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2 REVISÃO TEÓRICA

CONJUNTO ARQUITETÔNICO

3.2 Práticas de inclusão em situações cotidianas: uma discussão sobre a realidade da inclusão de pessoas com mobilidade reduzida na

3.2.3 Práticas de inclusão em situações de uso de equipamentos e serviços na escola

Áreas de convivência e lanchonetes

Um aspecto bastante positivo dos edifícios estudados são as áreas de convivência e socialização, são quase todas acessíveis, permitindo que pessoas com variadas habilidades as utilizem. Há espaços diversificados, onde o usuário consegue exercer certo controle sobre o nível de interação social desejado.

Na ECI, a área de convivência de maior movimento é o jardim existente no pátio central do primeiro pavimento, próximo ao diretório acadêmico. Neste

local existe um banco onde, quando não está chovendo, vários estudantes se reúnem durante o intervalo das aulas para conversar. Funciona como ponto de encontro e de referência e é o lugar mais movimentado na escola. Nos dias de chuva, os estudantes se reúnem ou próximos à escada, ou no diretório acadêmico. Fora do horário do intervalo das aulas, a ECI como um todo é um lugar muito tranquilo, muito silencioso. Parece quase abandonado.

Nos demais andares desta escola existem bancos espalhados pelos corredores. São lugares mais reclusos, principalmente em função do pequeno trânsito de pessoas, sendo que alguns se encontram junto à jardineiras. Nestes lugares, é comum ver pessoas lendo, descansando, pequenos grupos conversando e até mesmo casais de namorados.

As lanchonetes também podem ser consideradas espaços de convivência e socialização. A ECI não possui lanchonete. Seus usuários utilizam as lanchonetes da FALE ou da FAFICH.

Na FALE existem duas grandes áreas de convivência com alto nível de interação social: a lanchonete e o hall da entrada principal do edifício, onde se localiza o elevador e a escada principal. É neste espaço onde as pessoas se encontram e onde há o maior movimento de pessoas. Há também uma grande área ajardinada que fica entre o hall principal e o auditório, mas este lugar só é utilizado pelas pessoas quando há algum evento acontecendo no auditório.

Nos pavimentos superiores as áreas de convivência são menores e menos frequentadas. Funcionam como recantos, onde as pessoas podem sentar-se para conversar ou estudar.

Na FAFICH, por sua vez, as áreas de convivência são mais vigorosas. Ao contrário da FALE, a forma como o edifício da FAFICH foi projetado favorece o encontro entre as pessoas.

Neste edifício as grandes áreas de convivência coincidem com os grandes halls de distribuição da circulação do edifício, de forma que o elevador e as escadas principais sempre chegam neste espaço. Nos segundo pavimento, onde se localiza a lanchonete, há sempre um grande número de pessoas conversando, ou na fila dos caixas eletrônicos. A maior parte das atividades do edifício passa necessariamente por este hall. Existem bancos próximos à jardineiras onde as pessoas podem sentar-se para conversar.

No terceiro pavimento, a configuração deste grande hall é um pouco diferente. Existem bancos em formato de “U” que propiciam alto grau de interação social. Em função do uso das salas que estão no terceiro pavimento, o movimento de pessoas no andar é um pouco menor.

Há também pequenas áreas, localizadas principalmente nos finais dos corredores da FAFICH com bancos e jardins, onde o movimento de pessoas é pequeno, possibilitando conversas mais reservadas. As pessoas utilizam estes espaços para ler e até mesmo para um cochilo.

As lanchonetes da FALE e da FAFICH possuem praticamente as mesmas características, com uma exceção: na FALE há um serviço de autoatendimento durante o almoço.

Os balcões de atendimento, de autoserviço e de caixa possuem a mesma linguagem visual nas duas faculdades. Não são acessíveis para pessoas em cadeiras de roda ou com baixa estatura.

Ao se aproximarem do balcão de atendimento, onde ficam expostos os lanches e salgados, estas pessoas não conseguem ter boa visão dos produtos expostos. Para que o atendente entregue o produto escolhido para a pessoa, ele precisa se debruçar sobre o balcão ou sair de trás do balcão, o que gera certo constrangimento para a pessoa que está sendo atendida e certo desconforto para a pessoa que faz o atendimento.

