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Posição adotada e a Lei Federal n.°9784/99

CAPÍTULO V – INVALIDADES ATOS ADMINISTRATIVOS

2. Classificação atos inválidos: influência direito civil

2.1 Posição adotada e a Lei Federal n.°9784/99

Como devidamente observado, em se tratando de invalidades do ato administrativo, deparamo-nos com a ausência de uma teoria consistente para o ordenamento jurídico. Todavia, considerando a necessidade de um desenvolvimento didático do trabalho, optamos por adotar como inválidos os atos nulos e os atos anuláveis374.

A sutileza que permeia a diferenciação entre os atos nulos e os atos anuláveis é bastante tênue.

Os atos nulos são aqueles previstos em lei e passíveis de invalidação e os atos anuláveis também previstos em lei possibilitam a convalidação. Ou

373 Com efeito, o direito privado por ser mais antigo, poderá em determinadas situações – como na

teoria das invalidades - representar uma diretriz para o direito administrativo. Contudo como advertido por Cretella Júnior (Dos atos administrativos especiais. 2 ed. Rio de Janeiro: Forense, 1998, p. 30):”institutos de direito civil não podem ser elevados a categorias jurídicas, a modelos, a arquétipos, a matrizes da ciência do direito, para, partindo-se daí, pretender o estudioso captar a realidade específica do direito administrativo”.

374 Entendemos inclusive que nada obsta que na esteira do raciocínio de Antônio Carlos Cintra do

Amaral (Extinção do Ato Administrativo, p. 65-66) ao invés da expressão atos nulos e anuláveis se adotasse a expressão atos convalidáveis e não convalidáveis, pois, como veremos adiante o traço que irá distinguir tais atos será justamente a possibilidade ou não de convalidação. Contudo, nos deparamos com resistência doutrinária ante aquelas expressões consagradas pelo autor.

seja, o traço diferenciador entre eles será a possibilidade ou não de convalidação. Possuem as seguintes características em comum375: a) persistência de efeitos em relação a terceiros de boa-fé; b) possibilidade de resistência dos administrados; c) eliminação de seus efeitos376; d) prazos de

decadência e prescrição.

Baseamos nosso posicionamento nos ditames da Lei 9784/99, que dispõe sobre o processo administrativo que, em seu capítulo XIV, trata da anulação, revogação e convalidação.

De fato, tal lei, apesar de específica do processo administrativo no âmbito federal, possui notável importância, pois veio tratar de questão até então omissa.

Dispõe o artigo 53 da referida Lei que “deve a Administração anular seus próprios atos quando eivados de vício de legalidade, podendo revogá-los por motivo de conveniência ou oportunidade, respeitados os direitos adquiridos”.

Importante salientar que, na Lei em comento, a desconstituição do ato administrativo por vício de invalidade denomina-se anulação.

Deve-se interpretar que a Lei 9.784/1999, em seu art. 53, acima descrito impõe a obrigação de a Administração Pública anular seus próprios atos, não se tratando, assim, de exercício de competência discricionária377. A

invalidação é obrigatória por conta do princípio da legalidade, da segurança

375 BANDEIRA DE MELLO, Celso Antônio, Curso de Direito Administrativo, p. 451.

376 Importante trazer os ensinamentos de Celso Antônio Bandeira de Mello (op. Cit., p. 451): “uma vez

declarada a invalidade, a qual opera do mesmo modo. A saber: se o ato fulminado era ampliativo de direito, a eliminação é retroativa; se o ato fulminado era ampliativo de direitos, a eliminação produz efeitos ex nunc, isto é, desde agora, salvo se demonstrável a má-fé do beneficiário do ato ilegal, com ou sem conluio com o agente público que o praticou.”

377 José dos Santos Carvalho Filho (Processo Administrativo Federal. 3ªed. Rio de Janeiro: Lúmen

Juris, 2007, p. 269) enfatiza que o dever é resultante do poder administrativo de autotutela, em que a Administração “pode corrigir e rever seus atos e suas condutas com o fim de restaurar a face de legalidade dos atos administrativos”.

jurídica, indisponibilidade do interesse público e demais princípios que informam à Administração Pública378.

Importante são as lições de Sérgio Ferraz e Adilson Abreu Dallari sobre o tema379:

A fundamentação lógica e principiológica da anulação é riquíssima e conhecidíssima. Assim, ao apontarmos agora seu pilar no princípio da legalidade não estamos, de sorte alguma, a obscurecer a relevância, aqui, dos conceitos de preponderância do interesse público, boa-fé, isonomia, devido processo legal etc. O que dessa forma operamos é, tão apenas, a eleição daquele valor que, a nosso ver, ainda quando por figuração imaginária, pudéssemos eliminar todos os demais (inclusive os que antes referidos), justificaria sempre, em todos os casos, suficiente e inafastavelmente, o poder-dever de anulação, não só por provocação, mas sobretudo de ofício.

