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A Prática do Yoga como Possibilidade de despotencializar o

No documento Kundalini Yoga e a Psicologia Analítica (páginas 72-81)

Capítulo 3: Considerações Finais

3.3. A Prática do Yoga como Possibilidade de despotencializar o

Nesse ponto faço uma aproximação entre os termos do Yoga: samskára e vásaná, e a definição de complexo da Psicologia Analítica. Essa é uma correlação

pessoal que pode não encontrar concordância entre os versados nessas áreas de pensamento e prática, no entanto, optei por expôr meu ponto de vista com o intuito de que possamos ,através de olhares diferentes sobre o ser humano, aumentar nossa consciência sobre nós mesmos.

Abaixo transcrevo reflexões resumidas dos termos acima citados:

Zimmer (2005, p. 234):

Dentro do corpo denso, que sofre a dissolução após a morte, cada ser vivo possui um corpo sutil interior, formado pelas faculdades sensoriais, os alentos vitais e o órgão interno. Este é o corpo que perdura de nascimento em nascimento, como base do veículo da personalidade reencarnante. Esta deixa o envoltório do corpo denso no momento da morte e então determina a natureza da nova existência; pois em seu interior ficaram as pegadas - como sulcos ou cicatrizes- de todas as percepções, atos, desejos e movimentos da vontade realizados no passado, de todas as propensões e tendências, da herança de hábitos e inclinações, e a disposição peculiar para reagir deste ou daquele modo, ou mesmo não reagir.

Os termos técnicos usados para designar essas recordações do passado são vásaná e samskára. A primeira das palavras (da raíz vas, morar em, habitar) pode ser usada como referência ao odor que persiste em uma roupa que foi perfumada com um vapor fragrante. Uma vasilha de barro cru conserva o aroma da primeira coisa que conteve, da mesma forma o corpo sutil está impregnado pelas vásaná (fragrâncias, perfumes e resíduos sutis) de todo seu karma anterior. Estes vásanás tendem a causar samskára, cicatrizes permanentes que acompanham o corpo sutil de vida em vida.

O substantivo samskára, que significa “impressão, influência, operação, forma e molde”, é um dos termos básicos da filosofia indiana. Deriva da raíz verbal kr-, “fazer”. Sams-kr- significa “aprontar, moldar para algum uso, mudar ou transformar”; a ideia oposta é pra-kr-. Compare com prakrti: a matéria tal como a encontramos em seu estado virgem ou primitivo.

Feuerstein (1997, p.248) define Vásaná da seguinte forma: “Vásanás são os traços subliminares deixados na mente pelo exercício do desejo”. Para o Yoga, os desejos nos trazem maia, a ilusao, que nos afasta do Todo. Os desejos nos aprisionam na matéria, eles nos fazem humanos. Ao tentar entender isso psicologicamente, pensei na relação dos recém- nascidos com o mundo, e de como essa relação está baseada em eros. Talvez as primeiras humanizações dos arquétipos sejam mesmo em termos de eros; a existência, a quantidade e a qualidade de eros nas relações.

Imaginando-se que no início da vida a consciência está contida no Todo, e que aos poucos, ela se diferenciará do Todo; temos que acreditar na existência de uma fonte de energia intensa o suficiente para "retirar" pedaços do Todo, e formar consciência.

Para o Yoga isso se daria através do “ execício do desejo”, e para a Psicologia através de eros,a primeira forca motriz capaz de nos afastar do Todo.

Assim, entendo como se os Vásanás fossem as primeiras formas de humanização vivenciadas pelos arquétipos desde os primeiros dias após o nascimento, ou até mesmo na existência intra-uterina. Esta primeira forma de humanização que se dá pelo “exercício do desejo”, dos afetos; pode e será reelaborada muitas vezes através de futuras vivências; no entanto, como se sugere na alegoria sobre o termo Vásaná de Zimmer (op cit.) “...o odor que persiste em uma roupa que foi perfumada com um vapor fragrante, ou uma vasilha de barro cru que conserva o aroma da primeira coisa que conteve...”, sugiro que essa primeira humanização tem um aspecto extremamente marcante para a estruturação da personalidade; dissolver essa primeira impressão seria, talvez, o último obstáculo para se retornar ao Todo...

