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1 DAS RUAS AOS JORNAIS: ATOR E GÊNERO DISCURSIVO

1.4 Gênero e estilo do gênero

1.4.3 Postagem em rede social digital

De acordo com Lankshear e Knobel (2007), o surgimento de novos letramentos contemporâneos subsidiados pelos usos de variadas tecnologias digitais trouxe desafios para as teorias dos gêneros. Conforme Lemke (2010), não somente temos enunciados em ambientes digitais se organizando de maneiras distintas, como hipertextos e hipermídias, combinando-se multissemioticamente, gerando, portanto, uma variedade de práticas linguageiras que se distinguem das utilizadas na modalidade oral e escrita da língua anteriores ao advento da internet. Embora não seja o objetivo desta tese, não deixamos de abordar as diferenças desses tipos de textos, visto que investigamos um gênero construído e veiculado na web: a postagem em rede social digital.

Compreendemos a noção de hipertexto em paralelo ao conceito de texto, portanto, não definimos hipertexto como uma noção estritamente dependente do suporte que veicula o conteúdo. Semioticamente, texto é o “resultado da junção do plano do conteúdo, construído sob a forma de um percurso gerativo, com o plano da expressão, o texto é um objeto de significação e um objeto cultural de comunicação entre sujeitos” (BARROS, 2005, p. 86).

Para falar de texto na internet, trazemos à luz os estudos de Marcuschi (2001), o qual sugere que o texto “consiste numa rede de múltiplos segmentos textuais conectados, mas não necessariamente por ligações lineares. O escritor de um hipertexto produz uma série de previsões para ligações possíveis entre segmentos, que se tornam opções de escolha para os hipernavegadores”.

Concordamos com a proposta de Marcuschi (2001) na medida em que o linguista trata da textualidade, o que, para os semioticistas, diz respeito ao encontro do plano da expressão com o plano do conteúdo. Mas o que retomamos é a distinção que o teórico faz entre o hipertexto e o texto: “a diferença central entre o hipertexto assim desenhado e o texto linear tal como o encontramos nos livros, jornais e revistas impressos é a possibilidade de diferentes escolhas para leituras e interferências on-line” (MARCUSCHI, 2001, p. 83). Portanto, é a possibilidade de múltiplas leituras a depender das escolhas do sujeito-usuário da internet que diferencia o texto do hipertexto.

Com relação à hipermídia, ela é a mídia que dá acesso aos hipertextos. Concordamos com essa acepção. Logo, para Marcuschi (2001, p. 94), “o hipertexto, aliado às vantagens da hipermídia, consegue integrar notas, citações, bibliografias, referências, imagens, fotos e outros elementos encontrados na obra impressa, de modo eficaz e sem a sensação de que sejam notas, citações etc.”.

Seguindo esse raciocínio, não há uma disparidade que desvincule os processos linguísticos e discursivos no hipertexto. Por conseguinte, aderimos à concepção de que hipertexto e texto são diferentes; por outro lado, ressalvamos que os processos de ambos não transcendem à natureza da linguagem humana, conforme defende Marcuschi (2001). Além disso, segundo os estudos de Barros (2015) e de Barros e Hilgert (2018), os processos de construção do sentido no hipertexto podem ser comparados aos já existentes na modalidade escrita e na oral da língua, permitindo com esse cotejo observar as semelhanças e os desvios entre as duas manifestações textuais.

As teorias dos gêneros, a depender da linha teórica adotada, nomeiam os tipos de enunciados que circulam na internet de gêneros emergentes (MARCUSCHI, 2005, p. 13-67), de gêneros digitais (XAVIER, 2005, p. 1-13), de gêneros eletrônicos ou gêneros virtuais (PAIVA, 2005, p. 68-90). Rojo e Melo (2017, p. 1.273) criticam o fato de que essas distintas tipologias dos enunciados produzidos na internet ocasionam uma confusão conceitual sobre o objeto de estudo abordado, pois, segundo as autoras, “em muitos textos [teóricos] fica difícil distinguir quando o autor está se referindo à ferramenta, ao texto/enunciado ou aos gêneros”.

