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Por uma noção de língua no Diccionario del español del Uruguay – entre a língua

Para refletirmos sobre o funcionamento da noção de língua no DEU, selecionamos algumas sequências discursivas (SD) dos três textos introdutórios que nos fazem pensar sobre esse imaginário de língua nacional ou regional. As sequências SD1 a SD6 foram retiradas do

Proemio, as sequências SD7 e SD8 foram retiradas do Prólogo e as sequências SD9 e SD10

foram retiradas do Preámbulo. Consideramos que apresentar dez sequências discursivas dos prefácios do DEU é um recorte representativo do discurso presente no referido dicionário. Para melhor ilustrar as sequências para a análise, apresentamo-las todas a seguir, no Quadro 3, para depois analisarmos uma a uma:

(continua) SD1 Una lengua sin diccionario […] es una lengua que anda “suelta” […]123.

SD2 La existencia de diccionarios […] testimonia el estatuto de lengua estándar de

una variedad determinada.124

SD3 Cuando una lengua como la nuestra, el español, se diversifica tanto, se expande por tantos lados y acrecienta en magnitud tal el número de sus hablantes […] su diversificación es inevitable. Por lo tanto, empiezan a surgir, en ese proceso histórico de expansión, diferentes centros de estandarización e irradiación de las normas lingüísticas […]125

.

SD4 La lengua se regionaliza a través de diferentes centros que impulsan sus propias fuerzas de diferenciación.126

SD5 [Hay tipos de diccionarios] que recogen las características de una variedad

determinada del español, en este caso, el español rioplatense en su versión uruguaya.127

123Tradução nossa: “Uma língua sem dicionário [...] é uma língua que anda “solta” [...]”. 124

Tradução nossa: “A existência de dicionários [...] testemunha o estatuto da língua standard de uma variedade determinada”.

125Tradução nossa: “Quando uma língua como a nossa, o espanhol, diversifica-se tanto, expande-se por tantos

lados e acrescenta, em magnitude tal, o número de seus falantes [...] sua diversificação é inevitável. Por tanto, começam a surgir, nesse processo histórico de expansão, diferentes centros de estandardização e irradiação das normas linguísticas”.

126Tradução nossa: “A língua se regionaliza através de diferentes centros que impulsionam suas próprias forças

de diferenciação”.

127Tradução nossa: “[Há tipos de dicionários] que recolhem as características de uma variedade determinada do

(conclusão)

SD6 Como se trata de un diccionario contrastivo […] en el DEU no aparecen las

formas del español general, sino las peculiares de esta zona del mundo hispánico […] o aquellas que, teniendo una misma forma poseen sin embargo una significación diferente en la variedad regional.128

SD7 Que anuncia y ofrece algo tan de nosotros, como es nuestra habla, que sin ella no seríamos quienes somos ya que, ciertamente, significa uno de los trazos sustanciales del perfil del pueblo que nos identifica.129

SD8 […] donde vive alguien que dice el habla nuestra, y ella ha recogido ecos,

próximos o lejanos, que han conquistado un área de uso y comprensión, logrando así genuino sello de lenguaje uruguayo.130

SD9 [El DEU] constituye un corpus amplio del léxico del habla uruguaya, en uso

entre las primeras décadas del siglo XX y la actualidad.131

SD10 La circunstancia de que sea el DEU el primer diccionario elaborado y editado con el apoyo del Estado permite suponer, con suficiente certeza, que las ediciones futuras serán posibles y que ellas, ampliadas y perfeccionadas cada vez, lo irán convirtiendo progresivamente en patrimonio cultural del Uruguay.132

Quadro 3 – Sequências discursivas dos textos introdutórios do DEU.

Neste momento, nosso olhar se volta aos prefácios, pois eles podem ser produzidos por editores (com objetivo de venda da obra), por autores (estabelecendo uma relação de aproximação com o leitor) ou por terceiros (adjetivando a obra e o autor), de acordo com Petri (2009). Assim, o prefácio é entendido como um texto com funcionamento próprio, porque revela a ideologia, a história e a posição do sujeito dicionarista presente em cada obra, além de representá-la, enaltecendo-a.

128Tradução nossa: “Como se trata de um dicionário contrastivo [...], no DEU, não aparecem as formas do

espanhol geral, mas as peculiares desta zona do mundo hispânico [...] ou aquelas que, tendo uma mesma forma, possuem, no entanto, significação diferente na variedade regional”.

