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Prática leitora 3 – As mais

No documento 2013MaireJosianeFontana (páginas 119-123)

4. ANÁLISE DOS DADOS E RESULTADOS

4.2 Desenvolvimento das práticas leitoras na escola

4.2.3 Prática leitora 3 – As mais

As mais, obra de Patrícia Barboza, relata histórias de quatro amigas totalmente

diferentes, mas que compartilham uma verdadeira amizade. Cada uma tem particularidades que somam ao grupo. Ao final do 8º ano, a partir de uma dica da professora Aline, de português e redação, elas decidem escrever um livro. Mari, Aninha, Ingrid e Susana, as "MAIS", relatam suas histórias, seus medos e suas alegrias. Adolescentes que vivem entre encontros e desencontros superam as adversidades da vida e deixam sua marca por onde passam.

Após a leitura individual feita pelo 8º ano e a apresentação da autora Patrícia Barboza, iniciou-se a discussão sobre a obra As mais. Destaca-se que algumas das atividades realizadas nesta prática leitora não estavam presentes no Caderno de Atividades VI da Pré-Jornadinha.

Inicialmente, os alunos foram questionados sobre seus planos para o Ensino Médio e para o futuro. A maior parte deles destaca o desejo de cursar o Ensino Médio no Instituto

Federal do Rio Grande do Sul – IFRS Campus Sertão, pois lá, ao mesmo tempo em que se cursa o Ensino Médio, é possível fazer um curso técnico, e sonham em, no futuro, formar uma família e ter um bom emprego.

Na obra, cada uma das amigas (Mari, Aninha, Ingrid e Susana) tem sua característica própria. Mari é a pagadora de micos, Aninha é a intelectual, Ingrid é a romântica e Susana é a atleta. Os alunos foram questionados se se identificam com alguma das características das personagens, sendo que A.P.B. disse que se identifica com Aninha, a intelectual, pois é muito dedicada aos estudos e lê bastante; E.R. e C.O. se identificam com Susana, a atleta, pois sempre que podem praticam esportes, principalmente futebol. Os sujeitos mostravam-se envolvidos em encontrar significações pessoais na obra e no comportamento das personagens, tentando estabelecer uma ligação entre as experiências relatadas no texto e suas próprias experiências.

Com relação à profissão que pretendem seguir, foram apontadas ideias bem distintas, como a profissão sonhada por R.S., que pretende ser militar, pois gosta de lidar com armas e é incentivado pela mãe a seguir essa ocupação. C.O., G.B., D.D.B. e E.R. querem trabalhar em profissões relacionadas à agricultura e A.P.B. destacou que pretende ser professora de matemática e que não recebe o incentivo de seus familiares para seguir a profissão, os quais já chegaram a dizer que não pagarão uma faculdade para licenciatura. Mencionou que sabe das dificuldades dessa profissão nos dias de hoje, que os alunos já não respeitam os professores e não se interessam por aprender, mas que gosta muito dessa área e pretende seguir.

Observou-se que durante a leitura os alunos faziam ligações entre suas experiências, seu conhecimento de vida e o mundo textual desenvolvido na obra. Os alunos foram convidados a discutir um pouco sobre o comportamento das quatro amigas e seus traços principais, fazendo uma comparação com suas vidas e seus comportamentos. Foram destacados os sonhos, desejos, inseguranças, dificuldades, persistência e planos relatados na obra. Entretanto, a amizade foi um ponto crucial e recebeu maior destaque entre os alunos. Ressaltou-se que a amizade entre os colegas de turma não é tão grande como a das meninas do livro, onde uma participa da vida da outra, contam segredos, compartilham emoções, mas que eles se respeitam e se gostam como amigos, havendo um relacionamento bom entre colegas. Constatou-se, por meio da leitura da obra e das discussões, que os alunos puderam se identificar com algumas histórias relatadas no livro, o que tornou a leitura mais prazerosa, já que se aproximava de suas vivências. Petit (2008) destaca que:

Ler permite ao leitor, às vezes, decifrar sua própria experiência. É o texto que “lê” o leitor, de certo modo é ele que o revela; é o texto que sabe muito sobre o leitor, de regiões dele que ele mesmo não saberia nomear. As palavras do texto constituem o leitor, lhe dão um lugar (p. 38).

Em relação à formação de grupos na escola, disseram que não há isso no local onde estudam, pois a escola comporta apenas 29 alunos e todos têm um bom relacionamento e um comportamento semelhante. Percebem, no entanto, que em outras escolas isso é bastante comum, e o que mais acontece é a formação de grupos entre os que têm mais afinidade, como os mais tímidos, os mais bagunceiros, os mais falantes, os mais inteligentes e estudiosos etc.

Posteriormente, os alunos foram dirigidos ao laboratório de informática para conhecer o “blog das mais”. Mostravam-se ansiosos por esse momento devido ao limitado acesso ao local durante as aulas. O auxílio da pesquisadora no desenvolvimento das atividades foi fundamental, porque era de conhecimento dela que os alunos não possuíam muitas habilidades em informática, apesar de suas idades e de, aparentemente, pertencerem a uma geração supostamente habituada com a tecnologia. Depois de conhecer a página, os alunos tiveram a oportunidade de criar um e-mail para poder postar um comentário sobre a obra e sobre a página no blog (Anexo F). A atividade resultou no interesse imediato dos alunos, pois puderam ler em um suporte diferenciado daquele a que estão habituados, podendo, ainda, expor uma opinião sobre suas leituras e ver seus nomes aparecendo no blog. Além disso, agora eles teriam uma conta de e-mail que lhes permitirá a comunicação com seus amigos sempre que tiverem oportunidade.

