• Nenhum resultado encontrado

2 REVISÃO TEÓRICA

2.4 Práticas de inclusão e planejamento sistêmico no design inclusivo

Segundo Guimarães (2001), o design inclusivo compreende todo o processo de design voltado para as necessidades de todas as pessoas em uma sociedade inclusiva. É algo produzido culturalmente, que possui expressões diferentes, de acordo com o lugar do mundo onde acontece.

Partindo deste conceito, o design dos ambientes precisa ser pensado de forma abrangente e ampla, como um sistema complexo e vivo que evolui, que passa por transformações constantes e que precisa se adaptar às necessidades dos seus usuários.

No caso dos edifícios antigos, que em sua maioria possuem inúmeras barreiras arquitetônicas, esta evolução é mais difícil, o que acaba fazendo com que estas construções percam sua função e identidade, caindo no desuso, ou seja, transformam-se em uma estrutura morta (GUIMARÃES, 1999a).

Segundo Guimarães (1999a), edifícios contemporâneos devem possuir características que permitam que as necessidades de seus usuários sejam atendidas, tais como flexibilidade, adaptabilidade, expansibilidade e acessibilidade ambiental, do contrário, acabarão como estruturas em desuso, tais quais os edifícios mais antigos.

Esta necessidade de adaptabilidade do ambiente construído ao seu usuário faz com que o design inclusivo seja vinculado a um vasto banco de informações fornecidas pelos próprios usuários, pois somente estes podem informar com clareza e precisão quais são suas necessidades, seus anseios e expectativas.

O objetivo de atender a todas as pessoas e proporcionar igualdade de oportunidades e qualidade de experiências demanda que se considere a maior diversidade possível de características físicas e competências ambientais. Daí a importância da participação das pessoas no processo do design inclusivo.

Segundo Davis (1987), pessoas com deficiência podem contribuir de forma incomparável em projetos de design inclusivo, pois são capazes de descrever pormenorizadamente suas rotinas e suas dificuldades, fornecendo elementos para que os designers possam projetar ambientes e objetos que atendam plenamente às suas necessidades.

Esta participação também pode ser configurada em uma prática de inclusão que alimentará um processo cíclico.

Por exemplo: considerando um determinado edifício escolar que foi adaptado com base nas normas e possui acessibilidade parcial. Na medida em que as pessoas passam a utilizar este ambiente, exercendo sua cidadania e valorizando sua individualidade, demandam da administração da escola ações ou procedimentos no sentido de fazer com que seu direito à educação seja garantido. Dentre estas ações pode-se elencar: reforma da estrutura

arquitetônica, com projeto desenvolvido em base às informações fornecidas pelo usuário, treinamento da equipe de funcionários, institucionalização de outros procedimentos que possam melhorar a relação social entre as pessoas dentro da escola, com vistas à inclusão social. Desta forma, há o fortalecimento do senso comum em relação à inclusão social (OLIVEIRA, 2001).

Outrossim, o banco de informações mencionado acima com as reais necessidades das pessoas, poderá ser utilizado no projeto de futuras instalações e intervenções no espaço físico, contribuindo para o aperfeiçoamento do design inclusivo.

Além do design de intervenções ambientais e novos projetos, as informações fornecidas pelos usuários auxiliam na sistematização de procedimentos e ações que compensam as falhas de ambientes parcialmente acessíveis e que podem ser aplicadas de forma imediata.

Pode-se descrever práticas de inclusão como a preparação de procedimentos para gerenciar a acessibilidade e dispositivos de ajuda que as pessoas utilizam para auxiliar na realização de alguma ação. Por exemplo: um par de óculos escuros oferecido por administradores de serviços pode compensar um déficit de visão; um microfone aumenta o volume da voz de uma pessoa que faz uma palestra. Normalmente, estes dispositivos estão vinculados com as demandas particulares de cada um, mas a preparação da disponibilidade e manutenção dos recursos devem ser assimiladas como um procedimento habitual.