129

Tradução nossa: “Que anuncia e oferece algo tão nosso como é nossa língua, que, sem ela, não seríamos quem somos, já que, certamente, significa um dos traços substanciais do perfil do povo que nos identifica”.

130Tradução nossa: “[...] onde vive alguém que fala a nossa língua, e ela há recolhido ecos, próximos ou

distantes, que conquistaram uma área de uso e compreensão, conseguindo, assim, genuíno selo da linguagem uruguaia”.

131Tradução nossa: “[O DEU] constitui um amplo corpus do léxico da língua uruguaia em uso entre as primeiras

décadas do século XX e a atualidade”.

132

Tradução nossa: “A circunstância de que seja o DEU o primeiro dicionário elaborado e editado com o apoio do Estado permite supor, com suficiente certeza, que as edições futuras serão possíveis e que elas, ampliadas e aperfeiçoadas cada vez, o irão convertendo progressivamente em patrimônio cultural do Uruguai”.

As posições sujeitos presentes nesses prefácios, conforme indicamos anteriormente, são de linguista, escritor/professor e mercadológico, sendo vinculadas à Academia Nacional de Letras do Uruguai. Esses textos introdutórios revelam, respectivamente, um discurso acadêmico, um discurso entusiasmado (em vista de ser um dicionário uruguaio elaborado por muitos anos) e um discurso metodológico sobre a feitura do dicionário.

Conforme Nunes (2006), os prefácios são materiais importantes para verificar as condições de produção do dicionário. É nesse espaço que percebemos a posição do sujeito dicionarista e o que esse sujeito entende por dicionário e por língua. E também “o plano da obra, a concepção de língua, o recorte da nomenclatura, os procedimentos lexicográficos, o contexto em que o dicionário se insere” (NUNES, 2006, p. 33).

Podemos dizer, neste momento, que o plano da obra é ser um dicionário da Língua Uruguaia; nas sequências discursivas aqui selecionadas, há a noção de língua como uso – língua fluida –, mas que precisa ser instrumentalizada – estar em um instrumento linguístico – passando a ocupar um espaço próprio à língua imaginária; o recorte da nomenclatura e o procedimento lexicográfico indicam um dicionário contrastivo em relação ao DRAE e o contexto em que se insere é o do bicentenário da independência do Uruguai e da possível indicação de um gesto de descolonização linguística.

Quando o sujeito dicionarista nos coloca que uma língua sem dicionário é uma língua “solta” (SD1), remete-nos a uma dificuldade em sua “manutenção”, já que ela não vai ser nem ensinada, nem aprendida pelos métodos tradicionais da sociedade da escrita. Isso nos leva à negação da gramatização, do aprendizado, do conhecimento, da fixação da língua do Uruguai. Pois estamos em uma sociedade em que é a escrita e não a oralidade que legitima a língua. E, com isso, os instrumentos linguísticos têm seu lugar garantido.

SD1: Una lengua sin diccionario […] es una lengua que anda “suelta” […].

É interessante observar que, nesta sequência, temos uma relação de paráfrase133 com o prólogo da Gramática de Nebrija de 1942134: “[La lengua] hasta nuestra edad anduvo suelta

et fuera de regla, et a esta causa a recebido em pocos siglos muchas mudanças” [...]. “Acordé ante todas las otras cosas reduzir en artificio este nuestro lenguaje castellano, para que lo

133 Agradecemos a Profª. Eliana Sturza que, na qualificação do trabalho, indicou essa relação. 134

O prólogo dessa gramática está disponível em:

<http://www.filos.unam.mx/LICENCIATURA/Pagina_FyF_2004/introduccion/Gramatica_Nebrija.pdf>. Acesso em: 10 nov. 2014.

que agora et de aquí adelante en él se escriviere pueda quedar en un tenor, et estender se en toda la duración de los tiempos que están por venir”.135

A paráfrase é o processo pelo qual “em todo dizer há sempre algo que se mantém, isto é, o dizível, a memória” (ORLANDI, 2009, p. 36). O funcionamento da linguagem também se dá na tensão entre o mesmo e o diferente, conforme a autora. Ao tomarmos uma palavra já- dita, mexemos em seu sentido, produzindo diferentes formulações de sentidos. Por isso há tensão entre o mesmo e o diferente, entre a paráfrase e a polissemia.

