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PRÁTICA DA LINGUAGEM: TEORIA DA ANÁLISE DO DISCURSO

No documento 2018ArianedaRosaFerreiraCaporal (páginas 43-45)

A teoria da Análise do Discurso, a AD, surgiu nos anos sessenta do século XX na França, como resultado dos estudos do linguista Jean Dubois e do filósofo Michel Pêcheux17. Embora trabalhe com a linguagem, essa nova disciplina surge como uma ruptura em relação à Linguística saussureana3, uma vez que seu objeto de estudo, o discurso, distancia-se do objeto de estudo da ciência criada por Ferdinand de Saussure.

A partir de leituras feitas do Curso de Linguística Geral, de Ferdinand de Saussure (1916/2006), o precursor do estudo da língua, no início do século XX, obtemos informações, conceitos que evidenciam que Saussure elevou os estudos da linguagem a partir da língua, como seu objeto vivo e essencial, na busca de delimitar seu campo de estudo. Foi em Cours de

linguistique générale, publicado e organizado em 1916, na França, a partir de notas e

apontamentos dos alunos de três sequências de curso de linguística ministradas por Saussure na Universidade de Genebra, que veio à superfície os estudos do linguista, que partiu do pressuposto de uma ciência da linguagem. Sendo assim, ao ponderar a linguagem em caráter científico, Saussure inaugura a Linguística como ciência da língua, fundada, a priori, por todas as manifestações da linguagem humana, de diferentes grupos sociais, em diferentes contextos de uso comunicacional.

Considerado um divisor de águas nos estudos da linguagem e o grande nome da linguística, Saussure teve como objetivo norteador transformar os estudos linguísticos em ciência, para isso, além da linguagem unívoca, de uma metalinguagem, para expressar suas reflexões, necessitava adequar seus estudos aos princípios científicos, entre eles o da objetividade, estabelecendo uma dualidade fundamentada na oposição social/individual: língua e fala, sendo que a primeira, por um lado, para Saussure, não estaria completa em nenhum indivíduo, e só na massa ela existiria de modo completo, considerando-a objetiva, abstrata, potencial, social, homogênea; a segunda, por outro lado, a fala apresenta-se numa realização variável, isto é, mudaria de acordo com o indivíduo falante, sendo subjetiva e concreta.

Visto que Saussure teve como objetivo elevar os estudos linguísticos à ciência, e como a ciência só pode estudar aquilo que é recorrente, aquilo que se repete, que é constante, centrou

17Maldidier (1994) descreve a fundação da Análise do Discurso através das figuras de Jean Dubois e Michel

Pêcheux. Dubois, um linguista e lexicólogo, envolvido com empreendimentos da Linguística de sua época; Pêcheux, um filósofo envolvido com os debates em torno do marxismo, da psicanálise, da epistemologia. O que há de comum no trabalho desses dois pesquisadores com preocupações distintas é que ambos são tomados pelo espaço do marxismo e política, partilhando convicções sobre lutas de classes, a história e o movimento social. (MUSSALIN, 2012, p.113).

seus estudos na língua, em sua estrutura interna, nas relações entre elementos que a compõem. Diante disso, a AD questiona a Linguística sobre a exterioridade da língua e a influência do sujeito, trabalhando, pois, com a relação entre língua-discurso-ideologia. Assim, conforme Maingueneau (1997, p.11) a AD

provém da própria organização do campo da linguística. Este último muito esquematicamente, opõe de uma forma constante o núcleo que alguns consideram “rígido” a uma periferia cujos contornos instáveis estão em contato com as disciplinas vizinhas (sociologia, psicologia, história, filosofia, etc.). A primeira região é dedicada ao estudo da língua, no sentido saussureano, a uma rede de propriedades formais, enquanto a segunda se refere a linguagem apenas na medida em que esta faz sentido para sujeitos inscritos em estratégias de interlocução, em posições sociais ou em conjeturas históricas. O termo “discurso” e seu correlato análise do discurso remetem exatamente a este último modo de apreensão da linguagem.

É nessa perspectiva que pontuamos que AD tem como primeira instância a prática da linguagem exercida pelo homem, considerando todos os valores vivenciados por ele na sociedade e permite observar que por trás de uma língua há fatores ideológicos que funcionam como base. Convém salientar que a ideologia tem o papel fundamental de, por meio de argumentos, justificar as práticas realizadas por um grupo social, em que os sujeitos são atravessados ideologicamente, em seus discursos, por questões relativas à própria língua, história, cultura e experiências vividas. A ideologia

não se define como o conjunto de representações, nem muito menos como ocultação de realidade. Ela é uma prática significativa; sendo necessidade da interpretação, não é consciente – ela é efeito da relação do sujeito com a língua e com a história em sua relação necessária, para que se signifique. (ORLANDI, 1998, p. 48).

Assim, a AD concebe a linguagem como mediadora fundamental entre o homem a realidade natural e social. Essa mediação, o discurso, torna possível tanto a permanência e a continuidade quanto o deslocamento e a transformação do sujeito e da realidade natural e social. Essa corrente teórica interessa-se pela língua utilizada concretamente no mundo, por seus sujeitos falantes influenciados por fatores externos dos processos de significação. Estuda os processos e as condições de produção da linguagem, articulando-se sobre o campo das ciências humanas sem deixar de construir uma unidade no interior da teoria linguística, pelo fato de que há uma relação necessária da linguagem como contexto de sua produção.

Desse modo, com a finalidade de abrir possibilidades de estudo, considerando o escopo de análise discursiva a que leva essa disciplina, discorreremos a seguir, antes de submergirmos

na proposição teórica de cada categoria dos postulados de Dominique Maingueneau, noções que são basilares para este trabalho. São conceptualizações que têm o caráter de estabelecerem uma relação com a pesquisa propriamente dita e a uma reflexão sobre língua e história: o discurso e a análise do discurso. E é a partir de tais conceitos que adentraremos em um universo de possibilidades de fatores que implicam no estudo desta dissertação, levando em conta o modo de fazer análise do discurso e a visão global do discurso a que se propõe o teórico francês Dominique Maingueneau.

No documento 2018ArianedaRosaFerreiraCaporal (páginas 43-45)