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CAPÍTULO 3 CORPO E DANÇA COMPÕEM UMA ESTÉTICA DA EDUCAÇÃO FÍSICA

3.3. POR UMA ESTÉTICA DA DANÇA E DA EDUCAÇÃO FÍSICA

Reconhecemos que a estética se compõe como um fenômeno inerente à vida, fazendo parte de experiências humanas onde quer que as pessoas se encontrem. O próprio exercício de pesquisa estrutura-se como uma experiência estética do dançar. Nesse sentido, compartilho outra situação estética com o Grupo Araruna. Essa experiência se deu através do Encontro Nacional de Produção Cultural (ENPROCULT), do Instituto Federal do Rio Grande do Norte (IFRN). Este evento era composto de uma vasta programação, contando com mesas-redondas, apresentações de trabalhos científicos, oficinas e apresentações artísticas. Nesse episódio, entre as manifestações artísticas convidadas, encontrava-se a presença ilustre dos brincantes do Grupo Araruna, no dia 4 de setembro de 2014, possibilitando uma oportunidade de apreciação in loco de suas danças tradicionais, como podemos constatar na Figura 1691 deste texto.

Após a apresentação do penúltimo número coreográfico, fui convidada pelo Brincante 9 a dançar com ele a Valsa! Dançar... Entregar-me ao som da música. Envolver-me, dispondo meu corpo à frente de outro corpo, apoiando meu braço em seu ombro e segurando uma de suas mãos. Trocar sorrisos. Alegrar-me por estar dançando. Permitindo-me ser levada pelo ritmo e gestualidade de meu par, deslocando meus pés de um lado para o outro. Sentir-me, por alguns instantes,

como uma brincante, representando uma elegante senhora de engenho em uma festa aristocrática. Na condição de apreciadora, poder dançar a Valsa significou a possibilidade de me integrar à ilusão da cena artística, experimentando um sentimento vibrante de prazer através da entrega à técnica corporal dessa coreografia, sentindo uma emoção intensa de pertencimento a essa tradição. Portanto, essa experiência sensível e estética foi de grande valia para meu corpo e também para refletir sobre a Educação Física.

Nesse exemplo, pensar na relação do corpo que aprecia e também dança a Valsa, é levar em conta uma experiência estética dotada de múltiplas significações artístico-culturais. Mais ainda, possibilitou a vivência de sentir a dança, ultrapassando as vicissitudes das próprias palavras e definições. Valsar se materializou em uma experiência estesiológica dos gestos e de se relacionar com o outro, propiciando um acontecimento sensível que concedeu a ampliação de sentidos do corpo sobre a tradição, habilitando-o a fundir-se com os outros corpos, revestindo-se de uma experiência estética de dançar e se comunicar com o outro.

Por meio da dança que são tecidas relações recíprocas e intencionais de sociabilidade, das quais concedem gestos de significância ao corpo para que ele possa ver, ouvir, sentir, encenar e se movimentar, expressando-se por meio de um processo estético que amplia inteiramente as dimensões da existência humana. Dançar com outro ampliou a rede de sentidos simbólicos sobre a tradição do Grupo Araruna, potencializando nossas reflexões para a criação de uma estética do corpo, da dança e da própria Educação Física.

O Grupo Araruna ofereceu um esplendoroso solo semântico e simbólico, convocando-nos ao engajamento subjetivo de nosso corpo com sua tradição, sensibilizando nosso olhar para a composição de uma estética da Educação Física. A estética da tradição proporciona vários elementos simbólicos e múltiplas significações culturais para pensarmos na elaboração de estética para a Educação Física que se constitua como campo aberto e multifacetado de verdades sobre o corpo e a dança.

A dança dá ao corpo uma perspectiva poética da existência através de várias situações do viver e do próprio ato de dançar. Segundo Porpino (2006), a dança se manifesta de maneira polissêmica, tecendo um diálogo sobre as múltiplas produções da dança na contemporaneidade, suscitando, inclusive, interrogações diversas e transitáveis em diferentes contextos sociais. Pensar a dança é incluir a criatividade,

a flexibilidade, a sensibilidade, o entusiasmo, o amor, o corpóreo e o estético. Contudo, não negando o prosaico de nossas vidas, mas sim potencializando-o para que poesia e prosa possam gozar de instigantes diálogos. No contato com esse sentido estético da vida, percebemos que a dança pode ser “[...] capaz de permitir e despertar um sentido de beleza, que não se prende a padrões ou a dicotomias, mas que rejunta fragmentos e abre novos horizontes para uma vida que não negue a sua realidade paradoxal” (PORPINO, 2006, p.138).