Diante desse quadro de incompreensões, o hipertexto, à primeira vista, parece um desafio à noção de linearização, todavia, concordamos com Marcuschi (2001) sobre essa percepção ser equivocada, pois o próprio conceito de linearização precisa ser revisado. Em linguística estrutural e distribucional, a noção de linearidade é compreendida como “uma das propriedades fundamentais da linguagem. Os enunciados são sequências de elementos discretos ordenados de forma linear. Cada morfema é uma sequência de fonemas, cada frase é uma sequência de morfemas, cada discurso uma sequência de frases” (DUBOIS et al., 2006, p. 377). Marcuschi (2001; 2005) demonstra que essa concepção de linearidade aprisiona as estratégias de leitura de um texto, “já que um enunciado textual pode ser lido de diversas formas e em diversas relações de significação” (MARCUSCHI, 2001, p. 98) e não necessariamente do fonema rumo ao discurso.

Por isso, o estudioso define que a deslinearização é um processo de construção de sentido antigo, não se constituindo uma novidade no campo da linguagem para diferenciar texto de hipertexto. Para Marcuschi (2001, p. 98, grifos do autor), a novidade é a transformação da deslinearização “em princípio de construção textual. Aí sim podemos concordar com os teóricos do hipertexto, pois o que no hipertexto é uma técnica de produção, no livro impresso é uma forma de recepção”. Embora não respaldemos a noção de deslinearização proposta por Marcuschi (2001), concordamos com a distinção entre o texto e hipertexto e que ela parte, sim, da maneira como a linearização é realizada, e que existem diversas maneiras de proceder a leitura de um texto – embora Barros (2001; 2005) ressalve que essas maneiras não são infinitas, sendo limitadas pelas isotopias do próprio texto.

Pelo viés semiótico, Teixeira, Faria e Azevedo (2017) propõem, ao invés de deslinearização, o conceito de multilinearidade para o estudo do hipertexto. Para as autoras, o hipertexto promove múltiplas leituras possíveis. Nessa linha interpretativa, o hipertexto constitui-se de uma intertextualidade que representa uma “potencialidade aberta pelo enunciador a ser atualizada num determinado percurso de leitura pelo enunciatário” (TEIXEIRA; FARIA; AZEVEDO, 2017, p. 123). Com isso, a enunciação nas novas mídias é outra: “não é mais uma enunciação pressuposta que se mostra a partir de marcas deixadas no enunciado, mas sim uma enunciação que se constrói enquanto enuncia, isto é, como práxis enunciativa” (TEIXEIRA; FARIA; AZEVEDO, 2017, p. 123)54.

54 Ao tratar desse fenômeno no âmbito do blog, Discini (2015b, p. 96) comenta: “a transversalidade, durativa na

proliferação de actantes e atores, também se apresenta na prática da bricolagem intertextual, configurada como uma montagem que combina textos diversos [...]”.

O hipertexto em sua característica multilinear se constitui na e pela práxis enunciativa porque se constrói ao se enunciar. Descrevemos, com maior acuidade, o gênero postagem partindo dessa semiotização do conceito de hipertexto. Para tanto, compreendamos o espaço onde as postagens são veiculadas. Elas circulam nos sites de redes sociais digitais. Boyd e Ellison (2007) definem os sites de redes sociais digitais – Facebook, Twitter, Instagram, dentre outros –, como sistemas que possuem três condições: (i) a construção de uma persona por meio de um perfil ou página personalizada; (ii) a interação por meio de troca de comentários; e (iii) a exposição pública da rede social de cada membro.

Recuero (2009, p. 103) afirma que, “embora os sites de redes sociais atuem como suporte para as interações que constituirão as redes sociais, eles não são, por si, redes sociais. Eles podem apresentá-las, auxiliar a percebê-las, mas é importante salientar que são, em si, apenas sistemas”. Conforme salienta a estudiosa, “são os atores sociais, que utilizam essas redes [digitais], que constituem essas redes [sociais]” (RECUERO, 2009, p. 103). Eis a significativa atuação dos atores coletivos para as redes sociais digitais.

Definimos que a postagem em rede social digital refere-se a um tipo de enunciado publicado nos sites de redes sociais, sendo, portanto, um hipertexto. É conhecido, comumente, como post, termo que retoma a expressão da língua inglesa, embora haja tentativas de aportuguesamento como poste, forma análoga a blogue no português europeu, conforme aponta Modolo (2018). É um gênero que se relaciona com outros do universo digital, como e- mail, chat e blog, pois a postagem ocorre nesses outros gêneros como a ação de postar mensagem. De acordo com Modolo (2018, p. 160), “deve-se esclarecer que a ação de um ‘post’ é comumente expressa como o ato de ‘postar’, na qual um verbo já dicionarizado em língua portuguesa é reaproveitado para se referir a essa forma de ação”. Dentre os diversos sites de redes sociais, escolhemos as postagens publicadas na página da Mídia Ninja no Facebook durante o período de junho de 2013 e de março de 2015.

