• Nenhum resultado encontrado

Capítulo 2: Contextualização do Momento Histórico-Intelectual (1668-1734)

2.1.2 Portugal com Relação ao Brasil

No reinado de D. Pedro II, assim como no de D. João V, as relações de Portugal com sua maior colônia foram estritamente econômicas. Com D. Pedro II, a economia era baseada na agricultura. Só na última década do século XVII, essa economia passou ser de preferência aurífera (Saraiva e Lopes, s.d).

Um de seus melhores exploradores foi Borba Gato, chamado de Governador das esmeraldas, cuja descoberta das minas, por volta de 1698 atraiu muita gente do

Brasil, de Portugal assim como de outros países. A procura foi tanta por minérios, que eclodiu uma guerra sangrenta entre paulistas e não-paulistas com o nome de Guerra dos Emboabas (1708-1709). O conflito só aliviou quando Portugal colocou ordem, criando e separando capitanias e impondo ordem judicial e fiscal.

Para manter a ordem, o Estado português ditou regras judiciais e fiscais: primeiro para garantir a ordem e segundo para arrecadar os impostos.

Devido à procura de ouro e de outros metais preciosos assim como de outras atividades econômicas, a pecuária decaiu. Entretanto, a produção de tabaco, a criação de gado, o comércio dos couros, a imigração de escravos vindos da África para o Brasil continuaram sendo as bases da economia brasileira.

Com relação ao número de escravos importados da África, foi insuficiente para o abastecimento da lavoura de cana-de-açúcar. Para resolver o problema de imediato, os senhores de engenho exigiam de seus capatazes o trabalho dobrado dos escravos, o que os levava a fugir e a se agrupar em quilombos.

Assim, a produção açucareira escasseou e os senhores de engenho exigiram a captura dos fugidos. Nesse conflito de escravos e senhores, eclodiu a destruição dos quilombos e, particularmente, o do Quilombo dos Palmares entre os anos de 1694 a 1695 em Pernambuco.

Os principais centros do momento foram Rio de Janeiro, que ultrapassou a antiga capital São Salvador da Baia, Minas Gerais (que formou cidades históricas como Ouro Preto, Sabará, São João d’El -Rei, Mariana).

Como o crescimento da população, um bom motivo animava os portugueses de comércio com o Brasil: exportação de vestuários em lã e em seda, vinho, azeite, tabaco, aguardente.

A exploração do ouro no Brasil foi um alto empreendimento português. O seu apogeu se deu na gestão de D. João V. Só que essas reservas não foram tão aproveitadas na economia portuguesa, porque uma grande parte já estava comprometida em pagar os déficits da relação com sua parceira inglesa. E a reserva restante foi aplicada em investimentos culturais.

As relações da metrópole portuguesa com a colônia brasileira tornaram-se satisfatórias e rentáveis após a descoberta de ouro. Se não fosse o tratado de Methuen com a Inglaterra, Portugal poderia ter sido uma grande potência econômica da época. Veja o que Garcia (1984, p. 159) nos diz sobre a quantidade de ouro tirada do Brasil:

Milhares de quilos de ouro foram então levados do Brasil. As saídas eram irregulares, de 725 kg em 1699 até ao seu máximo, 25000 kg, em 1720. A média durante a promeira metade do século era entre 4000 e 14000 kg por ano.

Devido à grande procura do metal valioso nas regiões, um grande afluxo de exploradores forasteiros e várias expedições bandeirantes disputam as regiões que, consequentemente, culminou na Guerra dos Emboabas.

Enquanto o foco comercial estava voltado para a extração de minérios, a lavoura arruinava-se em fins de século XVII e princípios do seguinte. Além do desinteresse pela agricultura, os que ficaram cuidando da terra, como os proprietários rurais, não obtinham os lucros merecidos, pois os negociantes portugueses oneravam os seus preços.

Essa situação econômica dos proprietários rurais tornou-se intolerável. Foram se endividando a ponto de provocar várias guerras. Assim, entre os anos de 1710 e 1711 eclodiu a guerra dos mascates. A primeira em S. Sebastião no Rio de Janeiro e a outra maior em Pernambuco. Como alternativa para acabar com o conflito, o rei enviou uma armada portuguesa e expediu novas capitanias para por ordem nas regiões.

