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Posição da oração encaixada: a função de topicalização

No documento marcelazambolimdemoura (páginas 111-115)

A posição da oração encaixada subjetiva em relação à matriz é um aspecto que diz muito da integração dessas orações. A posição seqüencial da oração matriz para a encaixada

subjetiva, predominante nos dados, é justificada pelo fato de a posição inicial identificar o tópico, que pode suspender a função semântica da oração encaixada (LEHMANN, 1988).

Em nossos dados, as orações encaixadas subjetivas antepostas (em relação à matriz) realizaram-se, predominantemente, na forma não-finita em ambos os jornais: 12 realizaram- se na forma não-finita no jornal Estado de Minas e 13, no Tribuna de Minas, conforme ilustra a ocorrência (41), abaixo:

(41) Enfrentar filas no mês de dezembro é quase inevitável. Além das imensas esperas de agências bancárias e repartições públicas, que são as campeãs de reclamações entre os juizforanos ouvidos pela Tribuna, elas também estão mais demoradas em supermercados lotados, Correios e lojas.

(Tribuna de Minas, 18/12/2007)

A oração matriz é composta por [verbo ser + advérbio + adjetivo], indicando avaliação apreciativa sobre o movimento no comércio e nas ruas durante o mês de dezembro. A oração encaixada subjetiva está anteposta em relação à oração matriz, sendo iniciada por verbo na forma não-finita.

Apesar da presença do infinitivo e, consequentemente, a ausência de conjunção indicar alta integração entre a oração encaixada e a oração matriz, Neves (2000) explica que esses casos mostram a função de topicalização da informação em maior relevância. Para acentuar o conteúdo proposicional descrito, o falante desloca a informação para a primeira posição, estabelecendo, assim, uma relação subjetiva entre o adjetivo avaliador e o conteúdo proposicional avaliado (NEVES, 2000). Em (41), a opção do falante em topicalizar o conteúdo proposicional da encaixada sugere que esta informação tem maior relevância em relação à sua avaliação. Em alguns casos, tal avaliação torna-se um sintagma nominal impessoalizado, na medida em que se desvincula sintaticamente da oração encaixada, deixando de selecionar sujeito, que em nosso estudo, é oracional.

Em relação a orações, a autora também afirma que a anteposição das encaixadas indica construção mais marcada, podendo ocorrer com verbo no infinitivo ou no modo finito.

(42) A imprensa européia vem comentando sobre o interesse do Borussia Dortmund, da Alemanha, no meia. “A gente sabe que concorrer com o mercado europeu é difícil, por causa da moeda e vitrine. Mas o fato de o Atlético estar no centenário é uma vantagem que nos deixa otimista para a vinda dele para o Atlético”, acredita o dirigente.

Em (42), a oração matriz é formada por [verbo ser + adjetivo]. Já a encaixada subjetiva está anteposta em relação à matriz, representando uma construção mais marcada (NEVES, 2000), com o verbo realizado na forma não-finita, sem a presença de conjunção. Apesar de se tratar de construções altamente coesas (LEHMANN, 1988), encaixada e matriz têm mobilidade para mudar de posição. Este movimento parece sugerir certo desvinculamento sintático.

Nessa ocorrência, por exemplo, o dirigente do atlético avalia apreciativamente a relação de compra e venda de jogadores com times europeus. Para ressaltar especificamente o mercado que apresenta empecilhos como “moeda e vitrine”, ele antepõe a informação e a avalia posteriormente. Semanticamente, o falante topicaliza o conteúdo proposicional, dando-lhe maior relevância (NEVES, 2000).

Ao topicalizar o falante assemelha alguns aspectos do comportamento das orações encaixadas subjetivas ao do tópico sentencial estudado por Pontes (1987). Segundo a autora, o tópico nas línguas é caracterizado por “estabelecer um quadro de referência para o que vai ser dito a seguir” (PONTES, 1987: 13). O falante lança no primeiro sintagma nominal o tópico, sobre o qual se faz um comentário. Esta definição parece satisfazer a análise de

topicalização das orações encaixadas subjetivas, já que estas são orações, que emolduram um

quadro, sobre o qual se faz um comentário avaliativo, através de orações.