Atentamos para a palavra “solta” que está presente nas duas sequências apresentadas. Na SD1, temos essa palavra entre aspas, o que nos faz pensar que pode filiar-se ao sentido do prólogo de Nebrija – que antes das gramáticas e dos dicionários, a língua não era referida, escrita, refletida, pensada, identificada como a língua do sujeito falante; e, com esses instrumentos, a língua se torna única e estável. Antes, a língua era solta. Mas, antes do que? Antes de sua gramatização. Agora, ela está presa? O efeito de sentido produzido por essa paráfrase está relacionado com a origem da gramatização da Língua Espanhola e advém da autoridade, ou seja, a construção do saber sobre a língua se dá por sua descrição e instrumentalização promovidas pelos instrumentos linguísticos. Temos a gramática de Nebrija como um marco na gramatização da Língua Espanhola que ajudou na identidade para a Língua Espanhola (castelhana) que estava se consolidando como língua nacional por meio de uma escolha política. Após a publicação de Nebrija, a identidade da língua se deu com a política de unificação da RAE. A autoridade da instituição se dá também via instrumentos linguísticos. Sendo assim, a primeira tarefa da RAE foi elaborar um dicionário. Para a língua se estabelecer em seu porvir é necessário sistematizá-la por meio da pronúncia, da ortografia, da sintaxe que se dá pelos instrumentos linguísticos que colaboram para sua a normatização. Com a produção de Nebrija e da RAE, a Língua Espanhola é tomada como língua de Estado. E as Academias hispano-americanas se inscrevem nessa ideologia e a reproduzem por meio de seus dicionários: para pensar sobre a língua e ter uma identidade própria, é necessário ter instrumentos linguísticos regidos por uma instituição, para, assim, a língua não ficar “solta” e “estender-se aos tempos que estão por vir”.

135 Tradução nossa: “A língua, até nossa idade, andava solta e fora de regra e, por essa razão, há recebido, em

poucos séculos, muitas mudanças [...]. Acordei, ante todas as outras coisas, reduzir em artifício esta nossa linguagem castelhana, para que o que agora e daqui adiante nela se inscrever possa ficar estável e estender-se em toda a duração dos tempos que estão por vir”.

SD2: La existencia de diccionarios […] testimonia el estatuto de lengua estándar de una

variedad determinada.

A língua, quando está no dicionário, torna-se um “marco de referência”, reforçando o imaginário de que tem um funcionamento de standard. O que nos leva a pensar que o dicionário traz alguns traços de uma língua imaginária e que uma nação precisa ter a língua “guardada” em um instrumento linguístico. Com isso, também se reforça um imaginário do dicionário como o “guardião” da língua. Além da tradição da Academia como aquela que “cuida” da língua.

A RAE, se vale do lema “limpia, fija e da esplendor” para propagar sua política de unificação da Língua Espanhola. E a Academia de Letras do Uruguai também reproduz essa tradição “prendendo” a Língua Uruguaia em um instrumento linguístico, afinal uma língua se torna standard se está em um dicionário. Se, no momento histórico de Nebrija, a língua era companheira do império, no momento atual, a língua é companheira do Estado, ou melhor, o Estado faz da língua sua companheira.

SD3: Cuando una lengua como la nuestra, el español, se diversifica tanto, se expande por

tantos lados y acrecienta en magnitud tal el número de sus hablantes […] su diversificación es inevitable. Por lo tanto, empiezan a surgir, en ese proceso histórico de expansión, diferentes centros de estandarización e irradiación de las normas lingüísticas […].