Esses Vásanás (as primeiras marcas da consciência) influenciarão cada nova vivência criando Samskáras. Para Feuerstein (1997), Samskára tem um significado psicológico, se refere às marcas indeléveis no inconsciente deixadas pelas experiências diárias, sejam elas conscientes ou inconscientes, internas ou externas, desejáveis ou indesejáveis. Estas marcas não seriam vestígios de ações ou volições individuais, mas

forças altamente dinâmicas da vida psíquica que impelem constantemente a consciência àação. Aqui comparo o termo Samskára com a definição de complexo de

Jung:

Para Jung os complexos são núcleos psíquicos mais ou menos conscientes constituídos por um centro arquetípico; são entidades autônomas afetivamente carregadas, que quando consteladas (ativadas por determinadas situações) afetam a consciência, alterando a memória, os pensamentos e os comportamentos. Conforme Jung (1998, v. XVIII-1, pp.99): “o complexo é um conglomerado de conteúdos psíquicos ao redor de um núcleo derivado de um ou mais arquétipos, são caracterizados por uma carga emocional em comum, peculiar e talvez dolorosa, normalmente inacessíveis ao contato exterior.”

Dessa forma, os complexos ou os Samskáras se aglutinam em torno de um ou mais arquétipos ou Vásanás, influenciando a consciência positiva ou negativamente. Observo ao leitor que não estou comparando o termo Vásaná com a ideia de arquétipo. Como descrevi acima, me parece que o Vásaná já é uma primeira relação do inconsciente com a consciência, uma primeira impressão individual que se produz pelo “exercício do desejo”, talvez a “ carga emocional em comum ”, conforme a citação de

Jung acima. Esta carga emocional em comum organizará o aparecimento de complexos ou Samskáras que se relacionam ao indivíduo.

A prática do Yoga tem como principal objetivo a cessação completa da atividade mental, promovendo a dissolução dos Samskáras.

Para Kupfer (2001, p. 188, grifos nossos):

O corpo funciona como um receptor de prána cósmico captando energia através dos chakras, que vibram em consonância com o

samskára de cada um. Samskára é o conjunto de tendências

subconscientes, de caráter inato e hereditário, principal causa dos condicionamentos humanos. Vásanás são os desejos que funcionam como força motriz dos pensamentos e ações do indivíduo. Através das práticas, agindo sobre os centros de

força, podemos controlar as propensões da mente e sublimar o samskára.

Através da dissolução dos Samskáras ou dos complexos, a consciência passa a ter a capacidade de gradativamente mais e mais relacionar-se com o Todo, sem a interferência dos Samskáras ou dos complexos.

Portanto, sugiro que através da prática do Yoga podemos despotencializar os complexos, aproximando-se cada vez mais de um estado amplo de consciência, em direção a Individuação.

Epílogo

Finalizo este trabalho com algumas divagações.

Em uma palestra da comunidade Zen Budista, o Mestre Ryotan Tokuda proferiu:

Alguém de certa feita afirmou o seguinte: ‘Ocidente é Ocidente, e Oriente é Oriente e tão certo quanto estou aqui, nunca haverão de se encontrar’. Mas um professor universitário americano, pesquisador de misticismo, disse: ‘No fundo, toda experiência mística é uma coisa só, mas quando aquele que teve aquela experiência tenta explicá-la em sua própria língua, se utiliza então de sua própria religião. Eis porque esta experiência mística, apesar de poder ser expressa com diferenças de língua, religião, cultura, tradições, costumes, países, épocas, etc., apresenta basicamente as mesmas características. Uma delas, justamente, é a inefabilidade, isto é, a dificuldade de se encontrar um meio de exprimir e de explicar aquilo que foi vivenciado. Mesmo assim, não se pode deixar de transmitir aquela alegria da experiência para as demais pessoas, pois isto não é uma alegria deste mundo no qual estamos vivendo, mas uma experiência divina e sagrada’.

(UFOP).http://www.sotozencuritiba.org/deus_e_a_rosa.php) (acesso em julho de 2009).

Durante o ano em que estive trabalhando nesta monografia, sonhei que entoava um mantra, que, por um período, de fato entoávamos ao final das aulas de Yoga. Um homem me ensinava e tentava me corrigir, e eu o repetia várias e várias vezes, tentando unir o que queria, que era um som agradável, com aquilo que ele tentava me ensinar - a correta vibração das palavras em regiões do meu corpo (peito, garganta, cabeça...). Era muito difícil seguir simultaneamente as duas orientações...

Assim, entendo que seja difícil unificar duas formas diferentes de percepção e de valorização - a atitude ocidental, que prioriza o estético, o que é percebido fora, o som; com a atitude oriental, que prioriza a ação em si mesma, o que é percebido dentro, no corpo... . Mas, talvez, seja esse o caminho que a humanidade precisa trilhar.

“Om, sarve, bavanthu sukinaha Om sarve shantu niramayah Om sarve bhadrani pashantu Maa kashih dukha Bhagbhavet Om, shanti, shanti, shanti ”

“Om, que todos sejam felizes Om, que todos vivam em paz

Om, que possamos ver a bondade nos outros

Que ninguém padeça com a inaptidão, que ninguém sofra Om, paz”

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Imagens

(acessado em 10 de dezembro de 2010)

Por ordem de apresentação; de cima para baixo, da esquerda para a direita:

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