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2. INOVAÇÕES LEGISLATIVAS NO CAMPO DA ECONOMIA CIRCULAR

2.2. Portugal

Ressalvadas todas as legislações anteriores que protagonizavam indícios do que seria a Economia Circular, leis sobre reciclagem e logística inversa, por exemplo. É especificamente em 2014 que o Estado português tem um dos primeiros registros de invocação do tema Economia Circular de forma bastante clara. Tal feito se deu quando da publicação da Portaria n.º 187-A/2014 que aprova o Aprova o Plano Estratégico para os Resíduos Urbanos (PERSU 2020), para Portugal Continental.

Nessa portaria pretendeu-se ir adiante no que toca os passos iniciados pela chamada “Diretiva-quadro dos resíduos” (Diretiva 2008/98/CE), e o Plano Nacional de Gestão de Resíduos (Decreto-Lei n.º 178/2006), muito embora, conforme outrora citamos, ambos mantivessem um olhar voltado para a fase de destinação dos resíduos.

39 Idem.

40 Idem, ibidem. Apud, Regulation [EC] No 1367/2006. 41 Idem, ibidem. p. 12.

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Segundo texto da própria portaria, foi adotado no documento uma abordagem paradigmática, abraçando-se uma abordagem própria de uma Economia Circular. Nesse sentido, a finalidade do documento que visava consubstanciar “a gestão de resíduos como uma forma de dar continuidade ao ciclo de vida dos materiais”, com o intuito de “devolver materiais e energia úteis à economia” atraia para si a substância da própria Economia Circular, pois com o alcance dessa finalidade se obtém como consequência a “otimização dos recursos materiais e energéticos” e a minimização da extração de “novas matérias-primas”.

Não obstante o plano estratégico revisado pela portaria estar voltado para a gestão de resíduos urbanos, não é inválida a sua comunhão de interesses com a Economia Circular. Por preconizar metas alinhadas em seu âmago com esta o Plano Estratégico para os Resíduos Urbanos almeja maximizar a “gestão e tratamento de resíduos urbanos” sempre “numa lógica de uso eficiente de recursos e de economia circular”.

2.2.1. Resolução do Conselho de Ministros n.º 11-C/2015

Como resultado da COM/2014/398 o governo de Portugal publica em março de 2015 uma resolução que ora adota a temática comunitária no âmbito da Economia Circular.

O Plano Nacional de Gestão de Resíduos para o horizonte 2014-2020 aprovado pela resolução adota como fundamento para suas metas de “eficiência da utilização de recursos naturais na economia” três pretensões: as duas primeiras dissociam o crescimento econômico do consumo de matérias e da produção de resíduos e uma terceira que visa “aumentar a integração de resíduos na economia”.

A última dessas pretensões é de grande interesse nesse estudo, pois tal “integração de resíduos na economia” implica na valorização das matérias- primas secundárias frente a produção de resíduos.

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Ato contínuo, a publicação em 2017 da Resolução do Conselho de Ministros nº 190-A/2017 que aprovou o Plano de Ação para a Economia Circular em Portugal foi um ressalto sobre a transição portuguesa na saída de uma visão linear de economia.

Já no seu texto introdutório o documento exalta o abandono do antigo conceito que detinha a preocupação com o “fim-de-vida” rumo a um novo conceito regido pela circularidade num contexto de “de reutilização, restauração e renovação, num processo integrado”.

Segundo a resolução, a inspiração ecossistêmica da Economia Circular promoverá uma “reorganização do modelo econômico” vigente. Os “ciclos fechados”, de certo modo já compreendidos por Georgescu-Roegen42 e

rechaçado por Robert Ayres43, se coordenariam para essa reorganização sem

prescindir à compatibilidade técnica e econômica junto com “enquadramento social e institucional”. Nesse conjunto a dinâmica da economia circular agrupa as “capacidades das atividades produtivas”, “incentivos e valores”.

Vale dizer que os valores explícitos no tocante ao enquadramento social e institucional não se expressam claramente como valores monetários. O que é uma ausência, talvez proposital, na resolução. Nela não há uma meta específica que vise o estabelecimento de mecanismos que facilitem a valorização dos resíduos quando da sua reintrodução na cadeia produtiva.

O que se lê claramente na resolução é o aspecto monetário voltado para as possíveis “vantagens econômicas” que podem usufruir os “fornecedores e utilizadores” das matérias-primas secundárias, algo que é bom, mas pode não ser suficiente, pois tais vantagens podem representar um preço falso do produto .

2.2.3. Ideal impossível da perenidade

Notadamente a intenção da adoção na Resolução de um ideal de criação de “ciclos perpétuos de reconversão”, ao que parece, representa uma

42 Georgescu-Roegen, N., 1996. La Ley de la Entropía y el proceso económico. Fundación

Argentaria, Madrid.

43 AYRES, Robert U. The Second Law, The Fourth Law, Recycling and Limits to Growth. Center

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impossibilidade. Segundo a lei da termodinâmica sobre a qual foram tecidos os devidos comentários anteriormente, a reciclagem perpétua é uma impossibilidade, “materiais nunca podem ser reciclados com 100% de eficiência porque sempre há perdas entrópicas”44.

Os ciclos perenes de reconversões a “montante” e a “jusante” expostos na resolução esbarram nesse problema, algo que parece ser uma cópia um tanto quanto fidedigna do tema da COM/2014/0398, que propôs de maneira um tanto quanto presunçosa “acabar com os resíduos na Europa”, como se isso fosse possível.

Ora, por não ser claro se a perpetuação dos ciclos dizem respeito a uma busca incansável pela Economia Circular e não sobre uma tentativa de realmente acabar os resíduos por meio da reciclagem, avança-se à crítica. O resultado, outrossim, é mesmo desejado e não se contradiz, os ciclos de reconversão desembocam na “minimização da extração de recursos, maximização da reutilização, aumento da eficiência e desenvolvimento de novos modelos de negócios”, é o que diz a Resolução do Conselho de Ministros.

Ainda segundo a resolução para implementação do plano de transição é necessário que haja “uma logística inversa robusta”. Nos ditames do documento é ela que “garante do retorno de produtos, componentes e materiais ao fabricante para novos ciclos de utilização”. Será ressaltado mais à frente o quão é importante o ciclo reverso no qual a logística inversa para que a transição para a Economia Circular seja verdadeiramente alcançável. Tal importância dada ao tema Logística Inversa reside no fato de que a valorização dos resíduos está ligada intrinsecamente à sua “influência” na rentabilidade (2007/C 97/08, 4.5). Nesse sentido a “logística de entrega” citada na resolução n.º 190-A/2017 é algo implica em custos de inovação o que consequentemente influencia na valorização dos resíduos no âmbito português.