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5. DISCUSSÃO

5.2 Práticas alimentares

Em relação às práticas alimentares dos pais ou responsáveis têm-se uma forma de percepção de como esses influenciam no desenvolvimento infantil. Para além da influência na ingestão alimentar, essas práticas estão relacionadas com os padrões de refeições familiares (ROCHINHA; SOUSA, 2012). Segundo este autor, práticas realizadas por pais referentes à alimentação infantil, como a restrição de alimentos, a pressão para a ingestão de determinados alimentos e a oferta de alimentos como recompensa têm sido apontadas como potenciais determinantes do peso das crianças. Tais práticas estão contempladas como negativas no instrumento da atual pesquisa.

Diante dos resultados, pode-se perceber que os pais ou responsáveis se comportam de forma positiva e negativa na mesma proporção, isto é, na medida em que praticam hábitos positivos, também praticam hábitos negativos, sendo um dado

alarmante, pois deveriam preconizar apenas as práticas positivas visto que hábitos alimentares errôneos perpassam por toda a vida.

Em relação ao Constructo 1, Orientação para uma alimentação saudável, que consiste num ambiente de alimentação saudável proporcionado pelos pais ou responsáveis às crianças, incluindo o ensino e o exemplo, foi considerada a prática com maior média dentre as positivas (4,08), porém sabe-se que o nível de conhecimento de muitas famílias sobre hábitos alimentares saudáveis não está atrelada diretamente ao seu ensino e sua prática. Outro estudo evidenciou, ao avaliarem a associação de práticas alimentares e o conhecimento nutricional, que hábitos alimentares errôneos, incluindo índices de obesidade, estavam associados ao maior nível de conhecimento de pais sobre alimentação infantil. (VENÂNCIO; TEIXEIRA; SILVA, 2013)

O monitoramento e o controle dos pais quanto ao consumo de alimentos não saudáveis pelas crianças foi considerado alto nessa pesquisa, através do Constructo 2, contudo sabe-se que o consumo de alimentos como doces, açúcares, salgadinhos e ricos em gorduras ainda é bastante prevalente na população infantil atual. Conforme Leal et al., (2015), em sua pesquisa realizada com crianças pré-escolares de 2 a 5 anos, os alimentos mais consumidos, por 99,6% das crianças, foram os pertencentes ao grupo dos doces, açúcares e salgadinhos. Os alimentos do grupo de óleos e gorduras também foram consumidos além do recomendado, por 74,3% das crianças, sendo ainda mais alarmante o consumo de alimentos com gordura saturada.

O estudo de Leal et al., (2015) vai de encontro também dos valores encontrados no Constructo 4 (Restrição para Saúde), no tocante das questões 31 e 32, pois apesar de sua prática ser considerada negativa pela atual pesquisa, devido ao grau de restrição de alimentos à criança visando uma alimentação saudável, ainda é bastante realizada (média acima de 4). Entretanto, o cenário de consumo desses alimentos, mesmo com o comportamento de restrição, ainda foi evidenciado, pelos demais estudos, em excesso pelas crianças. (SILVA et al., 2014)

Ademais, a recompensa associada à alimentação, abordado no Constructo 5 desse estudo, obteve a segunda maior média (3,98) de constructos de práticas negativas, podendo ser prejudicial visto que constitui uma estratégia utilizada pelos pais que pode influenciar o comportamento alimentar infantil, além de desenvolver preferências alimentares. Rochinha e Sousa (2012) enfatizam que oferecer alimentos às crianças como recompensa por apresentarem comportamentos corretos resulta no aumento da preferência por esses alimentos. Pelo contrário, quando é oferecido recompensa

alimentar e essa vai motivá-los a comer, os alimentos utilizados para obter a recompensa tornam-se os preferidos.

Um exemplo desse cenário são as questões 36 e 37 do instrumento utilizado na atual pesquisa que tratam de recompensa alimentar diante a um bom comportamento da criança, obtiveram média de 3,55 e 3,58, respectivamente, corroborando a presença dessa prática. Portanto, a utilização destas práticas acaba produzindo efeitos adversos nas preferências de alguns alimentos.

Quanto ao Constructo 6 – Pressão foi evidenciado uma média ainda alta (2,96), pois considerando ser um fator negativo para alimentação infantil, sua prática não deveria está tão presente nos lares dessas famílias. Sabe-se ainda que a pressão para comer é definida como a situação em que pais, cuidadores, familiares, pedem ou obrigam a criança a ingerir mais alimentos contra a sua vontade.

Muitos pais possuem uma maior preocupação com relação à quantidade de alimento ingerido do que com o desenvolvimento de hábitos alimentares saudáveis. Segundo estudos, níveis elevados de pressão para comer alimentos saudáveis associam- se a uma menor ingestão de frutas e vegetais e a uma ingestão mais elevada de gordura (FISHER, 2002; LEE; BIRCH, 2002 apud ROCHINHA; SOUSA, 2012).