Concordamos com a referida autora quando escreve sobre a importância de pensar em um dançar capaz de resgatar o lúdico, o prazer, o sensível e o belo, proporcionando ao corpo uma experiência estética aberta à imprevisibilidade e à potencialidade do viver. Nesse sentido, a Educação Física necessita de compor uma dança que dialogue prosa e poesia, hibridizando saberes da cultura, potencializando, abrindo novos horizontes para a vida, tecendo novas afetividades e diálogos no convívio humano. Com essa compreensão, retomamos nosso olhar reflexivo ao Grupo Araruna, à atmosfera estética dos corpos brincantes e de suas danças tradicionais. Tudo isso porque essa manifestação tradicional embeleza o campo de conhecimento da Educação Física.

No Araruna, há uma emoção simbólica de parentesco nas relações entre os brincantes que amplia as formas de convivência com o outro, tecendo formas não habituais de se constituir as relações entre os corpos. Tal emoção é percebida nas palavras do Brincante 7:

Minhas melhores lembranças são o convívio com os companheiros. A gente era uma família ali dentro! [...]. Eu amo o Araruna como amo minha casa. Meus companheiros do grupo morreram quase todos e são como uma família, para mim. [...]. Estar lá na Sede do Araruna é como estar na minha casa (Informação verbal)92.

O depoimento do brincante desperta uma reflexão que necessita de considerar as formas de convivência com o outro para além das situações habituais de convívio, constituindo relações afetivas e amistosas na Sede do Araruna, capazes de criar “[...] novas experiências, formas de existência e convívio comunitário nas práticas corporais como a dança, os saraus, os espaços de lazer”

92 Entrevista concedida pelo Brincante 7, 85 anos, no dia 28 de janeiro de 2015, em sua casa, Rocas,

(COSTA, E., 2004, p.94-95)93. Mesmo que a autora reflita sobre outro contexto de

produção artística, seus pensamentos dialogam com a subjetividade relatada anteriormente pelo integrante do Araruna. Neste sentido, a atmosfera estética desse Grupo está impregnada de um cunho político oculto:

[...] no compartilhar com o cotidiano do outro, está a sabedoria do corpo em construir e transformar a experiência na dança num espaço público, político quando se disponibiliza a dançar e conviver com o outro e consigo mesmo, livre dos comportamentos, valores e ações do espaço privado; quando estabelece outras formas de estar com o outro na dança, independentemente de quem seja o outro socialmente ou do que ele possua financeiramente, sua crença e cultura (COSTA, E., 2004, p.102-103).

O pensamento da referida autora delineia um dançar que se pauta no conviver com o outro e consigo mesmo, independentemente de quem seja o outro socialmente, despertando assim, um sentido estético que não nega a realidade paradoxal dos dançarinos. Vemos que essa visão corrobora com a situação contraditória vivenciada pelos brincantes do Araruna. Durante grande parte de nossa trajetória investigativa, percebemos que eles lamentaram a falta de apoio dos representantes políticos e/ou dos órgãos de fomento a cultura, mas não conseguiram unir forças no sentido de transformar a realidade da progressiva decadência do Grupo. Contudo, muito recentemente presenciamos o início de um exercício atitudinal relacionado ao verbo esperançar, isto é, a uma esperança ativa94, de superação das dificuldades e busca por mudanças e melhorias.

Mesmo ainda enfrentando muitos desafios, a nova presidência e direção artística do Grupo estão se empenhando para transformar a situação crítica do Araruna. Eles reformaram e reabriram o salão, reativando os ensaios das danças tradicionais e convidando os jovens e as crianças para ingressarem no Grupo Araruna. Tal postura mostra que o Araruna retomou a batalha a fim de conseguir reconquistar seu espaço no cenário artístico de Natal/RN. O Grupo reuniu forças e recursos próprios para reestruturar a Sede e reativar a motivação em dançar e

93 Costa, E (2004) busca compreender os sentidos estético e político, vivenciados pelos corpos

dançantes, durante o processo de composição coreográfica na Gaia Companhia de Dança, Natal/RN.