Ratzka (1992) fala sobre pessoas que necessitam de assistência pessoal para atividades diárias básicas em função de possuírem alguma deficiência. Ele desenvolveu um conceito para “assistência pessoal”. Segundo o autor:

Assistência “pessoal” significa os usuários exercitarem o máximo controle sobre como os serviços são organizados e planejados para eles, de acordo com suas necessidades individuais, capacidades, circunstâncias de vida e aspirações (RATZKA, 1992).9

9

Ratzka (1992), no caso do texto acima, se refere à ajuda pessoal para pessoas que possuem grande comprometimento de suas funções motoras na realização de tarefas fundamentais tais como alimentação, higiene, entre outras.

Partindo do pressuposto que todo mundo se utiliza de assistência para as atividades cotidianas e que as pessoas são dependentes umas das outras e dos vários tipos de serviços que são oferecidos na sociedade (RATZKA, 1992), imagina-se que assistência pessoal também é uma forma de prática de inclusão que pode ser oferecida em diversos níveis. Abaixo seguem alguns exemplos de práticas de inclusão em forma de assistência pessoal que poderiam ser oferecidas em uma universidade:

• Serviço de informação ao usuário sobre as dependências da escola, serviços e facilidades disponíveis.

• Provisão de elementos de acessibilidade temporários: quando a administração da instituição agrega elementos à estrutura arquitetônica existente com a finalidade de melhorar o acesso físico ou possibilitar a realização de determinadas atividades no ambiente, como por exemplo, pequenas rampas removíveis, fabricadas em material leve, cujo objetivo é vencer um vão de pequenas dimensões para acesso a determinado ambiente.

• Provisão de sinalização do tipo tátil para elementos móveis dispostos nos corredores.

• Disponibilização de pessoal treinado para o auxílio de pessoas com deficiência visual no deslocamento dentro as instalações da instituição.

Como estas práticas de inclusão complementam os elementos da estrutura arquitetônica, pode-se dizer que elas fazem parte do processo de design inclusivo, uma vez que, de alguma forma, interferirão na arquitetura existente, assim como a arquitetura apresentará condicionantes para a execução de tais

práticas. O importante é que estas iniciativas sirvam para aumentar a qualidade da experiência do espaço para todos.

No planejamento destas práticas, é mister que elas possibilitem que o usuário alcance um desempenho em atividades com maior equivalência de condições em relação às demais pessoas. Que ele tenha controle da situação, de forma que possa escolher o que é melhor para si em função das suas habilidades.

Se as práticas não atenderem a estes requisitos, não serão inclusivas, pois estarão colocando as pessoas com mobilidade reduzida em uma condição onde não tem liberdade de escolha. Além disso, não atingirão seu objetivo que é oferecer a possibilidade de uma vida independente para todos a partir do respeito à experiência plena das pessoas com deficiência.

Um estudo desenvolvido no Centro Nacional de Acessibilidade da Universidade de Indiana - NCA, nos Estados Unidos, identificou procedimentos, atitudes e comportamentos na administração de parques e locais de recreação, bem como em programas de lazer, que excediam o padrão mínimo estabelecido pelas normas americanas quanto à acessibilidade para estes lugares, com o objetivo de superar as dificuldades de implementação de acesso físico, interação social e participação em programas e atividades recreativas por todas as pessoas. A pesquisa liderada por Voight (2008) foi desenvolvida através de painéis de discussão com especialistas em acessibilidade e inclusão, e definiu através do consenso dos participantes, as 13 melhores práticas inclusivas (QUADRO 3).

Dentre estas 13 práticas identificadas (QUADRO 3), chama a atenção o fato de que todas estão vinculadas a iniciativas de gestão da acessibilidade dos parques e das áreas de lazer. Elas sugerem a elaboração de políticas e procedimentos que visam facilitar o uso por pessoas com deficiência e também incentivar o convívio entre todas as pessoas.

QUADRO 3

As 13 melhores práticas de gerenciamento da acessibilidade