela ensinava o coral. A única coisa que ela trouxe de lá foi a harpa.

E a senhora viu ela tocando?

ENTREVISTADA 03

Eu queria que a senhora falasse um pouquinho como é que foi essa experiência da senhora de ter ido para a igreja. O que aconteceu?

Foi assim, foi quando me deu minha primeira parada que eu passei mal, meu filho tinha ido embora para os Estados Unidos e, ele nunca tinha separado de mim. Esse que está morando comigo agora. E ele foi embora e ficou pra lá uns dezoito anos. Mas quando nós fomos ver ele, já tinha mais de oito anos que agente não se via porque ele foi desorganizado então não tinha como ele vir aqui. Ele viajou, ele foi num sábado, na segunda eu fui ao médico porque eu não estava passando bem. Terça-feira, já me deu a primeira parada, eu fui para o hospital, eu não vi nada, não sei de nada. Mas antes de eu ir e de me internar e de dar estas coisas, eu tinha vontade de mais de ser evangélica, eu tinha um desejo tão grande de tomar a Santa Ceia que o senhor nem imagina. Tinha vontade de mais. E, eu sempre falava com a dona Lucivone que eu tinha vontade de tomar e, ela falava: “Ah, toma, o que quê tem?” E eu falei: “Não, eu não tenho coragem de tomar sem batizar não”. E, eu tinha vontade de dar o dízimo mesmo antes de eu batizar, tudo isso eu tive desejo, e dei, comecei a dar. Aí quando foi um dia, bem depois, eu ainda estava assim lelé de tudo, eu chamei o pastor Marlúcio aqui e falei pra ele: “Eu senti vontade demais de...”

Como é que a senhora conheceu ele, alguém falava dele pra senhora?

Eu já conhecia o conhecia, porque meus dois meninos mais novos se criaram aí nessa igreja, se criaram aí junto com os meninos da dona Lucivone.

A senhora já tinha tido algum contato com a igreja antes, não? Não, não. Não tinha não.

Aí, durante este período a senhora ficou doente?

Foi, eu fui e chamei ele aqui e falei que eu tinha aquela vontade de ir, de tomar a Ceia. Nossa, eu tinha vontade. Aí eu peguei e chamei ele aqui, do jeitinho que eu estou falando para o senhor, eu contei pra ele a minha vida. Falei: “Ó pastor, eu quero de mais, me consagrar, mas só que eu não posso ajudar em nada na igreja, pois eu não tenho mais força pra ir, não sei ler, não sei base de nada, não sei nada, mas eu quero, eu quero de mais”. E aí ele falou: “Oh, você pode ir para a igreja, eu vou te consagrar”. E o dia que eu me consagrei, foi muita gente. Aí, ele falou: “Pode ir, esses outros problemas larga pra lá. Deixa tudo prá lá e pode ir para a igreja”. Aí, desse dia em diante, nunca mais eu parei de ir.

Então, o que a senhora diria que foi o motivo principal que levou a senhora para a igreja?

Foi esse problema dessa doença. Como, eu falei. Eu fui pela dor, eu fui pela dor, não fui por amor não. Isso aí eu falo porque foi verdade.

A senhora passou por aquele momento e, aquilo despertou na senhora o desejo? Foi, despertou o desejo.

A senhora falou: Eu preciso buscar as coisas de Deus, alguma coisa assim? Foi. Foi desse jeitinho.

A senhora tinha medo de alguma coisa?

Aí, quando a senhora ficou doente, a senhora começou a ficar com algum medo?

Quando eu fiquei doente, os meninos que já eram da igreja, levaram o Marlúcio lá para orar muito pra mim. Ele me visitava. Não, medo eu não tinha. Eu nunca tive medo.

A senhora tinha o desejo de quê, quando a senhora foi para a igreja, o que a senhora achou que estava buscando?

A Deus. Então, eu tinha medo de mais. Eu tenho medo de mais de sofrer, sabe? Eu tenho muito medo. Então eu peço a Deus pra quando Ele quiser me levar. Como Ele já quis três vezes.

Pra Ele não deixar a senhora sofrer de mais?

Eu não vi, eu não lembro. Essas paradas que já me deu eu nem vi quando eu ganhei alta e vim embora.

O que mudou na vida da senhora, quando a senhora passou a frequentar a igreja e abraçou essa nova fé? Comparando, por exemplo, a vida da senhora do que era antes, com o que veio depois. O que a senhora tem hoje que não tinha antes?

Ora, mudou tudo, mudou tudo. Porque, eu graças a Deus tenho a minha vida assim, de pobre, mas controlada, graças a Deus. E, tudo, as vezes, que eu peço pra Deus Ele ouve.

Na relação da senhora com a família e na vida pessoal da senhora. O que teria mudado? Quais coisas que a senhora sentia antes e que não sente mais?

Eu senti muita coisa. Porque aqui em casa, tinha muita desunião entre meus filhos. Porque eu não sei se falei pro senhor. Mas faz uns cinco anos que eu perdi um filho nessa casa, ele se suicidou. Foi triste de mais. Mas Deus me deu muita força. E Deus me fortaleceu, eu aguentei e estou aguentando até hoje. Porque não é fácil. Foi muito difícil pra mim. Não aguento nem pensar. Ainda ontem eu estava falando, Natal pra mim é igual a qualquer um outro dia, porque eu não tenho alegria.

Por causa dessa perda.

Mas, graças a Deus. Ele me fortalece muito. Porque o que eu já passei, não era para eu estar aqui.

A senhora sente que hoje a senhora está mais perto de Deus? A presença dEle é mais real na vida da senhora? A senhora tem a experiência de orar?

Eu não sou assim de orar em voz alta, porque eu não guardo as palavras. Eu oro do meu jeito. A hora que eu quero orar eu oro. Na hora de eu dormir eu oro.

E, quando a senhora olha para a vida, para o futuro, a senhora se sente segura? Como a senhora se sente?