2. Impacto da Educação
2.1. Em Portugal
No que diz respeito à Educação de crianças e jovens surdos em Portugal foram
vários os modelos educativos aplicados na educação de crianças e jovens surdos, a par e
sob influência da evolução histórica da surdez e dos sistemas de ensino implementados
por toda a Europa e EUA, como referido anteriormente.
Assim, as últimas décadas têm sido marcadas pelos diversos modelos
desenvolvidos nas escolas e pelas diferentes perspetivas da sociedade perante pessoas
portadoras de NEE. Contudo verifica-se que nos últimos anos “a surdez começa a ter
uma visibilidade que ultrapassa a perspectiva redutora da deficiência e toma em
consideração a pessoa surda como alguém diferente” (Pacheco & Caramelo, 2005: 21).
Um dos momentos mais importantes na educação de Surdos/as em Portugal
prende-se com a Declaração de Salamanca em 1994, na qual Portugal foi um dos
signatários. Esta Declaração, segundo Baptista (2008) define a ideologia da inclusão
7,
em que o autor referenciado indica como a “criação das condições para que as
crianças surdas… tivessem as melhores condições para assegurar o seu normal
desenvolvimento linguístico, mental e emocional, com o acompanhamento de todos os
técnicos e recursos que isso envolve.” (2008: 327).
No que diz respeito ao ensino, Carvalho divide em três períodos a educação de
Surdos/as em Portugal, nomeadamente as “Metodologias gestuais com suporte na
escrita” entre 1823-1905, as “Metodologias Oralistas” entre 1906-1991 e a
“Implementação e desenvolvimento do Modelo de Educação Bilingue para Surdos” de
1992 aos dias de hoje (2007: IV).
Este último modelo apresentado por Carvalho é o que nos interessa como base de
estudo para a investigação que se segue. Isto porque, apesar da LG remontar à
Antiguidade, embora nunca considerada como língua, e o uso da LG ter estado sempre
presente no individuo Surdo, só em 1997 é reconhecida na Assembleia da República
Portuguesa de forma a “Proteger e valorizar a língua gestual portuguesa, enquanto
expressão cultural e instrumento de acesso à educação e da igualdade de
oportunidades” (alínea h do artigo 74º, lei nº1/97), passando a ser considerada uma das
línguas oficiais em Portugal, a par da Língua Portuguesa e do Mirandês.
Na sequência do reconhecimento da Língua Gestual Portuguesa (LGP)
8surge o
despacho 7520/ 98
9em 1998, num primeiro passo na educação bilingue de crianças e
jovens Surdos, no sentido de “Construir uma escola democrática e de qualidade, capaz
de garantir a todos o direito à educação e uma justa e efectiva igualdade de
oportunidades no acesso e sucesso escolares”, regulamentando as respostas educativas
a crianças e jovens Surdos e a criação das Unidades de Apoio à Educação de Alunos
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7 Conceito utilizado para definir a igualdade de oportunidades na educação de crianças Surdas pelo acesso
à sua língua natural, a LG. Como refere Baptista (2008:204) “O primeiro pressuposto deste conceito de inclusão é que não existem dois sistemas paralelos de administração da educação, - o sistema da educação regular e o sistema da educação especial.”
8 É a língua utilizada pela comunidade surda portuguesa. Tem uma gramática própria e um dicionário
próprio, o Gestuário, em que os significados aparecem sob a forma de gestos, Assim, como os surdos Portugueses têm uma cultura própria, a Língua Gestual Portuguesa é diferente das demais Línguas Gestuais.
9 Revisão do Decreto-Lei 319/91 que estabeleceu o regime educativo especial na integração de alunos/as
INTÉRPRETE DE LÍNGUA GESTUAL PORTUGUESA NO SISTEMA EDUCATIVO
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Surdos (UAEAS), que segundo Baptista (2008) tinham como objetivo assegurar a
aprendizagem da LGP como primeira língua, assegurar a aprendizagem da leitura e
escrita do Português, assegurar os apoios de terapia da fala, adotar estratégias
pedagógicas e curriculares, promover e apoiar transições de ciclos e encaminhamentos
profissionais, promover e sensibilizar a comunidade educativa e familiar de alunos/as
Surdos/as e, por fim, colaborar e planear ações com outras entidades, nomeadamente as
associações de surdos ou de famílias de pessoas surdas
A importância do modelo bilingue assenta na relevância que atribui à LGP,
considerando-a como a primeira língua para crianças e jovens Surdos, enquanto o
Português é considerado como a segunda língua. Aliás, segundo Valente, Correia &
Dias (2005: 88) o modelo bilingue:
“Para além de se apresentar como o melhor caminho a percorrer para
alcançar a tão desejada equidade social, resgatando o surdo do mundo da
obscuridade, da ignorância e, essencialmente, do mundo da deficiência, ele
valoriza também a língua oral, especialmente na sua vertente escrita,
reconhecendo-lhe uma função importante, a de possibilitar a comunicação
com a comunidade ouvinte.”
No sentido de “reforçar a necessidade de uma ainda maior concentração destes
alunos em comunidades linguísticas de referência” (Gomes, 2010: 35) é aprovado em
2008, pelo Ministério da Educação, o Decreto-Lei nº3/2008 de 7 de Janeiro que visa a
educação bilingue com a constituição das Escolas de Referência
10para alunos surdos. O
Artigo 23.º do mesmo Decreto-Lei estabelece que o objetivo principal das escolas de
referência centra-se na aplicação de metodologias e estratégias de intervenção
interdisciplinares e refere que “A educação das crianças e jovens surdos deve ser feita
em ambientes bilingues que possibilitem o domínio da LGP, o domínio do Português e,
eventualmente, falado”, indicando os elementos integrantes de uma educação bilingue,
isto é, docentes com formação especializada em educação especial na área da Surdez,
docentes Surdos de LGP, intérpretes de LGP e terapeutas da fala.
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10 Escola de Referência para a Educação Bilingue de Alunos Surdos (EREBAS): criadas por despacho
ministerial no Artigo 4º do Decreto-Lei nº 3/2008 de 7 de Janeiro, com o objetivo de acolher e concentrar crianças e jovens surdos numa comunidade linguística e socialmente bilingue, de forma a responder às suas necessidades educativas especiais, através da modalidade de Educação Bilingue. É também o local onde se verifica a contratação de Docentes e Técnicos especializados na área da surdez e LGP.