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3. RESPONSABILIDADE TRIBUTÁRIA

3.2. Responsabilidade tributária por sucessão

Partindo então dessas premissas, de que a legislação tributária atribui

responsabilidade a terceiros a partir da apuração de uma relação direta ou indireta do

responsável com a obrigação tributária inadimplida, entendemos importante analisar,

ainda que sem o objetivo de exaurir a matéria, as possibilidades de responsabilização

por sucessão previstas em nosso ordenamento.

A responsabilidade dos sucessores, prevista na Seção II do CTN e inserida no

capítulo que trata de responsabilidade tributária, define logo em seu primeiro artigo

que serão abrangidos os débitos definitivamente constituídos, aos que estão em curso

de constituição até a data do ato de sucessão, bem como aqueles que surgirão

futuramente, desde que o fato gerador da obrigação tributária seja anterior ao ato:

Art. 129. O disposto nesta Seção aplica-se por igual aos créditos tributários definitivamente constituídos ou em curso de constituição à data dos atos nela referidos, e aos constituídos posteriormente aos

mesmos atos, desde que relativos a obrigações tributárias surgidas até a referida data.

Em seguida, o artigo 130 do CTN aborda a responsabilidade tributária por

sucessão direcionada aos adquirentes de bens imóveis, os quais ficam obrigados ao

pagamento de créditos tributários de seus sucedidos (impostos cujo fato gerador seja

a propriedade, o domínio útil ou a posse de bens imóveis, e taxas ou contribuições de

melhorias), salvo quando conste no título a prova de sua quitação:

Art. 130. Os créditos tributários relativos a impostos cujo fato gerador seja a propriedade, o domínio útil ou a posse de bens imóveis, e bem assim os relativos a taxas pela prestação de serviços referentes a tais bens, ou a contribuições de melhoria, subrogam-se na pessoa dos respectivos adquirentes, salvo quando conste do título a prova de sua quitação.

Parágrafo único. No caso de arrematação em hasta pública, a sub- rogação ocorre sobre o respectivo preço.

O artigo 131 do CTN, por sua vez, determina que serão pessoalmente

responsáveis tributários o adquirente (quanto aos bens), o sucessor, o cônjuge meeiro

e o espólio (quanto ao de cujus):

Art. 131. São pessoalmente responsáveis:

I - o adquirente ou remitente, pelos tributos relativos aos bens adquiridos ou remidos;

II - o sucessor a qualquer título e o cônjuge meeiro, pelos tributos devidos pelo de cujus até a data da partilha ou adjudicação, limitada esta responsabilidade ao montante do quinhão do legado ou da meação;

III - o espólio, pelos tributos devidos pelo de cujus até a data da abertura da sucessão.

Passando então para responsabilidade tributária na sucessão empresarial,

encontramos os artigos 132 e 133 do CTN que tratam da responsabilidade tributária

nos casos de fusão, transformação ou incorporação

37

e nos casos de sucessão por

aquisição de fundo de comércio ou estabelecimento comercial

38

.

O artigo 132 do CTN assim dispõe sobre a responsabilidade tributária na

sucessão empresarial (fusão, incorporação ou transformação):

Art. 132. A pessoa jurídica de direito privado que resultar de fusão, transformação ou incorporação de outra ou em outra é responsável pelos tributos devidos até à data do ato pelas pessoas jurídicas de direito privado fusionadas, transformadas ou incorporadas.

Parágrafo único. O disposto neste artigo aplica-se aos casos de extinção de pessoas jurídicas de direito privado, quando a exploração da respectiva atividade seja continuada por qualquer sócio remanescente, ou seu espólio, sob a mesma ou outra razão social, ou sob firma individual.

Ressaltamos que, apesar de o dispositivo expressamente citar a

responsabilidade na transformação empresarial, entendemos que não há qualquer

tipo de sucessão nesta hipótese, já que não há extinção da pessoa jurídica. Veja que

o parágrafo único do artigo prevê que a sucessão só será aplicável quando ocorrer a

extinção da pessoa jurídica (e a continuidade das atividades), o que, de fato, não

ocorre na transformação.

Ademais, em que pese o artigo não citar a hipótese de “cisão”, devemos

entender que a hipótese está abrangida pelo dispositivo. Primeiramente, porque o

dispositivo (CTN) foi redigido em 1966 e o procedimento de cisão só foi regulamentado

em 1976, a partir da promulgação da Lei nº 6.404/76

39

(Lei das Sociedades

Anônimas). A sociedade decorrente de cisão responde solidariamente pelos débitos

da sociedade cindida (que cedeu uma parcela ou a totalidade de seu patrimônio para

a formação de uma nova sociedade). Aliás, quanto à responsabilidade solidária na

cisão, este entendimento encontra-se expressamente previsto no artigo 233 da Lei

das Sociedades Anônimas:

37 Sob a perspectiva do direito societário, essas operações encontram-se disciplinadas nos artigos

1.113 a 1.122 do Código Civil, bem como nos artigos 220 a 234 da Lei nº 6.404/76 (Lei das Sociedades Anônimas).

38 Sob a perspectiva do direito societário, essas operações encontram-se disciplinadas nos artigos

1.142 a 1.149 do Código Civil.

39 Sob a perspectiva do direito societário, a operação encontra-se disciplinada nos artigos 220 a 234

Art. 233. Na cisão com extinção da companhia cindida, as sociedades que absorverem parcelas do seu patrimônio responderão solidariamente pelas obrigações da companhia extinta. A companhia

cindida que subsistir e as que absorverem parcelas do seu patrimônio responderão solidariamente pelas obrigações da primeira anteriores à cisão.

Parágrafo único. O ato de cisão parcial poderá estipular que as sociedades que absorverem parcelas do patrimônio da companhia cindida serão responsáveis apenas pelas obrigações que lhes forem transferidas, sem solidariedade entre si ou com a companhia cindida, mas, nesse caso, qualquer credor anterior poderá se opor à estipulação, em relação ao seu crédito, desde que notifique a sociedade no prazo de 90 (noventa) dias a contar da data da publicação dos atos da cisão. (Não destacado no original)

Enfim, uma vez sintetizadas as possibilidades de responsabilização por

sucessão, passemos então ao tema central do presente trabalho, qual seja a previsão

do artigo 133 do CTN de responsabilidade do adquirente por sucessão no caso de

aquisição de fundo de comércio ou estabelecimento comercial e prosseguimento das

atividades.