Por fim, sugeriu-se ao 8º ano a criação de uma sigla da amizade com as iniciais de seus nomes, como na obra, onde a sigla formada foi “MAIS”. Após o surgimento de inúmeras combinações de letras, optaram pela sigla “GRECAD”, que passou a ser, desde então, a sigla da amizade da turma do 8º ano.

O trabalho com o 9º ano apontou, inicialmente, que dois alunos pretendem cursar o Ensino Médio no IFRS – Campus Sertão e cursar uma faculdade na área agrícola, enquanto um deles sonha com a advocacia. Em relação aos sonhos para o futuro, J.A.S. e A.V.P. destacaram o desejo de formar uma família, ter dinheiro e tudo aquilo que precisam para viver bem, enquanto R.C. afirmou que seu sonho é sempre ter paz, pois aqueles que têm paz conquistam tudo o que querem.

Em relação às características das personagens da obra As mais, A.V.P. disse que se identificou com duas personagens, Mari e Susana, pois ele está sempre pagando micos e se

considera um atleta, pois adora jogar futebol; J.A.S. se identificou com a personagem Ingrid, pois é muito romântico; R.C. se identificou com a Aninha e com a Susana, pois é muito estudioso e também atleta, adora jogar futebol. Em discussão sobre o comportamento das quatro amigas da obra e seus traços principais em comparação com seus comportamentos, destacou-se também a amizade forte e verdadeira que existe entre eles.

Cabe ressaltar que as discussões promovidas nesta prática com os alunos são de suma importância, pois eles aprendem a interagir e fazer com que suas ideias estimulem novas visões e possibilidades e onde a leitura de textos literários possa desenvolvê-los como seres humanos. Langer (2005) defende que nesse tipo de discussão os alunos “têm espaço para explorar tópicos que dizem respeito às suas vidas, para usar o texto, a literatura relacionada, a vida do autor, assim como suas próprias vidas e as dos colegas” (p. 72).

Os alunos dirigiram-se ao laboratório de informática para visitar o blog das “mais”. A postagem do comentário recebeu bastante cuidado, pois ficaria disponível na internet para ser visualizada por quem quisesse. Eles demonstraram grande interesse pela atividade, disseram que nunca haviam feito nada parecido porque não têm acesso à internet e nas aulas de informática a professora não permite acessar. Destacaram, também, que foi interessante poder registrar suas próprias opiniões sobre a leitura do livro e a página. O 9º ano também criou uma sigla da amizade com as iniciais dos componentes da turma: “JAR”, que passou a ser utilizada, inclusive, como sigla de identificação da turma entre eles.

A atividade de produção textual solicitada aos alunos após o trabalho com a obra As

mais, de Patrícia Barboza, consistiu na produção de um texto coletivo que envolvesse toda a

turma, o grupo de amigos (Anexo G), da mesma forma como acontece no livro As mais. Durante a produção, todos colaboraram com informações e vieram à tona os sentimentos despertados durante o acontecimento relatado.

A ideia da produção colaborativa obteve grande êxito, já que, juntos, os alunos uniram seus mundos particulares e suas experiências diante do fato narrado. Observou-se, por meio das produções textuais, a interação dos sujeitos com os pontos de vista de todos os integrantes da turma. Quanto ao desenrolar das produções, verificou-se que envolveu as emoções e recordações de cada aluno diante das situações relatadas, como observado na produção do 8º ano, onde alguns consideraram a situação engraçada, outros lamentaram a cena que ocasionou o término do jogo de baralho. Já o texto produzido pelo 9º ano permitiu que os alunos expressassem seus sentimentos e percepções diante da cena narrada, um casamento, destacando-se a relação entre os colegas e a amizade. Em ambas produções houve a percepção da integração dos sujeitos para a criação, notando-se, ainda, uma sensível evolução na questão

de trabalhos que englobam a diversidade de opiniões, representando tal evolução numa mudança nas representações de toda a turma, que experimentou ver a mesma situação com “olhos diferentes”.

Destaca-se, ainda, o desenvolvimento da prática para com o trabalho coletivo, representando um avanço na intercomunicação dos integrantes da turma, ficando demonstrado, para os sujeitos, que da criação literária também pode surgir a interação de conhecimentos, opiniões e lembranças, quebrando o paradigma de que a produção textual somente se dá de forma individual. Ressalta-se que a criação realizada pelos alunos resultou numa criação detalhista e complexa, demonstrando a relevância da utilização de vários pontos de vista no texto elaborado.

Essa experiência de construção textual coletiva promoveu o amadurecimento dos sujeitos para a leitura e o trabalho conjunto, ocasionando, ainda, mudanças no trabalho com o texto pelo contato com distintos suportes de leitura e escrita, proporcionadas, nessa prática leitora, por meio do acesso ao blog “As mais”. Destacam-se, com isso, mudanças em seu interesse pela leitura, resultado, inclusive, do trabalho de produção não apenas no papel, mas tendo como suporte também recursos multimidiais.

Por meio das descobertas e construções feitas pelos sujeitos, deu-se o aprendizado de forma instigante e divertida. Ao mesmo tempo, houve por parte dos alunos um crescimento pessoal proporcionado pelo acesso ao computador: os sujeitos aprenderam de forma distinta do que acontece no ambiente escolar, que habitualmente desvincula ensino e tecnologia, onde etapas são vencidas de acordo com a faixa etária dos estudantes.

Após a produção textual coletiva, foi solicitada aos alunos a produção de um acróstico com o nome dos colegas. Para isso, foi feito um sorteio e cada aluno recebeu o nome de um colega para produzir o acróstico. Salienta-se que essa produção não será apresentada neste estudo para que os nomes dos sujeitos participantes desta pesquisa não sejam divulgados.

No documento 2013MaireJosianeFontana (páginas 119-123)