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2 AS REPRESENTAÇÕES NEGRAS PARA A CONSTRUÇÃO DA MÍDIA

3.3. Novas tecnologias: por outra comunicação para o movimento negro

3.3.3. Por uma regulamentação democrática e plural dos meios de comunicação

acessam as mídias sociais. Esse grupo social está presente nos movimentos, grupos e/ou coletivos, integrando e produzindo informações, mesmo que em menor proporção, se comparado ao gigantesco universo midiático. A intervenção política desse grupo etário agora unirá “a rua” com “a tela”, criando novos agentes que pensam estratégias de formação, organização e mobilização entre compartilhamentos, curtidas e comentários através da web. Essa é uma dimensão da sociabilidade das jovens que, via consumo, buscam o pertencimento à juventude através do acesso à tecnologia e possibilidades de uso produtivo que esse acesso carrega (COGO; BERNARDES, 2015, p.159). Encontramos, assim, um tempo de mudanças em que o ciberespaço, que tem características de usabilidade, acessibilidade e integração, se torna uma estrutura indispensável para diferentes segmentos sociais que têm como objetivo divulgar seus conteúdos, o reconhecimento de suas experiências ou a possibilidade de estabelecer diálogos sobre seus temas com a sociedade.

Sendo assim, as novas tecnologias nos permitem elaborar um pensamento sobre sua necessidade na atualidade: as mídias digitais se mostram presentes no cotidiano para o desenvolvimento da sociedade globalizada. Refletir sobre essas manifestações e articulações, como um avanço para a participação ativa, é compreender que as novas tecnologias também podem ser aliadas ao ativismo que se torna digital. Pois, assim como mudam os sentidos das cidades como espaços de interação da população, a concepção sobre as novas tecnologias também apresentam mudanças com os novos modos de pertencimento dos sujeitos sociais que utilizam esse espaço para elaborar, criar e reproduzir informações.

3.3.3. Por uma regulamentação democrática e plural dos meios de comunicação

Pensar uma mídia que unifique, em um espaço digital, diversas manifestações culturais, grupos sociais de diferentes origens como classes sociais, nacionalidades, religiões, etnias, geracionais, gêneros, entre outros, é o grande desafio das tecnologias da informação. Diferentes discursos serão apresentados neste mesmo ciberespaço que produz, cria e comunica com suas linguagens, hábitos e costumes a partir da competência de seus atores, criando assim uma cultura virtual (CHAUI, 2006). Entre interfaces da realidade virtual com a realidade real que se apresentam através de símbolos (imagens, representações e conversação) de poder nos meios de comunicação. Diante de tantas possibilidades nos meios de comunicação, fica o questionamento, recorrente no texto, sobre o acesso democrático desses

agentes sociais. Para Cogo e Bernardes (2015) que falam da desigualdade no acesso à informação entre jovens mulheres em um instituto de acolhimento.

Assim, as possibilidades de uso e de acesso da internet por parte das jovens abrigadas podem ser vistas como um fator de inclusão quando as jovens acessam e se percebem em igualdade com os demais com quem convivem ou até mesmo com o imaginário de adolescente que construíram. Contudo, é também um fator de exclusão já que as jovens não podem acessar tudo o que desejam em um contexto de acesso às tecnologias que por si só já é excludente. (COGO; BERNARDES, 2015, p.159).

Elas ressaltam que, mesmo sendo um espaço de inclusão que possibilita o fluxo de informações com diferentes grupos, é também de exclusão por ter restrições no seu uso pelas jovens. Isso porque o exercício do poder pelos meios de comunicação é estrutural. Para Marilena Chaui (2006), existe uma ideologia da competência que corrobora para acentuar as disparidades nos meios e atestar o controle do poder midiático. Chaui explica que é uma ideologia invisível que tem a construção um discurso social que responda pelo poder no acesso à informação.

A ideologia da competência pode ser resumida da seguinte maneira: não é qualquer um que pode em qualquer lugar e em qualquer ocasião dizer qualquer coisa a qualquer outro. O discurso competente determina de antemão quem tem o direito de falar e quem deve ouvir, assim como predetermina os lugares e as circunstâncias em que é permitido falar e ouvir, e, finalmente, define previamente a forma e o conteúdo do que deve ser dito e precisa ser ouvido. Essas distinções têm como fundamento uma distinção principal, aquela que divide socialmente os detentores de um saber ou de um conhecimento (científico, técnico, religioso, político, artístico) que podem falar e têm o direito de mandar e comandar, e os desprovidos de saber, que devem ouvir e obedecer. (CHAUI, 2006, pg. 76-77).

Para isso, faz-se necessária a reflexão sobre que mídia é essa na qual grupos não têm espaço democrático de fala sobre suas pautas. Isso porque a sociedade em rede apresenta novas dimensões na sociedade globalizada (CANCLINI, 2003), em que a mediação dessas tecnologias só ocorre pela interação social e transformação cultural criada, por meio das redes sociais, entre os atores. Helena Santos (2014) também apresenta argumentos conceituais para discorrer sobre a desigualdade na mediação das tecnologias. Para esses autores das tecnologias da informação e comunicação (TICs) é também um espaço de concentração de poder e controle.