Na SD3, o sujeito dicionarista se coloca também como falante da língua quando a designa como “nossa”. E por ser “nossa”, a língua se diversifica, porque a língua “não é una, não é uma, não é pura” (ORLANDI, 2012, p. 6), ela é de cada sujeito e da coletividade. Isso nos remete à questão de que o dicionário, segundo Orlandi (2002), nos dá a língua imaginária, sendo que a língua fluida é a que funciona no dia a dia dos falantes e a que é passível de diversificação. O que prevalece, entretanto, é a unidade linguística. Apesar de haver a diversidade em um Estado-nação, é pela unidade que ele é constituído como tal. Desse modo, aparecem as normas linguísticas, a gramatização, as Academias e a escola para controlar a unidade da língua, também surgem os instrumentos linguísticos, como o DEU, para “estandardizar” e “irradiar” a língua do Uruguai. Nessa sequência, temos um regional que se dá a partir da diversidade (heterogeneidade) linguística (entre um império e sua colônia). Em vista disso, temos uma relação institucional entre a RAE e a Academia Nacional de Letras do

Uruguai. A autoridade da RAE, enquanto instituição que regula a Língua Espanhola, se sobressai às outras Academias e estas irradiam suas normas linguísticas.

SD4: La lengua se regionaliza a través de diferentes centros que impulsan sus propias

fuerzas de diferenciación.

O sujeito dicionarista afirma, na SD4, que há uma regionalização da língua, o que nos leva a pensar que a Língua Espanhola nos países latino-americanos se historiciza de forma diferente em cada um deles e compete a cada um desses países um centro normatizador para organizar a sua língua, a sua política de língua. Cada país hispano-americano procura sua identidade também na Língua Espanhola, mas com as características que se estabeleceram em seu país. No entanto, dizer que a língua se regionaliza é negar a sua autonomia e é repetir que ela é parte de algo maior: da gramatização da Língua Espanhola. A unidade da língua imposta pela instituição é forte e, mesmo esta aceitando a “regionalidade” da língua que se dá pela sua historicidade, a instituição, via Estado ou Academia, impõe normas sobre os usos linguísticos. O que foge do “centro” é “marginal”, com isso, portanto, é necessário ter uma instituição como centro para “desmarginalizar” os usos linguísticos.

SD5: [Hay tipos de diccionarios] que recogen las características de una variedad

determinada del español, en este caso, el español rioplatense en su versión uruguaya.

Depois de o sujeito dicionarista afirmar que a língua se regionaliza e, com isso, ela se diversifica, ele apresenta, na SD5, que a Língua Uruguaia pertence à língua rio-platense, definindo a região da qual irá tratar esse dicionário: a região do Rio da Prata. A designação “espanhol” nos dá o nacional, mas a designação “rio-platense” nos dá o regional. Tira a língua de um país – que não é o Uruguai e sim a Espanha – e a coloca em uma região que não é parte de um país e sim de um continente. O regional que temos aqui é diferente do percebido no Brasil, por exemplo, pois neste país o regional se dá em uma região dentro de um mesmo país, assim, o diferente está no mesmo, ou seja, temos uma língua diferente que está constituindo a mesma língua brasileira – o regional também representa o nacional. No caso do Uruguai, temos a mesma língua que constitui uma diferente – o regional representa o nacional uruguaio, mas não o nacional homogêneo desejado pelo peninsular.

A denominação região do Rio da Prata retoma o nome do rio – Rio da Prata – que divide os países Argentina e Uruguai. Há também a bacia hidrográfica do Rio da Prata que

abrange, além desses dois países, o Brasil e o Paraguai. Por isso, quando há referência a essa região, a esse espanhol, remete-se, principalmente, aos países Argentina e Uruguai. Temos, com isso, dois nacionais abarcados em um regional, duas nações consideradas em uma só região e isso nos faz refletir sobre a noção de fronteira. De acordo com Sturza (2006), devemos pensá-la como contato social e não somente como limites geopolíticos, pois temos a fronteira linguística que não se limita à demarcação geográfica, vai “além de suas margens territoriais” (STURZA, 2006, p. 31). A fronteira, por um lado, precisa de uma referência física – necessidade para a constituição de um Estado – e, por outro, tem um sentido “fluido” (STURZA, 2006, p. 31) de contato com as línguas. Talvez seja por essa noção que o sujeito dicionarista destaca uma região e não um país, uma língua regional e não nacional, uma fronteira entre a metrópole e a periferia.