Na capitania de Pernambuco, havia dois núcleos rivais econômicos importantes que chamou a atenção da Metrópole: Olinda e Recife. A guerra ocorreu devido ao reconhecimento de crescimento de Recife pela Metrópole e que lhe concede o título de Vila, independente agora de Olinda. Esta não aceitou a medida do governo português e se rebelou. Olinda foi o primeiro núcleo urbano da capitania de Pernambuco formada por nobres aristocráticos que tinham um status perante a Metrópole. Recife era formada por burgueses portugueses e brasileiros mais modestos que cresceram durante a conquista holandesa por Maurício de Nassau.

Essa guerra, assim como outras que ocorreram no momento, significou que os colonos, os proprietários nascidos no Brasil não estavam mais se curvando ante as Câmaras que impunham benefício somente para si. Queriam direitos compatíveis aos dos nobres aristocráticos. Assim, como diz Prado Junior (41):

(...) o choque destas fôrças contrárias assinala a contradição fundamental entre o desenvolvimento do país e o acanhado quadro do regime de colônia. Dêle vai resultar a nossa emancipação.

No meio desses problemas político-econômicos, ocorreram outros que são complementares. Um deles é a escassez da mão-de-obra.

Em meados do século XVII, foi crescendo uma revolta de colonos e comerciantes contra a Companhia de Jesus no Maranhão. Os padres conseguiram, por ordem do rei, promulgar uma lei que dava liberdade aos indígenas, assim como estabeleceram penalidades aos colonos e comerciantes que os escravizassem.

Para atender às reclamações dos colonos, o rei criou a Companhia de Comércio do Maranhão, em 1682, que obrigava a trazer da África 500 escravos anualmente. Em troca, o estanco do trigo, azeite, vinho e bacalhau teriam uma nova organização.

Assim, foram organizadas rotas escravas para suprir as necessidades dos colonos. Navios negreiros trouxeram a mão-de-obra de vários lugares da África assim como da Ásia.

Um fato importante com relação à política territorial do Brasil ocorreu no sul do Brasil no mesmo contexto da Guerra de Sucessão da Espanha. Por meio de Tratado de Utreque, a Colônia do Sacramento foi devolvida a Portugal. Essa região fica na divisa do sul do Brasil com o Uruguai por meio do Rio da Prata.

Foi uma região de muitos conflitos de tomadas e retomadas durante séculos entre Portugal e Espanha por ser economicamente importante. Para Portugal, foi caminho para o comércio da prata que vinha de Buenos Aires assim como cidade portuária para o comércio de couros.

Culturalmente, o Brasil não oferecia muito estímulo à atividade intelectual. O final do século XVII e início do século XVIII foram marcados por vestígios do barroco europeu. Segundo Bosi (1984), é possível observar esses vestígios da poesia barroca nas obras de Gregório de Mattos, Botelho de Oliveira e Sebastião da Rocha Pita.

A única academia que compreende o nosso período estudado é a dos Esquecidos fundada pelo vice-rei na cidade de Salvador, Vasco Fernandes C. de Menezes. Entretanto, os acadêmicos dessa academia eram considerados esquecidos pela Metrópole. Era formada por nobres, padres e militares com o intuito de se dedicarem à literatura e à história do Brasil (Orlandi; 2001).

Segundo Bosi (1984), desenvolvia-se um estilo colonial-barroco nas artes plásticas e na música, que só se tornou uma realidade cultural após a exploração das minas que permitiu o desenvolvimento de centros urbanos em Minas Gerais, Bahia, Pernambuco e Rio de Janeiro.

Embora a Metrópole tenha se servido das riquezas do Brasil, o século XVII e início do século XVIII registraram uma relativa identidade nas artes arquitetônicas e decorativas brasileiras. Essas marcas de identidade tornaram-se mais visíveis na proliferação de igrejas que se desenvolveram, sobretudo em Minas Gerais e Pernambuco.

Assim, finaliza-se esse item e iniciam-se algumas questões ortográficas desse período. Do que está sendo exposto sobre a contextualização do momento histórico-intelectual da época de Rafael Bluteau, percebe-se que esse momento se reflete, sem dúvida, nas obras dos escritores da época, em particular, na ortografia.