94 Segundo Cortella (2014), a esperança ativa refere-se a uma postura atitudinal que convida o

indivíduo a sair de uma situação de imobilidade, inércia e comodismo em relação a sua própria vida. Esperar ou responsabilizar o outro para que seus objetivos sejam alcançados é uma atitude equivocada. Exercitar o verbo esperançar significa saber para onde a pessoa quer ir, direcionando-se a um caminho, isto é, tomando suas próprias decisões, enfrentar os próprios medos e buscando alcançar corajosamente seus propósitos. Muito do que um humano é advém de sua história de vida; por isso, esperançar é reconhecer que não é possível mudar o passado, mas é possível fazer um novo futuro, pois cada um é capaz de fazer, refazer e reinventar sua existência.

transmitir os saberes da tradição aos jovens moradores do bairro das Rocas. Concordamos com a ideia de que esse cenário estético da tradição mostra um cunho politizado. “Torna-se assim despercebida que essas atividades possuem elementos de ação, ou seja, elas são atividades políticas por excelência” (COSTA, E., 2004, p.102).

Parafraseando Cortella (2014), notamos que, recentemente, o Grupo Araruna saiu de uma postura de lamúria e espera pelo outro, tecendo novas linhas de força e esperançando novas perspectivas para suas danças tradicionais através da atitude de se reinventar, retomando os ensaios e dando continuidade à sua própria existência. Os brincantes passaram a considerar sua história a partir de outro olhar, reconhecendo a importância cultural do Araruna, bem como tendo consciência de afirmar sua própria capacidade de refazer um novo começo de si mesmo em nossa contemporaneidade social.

Segundo Costa, E. (2004), o texto político do corpo, na composição coreográfica, é uma proposta de muitas experiências de amizade e de desafios diante das formas cotidianas de pensar as relações políticas da dança para além dos termos familiares e formas de parentesco. Relações amistosas entre os corpos brincantes podem surgir de várias formas, imprimindo a necessidade do agir com o outro para (re)traçar e (re)inventar o político do dançar.

O sentido político do corpo surge durante o processo coreográfico na intersecção, intervalo entre a convivência com o outro na experimentação da técnica de movimentos, nos diálogos estabelecidos, na produção artística do espetáculo, principalmente na relação coreógrafos(as) e bailarinos(as) (COSTA, E., 2004, p.94).

Assim como os bailarinos do Gaya, descritos por Costa, E. (2004), os brincantes também criam formas de estar com o outro, mesmo que intuitivamente, para dançar, considerando a singularidade e a pluralidade impregnadas no corpo. Em outras palavras, há um sentido estético e político nas relações entre os brincantes que impulsiona nosso olhar para uma reflexão relativa às inúmeras possibilidades de fazer o corpo compor novas danças. “O sentido político, oculto no corpo diz, na composição coreográfica, que o corpo dançante não precisa da intimidade e da igualdade para confiar um no outro, como o espaço privado exige” (COSTA, E., 2004, p.96).

Por esse prisma, vemos que a Educação Física, ao refletir sobre a estética do Araruna e as inúmeras possibilidades de composição coreográfica, pode considerar sua historicidade política neste contexto contemporâneo. Consideramos a ligação entre a mudança de presidência e a transformação de atitudes dos brincantes que impulsionaram a retomada de algumas atividades do Grupo. Assim, levamos em conta a atual percepção de outro clima e de um novo envolvimento dos brincantes que buscam dar visibilidade a essa manifestação tradicional para que a mesma possa ganhar um público de apreciadores, reconquistando, dessa forma, um novo espaço no cenário artístico-cultural de Natal/RN.

A Educação Física também pode promover uma releitura estética do fenômeno Araruna, buscando levar o corpo brincante a refletir sobre sua condição existencial, impulsionando-o a transformar suas atitudes e a enfrentar seus desafios, reconhecendo suas próprias potencialidades e seus saberes tradicionais, bem como educando-o a se sentir brincante. Através de reflexões, composições cênicas e ações culturais que potencializem o sentido de pertencimento e a própria responsabilidade para com o Araruna, buscando também parcerias que colaborarem efetivamente para que os brincantes retomem seu espaço político e estético na cultura potiguar.