Guimarães (2007) divide as designações de língua em dois modos de funcionamento: no primeiro, encontra-se a língua materna136, a alheia137, a franca e representa “as relações imaginarias cotidianas entre os falantes” (GUIMARÃES, 2007, p. 64); o segundo é composto pela língua nacional, oficial e estrangeira138 e representa “as relações imaginárias (ideológicas) institucionais” (GUIMARÃES, 2007, p. 64). Segundo o autor, as línguas “se dividem sempre”, pois se relacionam com os sujeitos falantes. No entanto, o segundo funcionamento da língua se sobrepõe ao primeiro na constituição de um Estado-nação. Sendo assim, mesmo um país sendo heterogêneo e multilíngue, o institucional se sobressai ao uso cotidiano, fato que ocorre com o Uruguai e com o DEU: eles se relacionam com a institucionalidade da RAE e do DRAE. Sendo assim, podemos pensar na seguinte relação: de um lado, há uma Língua Espanhola peninsular, a qual a RAE fortalece como a unidade do espanhol; de outro lado, há peculiaridades dessa língua que observamos em diversos países de fala espanhola, sendo que o dicionário aqui analisado tenta dar conta da língua falada no Uruguai e, por extensão, da que é falada na região do Rio da Prata.

Com essas designações da língua, podemos dizer que temos, em relação à Língua Espanhola peninsular (de acordo com a RAE), o espanhol hispano-americano como característico da Língua Espanhola. Nesse viés, dentro da Língua Espanhola hispano-

136

Língua materna é “a língua cujos falantes a praticam pelo fato de a sociedade em que se nasce a praticar; nesta medida ela é, em geral, a língua que se representa como (que se apresenta como sendo) primeira para seus falantes” (GUIMARÃES, 2007, p. 64).

137 Língua alheia é “toda língua que não se dá como materna para os falantes de um espaço de enunciação”

(GUIMARÃES, 2007, p. 64).

138 Língua estrangeira é “a língua cujos falantes são o povo de uma Nação e Estado diferente daquele dos

americana, temos especificidades regionais: o espanhol rio-platense e o espanhol uruguaio (que, dentro do regional, é uma língua nacional).

Na SD6, observamos que, de uma forma ou de outra, menciona-se e remete-se ao espanhol peninsular (espanhol da RAE) quando o sujeito dicionarista atribui ao dicionário da RAE um espaço onde aparecem as formas da Língua Espanhola e atribui ao DEU um espaço para as formas linguísticas regionais do Uruguai e de seus países fronteiriços. Nesse viés, percebemos o regional atuando sobre a nação uruguaia e contrastando com a metrópole espanhola. Com isso, temos o reforço para o regional, o diferente e a justificativa para a realização do DEU.

SD6: Como se trata de un diccionario contrastivo […] en el DEU no aparecen las formas del

español general, sino las peculiares de esta zona del mundo hispánico […] o aquellas que, teniendo una misma forma poseen sin embargo una significación diferente en la variedad regional.

Essa relação entre espanhol peninsular (apontado como o espanhol geral na SD) e espanhol rio-platense nos remete à relação entre espanhol peninsular e espanhol hispano- americano que já vem sendo discutida nas teorias sobre metodologias para ensino de Língua Espanhola - qual espanhol ensinar na escola? Relação baseada em semelhanças, mas principalmente nas diferenças; e esse dicionário, o DEU, vem reforçar, não só a língua hispano-americana, mas a existência de uma fronteira bem específica.

O que podemos observar por meio dessas sequências discursivas retiradas do DEU é que o contraste é de diferenças semânticas, principalmente no emprego dos sentidos de determinadas palavras; não há semelhanças. De qualquer modo, dizer contrastivo significa não só dizer que há contraste, mas também é uma maneira de reforçá-lo. A designação “contrastivo” vai ao encontro do que Lara (1996a, 2004) trata como dicionário de regionalismos, aquele que utiliza um método contrastivo por meio do qual se recolhe o léxico de uma região, sem caráter normativo; representando, então, o léxico, a língua e a cultura dessa região.

Nesse texto introdutório, no qual estão inseridas essas sequências por nós analisadas, há menção ao DRAE como sendo um dicionário geral e ao DEU como sendo um dicionário contrastivo e, por tal motivo, de uma região específica para, assim, afirmar que a língua se regionaliza e reforçar o regional hispano-americano. No entanto, ainda temos um discurso de

colonização linguística, em vista do fato de que o DEU se coloca em um lugar de complementação.

A partir dessas considerações, buscamos no DRAE os sentidos para contrastivo e complementar (visto que essas designações também aparecem para dicionários hispano- americanos), a fim de pensar em qual dessas duas modalidades possíveis o DEU se enquadra.