O Facebook foi criado em 2004 nos Estados Unidos, sendo considerada a maior rede social digital do mundo, com mais de dois bilhões de usuários, segundo dados divulgados pela própria empresa em dezembro de 2017. Desde 2011, há uma sede da empresa no Brasil, uma vez que os brasileiros constituem um dos maiores usuários da rede. Conforme as regras do site Facebook, para se inscrever é preciso que o usuário tenha, no mínimo, 13 anos de idade, sendo o cadastro gratuito e feito on-line. Cada um pode mudar as configurações de privacidade de acordo com suas publicações, ou seja, pode escolher o público específico que vai visualizar o conteúdo. Existem, até o momento, dois tipos de configurações: (a) pública,

na qual qualquer pessoa inscrita na rede social pode ter acesso; (b) privada, quando somente os amigos são autorizados a visualizar a postagem ou, ainda, amigos de amigos.

Para que se tenha acesso às publicações de outros usuários, é necessário, em geral, enviar um pedido de amizade. No caso das páginas institucionais, como a Mídia Ninja, o acesso às publicações depende da privacidade, se o perfil é aberto ou fechado. O perfil da Mídia Ninja é aberto, portanto, é visível a todos os usuários, não sendo imperativa a amizade entre o perfil do leitor e o do dono da página para se poder acompanhar as postagens.55

Os perfis de usuários são diversos e com variadas funcionalidades, podendo ser de uma celebridade, com função de exposição pública da agenda; de uma instituição filantrópica, com função de arrecadação de fundos e difusão das benfeitorias sociais; de uma empresa, com função de venda e divulgação de produtos e lançamentos; dentre outros. Selecionamos as postagens públicas de uma organização, a Mídia Ninja, que tem como finalidade a divulgação de notícias de interesse internacional, nacional e também regional. Portanto, a temática do gênero postagem em rede social se delimita com base na função de sua práxis enunciativa que é, nesse caso específico, divulgar informações de caráter noticioso.

A rede social digital do Facebook pode ser acessada pelo computador, tanto por meio de um navegador (browser), quanto por meio de um sistema operacional de celular ou de tablet, utilizando-se, nesses últimos casos, um aplicativo (software). Sobre a estrutura composicional da postagem, os usuários podem publicar textos escritos, imagens animadas, figuras, fotografias, vídeos e links que direcionam para outras páginas da internet. É um gênero, portanto, temático-figurativo.

É igualmente possível fazer transmissões de vídeo ao vivo. A página da Mídia Ninja no Facebook utilizou massivamente esse recurso principalmente durante as Jornadas de Junho de 2013. A veiculação direta e quase instantânea da notícia enquanto ela está acontecendo nos sites das redes sociais digitais é chamada de streaming. É uma tecnologia de transmissão instantânea de dados de áudio e de vídeo por meio das plataformas dos sites, como o YouTube e o Instagram – estas popularizaram esse recurso nos últimos cinco anos.56

Três são as interações possíveis com os interlocutores da rede social Facebook. A primeira, é a reação dos usuários frente às postagens dos outros, em que eles podem curtir ou

55 A expressão amizade na rede social do Facebook corresponde ao nó entre duas redes de membros diferentes.

Ocorre quando um membro aceita o convite de outro e, então, as postagens de cada um ficam aparecendo na página principal dos perfis amigos. Além disso, a depender dos níveis de privacidade da página, quando se tem amizade, obtém-se acesso a alguns dados e imagens que são ocultados para aqueles que não são perfis-amigos.

56 Para maiores esclarecimentos sobre esse tipo de notícia em ato da Mídia Ninja, recomendamos a leitura de

não curtir a postagem. Essa interação funciona, semioticamente, como uma sanção positiva que o enunciatário-leitor dá ao enunciador-dono da página, ao clicar no botão curtir.57

A segunda interação possível acontece quando o enunciatário-leitor responde ao enunciador-dono da página. Isso ocorre se os papéis se invertem e o enunciatário passa a ser enunciador, pois ele escreve um ou mais comentários abaixo da postagem veiculada pelo dono da página. Ao escrever comentários, o usuário da rede social digital pode interagir tanto com o dono da página à qual pertence a postagem, quanto com outros usuários que podem estar nos outros comentários ou serem convocados por meio de hiperlinks.58

Nessa interação, nota-se, com maior expressividade, a multilinearidade do hipertexto, pois os comentários podem ter, como a postagem, enunciados verbais, imagens, fotografias, animações, links, dentre outros recursos. De acordo com Discini (2015b, p. 96, grifos da autora), no caso do Facebook, como no blog, o modo de presença é “dado na ordem da transversalidade das relações com o que vem e com o que está por vir do exterior: o outro, a alteridade discursivizada, como sujeito novo, que vem de fora e entra nos limites [...] para aí fazer postagens”.

