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2.7 O IPTU E AS DIMENSÕES DA SUSTENTABILIDADE URBANA NO BRASIL

2.7.5 A potencialidade de arrecadação do IPTU

Em qualquer sistema tributário, pode-se avaliar a eficiência da arrecadação de um determinado tributo, através do seu desempenho em um determinado período de tempo, comparando-se o valor efetivamente arrecadado com o do seu potencial ótimo de arrecadação, ou seja, arrecadação máxima do imposto com impacto negativo mínimo na sociedade. Então, a situação ideal é atingida quando se consegue maximizar a arrecadação compatibilizando o valor do tributo com a capacidade de pagamento do contribuinte, influenciando desse modo a minimização da inadimplência. Pode-se avaliar a arrecadação do IPTU de um município em duas esferas: interna e externa. Na primeira, alguns índices são significativos: o IPTU per capita, os obtidos pelos quocientes entre: a) o valor total da arrecadação e a renda média familiar agregada do município, b) o total da arrecadação e o PIB local, c) o IPTU per capita e o IDHM- Renda, e ainda, d) o índice de inadimplência, que mede o percentual da arrecadação sonegada, e que reflete a incoerência do valor do imposto com a capacidade contributiva dos munícipes. Outros índices de eficiência interna podem ser obtidos através da relatividade da arrecadação do imposto perante as contas do “Sistema Orçamentário, Financeiro e Contábil do Município”, como: total da Receita Orçamentária, Receitas Tributárias, Receitas Correntes etc. Na esfera

externa, pode-se avaliar a arrecadação do IPTU de um determinado município em relação à de outros municípios de mesmo porte socioeconômico (IDH similar) ou da mesma região do país, através da análise comparativa dos seus índices de eficiência interna. Pode-se detectar a homogeneidade do IPTU em uma região ou estado do país quando, comparando-se os índices de avaliação interna da arrecadação de seus municípios, eles apresentarem valores muito próximos da média, com dispersão mínima.

A nível macroeconômico internacional, o mesmo tipo de análise pode ser realizado comparando-se o valor percentual da arrecadação global do IPTU perante o PIB ou a Renda per capita do país, com o de outros países de mesma envergadura socioeconômica. Neste caso, pode-se verificar se a arrecadação do imposto é justa, ou seja, compatível com a sua dinâmica socioeconômica.

Observa-se que, com relação ao IPTU, diversos fatores influenciam esta questão crítica relacionada à eficiência do imposto: distorções relacionadas à uniformidade no sistema de cadastro imobiliário que provocam inequidades, alíquotas mal dimensionadas com relação aos diversos níveis sociais dos contribuintes gerando inadimplência, metodologia de cálculo do imposto inadequada etc. Então, a questão crucial que permeia qualquer tributo reside em se conseguir uma arrecadação ótima coerente com o perfil socioeconômico do município. Em (CARVALHO JR, 2006) pode-se verificar o resultado de várias análises, incluindo um estudo comparativo entre a arrecadação do IPTU do Brasil e a dos impostos similares dos países desenvolvidos, sobre o comprometimento de renda das classes sociais relativo ao imposto, e a solução de um modelo econométrico aplicado ao IPTU, utilizando modelos estatísticos de regressão múltipla, com o objetivo de identificar as variáveis que influenciam positivamente e as que exercem influência negativa na arrecadação do IPTU. Dentre as conclusões apresentadas, se destacam:

a) a administração e a arrecadação do IPTU no Brasil ainda são deficientes, precisando se desenvolverem para chegarem aos níveis dos países desenvolvidos. b) o nível de arrecadação do IPTU no Brasil corresponde mais ou menos a 1,2% do PIB (referência 2002) enquanto que nos países desenvolvidos os percentuais variam de 1,5% a 4,5%.

c) o imposto não deve ser somente um instrumento de arrecadação, e sim ser utilizado como um instrumento importante da política urbana municipal.

d) os contribuintes mais pobres comprometem uma maior parcela da sua renda com o pagamento do imposto que os mais ricos.

e) apenas 60,0% dos imóveis urbanos estão devidamente cadastrados pelos municípios, na maioria das vezes com informações desatualizadas (estimativa sobre 16 capitais brasileiras, incluindo Salvador).

f) as avaliações dos imóveis são regressivas e possuem nível técnico baixo.

O Modelo Econométrico apresentou os seguintes resultados: as variáveis que influenciam positivamente a arrecadação do IPTU são: renda per capita municipal, alíquotas legais, cobertura cadastral, graus de urbanização, gasto per capita em habitação e urbanismo, localização do município. As transferências correntes per capita têm impacto negativo.