Além do constrangimento, podemos destacar nesta situação a possibilidade de que as pessoas com baixa estatura ou em cadeira de rodas podem ter sua imagem pessoal prejudicada perante o grupo social. Recordando o que diz Blumer (1937) sobre como a interação social cooperativa pode contribuir para a aceitação e imagem das pessoas no grupo, pode-se dizer que o fato dos balcões serem altos impede ou limita a ação destas pessoas durante o ato de comprar seus alimentos, mas isto não significa que esta seja uma ação que elas não consigam fazer de forma autônoma. Neste caso, o ambiente prejudica a imagem e autoestima da pessoa (BLUMER, 1937) e pode trazer consequências psico-sociais (STEINFELD, DUNCAN e CARDELL, 1977), principalmente porque estes lugares são de grande visibilidade do grupo social.

Como alternativa para esta situação, pode-se sugerir que parte dos balcões de atendimento seja rebaixada a uma altura compatível com as necessidades de pessoas com baixa estatura ou que usam cadeiras de rodas. Outra alternativa seria a criação de um arranjo espacial próximo ao balcão existente, com uma configuração espacial mais adequada para atender às necessidades destes usuários e assim elimina-se qualquer tipo de mal estar ou sensação de segregação em relação ao atendimento na lanchonete, pois o usuário pode escolher onde ele gostaria de ser atendido.

No balcão de autoserviço da FALE, pessoas que usam cadeiras de roda não conseguem ver os alimentos disponíveis para se servir. O porta-bandeja é alto, impedindo o movimento que a pessoa precisa fazer para se servir. É provável que neste caso algum colega ou funcionário da lanchonete ajude a pessoa a se servir, contudo, se a estrutura do ambiente fosse adequada, esta seria uma atividade que ela poderia realizar de forma autônoma.

Próximos às áreas de atendimento da lanchonete encontram-se mesas e cadeiras distribuídas, onde as pessoas podem sentar-se para fazerem suas refeições, conversar e relaxar. Estes lugares, assim como os jardins adjacentes

ficam bastante movimentados nas horas das refeições e intervalos de aula. Fora destes horários, o movimento existente é baixo.

Situações relacionadas ao uso dos sanitários

Um dos equipamentos mais importantes em um edifício para garantir o uso e a permanência das pessoas é o sanitário. Não é possível permanecer em um edifício por períodos prolongados de tempo, como é o caso das escolas, sem que neste haja um sanitário para a satisfação de necessidades fisiológicas que todas as pessoas possuem.

Nos prédios estudados temos dois tipos de instalações sanitárias: sanitários coletivos e sanitários individuais acessíveis. Nos três edifícios há sanitários coletivos masculinos e femininos em todos os andares. São inacessíveis para pessoas com problemas de mobilidade. Na FALE e na ECI as entradas são estreitas e o espaço interno muito pequeno, não permitindo a manobra de cadeiras de rodas. Já na FAFICH os sanitários coletivos masculinos e femininos possuem porta com largura suficiente para a entrada de pessoas em cadeiras de roda, porém, os boxes sanitários são pequenos e não possuem os equipamentos adequados para que pessoas com problemas de mobilidade o utilizem.

Há sanitários individuais nas três escolas. Na ECI e na FALE os sanitários individuais acessíveis são separados por sexo, enquanto que na FAFICH, os sanitários individuais são unissex.

Em termos de estrutura física, estes sanitários apresentam basicamente a mesma configuração na ECI, na FALE e na FAFICH, com algumas diferenças pequenas. Na FAFICH o lavatório é suspenso, porém sua profundidade é grande, dificultando o acesso à torneira. O lavatório no sanitário acessível da FALE possui coluna de apoio que vai até o chão, dificultando a aproximação e uso do lavatório. Na FAFICH e na ECI a altura do vaso sanitário não é

adequada, enquanto que na FALE este problema não existe. Apesar destas não conformidades em relação à configuração espacial, estes sanitários são a única alternativa que as pessoas com mobilidade reduzida possuem nestes edifícios.

Na FALE há ainda um agravante. Existe somente um sanitário individual acessível para cada sexo no segundo andar e estão permanentemente trancados. A chave da porta encontra-se na seção de ensino que fica quase em frente, no mesmo corredor. As pessoas que estiverem nos demais andares e precisarem destes sanitários devem se dirigir ao segundo pavimento ou procurar os sanitários acessíveis da FAFICH ou da ECI, que possuem sanitários acessíveis em todos os andares.

Os sanitários individuais acessíveis da ECI também permanecem constantemente trancados. Para utilizá-los, deve-se pedir a chave da porta no departamento de serviços gerais ou em uma secretaria. Normalmente, são utilizados pelos funcionários da escola.

No caso da FAFICH, os sanitários unissex acessíveis do primeiro e do quarto andares ficam trancados. São utilizados pelos funcionários e por outras pessoas que solicitarem uma cópia das chaves. No terceiro e no segundo andares, estes sanitários são de uso livre de todas as pessoas.