Com esse olhar, percebemos que a estética da tradição também necessita de ser compartilhada, revigorada e poetizada nos corpos dos espectadores, os quais poderão ter acesso à riqueza de conhecimentos do Araruna, de modo que sejam sensibilizados a reconhecerem-se como integrantes das narrativas culturais que são expressas por meio das danças. Nesse sentido, consideramos de suma importância a atual postura política e estética dos brincantes em reativar os ensaios de dança do Araruna, pois impulsiona a elaboração de novos rumos para a revitalização e a (re)significação existencial do Grupo no cenário cultural de Natal/RN.

Segundo Velloso (2013), a dança apresenta-se como área de atuação política, situando-se em uma zona de tensões e relações paradoxais nas diferentes esferas sociais. No que tange a situação de parcerias com instituições públicas e privadas, a dança tem a necessidade de estabelecer uma interlocução entre instâncias federais, estaduais e municipais, bem como com o entorno relacional da qual ela é formulada e produzida por cada um de nós. Demandando, assim, ações recíprocas.

Velloso (2013) considera importante que a dança consiga parcerias institucionais, estabelecendo uma interlocução entre as esferas públicas e privadas por meio de editais, diretrizes de fomento e outros mecanismos para garantir uma produção artística que seja subsidiada por relações de co-dependência entre grupos, artistas e instituições estatais. Nesse sentido, é importante que tais relações se estabeleçam por diálogos e por ações recíprocas, havendo o entendimento de que o poder não se encontra apenas nas instituições públicas de estado, mas também nas instituições privadas e nos indivíduos (VELLOSO, 2013). Com esse olhar, vemos como relevante a atual postura ativa e esperançosa do Araruna, sendo necessário que o Grupo se insira em relações de parcerias com a intenção de conseguir apoios institucionais.

Os argumentos da referida autora contribuem para o entendimento de que a questão da importância pública para que o Araruna não desapareça não é somente de responsabilidade das instituições de Estado, mas é inerente a toda e qualquer iniciativa privada, individual ou coletiva, ou seja, minha, sua e também dos próprios artistas do Grupo Araruna. Reconhece-se também a necessidade política de que essas danças precisam estabelecer parcerias com diferentes instâncias, pois sua política existencial e estética envolve aspectos administrativos, pedagógicos, artísticos, culturais, de dotação orçamentária, entre outros.

Velloso (2013) escreve que há muitas demandas para que a dança seja organizada politicamente, tendo a necessidade de: repensar os modelos pouco discutidos publicamente e abri-los ao debate; organizar as esferas e articulações entre grupos e profissionais que tratam da dança para responder a demandas de produção cultural; reconhecer que a dança tem especificidades do mundo artístico; reconhecer nas propostas artísticas e institucionais o modo como se estrutura politicamente a dança. Essas considerações permitem o entendimento de que os gestores, os artistas, os grupos, os profissionais das artes e afins necessitam de reconhecer a dança como área de produção cultural, de produção de conhecimento e de atuação política, necessitando de que seja expandida sua atuação para além de iniciativas, ideias e proposições, porque se faz urgente a efetivação de componentes de ação que colaborem para ampliar a atuação da dança nos palcos políticos e artísticos do Brasil.

Entrelaçando tais considerações, refletimos sobre as relações estéticas e políticas entre a Educação Física e a dança. A Educação Física configura-se como

um campo de conhecimento que dialoga com a dança, estabelecendo relações recíprocas através dos estudos do ritmo, expressão, corpo e movimento. Reconhecendo a dança como um conhecimento cultural que pode resgatar o sensível, o belo e o lúdico da existência humana e das relações sociais. Porpino (2006) entende a dança como modo de viver e sentir “[...] o dançar de outros povos numa perspectiva que seja capaz de rejuntar e religar conhecimentos, ao invés de dicotomizá-los” (PORPINO, 2006, p.128). Partindo disso, torna-se interessante que a dança considere a percepção corporal e as experiências vividas pelos artistas, o contexto sociocultural pelos espectadores, a história da dança, a improvisação do gesto, a apreciação do dançar, a composição coreográfica e o próprio arrebatamento estético do ato de apreciar e vivenciar uma determinada dança.

