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SÃO BORJA, A TI EU CANTO: SÍNTESE DO PANORAMA LITERÁRIO, ARTÍSTICO

No documento 2018ArianedaRosaFerreiraCaporal (páginas 80-83)

Dedicar novamente um espaço neste trabalho ao panorama literário, artístico e cultural creiamos que não se trate de repetir ideias já fundadas, mas trazer outros pontos outrora não mencionados. O que pretendemos na elaboração desta seção é exatamente aclarar especificidades voltadas às produções literárias da cidade de São Borja, bem como registrar os movimentos artísticos, como os festivais de músicas e os eventos voltados para a literatura e cultura.

No primeiro capítulo, dedicamos uma seção a fim de pontuar a expressividade do Festival da Barranca, significativo festival de músicas, que tem o Rio Uruguai como palco, que

permeia pela história e cultura do povo são-borjense. Nossa intenção, ao nos debruçar nesse evento, foi o de resgatar e valorizar as peculiaridades culturais que contemplam e moldam os aspectos identitários dessa comunidade histórica e culturalmente constituída por movimentos literários e artísticos.

Os festivais de músicas de São Borja, por muitos anos, vêm se perpetuando na memória coletiva cultural dessa comunidade. As produções literárias e artísticas possuem forte influência no desenvolvimento tanto acadêmico como social do município. Tratam-se de eventos que retomam, por meio do arcabouço cultural, a história e preservação de bens materiais e imateriais. É nessa perspectiva que pontuaremos, nos parágrafos que seguem, um panorama literário, artístico e cultural.

O festival do Clarim, extinto festival regionalista, teve sua primeira e única edição em 1985, realizado no Parque de exposições Serafim Dornelles Vargas em São Borja. Um evento ao ar livre, no qual reuniram-se compositores e cancioneiros da cidade e região. O Clarim foi idealizado e organizado por Apparício Silva Rillo, com colaboração de Luiz Carlos Borges23. Mesmo logrando êxito e os organizadores terem criado expectativas para a segunda edição, o Festival do Clarim não se perpetuou nos anos seguintes, talvez por falta de recursos ou por outras questões que não nos propusemos a pontuar aqui. Ficou, sim, perpetuado na memória do povo, por ter consagrado canções, compositores e cancioneiros.

Em 1982, a fim de contemplar o tricentenário do município de São Borja, foi promovido um festival de música para registrar seus trezentos anos de história denominado “Uma canção para São Borja”. Mesmo tendo apenas essa edição, o festival gerou bastante impacto no tradicionalismo gaúcho, tanto por trazer um número expressivo de compositores, letristas e com músicas de importante reconhecimento, como por ser o pivô de uma grande discussão, uma polêmica entre Sérgio Jacaré Metz e Antônio Augusto Fagundes24.

Outro importante Festival realizado no município de São Borja foi o Festival Ronda de São Pedro. Esse evento contou com a primeira edição em 1982. A gênese do Festival partiu, de acordo com Aguilar (2013), das comemorações que estavam sendo realizadas no Centro

23 Luiz Carlos Borges é uma referência na musicalidade sul-riograndense. Idealizador e colaborador de diversos

festivais de músicas. Músico, instrumentista, compositor e intérprete, é considerado um dos principais nomes da música regional do Rio Grande do Sul.

24 Nunca o jornalismo cultural gaúcho foi uma arena tão disputada quanto nos anos 80, auge do nativismo, década

de aguerridos debates estéticos sobre a música e a cultura do estado [...]. Um dos momentos mais interessantes se deu em 1982, quando a polêmica girou em torno do festival Uma Canção para São Borja. Dois debatedores de peso duelaram com artigos publicados no jornal Zero Hora. Primeiro, Antônio Augusto Fagundes, que recém havia estreado o programa Galpão Crioulo na RBS TV. Depois, a réplica de Sérgio Jacaré Metz, que iniciava naquele ano a primeira parceria com Carlos Leandro Cachoeira, dando origem mais tarde ao grupo Tambo do Bando. (RIBAS, 2014).

Nativista Boitatá25, dos 300 anos da Fundação Histórica de São Borja. Dado a isso, a direção da entidade propôs que fosse incluído nas programações festivas da Ronda de São Pedro, já realizado na entidade, um festival que contemplasse e valorizasse a participação de artistas da cidade, originando, assim, o I Concurso de músicas juninas. Como o evento tomou uma proporção bastante significativa, foi expandido e teve o nome oficial de, conforme Aguilar (2013), Ronda de São Pedro. O Festival teve a última edição em 2012, a vigésima sétima.

Nessa conjuntura, ao comentar eventos que delimitam essa expressividade literária, artística e cultural que emana da cidade de São Borja, apresentaremos, no que segue, outro festival.

A cidade não se destaca somente pela produção artístico-cultural com característica regional-tradicionalista gaúcha, mas também por contemplar um dos mais antigos e reconhecidos festivais, na mesma proporção do Festival da Barranca, o Festival de músicas para o Carnaval. Como idealizador, o grande nome da literatura sul-riograndese Apparício Silva Rillo, deu início nos anos 1960 e registro oficial em 1967, com a realização na praça XV de Novembro, localizada no centro da cidade de São Borja. Denominado, inicialmente, como um “Festival” sem fins de disputa, mas com o intuito de valorizar e retomar o carnaval, teve como primeira finalidade a composição de músicas para serem tocadas nos salões, nos bailes de carnaval. Após o falecimento de Rillo, em 1995, o Festival foi repensado por seus organizadores e, com a finalidade de homenagear seu criador/fundador, passou a levar o título de “Concurso Regional de Músicas para o Carnaval Apparício Silva Rillo”. O evento ocorre, atualmente, initerruptamente, no Cais do Porto de São Borja, em três dias consecutivos para a escolha de marchas e sambas de carnaval, de modo a premiar primeiro, segundo e terceiro lugares de cada categoria.

Por fim, consideremos mais um evento que julgamos coerente com a proposta dessa seção, a Feira do Livro de São Borja. Determinada pelo fenômeno literário, a Feira do Livro é parte integrante dessa sociedade, move-se sobre o campo sociocultural desde 1985. É realizada na Praça XV de Novembro, a praça central da cidade, e integra comunidade, artistas e escritores em um só contexto. Para tanto, essas manifestações culturais colaboram para a formação que determina e caracteriza a identidade do povo são-borjense.

Esses eventos artísticos e literários, caldados no histórico, são permeados por discursos que configuram a linguagem literário-artística daquela comunidade, possibilitando uma relação com as práticas sociais e do arcabouço de produção literária. Tratar desses aspectos,

25 O Centro Nativista Boitatá foi fundado em 17 de abril de 1974, no bairro do Passo, na cidade de São Borja.

acreditamos que seja pertinente já que temos por finalidade conceber o discurso em sua globalidade, como sustenta Maingueneau (2008a). Enfim, para um enlaçamento teórico- metodológico, na próxima seção apresentaremos resultados decorrentes da análise do corpus de pesquisa delimitado neste estudo.

5.2 POEMAS E CANÇÕES MARCADOS DISCURSIVAMENTE PELA HISTÓRIA,

No documento 2018ArianedaRosaFerreiraCaporal (páginas 80-83)