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A PRÁTICA PEDAGÓGICA NA EDUCAÇÃO BÁSICA COMO REFERÊNCIA DA FORMAÇÃO DO PEDAGOGO

4 OS SENTIDOS ATRIBUÍDOS AOS CONHECIMENTOS DA PRÁTICA PEDAGÓGICA

4.3 A PRÁTICA PEDAGÓGICA NA EDUCAÇÃO BÁSICA COMO REFERÊNCIA DA FORMAÇÃO DO PEDAGOGO

Durante o curso de licenciatura, e em especial nesse caso o de Pedagogia, o estudante, desde o primeiro semestre, participa de discussões sobre a prática pedagógica desenvolvida pelos professores que atuam na educação básica, sobretudo nos anos iniciais do ensino fundamental. Nesses estudos e discussões sobre a prática, em geral, muitos estudantes não têm, ainda, experiência como professor. Do mesmo modo, há docentes formadores de professores que conhecem a prática pedagógica na educação básica quase que exclusivamente pelos estudos teóricos. De fato, alguns professores que atuam nos cursos de licenciatura fizeram sua formação em nível de graduação e pós-graduação e, em seguida, realizaram concurso para professor universitário sem ter tido a oportunidade de conhecer mais de perto a educação desenvolvida na escola básica. Aqui ressaltamos que nem sempre os objetos de

estudos dos docentes formadores de professores estão localizados no contexto da escola e da educação básica.

Essas discussões e estudos são muitos relevantes para a formação dos professores, disso ninguém duvida. No entanto, a nossa experiência como professor universitário, acrescida das discussões que estabelecemos com outros colegas de diferentes instituições, tem evidenciado que o estudante da licenciatura tem um sentimento carregado de preconceito em relação às práticas pedagógicas dos professores que atuam na educação básica. Isso se evidencia quando são discutidas questões mais relativas à prática pedagógica de professores da educação básica, especialmente quando focalizam a prática daqueles que não cursaram o ensino superior.

Nessas situações, muitas vezes, estudantes do curso de Pedagogia se referem a esses professores como se fossem desprovidos de arcabouço de conhecimento, considerado pelos estudantes da licenciatura como fundamental ao exercício da profissão docente. O que se evidencia é que o estudo teórico das Ciências da Educação, por vezes, faz com que os estudantes das licenciaturas, em especial os do curso de Pedagogia, elaborem um conhecimento sobre a prática pedagógica (ainda a distância dessa prática) que os faz pensar que têm condições de desenvolver uma prática melhor do que aquela desenvolvida pelos professores atuantes da educação básica.

Nessa perspectiva, a prática pedagógica, no momento de realização dos estágios curriculares supervisionados, possibilita aos estudantes realizarem uma revisão desse conhecimento eivado de preconceito e, ao mesmo tempo, reelaborarem, ou mesmo elaborarem, um conhecimento acerca da prática, constituindo assim um novo conhecimento teórico-prático.

A falta de experiência na prática pedagógica por parte dos estudantes e o contato com os estudos teóricos sobre a prática pedagógica em especial e a educação como um todo ocorrem de modo que o primeiro entendimento a respeito da prática seja carregado de um sentimento de superficialidade. Isso é perfeitamente natural, dado o momento da formação inicial pelo qual passam esses estudantes. Todavia, parece-nos pertinente destacar que o curso, em seu currículo, posterga o contato dos estudantes com o seu campo de atuação profissional futura, ou seja, a escola, quando se organiza de modo que os estágios ocorram apenas no finalzinho do curso.

oportunidade que grande parte dos licenciandos tem para experimentar uma prática pedagógica, ainda que seja por um período curto. Os próprios estudantes afirmam que o tempo de exercício da prática pedagógica nas situações de estágio é insuficiente para conhecer a docência.

MARIANA: Eu acho que os estágios são pequenos, acho que deveriam ser maiores pra ter uma visão mais ampla, porque o tempo dos estágios não deu pra gente, assim, entender bastante como é a prática, ainda mais pra gente que não ensina ainda.

MILLEIDE: Os estágios, como acrescentam tanto na vida de nós estudantes, eu acho até que seria mais proveitoso se fosse um período até maior. Só essa questão mesmo, do próprio curso... LUCILENE: Eu acho que é pouco tempo de estágio, que o estágio deveria ser assim mais longo, porque no caso de Pedagogia tem muitas pessoas que já são professores, mas têm alunas que não são e que não atuam, eu acho pouco tempo assim para você.

Mesmo breves, os estágios são uma oportunidade para que os futuros professores possam, além de exercer uma prática pedagógica com todas as implicações de aprendizagem, melhor entender e compreender a prática pedagógica dos professores que atuam na educação básica – prática muito criticada durante quase todo o curso de licenciatura, especialmente pelos estudantes de Pedagogia.