Esse panorama se altera em face da peculiar característica do processo ser um encadeamento de atos. O dever processual de anular os atos ilegais de regra preclui quando haja de incidir sobre etapas já percorridas. Enquanto aberta, isto é, enquanto em curso a relação jurídica processual, a autotutela deverá sempre apontar para a anulação do ato, consideradas e salvaguardadas as etapas do processo e, evidentemente, precedida do exercício amplo do contraditório e do direito de defesa por parte dos que possam ser atingidos [...].

O artigo 54 da lei 9784/99 estabelece: “O direito da Administração de anular os atos administrativos de que decorram efeitos favoráveis para os destinatários decai em cinco anos, contados da data em que foram praticados, salvo comprovada má-fé”.

Sérgio Ferraz e Adilson Dallari380 ressaltam que, após a conclusão do processo:

o dever (e não mero direito – como quis a Lei 9.784 em seu art. 54 –, muito menos simples faculdade) de anular passa a ser metrificado à luz do princípio da segurança jurídica, com as

378 Lembra-se: quando a Administração Pública estiver diante de atos que possam ser reproduzidos

validamente no presente, deverá convalidá-los, atendendo sempre ao interesse público.

379 Processo Administrativo, p. 249. 380 Processo Administrativo, p. 250.

conotações mais de uma vez antecedentemente expostas a seu propósito.

A paz social e o interesse público impõem obediência ao princípio da razoabilidade que, com o fluxo do tempo, o ato se torne imutável. Neste ponto, a Lei Federal fixou tal prazo em cinco anos, hipótese em que o curso do tempo possui efeito saneador381.

A disposição legal em exame protege o administrado, elevando inclusive a boa-fé como requisito para resguardo de seus direitos. Nesse sentido são as observações de Carvalho Filho382:

De fato, se o Estado produz atividade presumivelmente legítima, é de se considerar que os administrados lhe dispensem sua confiança no que tange à validade dos atos administrativos que dela resultem. Por isso, transcorrido determinado período, a situação decorrente do ato, mesmo eivado de vício, converte-se em situação definitiva, impedindo seja alterado por iniciativa da Administração e seja desnaturada a confiança do administrado depositada no ato.383.

Deve-se registrar ainda que, se o ato administrativo não gerar efeito para os administrados, a Administração estará autorizada a realizar a correção a qualquer tempo, tendo como parâmetro o interesse público.

Com efeito, a Lei Federal, apenas disciplinou a decadência do direito da Administração de anular os atos administrativos “ampliativos” ou de que decorram efeitos favoráveis para os destinatários, prescrevendo o prazo de cinco anos, salvo comprovada má-fé. Entretanto, no caso de má-fé, a lei foi omissão, não resolvendo a questão, deixando em aberto o prazo.

381 Processo Administrativo, p. 250.

382 Processo Administrativo Federal, p. 273.

383 Cabe aqui o seguinte julgado do STJ: “ADMINISTRATIVO. RECURSO ORDINÁRIO EM

MANDADO DE SEGURANÇA. SERVIDORA PÚBLICA ESTADUAL. CORREÇÃO. Conforme o disposto no art.54 da Lei n.°9784/99, a Administração Pública tem prazo de cinco anos para anular atos administrativos. Tendo sido o ato de aposentadoria editado em março de 1991, consolidou-se situação jurídica com o transcurso do qüinqüênio, sendo ilegal o ato de retificação de proventos expedido em fevereiro de 1999. Recurso ordinário provido”. (grifo nosso) (RMS n.°12.705/TO, 6ª Turma, Rel. Min Vicente Leal, julg. 05.03.2002, publ. 01.04.2002.

No que se refere à “anulação” dos atos administrativos, na presença de boa-fé e diante de efeitos favoráveis para os destinatários, dispõe a lei em comento que o termo inicial conta-se a partir da data da emanação do ato, respeitados os direitos adquiridos, a teor dos arts. 53 e 54. A Lei disciplina no § 1.º do art. 54 que, nos casos de efeitos patrimoniais contínuos, o prazo de decadência contar-se-á da percepção do primeiro pagamento.

Por fim, cabe registrar que a Lei Federal em comento nada disciplinou acerca dos efeitos já produzidos pelos atos favoráveis anteriormente à invalidação, podendo-se deduzir que não há qualquer exceção no que se refere à manutenção desses efeitos.

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