Pimentel (2009), em seu trabalho acadêmico, aplicou um modelo matemático para aferir a eficiência tributária do imposto de renda (similar ao IPTU em termos de progressividade das alíquotas) em 10 regiões fiscais do Brasil, considerando o período: 1995 a 2006. O autor sustenta em sua pesquisa que a eficiência tributária está relacionada à promoção do desenvolvimento e, consequentemente, do bem-estar social.

Heil (2010) realizou um estudo em torno das metodologias empregadas atualmente pelos municípios da região centro-sul do estado do Paraná para a efetivação dos cálculos dos valores venais de imóveis, e consequente tributação do IPTU e ITBI incidente sobre estas propriedades. Motivado pela aspiração dos municípios brasileiros em reduzir sua dependência dos repasses financeiros estaduais e federais através do aumento da sua arrecadação própria, oriundas de suas receitas tributárias, e baseando-se nos dados cadastrais imobiliários fornecidos por um dos municípios estudados, ele realizou através de técnicas estatísticas multivariadas, uma análise das características que mais influenciam as valorizações pecuniárias dos imóveis, e aplicando análise de regressão linear múltipla, propôs modelos de cálculo para estimação dos valores venais, possibilitando prognosticar cálculos tributários por seu intermédio. Finalmente, ele apresentou comparações entre os resultados advindos da metodologia atualmente usada pelo município com os obtidos pelos modelos desenvolvidos.

Afonso (2013b, 2013c) relata a queda da arrecadação do IPTU perante os outros impostos. Ele informa que no período (2011-2012), os percentuais de municípios em que a arrecadação do IPTU foi inferior às arrecadações do IPVA e do ITBI, aumentaram de 93,3% para 93,7%, e de 42,0% para 43,0% respectivamente. No período (1970-2011), o IPTU e o ISS inverteram o valor da arrecadação. Em 1970 o valor arrecadado pelo IPTU equivalia a 181,0% do valor auferido pelo ISS. Após uma queda constante pelas décadas subsequentes, este percentual declinou para 48,0% em 2012. Ele também assevera que a vantagem da tributação sobre o patrimônio em relação à tributação sobre o consumo é que permite considerar a capacidade

contributiva do pagador do tributo, e que se for eficiente, pode reduzir a regressividade da carga tributária que é significativa no Brasil. E ainda, afirma que os principais desafios para o IPTU no Brasil são: a frágil capacidade arrecadatória dos municípios de menor porte que mina a equidade tributária, o combate a inadimplência, e as reformas constitucionais envolvendo alterações no federalismo fiscal.

De Cesare (2013) relata que a reduzida importância do IPTU como fonte de receita resulta em motivos para preocupação, pois em 2010 a carga tributária do Brasil era equivalente a 33,6% do PIB enquanto que a arrecadação conjunta do IPTU e ITR representavam apenas 1,3% da carga tributária e 0,43% do PIB. Cita ainda, informação proveniente do banco de dados do

Lincoln Institute of Land Policy, que situa a arrecadação do IPTU no Brasil em 5ª colocação na

América Latina com 0,35% do PIB, inferior à do Chile, Uruguai, Colômbia e Bolívia.

Em (BRASIL, 2014) é apresentado um estudo da Escola de Economia de São Paulo, da FGV, o qual relata que dentre 3.359 municípios brasileiros, apenas 95 (2,8% do total) são eficientes na gestão da área tributária. Destes, apenas 13 integram o PNAFM (Programa Nacional de Apoio à Modernização da Gestão Administrativa e Fiscal dos Municípios Brasileiros). Para a definição do grau de eficiência dos municípios, o estudo dos pesquisadores Paulo Arvate e Enlinson Mattos relacionou a eficiência de arrecadação das cidades com os índices da economia informal e confrontou os dados sobre o grau de informatização da cidade, nível de urbanização, densidade residencial, número de pessoas pobres, renda per capita e transferências do governo federal. O estudo teve duas conclusões importantes: a primeira foi que os municípios que recebem mais transferências vindas do governo federal e estadual, e apresentam melhor renda per capita, são aqueles correlacionados com o pior desempenho de eficiência. A segunda foi a constatação de que ser mais eficiente não significa arrecadar mais, e sim, aperfeiçoar a capacidade do sistema, mantendo os custos inferiores aos benefícios. O trabalho revelou ainda distorções absurdas, pois alguns municípios apresentaram despesas de fiscalização e administração maiores que a própria arrecadação. Em termos de eficiência tributária, salientou-se o município gaúcho de Santa Maria, um dos que aderiram ao PNAFM, cuja prefeitura conseguiu dobrar suas receitas, reduzir a inadimplência no pagamento do IPTU, e diminuir também os gastos com pessoal. Atualmente, 68 prefeituras integram o PNAFM. Entre elas, algumas capitais como Salvador, Recife, Goiânia, Fortaleza e Cuiabá.