LUCILENE: Eu comentei com os meus colegas que a maior contribuição dos estágios, ou que a minha maior aprendizagem que tive com os estágios, foi a questão assim porque você vai observar a professora antes do estágio e você já tem um preconceito. Conforme a ação, você chega nesse período de estágio mesmo que eu fique, eu percebi que você não consegue fazer diferente, você vai observar, você fala: “Nossa, por que a professora tá fazendo desse jeito?”, e aí quando você vai lá no lugar da professora, eu percebi que eu não consegui fazer muita coisa diferente do que a professora que estava lá, que não está fazendo curso de Pedagogia, que não fez nem pró- infantil, curso de capacitação. Então, a maior contribuição dos estágios foi me fazer entender que, apesar de eu saber muita coisa que estudei no curso, esse conhecimento todo do curso me pareceu insuficiente para que poder mudar alguma coisa na prática pedagógica nas escolas que, muitas vezes, eu mesma critiquei.

Os estágios curriculares supervisionados são, portanto, uma oportunidade significativa para o futuro professor entender que a escola é, realmente, bem mais complexa do que, muitas vezes, se imagina durante os cursos de formação inicial de

professores. É na realização dos estágios curriculares supervisionados que os licenciandos percebem que há, no contexto da educação básica, problemas de naturezas diversas, como de má formação inicial ou de falta de formação continuada para os professores; de gestão competente e democrática da educação, no sentido pedagógico, e dos recursos destinados à educação, no sentido administrativo; de relacionamento interpessoal; de estrutura, dentre outros.

A experiência da prática pedagógica dos professores das escolas da educação básica, além de se constituir como referencial para a formação do pedagogo no sentido lato do termo, estabelece também uma referência para que o estagiário perceba as suas possibilidades de ser ou não professor.

Assim, um aspecto revelado pelas falas de algumas das estagiárias diz respeito ao fato de, mesmo estando prestes a concluir um curso de licenciatura, não terem o desejo de ser professoras. Ressaltamos que, diferentemente da maioria dos outros cursos de licenciatura, o curso de Pedagogia abre um amplo leque de possibilidades de atuação profissional. Além da possibilidade de atuar como professor, desenvolvendo seu trabalho na efetiva regência de classe, ministrando aulas, existe a oportunidade para o pedagogo de trabalhar em espaços ou projetos de educação não formal; na coordenação pedagógica no âmbito de uma escola; na coordenação de projetos educativos no âmbito de uma secretaria de educação, ainda, na direção de escola.

ANITA: Pode falar coisas assim, porque assim, olhe só... assim informação minha... Eu estou no curso de Pedagogia, mas eu não me vejo em sala de aula, sabe... eu posso até trabalhar em coordenação, direção, mas eu não me vejo em sala de aula. Então, eu tive uma experiência agora de estágio e tudo, apesar que muita gente diz que eu pareço ser, parece que eu tenho jeito pra professor, mas não é aquilo que eu sinto. Não é minha vontade. Então vim, fiz o curso de Pedagogia e fiz o curso assim, mais por fazer, não era bem o que eu queira. Gosto muito do curso, o curso é muito bom e eu venho cada vez mais avançando e tudo, mas eu ainda não me vejo em sala de aula. Eu já estou no 7º semestre e não vejo ainda trabalhando assim, na sala de aula. Então o estágio também, agora, eu vi, por exemplo, que fosse pra eu estar em sala de aula, eu vi que eu não tenho paciência pra lidar com criança, que na creche mesmo eu peguei a... também... a pior classe que tinha lá. Então assim, eu vi que eu não tenho jeito pra trabalhar com criança, mas eu já tenho pra trabalhar com jovens e adultos. Então, eu não me vejo trabalhando em sala de aula, mas eu também não vou dizer que dessa água não beberei, eu posso daqui um tempo estar trabalhando em sala de aula, mas vou preferir trabalhar com jovens e adultos, se for o caso.

MARIANA: O estágio como eu disse foi um aprendizado, então eu conclui que foi muito bom e serviu pra eu ver que na Educação Infantil também eu não saio muito bem e no Normal Médio eu não quero nem encostar...

Não podemos perder de vista que a nossa experiência como professor universitário tem mostrado que o estudante chega ao final do curso de graduação já bastante cansado da rotina própria de estudos, o que pode reforçar o sentimento de insatisfação ou incerteza em relação ao exercício da profissão de pedagogo. Essa situação se agrava quando os estudantes realizam os estágios curriculares supervisionados, ocasião em que eles têm de se deparar com as situações reais que ocorrem na educação básica, sobretudo na escola pública, onde faltam recursos e as relações de poder são, muitas vezes, bastante acirradas, agravando ainda mais o estresse natural já observado em muitos estagiários. Isso pode causar um desinteresse, mesmo que passageiro, para com a atuação profissional do pedagogo, posto que temos visto muitos estudantes que concluem o curso com depoimentos semelhantes aos apresentados pelas estagiárias participantes deste estudo, os quais ingressam, futuramente, na profissão docente e terminam desenvolvendo simpatia pela área profissional, podendo estabelecer vínculos afetivos com educação e com a escolarização, em especial.

4.4 CONTRIBUIÇÕES DOS ESTÁGIOS PARA ENTENDER OS

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