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Possibilidade de o juízo da execução cível determinar penhora no rosto dos autos de crédito da execução trabalhista caso o reclamante tenha falecido

No documento Informativo comentado: Informativo 634-STJ (páginas 33-35)

É possível a penhora, determinada por juízo da execução cível, no rosto dos autos de execução trabalhista de reclamante falecido, devendo a análise da qualidade do crédito e sua eventual impenhorabilidade ser feita pelo juízo do inventário.

STJ. 3ª Turma. REsp 1.678.209-PR, Rel. Min. Paulo de Tarso Sanseverino, julgado em 02/10/2018 (Info 634).

Processo 1 (execução cível na qual João era credor e Pedro devedor)

João da Silva ajuizou execução, na Justiça Estadual (comum), contra Pedro Moreira cobrando R$ 15 mil. Tentou-se a penhora de bens do devedor, mas não se encontrou nada.

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Art. 687. A habilitação ocorre quando, por falecimento de qualquer das partes, os interessados houverem de suceder-lhe no processo.

Art. 688. A habilitação pode ser requerida:

I - pela parte, em relação aos sucessores do falecido; (...)

Processo 2 (execução trabalhista)

Paralelamente ao processo 1, estava tramitando um outro processo. A situação deste segundo processo era a seguinte:

Pedro Moreira foi demitido, sem justa causa, da empresa Zeus.

Como a empresa não pagou corretamente suas verbas rescisórias, ele ingressou com reclamação trabalhista contra a empregadora.

O juiz trabalhista condenou a empresa a pagar R$ 20 mil em favor de Pedro. Iniciou-se a execução trabalhista.

Ocorre que, no curso do processo, Pedro Moreira faleceu.

Diante disso, os sucessores do falecido requereram sua habilitação no processo, nos termos do art. 688, II: Art. 688. A habilitação pode ser requerida:

(...)

II - pelos sucessores do falecido, em relação à parte.

O juiz trabalhista, por meio de uma penhora on line, havia conseguido penhorar R$ 50 mil que estavam depositados na conta da empresa executada.

O dinheiro ficou à disposição do juízo trabalhista, mas ele ainda não foi transferido para os herdeiros de Pedro.

Penhora no rosto dos autos*

João da Silva, não sei como, soube que há essa execução trabalhista que havia sido proposta por Pedro contra a Zeus. Soube também que foi penhorado esse dinheiro e que a quantia se encontra à disposição do juízo trabalhista, mas que ainda não foi transferida para os herdeiros.

Com essa informação, João da Silva pediu ao juiz da execução cível que penhore, no rosto dos autos da execução trabalhista, R$ 15 mil dos R$ 50 mil que a Justiça do Trabalho conseguiu penhorar.

O juiz da execução cível autorizou a penhora e comunicou a decisão ao juiz da execução trabalhista. Os herdeiros de Pedro recorreram contra esta decisão do juiz da execução cível alegando que os valores que o juiz da execução cível penhorou no rosto do processo trabalhista são verbas salariais e que, portanto, são impenhoráveis, nos termos do art. 833, IV, do CPC/2015:

Art. 833. São impenhoráveis: (...)

IV - os vencimentos, os subsídios, os soldos, os salários, as remunerações, os proventos de aposentadoria, as pensões, os pecúlios e os montepios, bem como as quantias recebidas por liberalidade de terceiro e destinadas ao sustento do devedor e de sua família, os ganhos de trabalhador autônomo e os honorários de profissional liberal, ressalvado o § 2o;

A questão chegou até o STJ. A decisão do juiz da execução cível foi mantida? É possível essa penhora por ele determinada?

SIM.

O STJ afirmou que a decisão do juiz da execução cível foi proferida com base em uma medida cautelar de tutela provisória com o objetivo de preservar os valores a fim de que a análise do crédito seja posteriormente feita no inventário, quando, então, se poderá discutir se a quantia é impenhorável ou não. Assim, o dinheiro arrecadado deverá ser levado para partilha no juízo do inventário e ali deverá ser feita a análise da qualidade do crédito e dos valores percebidos a título de herança.

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No juízo do inventário, o magistrado deverá sopesar o direito dos herdeiros de receberem as verbas trabalhistas como herança e o direito do credor do falecido de ver seu crédito satisfeito.

Em suma:

É possível a penhora, determinada por juízo da execução cível, no rosto dos autos de execução trabalhista de reclamante falecido, devendo a análise da qualidade do crédito e sua eventual impenhorabilidade ser feita pelo juízo do inventário.

STJ. 3ª Turma. REsp 1.678.209-PR, Rel. Min. Paulo de Tarso Sanseverino, julgado em 02/10/2018 (Info 634).

* O que é a penhora no rosto dos autos?

A penhora no rosto dos autos é aquela que recai sobre um eventual direito do executado que ainda está sendo discutido em outro processo judicial.

Em outras palavras, o executado do processo 1 está pleiteando um crédito no processo 2.

Logo, o juiz do processo 1 pode determinar a penhora no rosto dos autos deste crédito do processo 2. Ex: Antônio está executando Ricardo no processo 1. Ocorre que Ricardo está pleiteando um crédito contra Maria em um outro feito (processo 2). O juiz poderá determinar a penhora no rosto dos autos do crédito pleiteado no processo 2.

A penhora no rosto dos autos é disciplinada pelo art. 860 do CPC:

Art. 860. Quando o direito estiver sendo pleiteado em juízo, a penhora que recair sobre ele será averbada, com destaque, nos autos pertinentes ao direito e na ação correspondente à penhora, a fim de que esta seja efetivada nos bens que forem adjudicados ou que vierem a caber ao executado.

Segundo Daniel Assumpção Neves, “essa espécie de penhora se presta a dar ciência ao juízo da demanda em que se discute o direito, evitando-se a entrega do produto de alienação de bem penhorado diretamente ao vencedor da ação, considerando-se que esse crédito já está penhorado em outra demanda judicial.” (Novo CPC comentado. Salvador: Juspodivm, 2017, p. 1366).

Essa expressão “no rosto dos autos” era mencionada expressamente pelo art. 674 do CPC/1973, mas não foi repetida pelo art. 860 do CPC/2015. Apesar disso, essa nomenclatura continua a ser utilizada pela doutrina e jurisprudência.

No documento Informativo comentado: Informativo 634-STJ (páginas 33-35)