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OS PROFESSORES DAS DISCIPLINAS DE ESTÁGIOS E A RELAÇÃO ENTRE TEORIA E PRÁTICA

PSICOLOGIA DA EDUCAÇÃO

5.3 OS PROFESSORES DAS DISCIPLINAS DE ESTÁGIOS E A RELAÇÃO ENTRE TEORIA E PRÁTICA

Apesar de muitos estudantes não conseguirem perceber ou estabelecer relações entre as Ciências da Educação e a prática pedagógica, há professores que

provocam o estabelecimento dessa relação no âmbito das aulas das disciplinas sob sua responsabilidade. Todavia, a estudante Lucilene entende que a provocação para a constituição dessa relação aconteceu muito tardiamente. Segundo a estudante, somente durante a realização dos estágios curriculares supervisionados é que ela percebeu essa atitude por parte dos seus professores.

LUCILENE: Os professores das disciplinas de estágio até procuram suscitar nos estagiários que a gente estabeleça a relação entre os estudos das disciplinas introdutórias que estudam as Ciências da Educação... mas, assim, na hora dos relatórios que eles pedem isso. Porque eles falam assim: “pra gente buscar nos teóricos que a gente estudou e tal”. E, assim, quando a gente vai observar eles pedem isso também. Antes do estágio mesmo, no período de observação, eles falaram assim pra gente analisar o que nós já estudamos, o que já temos e que pode servir para ajudar na questão de observar, como que você observa. Mas, assim, eu acho que é pouco.

Dessa forma, entendemos que a intenção de se estabelecer uma relação produtiva entre o campo teórico das Ciências da Educação e o campo prático dos estágios curriculares supervisionados deve ser permeada por uma compreensão de educação numa perspectiva teórico-prática. Essa perspectiva deve obrigatoriamente permear todo o currículo do curso, desde o seu início. Evidentemente, a efetivação dessa relação se torna mais propícia no momento em que são oferecidas as disciplinas de estágio, devido à natureza prática dessa atividade, porém o estabelecimento da relação entre o estudo das Ciências da Educação e as práticas pedagógicas deve ocorrer ao longo do curso.

Aqui, ressaltamos que a nossa compreensão acerca dos estágios curriculares supervisionados vai além de uma atividade prática de fazer ou de ministrar aulas. Compreendemos os estágios como a oportunidade de se fazer um estudo sobre e na prática pedagógica. Nesse sentido, todos os saberes ensinados e aprendidos durante todo o curso são fundamentais enquanto referenciais para este estudo.

Não obstante os professores das disciplinas de estágios curriculares supervisionados, muitas vezes, provoquem o estabelecimento da relação entre a teoria e a prática, há também, no curso de Pedagogia, professores que não têm essa preocupação no foco de seu trabalho docente junto aos estudantes, futuros professores da educação básica.

dos estágios não estabeleciam relação entre teoria e prática. Não retomavam as discussões feitas a partir das disciplinas que estudavam as Ciências da Educação. Assim, bastante coisa antes que a gente tinha estudado não eram relacionadas com os estágios. Mas eles focaram mais a matéria que a gente tá estudando no momento dos estágios mesmo. Não retomou os conceitos das Ciências da Educação, não, nada disso.

ANITA: Essa coisa de suscitar no aluno essa relação, não entre as Ciências da Educação, pode até ter tido de forma implícita, mas, assim, de forma explicita, falar: Oh, gente! vamos manter relações com as ciências estudadas lá nos primeiros semestres... e coisa e tal... não teve não. Só se foi de forma bem implícita mesmo.

O que se depreende da fala de Mariana e Anita é que há uma carência por parte dos professores das disciplinas dos estágios curriculares supervisionados no seu compromisso em promover o estabelecimento da articulação entre as discussões de natureza teórica das Ciências da Educação e a prática pedagógica.

Nesse sentido, entendemos que o trabalho dos professores de estágios vai além do acompanhamento da elaboração e desenvolvimento de um estágio e da redação de um relatório de estágio. Compreendemos os estágios como atividades de reflexão sobre e a partir de toda a experiência de estudo realizada durante todo o curso de graduação.

Assim, concordamos com Alves (1992) quando ela afirma que os estágios não podem ser tomados como o simples cumprimento de uma carga horária obrigatória estabelecida legalmente.

O estágio curricular não pode ser pensado na qualidade de mero cumprimento de uma exigência legal, desligado de um contexto, de uma realidade. Assim, entendo que o estágio assume um caráter de pesquisa sobre a ação, pois é nesse contexto de atuação que os conhecimentos teóricos adquiridos ao longo da trajetória acadêmica são externalizados em ações pedagógicas de reflexão-ação-reflexão. (ALVES, 1992, p. 65).

Os estágios curriculares supervisionados são uma oportunidade de estudo muito importante para a formação do futuro professor. Como tal, eles precisam, no nosso entendimento, ser percebidos pelos estudantes e pelos professores como uma experiência formativa em que todos os momentos são relevantes para que os estagiários possam ter um primeiro entendimento do que é a prática pedagógica e de como se processa a escolarização na educação básica, agora vista na perspectiva de futuros professores. Como futuros professores, que estão concluindo toda uma

formação inicial, o olhar deve ter uma natureza científica, isto é, a atitude dos estagiários deve ter a intenção de “coletar informações da e na prática” para que, a partir delas, possam começar a delinear o seu próprio ser professor, ou seja, o seu modo de iniciar sua prática pedagógica futura, depois que terminarem de cursar a graduação e entrarem no efetivo exercício da profissão docente.

5.4 A RELAÇÃO ENTRE AS CIÊNCIAS DA EDUCAÇÃO E A PRÁTICA

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