A terceira interação possível é o compartilhamento da postagem. Outros usuários da rede social Facebook podem se apropriar do enunciado da postagem e retransmiti-lo a outros que possuam ou não amizade com o primeiro usuário que iniciou a cadeia de difusão da postagem. No ato de compartilhar, o enunciado pode ser modificado acrescentando novos conteúdos de autoria de outro enunciador. As três interações possíveis da postagem na rede social Facebook confirmam a multilinearidade do hipertexto (TEIXEIRA; FARIA; AZEVEDO, 2017) e o modo de presença dado na ordem da transversalidade actancial (DISCINI, 2015b). Sob esses pressupostos, analisamos os enunciados das postagens da Mídia Ninja.

O estilo do gênero postagem em rede social associa-se às peculiaridades da práxis enunciativa convocada. A depender da interação entre o enunciador-dono do perfil e seu enunciatário-leitor, a expressividade e o modo de construir o enunciado se alteram contundentemente.59 No caso do perfil da Mídia Ninja, o estilo é responsivo à grande mídia,

57 Essa interação ganhou novos matizes, pois a opção de curtir foi ampliada em 2016 para seis outras opções:

curtir/gostar (like), amei/adoro (love), riso (haha), surpresa (wow), tristeza (sad) e ira (angry). Como nossos corpora foram coletados até 2015, não há ocorrência do uso desses outros botões de reação em nosso material.

58 Na web, entende-se por hiperlink ou link a ação de movimentação dentro de uma plataforma, site ou página. A

ação, em geral, é condicionada ao clique no botão do lado esquerdo do mouse. Essa ação abre uma nova página (no mesmo endereço eletrônico ou em outro) ou direciona a um lugar diferente na mesma página.

59 Conforme Bakhtin (2016, p. 69, grifo do autor), “a escolha de todos os recursos linguísticos é feita pelo falante

pois o ator da enunciação Mídia Ninja quer fazer parecer ser uma mídia diferente daquela que está instalada socialmente como mídia convencional. Nota-se isso por meio das citações diretas e indiretas em tom provocante e de crítica às informações prestadas pelos jornais impressos Estado e Folha e pela emissora televisiva Rede Globo.

A Mídia Ninja assume esse estilo autoral porque ela se projeta como mídia alternativa à mídia convencional. Isso se confirma no enunciado verbal divulgado no Facebook em uma postagem publicada no dia 13 de junho de 2014, no qual o grupo reconhece seu jornalismo como: “[...] um hub de produção e distribuição de conteúdos capaz de qualificar e dar visibilidade para temas que estão fora da mídia convencional. Além de mobilizar uma nova geração de midiatistas e jornalistas, a plataforma democratiza o acesso à informação [...]” (MÍDIA NINJA, 2014).60

Sobre o recorte teórico-metodológico que efetuamos para a análise do corpus da Mídia Ninja, optamos por considerar as postagens compostas por segmentos verbo-visuais. Fizemos essa escolha para garantir a paridade entre o número de gêneros compostos somente por linguagem verbal, predominantemente temáticos (editorial; artigo de opinião) e o de gêneros constituídos por linguagens sincréticas, temático-figurativas (reportagens e postagens).

Além disso, de acordo com Harkot-de-La-Taille (1999, p. 50, grifo da autora), “a visibilidade é uma relação que se estabelece entre dois actantes, exclusivamente em torno do verbo ver, que pode gerar desde prazer, passando pela indiferença, até um grande mal-estar”. No discurso da internet, a visibilidade tem como objetivo atrair a atenção do enunciatário- leitor. Segundo Discini (2015b, p. 94), os gêneros digitais comportam um modo de dizer associado ao regime da “mistura de enunciados, enunciações e dos próprios valores que fundam a presença”. Por isso, a construção da visualidade nos discursos da internet é um recurso importante para não deixar o enunciatário-leitor se perder ou se distrair na “transversalidade actancial favorecida pela internet” (DISCINI, 2015b, p. 94).

