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Capítulo VI. Inter-relação entre a dimensão sociocultural e a religiosa

6.1. Posição religiosa segundo o contexto sociocultural

Para responder à questão acima enunciada, que está subentendida nas hipó- teses iniciais formuladas para esta investigação, começa-se por analisar a associação entre a posição religiosa e os índices relativos à análise socio- cultural. Deste modo, observa-se, tanto no Conjunto dos países como em Portugal, que o índice que melhor se associa à posição religiosa dos indiví- duos é o da individualização, tanto em 90 como em 2008. Isto é, a polari- zação dos valores tradicionais/individualização é a que melhor se relaciona com as diferentes posições religiosas dos indivíduos, tendo em conta os outros índices (pós-materialismo e posição social). Contudo, é importante destacar que esta associação não é forte e não se distancia muito da associa- ção dos demais índices com a posição religiosa75.

75 Índice de individualização: em 90, no Conjunto, 2 (8) = 569,56, p < 0,001, coeficiente de

Contingência = 0,29 e em Portugal 2 (8) = 103,78, p < 0,001, coeficiente de Contingência = 0,37, e, em 2008, no Conjunto, 2 (8) = 255,38, p < 0,001, coeficiente de Contingência = 0,24 e em Portugal 2 (6) = 102,66, p < 0,001, coeficiente de Contingência = 0,39; observa- -se para todos os coeficientes um p < 0,001. Índice de materialismo-posmaterialismo: em 90, no Conjunto, 2 (4) = 223,97, p < 0,001, coeficiente de Contingência = 0,13 e em Portugal 2 (4) = 24,69, p < 0,001, coeficiente de Contingência = 0,15, e, em 2008, no Conjunto, 2 (4) = 244,56, p < 0,001, coeficiente de contingência = 0,15 e em Portugal 2 (4) = 25,20, p < 0,001, coeficiente de contingência = 0,13; em todos os casos p < 0,001. Índice de Posição

Social: em 2008, no Conjunto, 2 (8) = 229,67, p < 0,001, coeficiente de Contingência =

0,14, p < 0,001 e em Portugal 2 (6) = 29,72, p < 0,001, coeficiente de contingência = 0,14,

De entre as diferentes posições religiosas, os católicos, no Conjunto dos paí- ses, em 90, surgiam como os que menos se identificavam tanto com os prin- cípios da individualização, como com os valores pós-materialistas, sendo que, em 2008, este lugar é ocupado pelos que referem ter outras religiões. Relativamente ao índice de posição social, os católicos, seguidos dos que referem ter outras religiões são os que apresentam posições sociais mais bai- xas. Contrariamente a estes, ainda que com valores não muito diferentes, encontram-se os indivíduos sem religião que apresentam o grau de indivi- dualização mais alto, valores mais pós-materialistas e posições sociais mais favorecidas (cf.: G. 6.1. e T. 3.1.).

Tomando a realidade portuguesa de entre os demais países, verifica-se que os católicos portugueses, em 1990, surgem como os que mais se identificam com os valores da obediência e da fé religiosa (média = 2, numa escala de 1 a 5), salvo Polónia que, neste mesmo ano, expressa ainda mais estes valores entre os católicos (1,8). Já em 2008, observa-se que os católicos portu- gueses, à imagem de quase a totalidade dos países, tornam-se mais indivi- dualizados, ainda que ligeiramente. Ainda assim, apesar desta ascensão, os católicos portugueses continuam a valorizar mais os princípios tradicionais que os individualizados, uma vez que o seu grau de individualização, em 2008, mantém-se abaixo da média da escala (2,8). Por sua vez, os sem reli- gião, tanto em 90 como em 2008, no Conjunto dos países, aproximam-se mais dos valores individualizados76. O mesmo sucede em Portugal que, no

período em análise, é o país entre os oito que mais aumenta o seu grau de individualização entre os sem religião (passa de 3,2 para 3,8) (cf.: G. 6.1. e T. 3.1.).

Passando a observar a relação entre a posição religiosa e o índice de pós- -materialismo, observa-se que, tanto em 90 como em 2008, não existem diferenças acentuadas nos países do nosso estudo, ainda que possam ser consideradas estatisticamente significativas, entre as prioridades valorativas escolhidas pelas diferentes posições religiosas77. Verifica-se também que, nos

20 anos em estudo, há uma queda dos valores pós-materialistas que ocorre, simultaneamente, nas três posições religiosas.