Em relação à categorização de risco das práticas alimentares percebeu-se, diante do ponto de corte estabelecido, que metade dos informantes enquadra-se como realizadores de práticas com risco para alimentação infantil e metade para práticas sem risco. Outro estudo constatou também que mais da metade (52,6%) das crianças possuíam hábitos alimentares inadequados. (MOMM; HOFELMANN, 2014)

Sabe-se que a presença dessas práticas alimentares inadequadas tem iniciado ainda cedo na alimentação infantil, ainda no período de introdução alimentar, ocorrendo a introdução precoce de alimentos, como o leite de vaca integral, uso de alimentos com consistência inapropriada, além de baixa quantidade de micronutrientes, oferta insuficiente de frutas, verduras e legumes, erros no preparo e armazenamento dos alimentos e oferta de alimentos industrializados ricos em carboidratos, lipídeos e sal, sendo consumidos com frequência pelas famílias (SILVA; COSTA; GIUGLIANE, 2016).

A pesquisa de Maranhão et al. (2017) corrobora com este cenário, visto que evidenciou que até os 12 meses de idade, 20,9% já faziam consumo de refrigerante, 38,0%, de sorvete, 33,1%, de biscoito recheado, 35,3%, de doces/chocolates, 12,2%, de mortadela, 14,2%, de salsicha, e 27,7%, de salgados industrializados, com aumento de,

no mínimo, duas vezes até os 2 anos de idade para todos os percentuais, além do consumo excessivo de produtos industrializados, como os embutidos com alto teor de sódio e açúcar.

Para tanto, quando essas práticas com risco e sem risco alimentar associam- se às variáveis socioeconômicas pode-se observar que a escolaridade das famílias influencia nos hábitos alimentares, pois os informantes que possuem somente o ensino fundamental (p 0,000) possuem 6,33 mais chances de realizarem práticas alimentares com risco para a criança, quando analisado os constructos positivo, devido a escolaridade determinar o acesso à informação adequada, além da capacidade de compra de alimentos mais saudáveis corroborando com os autores Molina et al. (2010) que evidenciou associação da baixa escolaridade das mães com hábitos alimentares inadequados e que mães com mais anos de estudo têm maior possibilidade de discernir entre o que é considerado de fato alimento saudável ou não, tendo em vista a prática da indústria alimentícia em utilizar maciçamente a publicidade direta de seus produtos em todos os meios de comunicação. O estudo de Schuch et al. (2013) também condiz com o retrato encontrado, verificou-se que os filhos de mães com ensino superior tinham menores prevalências de excesso de peso.

Ainda em relação à associação com a escolaridade, outra pesquisa também destaca que quanto maior a escolaridade, maior a percepção dos familiares acerca do desenvolvimento infantil e menos conflituosas as relações com os filhos, o que gera práticas menos negligenciais e punitivas. A baixa renda e a baixa escolaridade evidenciou uma maior vulnerabilidade das famílias a não adotar um cuidado mais responsivo constatando que a educação e a condição de saúde da mãe são essenciais no processo de cuidado (SILVA; COSTA; GIUGLIANE, 2016). Ressalta-se que apesar da renda não ter apresentado relevância estatística (p=0,065) apresentou uma razão de chance de 1,75 para práticas com risco, assim como a maioria das demais variáveis que apresentaram razão de chance maior que 1.

A associação da variável sóciodemográfica referente à idade, nesse estudo, apresentou relevância estatística com relação às práticas alimentares negativas, oferecendo um risco maior para a alimentação da criança os pais ou responsáveis com idade maior que 36 anos. Porém, esse cenário difere do encontrado no estudo de Soldateli, Vigo e Giugliani (2015) onde mães com menos de 20 anos é que apresentaram maior risco para os hábitos alimentares da criança, havendo baixa adesão às recomendações preconizadas sobre alimentação infantil.

Diante desse contexto, a educação em saúde realizada pelo enfermeiro é indispensável para a mudança desse cenário, devido às crescentes evidências da importância de se evitar essas práticas errôneas para a formação de hábitos alimentares saudáveis e, consequentemente, prevenção contra doenças crônicas não transmissíveis. Sua atuação precisa estar direcionada principalmente na área da Atenção Primária, através da consulta de puericultura, onde é possível identificar precocemente os possíveis agravos e implementar intervenções para diminuí-los além de proporcionar um ambiente de educação à pais em relação a alimentação infantil e avaliar o desenvolvimento da criança (LIMA et al., 2013).

Entretanto, é relevante, ainda, destacar a importância da educação nutricional no âmbito escolar por ser um importante ambiente promotor de saúde, devido ser onde as crianças passam uma parcela do dia e podem ter acesso a uma alimentação balanceada e saudável. Segundo Prates, Pereira e Pinho (2016), pais de crianças escolares puderam relatar que consideram a escola um ambiente propício para a formação, logo cedo, de hábitos alimentares, sendo necessária, entretanto, a comunicação entre a escola e família a fim de fortalecer o pleno desenvolvimento das crianças. Verificou-se também que os pais possuíam o entendimento de que a construção dos hábitos alimentares saudáveis deveria ser promovida pela ação conjunta de programas governamentais vigentes, escolas e família.

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