• Nenhum resultado encontrado

4 OS SENTIDOS ATRIBUÍDOS AOS CONHECIMENTOS DA PRÁTICA PEDAGÓGICA

4.1 SENTIR-SE PROFESSOR DESDE A FORMAÇÃO INICIAL

Para algumas estudantes, os estágios curriculares supervisionados constituem a primeira oportunidade que têm de experimentar a docência. De acordo com essas estudantes, os sentidos da prática pedagógica estão exatamente no fato de poderem vivenciar o cotidiano de uma escola, mesmo que por um curto período. As estudantes sabem que é uma experiência de grande relevância para a formação, posto que serve para ajudá-las a compreender qual é o papel do professor e a se relacionar com os outros sujeitos de uma escola em uma perspectiva diferente daquela que há muito tempo vêm experimentando, que é a posição de aluno. Assim, questões, por exemplo, de relacionamento interpessoal no âmbito da escola são evidenciadas como um importante aprendizado para o professor. Reconhecem, ainda, que a prática pedagógica em situação de estágios curriculares supervisionados pode ajudá-las a vencer os medos e as incertezas em relação à atividade docente, uma vez que os estágios têm, para elas, o sentido de docência, ainda que provisória.

ANITA: É uma forma também para praticar um pouco a docência, uma vez que, por exemplo, antes eu ficava assim: “Meu Deus, eu vou estagiar e agora o que é que eu vou fazer, que eu não fiz isso!?”.

MILLEIDE: Os estágios na realidade não é um período muito longo, mas eu vejo que já contribui bastante para minha formação. Até o próprio relacionamento entre mim e as pessoas que ali estavam, e você sente, digamos assim, responsável por aquela

turma, por aquele trabalho. Como fazer, como deve ser o meu papel? E aí, em relação à prática no momento do estágio, que você se sente como professor, digamos assim.

Nas informações de Milleide, a experiência da prática pedagógica nos estágios curriculares supervisionados (ou a docência provisória) tem a importância de levar o aluno a se sentir professor. Nesse momento, ele precisa entender e enfrentar as situações-problema próprias que todo professor efetivo encara no cotidiano da gestão do ensino e da aprendizagem que ocorre no âmbito da sala de aula.

Outro aspecto que cada vez mais tem sido evidenciado na universidade diz respeito às dúvidas de muitos graduandos em relação às escolhas feitas quando buscaram uma vaga no ensino superior. Há estudantes que nem bem ingressam no seu curso superior desistem ou se transferem para outro curso por perceberem que aquele escolhido no momento do vestibular não corresponde aos seus desejos profissionais. Outros concluem o curso e voltam à universidade para iniciarem outra graduação.

Para algumas das estudantes desta pesquisa, a prática pedagógica desenvolvida nos estágios curriculares supervisionados tem, dentre outros, o sentido de um teste através do qual experimentam a docência e descobrem se realmente querem ser professor. Evidentemente, esse sentido não representa uma definição por parte do estudante em relação à sua permanência ou não no curso, mas sim uma reflexão acerca da escolha profissional feita e de afirmação como profissional da Pedagogia.

ANITA: É importante ter o estágio, uma vez que, no meu caso mesmo, que não tinha essa prática em sala de aula, pra mim foi importante para ver se realmente é aquilo que eu quero, e se realmente eu quero ser professora. Então, às vezes esse momento também é pra gente refletir – será que é isso mesmo que eu quero? Então, o momento de estágio é esse momento de afirmação ou não da profissão.

Compreendemos que os estágios não se resumem a esse sentido ou pelo menos não podem ser pensados pelos professores do curso com essa perspectiva. Todavia, as

conversas interativo-provocativas mostraram a recorrência desse sentido.

Acreditamos, entretanto, que o coletivo de professores que atuam no curso precisa refletir sobre essa questão. No nosso entendimento, o fato de os estágios terem esse

sentido representa, de certa forma, um reducionismo de seu propósito.

O reconhecimento da importância dos estágios curriculares supervisionados é presente em vários momentos das conversas interativo-provocativas. Aqui, a estudante ressalta a progressão das melhorias que ela observou na própria prática pedagógica, quando destaca que as “experiências vão se acrescentando e melhorando cada vez mais”. Entendemos que o fato de o próprio estudante perceber as possibilidades de modificações na prática pedagógica é, por si só, um grande ganho proveniente da experiência dos estágios, como destaca Milleide:

Eu acho que o estágio é importantíssimo. Acho que o estágio só vem fazer com que suas experiências vão só sendo acrescentadas e melhorando cada vez mais sua prática, porque eu vejo quando a gente vai estagiar, toda a preocupação que a gente tem. E o momento lá, até a questão do planejamento mesmo, a gente muda por ser flexível, a gente muda pra atender aquela realidade e sem os estágios a gente não vai ter essa visão. Já imaginou se a gente sai do curso de Pedagogia sem fazer nenhum, a gente vai chegar na sala de aula e vai ser totalmente desesperador também.

A estagiária afirma que, durante os estágios, entendeu que a prática demandava alterações no plano das atividades a serem desenvolvidas em sala de aula. Ao mesmo tempo, ela esclarece como percebeu a importância de ter realizado um planejamento para suas aulas. São duas dimensões muito significativas; de um lado, por ela entender os sentidos do plano feito a priori; de outro, por compreender a flexibilidade desse plano perante a realidade e a necessidade durante a aula.

A capacidade de ser flexível é fundamental para qualquer professor. A experiência dos estágios tem essa prerrogativa de gerar situações que servem para possibilitar ao futuro professor, ainda no processo de sua formação inicial, aprender a pensar de forma flexível diante da necessidade de se dar uma resposta imediata a uma demanda da própria prática pedagógica.

A esse respeito, Pessoa (2001) chama a nossa atenção para a necessidade e o sentido de se aprender a pensar como professor a partir da reflexividade desde o momento da formação inicial. A prática pedagógica nos estágios curriculares supervisionados é uma primeira e importante oportunidade que o futuro professor tem para aprender a pensar, a analisar de forma reflexiva as diversas situações próprias do processo ensino-aprendizagem. Dessa forma, possibilita aos estagiários vivenciar os contextos reais da prática pedagógica no campo de sua futura atuação profissional. Os

estágios são momentos de exercício flexível de reflexão sobre/na/para a prática pedagógica.

Assim, embora não se possa ensinar a pensar (DEWEY, 1910), o estagiário vai aprendendo, aos poucos, a pensar como professor, referendando-se não mais apenas no estudo teórico das Ciências da Educação, mas também no exercício teórico-prático dos estágios curriculares supervisionados. Pensar como professor é pensar de forma reflexiva em um diálogo com a prática (PESSOA, 2001), ou com diversas situações educativas, construindo sentidos e, assim, conhecimentos no sentido de uma prática pedagógica competente, sobretudo quando esses sujeitos forem exercer a profissão docente.

4.2 REFLEXÕES SOBRE A PRÁTICA PEDAGÓGICA DESDE A FORMAÇÃO

Documentos relacionados