76 A relação entre posição religiosa e índice de individualização apresenta os seguintes resulta-

dos: no Conjunto, F1990 (2, 6.185) = 295,248, p < 0,001, 2 = 0,09 e F 2008 (2, 4.053) = 110,481, p < 0,001, 2 = 0,05; em Portugal, F 1990 (2, 638) = 59,483, p < 0,001,  2 = 0,16 e F 2008 (2, 585) = 31,402, p < 0,001, 2 = 0,10.

77 Veja-se a relação entre posição religiosa e índice de materialismo-posmaterialismo: no

Conjunto, F1990 (2, 12.278) = 104,380, p < 0,001, 2 = 0,02 e F 2008 (2, 11.136) = 124,185, p < 0,001, 2 = 0,02; em Portugal, F 1990 (2, 1.104) = 11,118, p < 0,001,  2 = 0,02 e F 2008 (2, 1.503) = 7,755, p < 0,001, 2 = 0,01.

Daqui se pode depreender, tal como se referiu anteriormente, que a tendên- cia para valores pós-materialistas não está intrinsecamente relacionada com a opção religiosa de cada indivíduo. Tal facto sucede também em Portugal, já que os católicos valorizam mais a segurança física e económica que os valores pós-materialistas. Para além disso, entre 90 e 2008, Portugal, tal como o Conjunto dos países, vê descer o seu nível de pós-materialismo entre as diferentes posições religiosas. Independentemente da opção religiosa, os portugueses entre os indivíduos dos oitos países são os que apresentam o nível de pós-materialismo mais baixo (cf.: G. 6.1. e T. 3.1.).

Finalmente, analisar-se-á, apenas em relação ao ano de 2008, o nível de posi- ção social de cada uma das diferentes posições religiosas.

Observa-se, antes de mais, que não há grandes diferenças entre os indivíduos que se declaram católicos, que professam outra religião ou que não têm qualquer religião quanto à sua posição social78. Contudo, na maioria dos

países, são os católicos que se encontram nas posições sociais menos favore- cidas, salvo em Portugal, Irlanda e Polónia nos quais são os que professam outra religião (cf.: G. 6.1. e T. 3.1.).

Portugal, em relação aos demais, surge como o país, seguido da Irlanda, em que os católicos se encontram na posição social mais alta, entre a posição social média e a posição social alta (media = 3,1 tanto em Portugal como na Irlanda). Nos restantes países, os católicos situam-se entre a periferia e a posição social média (variando entre 2,9 em Espanha e 3 na Bélgica, Itália e Polónia) (cf.: G. 6.1. e T. 3.1.).

Os portugueses sem religião encontram-se numa posição social ligeiramente superior à dos católicos (3,4), isto é, apresentam um grau de escolaridade mais elevado, maiores vencimentos, uma situação profissional mais compen- sadora, etc. que os católicos portugueses. Comparando-os com os sem reli- gião dos demais países, os portugueses não apresentam grandes diferenças nas suas posições sociais (cf.: G. 6.1. e T. 3.1.).

78 Resultados da ANOVA entre posição religiosa e índice de posição social em 2008: F Conjunto (2, 11.532) = 102,40, p < 0,001, 2 = 0,02; F Portugal (2, 1.551) = 9,75, p < 0,001,  2 = 0,01; F Áustria (2, 1.508) = 22,18, p < 0,001, 2 = 0,03; F Bélgica (2, 1.505) = 8,49, p < 0,001,  2 = 0,01; F França (2, 1.497) = 13,36, p < 0,001, 2 = 0,02; F Irlanda (2, 977) = 3,22, p < 0,05,  2 = 0,01; F Itália (2, 1.517) = 23,93, p < 0,001, 2 = 0,03; F Polónia (2, 1.470) = 7,54, p < 0,05,  2 = 0,01; F Espanha (2, 1.495) = 27,05, p < 0,001, 2 = 0,04.

Gráfico 6.1

Posição religiosa, segundo índices Índice de individualização

(Índice 1-5; 1 = valores tradicionais, 5 = valores individualizados)

Escala de materialismo/pós-materialismo

(Escala 1-3; 1 = valores materialistas, 3 = valores pós-materialistas)

Índice de posição social

Fonte: Elaboração própria a partir do EVS, 1990, 2000 e 2008. Base: População de Portugal e do Conjunto.

1990 2008 2008 1990 2008 2,0 2,0 1,6 1,6 1,6 1,6 3,2 2,3 2,6 2,3 3,5 3,5 3,6 3,0 3,0 3,1 3,1 3,3 3,8 2,8 2,7 1,7 1,8 1,9 1,9 1,8 1,8 1,7 2,1 2,1

Portugal Conjunto Portugal Conjunto

Portugal Conjunto Portugal Conjunto

Portugal Conjunto