A sociedade em rede global é acima de tudo, uma nova estrutura de comunicação e de cultura, altamente maleável e reconfigurável, com um poder de disseminação e dominação que opera segundo uma poderosa lógica de inclusão/exclusão – não meramente em termos da utilização ou não utilização da TICs (da internet em particular, como expoente), mas em termos do que as redes integram e excluem. Esse ponto é muito importante, na medida em que as redes funcionam por ligações entre nós (pontos de conexão e de transformação interativa de fluxos), e é pela qualidade e quantidade das ligações que se definem a densidade e a riqueza de uma rede. (SANTOS, 2014, pg,37)

Sendo assim, a necessidade de regulamentação desses meios é urgente e precisa ser concebido como uma política de comunicação na sociedade. Mesmo que a juventude negra consiga acessar as redes com a criação de um blog, página na Facebook ou mesmo tenha uma participação ativa com o uso do aplicativo móvel de conversação, ainda não é real a democratização desse espaço de conexão. Como foi dito, a comunicação trouxe um “mundo sem fronteiras” na qual a distância de tempo e espaço foi reduzida e, hoje, podem estar na palma da mão em apenas um “clik”. Como Paiva (2003) afirma “ainda que haja um traçado democrático – discutível, ainda assim – é aceitável o entendimento de que ‘a informação devora seus próprios conteúdos. Ela devora a comunicação e o social’” (PAIVA, 2003, pg.45).

Ou seja, mesmo que seja a produção de um blog do grupo juventude negra Kalunga que fale sobre a autonomia do cabelo da mulher negra, a rádio comunitária do bairro do Conjunto Palmeiras ressaltando a importância de uma economia solidária, produzida pela comunidade, ou mesmo uma fan page de jovens travestis e transexuais, denunciando o assassinato da população LGBT, serão temas com pouca, ou quase nenhuma, circulação de sentido nos meios de comunicação, por serem pautas pouco midiatizadas. Isso ocorre, constantemente, com os temas dos movimentos sociais que tentam socializar as suas práticas e seus sujeitos, em disputa com a estratégia de visibilidade da grande mídia com suas produções midiáticas e processos de reprodução da informação (PAIVA, 2003). A autora demonstra que a comunicação de todo cidadão, a promoção de um debate público, justo e democrático sobre os meios de comunicação e o acesso à informação só será concreto com a efetivação de uma política de comunicação na sociedade brasileira. Uma comunicação que faz refletir e proporciona o conhecimento sobre diferentes grupos sociais, raciais, geracionais, culturais, entre outros, deve ser pensado como um direito. Para isso, é necessário que haja uma regulamentação dos meios de comunicação que proporcione a inclusão de medidas que permitam a liberdade de expressão e o direito à informação.

Como argumenta Valente (2013), ao ressaltar a importância de regulamentar os meios de comunicação no Brasil. Ele fala que regulamentar tem o sentido de ampliar a

participação de diferentes atores sociais, com a aplicação de um conjunto de regras como normas, leis e /ou decretos que viabilizados, por parte da legislação brasileira, para atribuir deveres e direitos aos prestadores e usuários dos meios de comunicação (VALENTE, 2013). Ele ainda acrescenta que “a regulamentação democrática não tem como objetivo reduzir a liberdade de expressão e nem promover qualquer tipo de censura. Ao contrário, seu objetivo é exatamente ampliar a liberdade de expressão ao garantir que mais grupos possam se expressar” (VALENTE, 2013, pg.16).

A construção de uma comunicação democrática é apresentada, a todo instante, como um instrumento de embate que só pode ser ampliado, no campo dos direitos, com a luta dos atores sociais por cidadania. É o que enfatiza Chaui (2006), quando diz que

Assim, representação, liberdade, participação, dignidade e justiça têm sido a tônica das reivindicações democráticas que ampliaram a questão da cidadania, fazendo-a passar do plano político institucional (direitos civis) ao da sociedade como um todo (direitos sociais), sinalizando a possibilidade de vencermos o autoritarismo social com a instituição de uma sociedade democrática. (CHAUI, 2006, p.113)

Sendo assim, apenas com a luta dos movimentos sociais, grupos, organizações e entidade, como do grupo Juventude Negra Kalunga, pela participação de suas pautas nos meios de comunicação, será instituído um modelo de desenvolvimento tecnológico que possa consolidar as reivindicações desses agentes. Para que as mídias sociais podem ser vistas como espaço de interação e conexão de atores e como espaço que promove a pluralidade de ideias e opiniões, a diversidade de grupos sociais, culturais e raciais e a participação ativa de diferentes grupos nas políticas de comunicação.

4 WHATSAPP: UM ESPAÇO EM DISPUTA

“Quando as teias de aranha se juntam, elas podem amarrar um leão.” (Provérbio Africano).