3. RESPONSABILIDADE TRIBUTÁRIA
3.3. A responsabilidade por sucessão do artigo 133 do CTN
3.3.3. Posicionamento atual da Jurisprudência do CARF acerca da
Conforme tratado anteriormente, a responsabilidade tributária por sucessão do
artigo 133 do CTN exige (i.) a aquisição do fundo de comércio ou estabelecimento
comercial e (ii.) a continuidade na exploração da atividade econômica.
Entendemos que a configuração da referida responsabilidade por sucessão
pressupõe, ainda, a existência de uma conexão entre a atividade da empresa que
anteriormente ocupava o estabelecimento e a que adquiriu e passou a atuar ali, sob
mesma ou outra razão social, ou sob firma individual.
Ademais, a partir da análise doutrinária até aqui traçada, temos como certo que
não deve ser caracterizada a transferência do fundo de comércio a partir da aquisição
destacada de alguns bens ou direitos que, ainda que componham o fundo de
comércio, não são suficientes para o regular funcionamento do negócio adquirido.
Assim, considerando que a caracterização da alienação do fundo de comércio
depende muito mais da relevância dos bens materiais e imateriais (ativos) adquiridos
do que do próprio valor financeiro ou da quantidade (número) de ativos, entendemos
que não seria razoável tratarmos o tema como uma ciência exata ou, ainda, adotarmos
um posicionamento definitivo e taxativo quanto aos limites da caracterização do fundo
de comércio.
Por outro lado, a partir da análise jurisprudencial realizada nos itens
subsequentes, tornou-se viável traçarmos alguns cenários – não exaustivos – visando
ilustrar essa limitação à aquisição de ativos, antes de caracterizada a aquisição do
fundo de comércio (estabelecimento).
Neste ponto, passamos então a analisar acórdãos proferidos pelo CARF
entre fevereiro de 2017 e fevereiro de 2020, período arbitrado e que permitiu
levantarmos material suficiente para a análise pretendida. Tais acórdãos, de alguma
forma, contribuem para constatação das hipóteses de sucessão tributária nos termos
do artigo 133 do CTN e, especialmente, para verificação dos ativos adquiridos (que
ensejaram ou não a caracterização do fundo de comércio).
A pesquisa foi realizada diretamente no site do CARF, no dia 27 de fevereiro
de 2020. No campo da pesquisa, selecionamos a busca completa de texto (“ementa”
e “decisão”) e realizamos duas buscas diferentes: (i.) “artigo 133”; e (ii.) “sucessão e
133 e fundo e comércio”.
As buscas retornaram 31 acórdãos ao todo, os quais foram devidamente
analisados. Porém, para o que importa ao presente trabalho, foram desconsiderados
aqueles acórdãos que não adentraram ao mérito da aquisição de ativos para fins de
caracterização do fundo de comércio. Dessa forma, foram considerados 16 acórdãos
do CARF no estudo.
Ademais, informamos que todas as referências processuais, a descrição da
ementa e demais trechos relevantes retirados desses julgados podem ser examinados
no Anexo I deste trabalho, o também se encontra a relação dos ativos discutidos em
cada caso, bem como o resultado da conjugação destes ativos (caracterização ou não
do fundo de comércio). A seguir, passamos a expor as conclusões obtidas a partir
dessa análise dos acórdãos.
Pois bem. A partir da análise dos acórdãos proferidos pelo CARF nesse período
de três anos, pudemos observar, inicialmente, que o entendimento das turmas do
Conselho manteve certa linearidade no raciocínio aplicado aos julgados do período.
Primeiramente, podemos afirmar que o entendimento do CARF é claro no
sentido de que, havendo a aquisição de marca, imóveis, móveis e equipamentos,
certamente restará caracterizado o fundo de comércio e, consequentemente, a
sucessão tributária. Neste caso, entendemos que de fato não há discussão quanto à
clareza da transferência do estabelecimento comercial.
Outra situação evidente de caracterização do fundo de comércio ocorre na
situação de mudança de nome e marca, mas com a manutenção de endereço, carteira
de clientes, quadro de funcionários semelhante e mesma administração (ainda que,
como ocorreu em um dos casos analisados pelo CARF, haja a mudança de cargo do
administrador para proprietário). Esse entendimento é aplicado em diversos acórdãos.
Neste ponto, importante destacar que manutenção de cargos de administração
e gerência são considerados pelo CARF extremamente relevantes para
caracterização da transferência do fundo de comércio, haja vista ser um claro indício
de que as atividades seguirão sob as resoluções deste profissional. Entendimento
aplicado em diferentes julgados.
Além disso, havendo a manutenção dos funcionários e a continuidade das
atividades no mesmo local (endereço), serão prováveis as chances de caracterização
do fundo de comércio. De fato, entendemos que a manutenção de todos os
funcionários, por si só, acaba por demonstrar a manutenção das atividades (exceto
em casos muito específicos em que os funcionários não precisam de quaisquer
treinamentos ou experiência).
Além disso, pode-se dizer que a aquisição da marca também tem um forte peso
na apuração da transferência do fundo de comércio. Isso porque, tanto a manutenção
do endereço como da marca são fortes indícios de que a clientela foi integralmente
mantida, ainda que indiretamente.
Ademais, em que pese o maquinário e demais equipamentos não terem força
para, sozinhos, caracterizarem o fundo de comércio, de acordo com o entendimento
do CARF eles são elementos essenciais para fixação de conclusões quanto à
transferência ou não do estabelecimento comercial. Isso porque o maquinário e os
equipamentos fortalecem a tese de que as atividades foram integralmente mantidas
(ao menos que se comprove o contrário).
Por outro lado, o CARF entende que, se o contribuinte optar por alugar o espaço
físico (endereço) ao invés de vendê-lo, não haverá a aquisição de quaisquer bens,
restando afastada a responsabilidade por sucessão, ainda que seja mantida a
atividade no mesmo local. Isso porque o simples fato de continuar na mesma atividade
econômica não implica necessariamente a sucessão empresarial.
Além disso, o tribunal tende a relevar a utilização dos mesmos funcionários no
caso de haver a demissão da totalidade e, a partir da necessidade do adquirente, a
recontratação apenas de posições específicas. Isso faz sentido ao pensarmos que,
muitas vezes, os funcionários podem, por conta própria, buscar um novo emprego no
local da empresa em que trabalhavam anteriormente. Entendemos que esse não pode
ser um ponto a ser considerado na caracterização do fundo de comércio, ainda que
haja a manutenção do endereço.
Por fim, um ponto relevante quanto ao entendimento do CARF, em relação ao
qual concordamos, decorre do fato de que, ainda que os indícios sejam muitos para
No documento
FUNDAÇÃO GETULIO VARGAS ESCOLA DE DIREITO DE SÃO PAULO PEDRO AFONSO FABRI DEMARTINI
(páginas 55-58)