Outro fator preponderante no discurso na internet aponta para o fato de que ele distorce as expectativas ideais da modalidade escrita e falada da língua, conforme propõe Barros (2015). A estudiosa afirma que “na comunicação na internet, predominam, em relação ao ator, os mesmos efeitos de alternância de papéis e reciprocidade entre os interlocutores, próprios da fala ideal, apesar das marcas de escrita [...]” (BARROS, 2015, p. 18, grifo da

60 O termo hub (pivô) é, comumente, utilizado no campo do rádio, das telecomunicações e da informática. Ele

designa o processo no qual se transmite ou difunde certa informação, possuindo, como característica essencial, a difusão da mesma informação por diversos receptores, simultaneamente. Por isso, no português europeu, traduz- se esse processo como concentrador.

autora)61. Conforme a semioticista, as marcas de escrita seriam, em sua realização ideal, a elaboração individual do escritor, sem alternância dos seus papéis, tendo maior formalidade e produzindo, em consequência, uma assimetria dos sujeitos da escrita. Esses efeitos de sentido, ressalva a estudiosa, podem ter valorações positivas ou negativas nos diferentes textos publicados na internet. No caso da Mídia Ninja, projeta-se um simulacro de descontração, de cumplicidade e de simetria para com o enunciatário-leitor, confirmando a hipótese de Barros (2015).

Nas postagens da Mídia Ninja, opera-se, como prevê Barros (2015, p. 20), uma conjunção concessiva entre contrários, resultando “o termo complexo: fala (próxima, descontraída, incompleta, subjetiva), embora escrita (distante, formal, completa, objetiva)”. Pode-se verificar esse conceito no seguinte trecho da mesma postagem do dia 13 de junho de 2014, na qual a Mídia Ninja promete democratizar “o acesso à informação, dando voz aos cidadãos-multimídia, que mostram sua versão dos fatos. Personagens, narradores e leitores se misturam, descrevendo e transformando a realidade” (MÍDIA NINJA, 2014).

Para analisar as postagens selecionadas, partimos da proposta da semiótica tensiva, de Fontanille e Zilberberg (2001) e Zilberberg (2004; 2011), e dos desenvolvimentos dessa hipótese propostos por Discini (2010a; 2015a; 2015b). Em paralelo ao percurso gerativo do sentido, entendemos que a totalidade da Mídia Ninja – como também a do Estado e a da Folha nos gêneros já abordados – situa-se na interseção entre os eixos da intensidade (o sensível) e da extensidade (o inteligível), conforme Fontanille e Zilberberg (2001). Selecionamos esse arcabouço teórico porque almejamos depreender, como efeito de sentido do enunciado, e, como construção actorial do ele, o campo de presença do ator manifestante de rua em suas diferentes gradações nos hipertextos produzidos pelo ator da enunciação Mídia Ninja.

Ao descrever os gêneros pertencentes à grande mídia (Estado e Folha) e à mídia dita alternativa (Mídia Ninja), este estudo procura acolher a diversidade do discurso jornalístico. Buscamos não circunscrever a análise a apenas textos que possuem grande circulação e tradição na história do jornalismo brasileiro. Eis um ponto a se destacar em nossa metodologia: a acolhida da Mídia Ninja significa o exame de uma mídia recente e não estabelecida no cenário nacional e com pouca literatura no seio das ciências sociais e da linguagem – e o mesmo afirmamos sobre o gênero postagem.

61 De acordo com Barros (2015, p. 18), “a fala, em sua realização ideal, produz o efeito de uma conversação

Conforme Discini (2003, p. 110), é possível entender o jornal como “uma totalidade de discursos, o conjunto de mais de um texto, que supõe uma unidade de sentido. Poderemos depreender um modo de presença do ‘eu’ pressuposto à totalidade enunciada, o sujeito da enunciação, pela observação das relações estabelecidas na construção do sentido”. Tanto o Estado quanto a Folha possuem um sujeito da enunciação que pode ser apreendido pelo modo recorrente de produzir e de organizar o sentido nos textos que compõem a totalidade de discursos desses jornais. E o mesmo se pode dizer da Mídia Ninja, baseando-se em suas postagens na rede social digital Facebook. Portanto, o jornal é composto por diversos textos de distintos gêneros que podem possuir diferentes autorias, mas, como totalidade, ele

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