Em relação aos sanitários, principalmente nos coletivos, chama a atenção, em todas as unidades, o estado ruim de conservação dos mesmos, tanto em relação à limpeza do ambiente, quanto à manutenção da estrutura física. Em muitos deles faltam saboneteiras, papeleiras e outros equipamentos, além do próprio material de higiene (papel higiênico, sabonete, etc.). Também há o problema do vandalismo, de forma que não é raro encontrar acessórios sanitários quebrados e paredes pixadas.

Pergunta-se se o vandalismo – que também foi verificado em outros locais das escolas estudadas – seria uma falta de vínculo emocional das pessoas com aquele lugar (TUAN, 1983), a ponto de não se sentirem responsáveis por, ou pertencentes a ele.

Este quadro nos leva à seguinte discussão: Manter os sanitários individuais acessíveis trancados é uma forma de conservar o local em melhores condições de higiene para que pessoas com mobilidade reduzida possam utilizá-lo com segurança? E por outro lado, esta situação acaba se tornando constrangedora e estigmatizante para estas pessoas, na medida em que precisam solicitar a chave toda vez que desejam utilizar o sanitário, ferindo seu direito à privacidade?

Em relação ao primeiro questionamento, acredita-se que manter o local trancado pode ser sim uma alternativa. Porém, se faz necessário estudar formas para que as pessoas não precisem solicitar a chave. O acesso, por exemplo, poderia ser facultado mediante a colocação de fechaduras com senha, que registrem a identidade de quem utilizou o sanitário e em caso de descumprimento das normas de utilização do ambiente, que a pessoa possa ser responsabilizada. Contudo, a melhor alternativa, novamente, é a educação e a conscientização de que aquele espaço, apesar de público, é responsabilidade de todas as pessoas.

Isto também se justifica se considerarmos que a demanda por instalações sanitárias nos edifícios tende aumentar significativamente com o aumento de oferta de vagas que a política de educação do atual governo está promovendo, de forma que com o tempo a probabilidade de que estas instalações terão de ser de livre acesso a todos é grande.

Uma prática de inclusão que poderia ser adotada para minimizar o problema da higiene principalmente nos sanitários acessíveis poderia ser a adoção de dispositivos automatizados antivandalismo, específicos para instalações

sanitárias em locais de alto fluxo de pessoas, tais como descargas automáticas, torneiras com acionamento foto-sensível, tampos sanitários com recobrimento plástico descartável que permitem que o usuário assente no sanitário com higiene e segurança, entre outros. Ou então, o aumento da frequência da limpeza nos locais.

As não conformidades que as instalações sanitárias apresentam em sua configuração física (em relação à norma técnica NBR 9050/2004) podem representar uma barreira ambiental no uso destes equipamentos. Porém, mais grave do que a barreira física é a barreira atitudinal imposta por pessoas que não possuem problemas aparentes vinculados à mobilidade, que utilizam estes sanitários sem cuidado e sem se preocupar com as pessoas que precisam especificamente dele. Isto se dá talvez em função da falta de informação, talvez pelo descaso e indiferença.

Esta situação remete-nos às questões de territorialidade mencionadas por Steinfeld, Duncan e Cardell (1977), que dizem que a demarcação territorial é uma das grandes barreiras para a inclusão social de pessoas com deficiência, fazendo com que estas sintam que os piores lugares são aqueles destinados a elas. Muitas vezes, estes lugares são realmente tão ruins que se tornam intimidadores, fazendo com que as pessoas com deficiência não se sintam estimuladas a utilizá-los (GUIMARÃES, 1991).

No caso das não conformidades ambientais, reformas para adaptação do lugar ou ainda, treinamento para o desenvolvimento de habilidades no uso do lugar podem resolver o problema ou minimizar as dificuldades. Mas no caso do vandalismo, da falta de respeito com o próximo e a falta de higiene, estes são problemas que demandam mudanças atitudinais e de educação, que podem ser alcançadas através de práticas de inclusão.

No que concerne ao uso das bibliotecas, encontrou-se três situações diferentes:

A biblioteca da ECI foi reformada recentemente e a qualidade de seus espaços destaca-se de todo o restante do conjunto arquitetônico. É um lugar visualmente bem organizado e que sugere um uso fácil e intuitivo para a maioria das pessoas. Com exceção dos exemplares que ficam nas partes altas das estantes, o acesso ao acervo é fácil para todos, pois os espaços são amplos, propiciando boa circulação e orientação espacial.