Refletindo sobre o Grupo Araruna, é interessante visualizar o ato de dançar como experiência sensível capaz de realizar composições estéticas para a Educação Física. De modo que a mesma realize reflexões estéticas sobre as danças existentes na cultura, proporcionando experiências desafiadoras que desvelem ao corpo infinitas formas de criação artística. Realizando a desconstrução de preconceitos sociais referentes às diversas danças, criando novos sentidos, outras simbologias que remetam a situações mais fraternais do convívio com o outro e com a própria vida. Permitindo “[...] o intercâmbio de várias improvisações do grupo,

propiciando a abertura necessária a situações inesperadas e mudanças

necessárias” (PORPINO, 2006, p.127, grifo nosso).

Segundo Costa, E. (2004), o corpo na convivência com o outro aponta em seu mundo vivido as alterações de seus pensamentos, ideias, criações e perspectivas para a dança. Nesse sentido, o processo de construção coreográfica precisa solicitar o respeito à diferença, trazendo a necessidade de se articular com o direito à igualdade, pois as experiências de cada um são únicas, fazendo parte de uma história partícula. Ao mesmo tempo, são múltiplas e coletivas porque elas são construídas na presença do outro, isto é, em um determinado contexto social.

Para Costa, E. (2004), o agir político e estético do corpo, no processo coreográfico, realça a criação artística na dança como uma experiência de compor relações, pensamentos, inspirações, imaginações e ações que teçam experiências plurais do dançar, inaugura novos exercícios de convívio de modo interessante e imprevisível. Com esse olhar, a referida autora chama atenção para a necessidade de se compreender que os corpos na composição coreográfica são diferentes, pois

seu mundo vivido legitima sua singularidade, muito embora esteja permeada da história do outro. Eles são únicos e vários, ao mesmo tempo, revelando várias formas de dançar e existir no mundo.

Nesse sentido, o Araruna apresenta um sentido da comunidade característico das danças tradicionais que fortalecem as relações e afetividades entre os brincantes. Tal proposição estética amplia a estrutura das relações de convivência e, ao mesmo tempo, apresentando questões desafiadoras sobre os modos de lidar com as hierarquias existentes no próprio Grupo, proporcionando “[...] um despertar para uma forma de existir consigo e com o outro num mundo de desafios, críticas, distâncias, silêncios, pensamentos e movimentos” (COSTA, E., 2004, p.103).

De acordo com o texto de Costa, E. (2004), o corpo lança-se, encoraja-se ao instável e experimenta a imprevisibilidade de dançar consigo e com outros. Significa dizer que a sabedoria do corpo se mostra surpreendente e inovadora através de um processo de composição coreográfica. Nesse sentido, a construção da identidade do corpo, na composição coreográfica, fortalece a escrita do texto coreográfico na presença do outro, uma vez que, a criação dessa identidade implica em um acontecimento político que envolve diferentes experiências dançantes que se revelam na aventura de conviver, pensar, experimentar e dançar com pessoas diferentes, transformando as frases de movimento por habilidades técnicas incorporadas e escolhidas por quem dança.

Para a referida autora, a visibilidade desses corpos e seus textos coreográficos dependem da esfera pública em que os movimentos, as luzes, as cores, os figurinos saem do invisível e passam a existir também para o outro. “Todos nós somos corpo vivido, mas todos nós somos diferentes. Nossa igualdade está na condição humana” (COSTA, E., 2004, p.113). Por esse viés, refletimos sobre a condição de ser brincante que é compartilhada pelas emoções e historicidades dos integrantes do Araruna. O ser brincante também pode ser uma motivação para a composição de uma estética da dança.

A estética, por sua vez, pode ser elaborada através de composições coreográficas que delineiam novas visibilidades para a tradição do Araruna, elaborando outros movimentos, novos tempos e espaços, intencionalidades e imprevisibilidades gestuais, bem como o estudo coreológico das coreografias, (re)significando a expressividade dos objetos cênicos e das danças tradicionais de

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