Entretanto, de acordo com Pontes, uma das características prototípicas dos tópicos é não permitir a identificação do sujeito e estabelecer uma relação puramente semântica com o comentário (Ibid.: 14). Uma das diferenças entre as subjetivas e os tópicos está no fato de ser possível identificar o sujeito, havendo, portanto, vínculo sintático: trata-se de orações matrizes cujos sujeitos são oracionais. Além disso, trabalhamos com orações e não com sintagmas, conforme exemplifica Pontes – Aquelas árvores, os troncos são grandes. Segundo a autora, apenas o comentário é formado por verbo e complemento (Ibid.: 13).

A transformação feita pelo falante topicalizando a oração encaixada coloca-a na condição de tópico a ser comentado. Apesar de não usarmos aqui o sentido mais restrito da palavra tópico, tal definição nos interessa. As encaixadas subjetivas não estão funcionando como tópico, mas são topicalizadas para ganhar relevo semântico.

Dando continuidade ao estudo das subjetivas topicalizadas, encontramos apenas um caso de oração encaixada subjetiva anteposta em relação à matriz, cujo verbo encontra-se na forma finita:

(43) Em contraponto a toda inovação possível em uma campanha eletrônica, os candidatos do PT terão de intensificar o corpo-a-corpo e gastar ainda mais sola do sapato. “Em uma eleição com limitações de campanha, a dimensão política ganha fôlego novamente e se sobrepõe às estratégias de marketing”, diz. Que o potencial de utilização da rede eletrônica vem aumentando, eleição após eleição, é inegável. “Se compararmos os pleitos de 2002 e 2006, este último teve uso mais intensivo da internet, inclusive através da difusão da informação por meio de redes de e-mails. Apesar disso, a TV e o rádio continuarão sendo superiores em alcance, porque muitas camadas ainda não têm facilidade de acesso”, avalia o cientista político Paulo Roberto Figueira Leal.

(Tribuna de Minas, 01/01/2008)

Em (43), a oração matriz tem a seguinte formação: [verbo ser + adjetivo] e representa avaliação, apreciando o processo de campanha eleitoral. A oração encaixada é introduzida por conjunção, com o verbo na forma finita e na posição anteposta em relação à matriz.

De acordo com Neves (2000), esta é a representação de uma construção marcada, em que o falante põe relevo naquilo que é mais essencial: falar do aumento da utilização dos meios eletrônicos, inclusive para campanhas eleitorais. Esta informação é veiculada pela oração encaixada anteposta. É interessante notar que esse tipo de construção não é próprio da modalidade escrita já que esta foi a única ocorrência catalogada por nós com tais características.

Ressaltamos ainda que a conjunção que, introduzindo a encaixada na posição inicial, tem a função de apontar a informação da oração encaixada, pondo em evidência o conteúdo topicalizado.

As orações encaixadas subjetivas ocorreram, em nossos dados, predominantemente, pospostas à matriz - cerca de 90% das ocorrências. Segundo Lehmann (1988), as orações encaixadas encontram restrições gramaticais para sua mobilidade, como por exemplo, o verbo da encaixada ocorrer em forma não-finita. Tal mobilidade é admissível facilmente, por exemplo, entre orações coordenadas. Além disso, a oração encaixada é hierarquicamente mais rebaixada, o que significa dizer que quanto menor é o nível, mas integrada está a oração encaixada na oração matriz. Esse fato também justificaria esse uso recorrente, conforme ilustra a oração abaixo:

(44) Por isso a ABMH recomenda que se dê preferência aos bancos. “Quando se compra um imóvel em construção, também é preciso ter em mente que, até a entrega das chaves, o comprador não terá como tomar posse e terá, se for o caso, que arcar também com um aluguel.”

No exemplo (44), a oração encaixada subjetiva está posposta em relação à oração matriz. Além de se tratar de uma relação de encaixamento, o fato de o verbo da encaixada realizar-se na forma não-finita, permite maior integração entre matriz e encaixada. Assim, a mobilidade fica restrita por atender exigências do encaixamento.

É importante observar que os advérbios apresentam mobilidade nas sentenças, e, as orações matrizes, como afirmado acima, encontram-se em uma posição quase fixa. Embora apresentem funções similares, as orações matrizes analisadas não têm, provavelmente ainda, freqüente mobilidade na sentença, indicando que estas formas não estão muito avançadas no processo de gramaticalização. Algumas formas, conforme exemplificamos – (41) a (43) - estão mais gramaticalizadas, outras menos, como veremos. Assim, destacamos que a

topicalização foi recorrente entre as matrizes indicadoras de avaliação. Ao contrário, as

matrizes com expressão de modalidade deôntica e epistêmica apresentaram raros casos com tal construção.

No documento marcelazambolimdemoura (páginas 111-115)