A questão das estantes altas nas bibliotecas se repete também na FAFICH e na FALE. Está relacionada com a disponibilidade de espaço para a colocação do acervo, e em um primeiro momento, parece um problema difícil de resolver, uma vez que há também o aumento constante do acervo das bibliotecas. Entretanto, a equipe de bibliotecários e auxiliares técnicos das bibliotecas têm procurado suprir este problema oferecendo o auxílio ao usuário, tanto para localizar os exemplares nas estantes, quanto para pegar os livros desejados.

A observação do cotidiano das pessoas nas bibliotecas mostrou que esta prática de inclusão empreendida pelos funcionários, que estão sempre disponíveis para ajudar a todas as pessoas, independente de suas características ou habilidades, criou um clima de receptividade e acolhimento nas bibliotecas extremamente positivo, pois como o auxílio oferecido é o mesmo para todos de forma igualitária, elimina-se o estigma (GOFFMAN, 1978) de que é somente a pessoa com mobilidade reduzida ou a pessoa com deficiência que necessita e que recebe ajuda. Ninguém se sente constrangido por ter de solicitar auxílio e todos se sentem confortáveis e acolhidos no ambiente.

Na FALE a biblioteca também contrasta com o restante da escola por apresentar um ambiente colorido e alegre. As estantes também são altas, mas o espaço entre elas é generoso. Parte da área reservada para estudo fica no

segundo pavimento, com acesso através de uma escada interna na própria biblioteca e, portanto, é inacessível para pessoas que não conseguem utilizar escadas. Neste caso, não há prática que consiga compensar esta falha de suporte do ambiente. Somente uma intervenção física pode resolver o problema, ou seja, a instalação de um elevador ou plataforma elevatória dentro da biblioteca.

Na biblioteca da FAFICH os corredores entre estantes são um pouco mais apertados, com o espaço mínimo necessário para a passagem de uma cadeira de rodas. Os corredores são longos e as estantes altas, o que passa uma sensação de sufocamento na área do acervo. O balcão de atendimento é baixo, sendo acessível para todas as pessoas.

Assim como na FALE, a biblioteca da FAFICH está dividida em dois andares, com acesso através de escada interna. Porém na FAFICH todo o acervo de periódicos está no segundo andar. Caso uma pessoa que não consiga utilizar escadas precise de um periódico ou deseje utilizar a área de estudos que fica no segundo pavimento, esta deve solicitar a algum funcionário a abertura da porta do segundo pavimento que permanece sempre trancada.

Uma maneira de contornar este problema poderia ser a instalação de uma fechadura eletrônica na porta de acesso do segundo pavimento, cuja abertura seja feita através de cartões de identificação. Pessoas que não conseguem utilizar as escadas para chegar ao segundo pavimento podem entrar na seção de periódicos pela porta do segundo pavimento e o controle de empréstimo do material poderia ser feito pelos funcionários que trabalham ali.

Destacamos, todavia, que a situação ideal seria a instalação de uma plataforma elevatória dentro da biblioteca, de forma que todas as pessoas pudessem utilizar o mesmo acesso. Porém, a adoção de cartões de identificação para a abertura da porta do segundo pavimento pode ser considerada uma medida paliativa, que compensa a ausência do dispositivo

eletromecânico de circulação vertical e que possibilita o uso da área de periódicos em condições equiparadas com as demais pessoas.

Situações relacionadas ao uso dos auditórios

Nas três unidades estudadas os auditórios são praticamente idênticos. A plateia é composta por grandes degraus com assentos fixos. A entrada acontece pela frente, próxima ao palco, ou pelos fundos. São lugares de acessibilidade restrita para pessoas em cadeiras de roda, que conseguem, na maior parte dos casos, entrar nestes recintos, mas ficam limitadas à área próxima às portas de acesso. Não há assentos específicos para pessoas obesas ou com mobilidade reduzida, nem equipamentos de tecnologia assistiva para pessoas com deficiência visual ou auditiva.

Em suma, são ambientes de estrutura pouco flexível, onde as possibilidades de desenvolvimento de práticas de inclusão são pequenas. Em termos de acesso de pessoas que usam cadeiras de rodas nestes recintos, podemos pensar em rampas portáteis, feitas de material leve, que possam ser utilizadas para eliminar os degraus que existem na entrada de alguns auditórios, lembrando que o ideal seria a eliminação dos degraus.

Para pessoas que possuem deficiências sensoriais, podemos imaginar que uma possível prática de inclusão seja a disponibilização de intérpretes ou de pessoas que possam contar ou ler aquilo que está sendo apresentado no evento.

Porém, para que este ambiente consiga atender às necessidades dos usuários, é necessária uma reforma para a adequação total do espaço.

3.3 Práticas de inclusão: medidas paliativas de inclusão imediata ou