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A práxis educativa da educação do campo em Alagoas na luta pela identidade

3 EDUCAÇÃO FORMAL E EDUCAÇÃO NÃO FORMAL: construção e

3.6 A práxis educativa da educação do campo em Alagoas na luta pela identidade

Diferente da práxis opressora, a práxis libertadora não visa a dominação ou um estado puro, não se visa coagir o outro, nem negar. Nela não se perpetua a alienação, nem uma relação de produção para “servitude”, como já levantamos críticas acerca da educação voltada puramente ao mercado e sistema capitalista (no início do capítulo). Mas por que estamos levantando questões sobre práxis opressora e parte libertadora no ponto de trabalho acerca da educação do campo em alagoas como luta pela identidade camponesa? Nos colocamos para percebemos o contexto da práxis educativa como libertação. Onde mais que uma visão de interesses mostre o projeto social que vivemos.

Segundo Enrique Dussel (1977), a dominação é o ato pelo qual se coage o outro a participar do sistema que o aliena. Nesse sentido, a educação do campo em Alagoas tem sido resistência à dominação que implementa cada dia mais o fechamento de escolas do campo. A práxis educativa, na medida em que construímos o olhar tanto para Alagoas quanto para seus trabalhos organizativos com a educação camponesa, nos permite observar alguns atos de dominação.

A educação do campo tem como palco principal a educação não formal, que para Gohn (2014) é articulada com a educação cidadã, pela libertação, aquisição de direitos e relacionados simultaneamente com os deveres participativos do mundo da vida para com a coletividade.

Em Alagoas a alguns anos políticas educacionais colocam em risco a manutenção das escolas do campo, o que implica dizer que não só se vai de contra ao decreto de Lei da educação do campo, já mencionado anteriormente, como também coloca em risco tradições e conhecimentos populares, além da perda de identidade.

Em uma matéria local do jornal (ALAGOAS, agência alagoana) online, Manuella Nobre (2016), relata a preocupação do Fórum permanente de educação do campo alagoano (FEPEC) com relação às últimas ações com voltadas à educação do campo de acordo com a mesma, a discussão gira em torno da identidade e direitos aos estudantes camponeses, que, com a redução do número de escolas no campo e oferta de Ensino Médio na cidade, têm migrado para as escolas urbanas. A migração do campo para realizar-se estudos escolares na cidade, segundo a matéria e depoimentos expressos, implica no risco de perda de identidade, de ligação e, futuramente, abordando a vida no campo, o que acarreta problemas agrários que ultrapassam os limites geográfico de campo e cidade, mostrando que a educação camponesa é uma luta de território, de identidade e de dignidade e reconhecimento social.

Observando algumas páginas de internet (redes de Facebook, por exemplo) podemos compreender o quanto é importante a presença da escola formal nas comunidades, e como essas levam a busca da autonomia social local. Como dito, os limites de se fechar uma escola no campo vai além dos limites geográficos, pois mexe diretamente com a questão identitária das famílias que necessitam destes espaços.

Na página da Associação dos Pequenos Agricultores do Sítio Gordo, de União dos Palmares, vemos mensagens de memórias àqueles que partiram de sua comunidade e que lutaram pela autonomia que já se foi conquistada, mas também se mostram imagens de organização jovem com frases de busca de esperança e libertação social, ao mesmo tempo que se compartilham sonhos do caminhar coletivo, da conquista da sala de aula para trabalho com a (EJA) educação de jovens e adultos, que até então por alguma circunstância social não tiveram

oportunidades de estudar em uma escola, além da escola não formal do mundo da vida. Uma das postagens de julho de 2018 tem a legenda “Sonho que se sonha não se sonha só”, nos fazendo rememorar aqui a Pedagogia da esperança, de Freire (1998), quando coloca que não há esperança na pura espera. A legenda está direcionada a uma matéria do jornal Tribuna hoje, escrita por Ana Paula Omena.

A publicação relata a importância da educação não formal em dialética com a educação formal, e leva como o título “A grande chance: assentados da reforma agrária se preparam para entrar na Universidade”. A matéria traz elementos de um sonho de luta no qual Alagoas é o colocado como estado pioneiro do Brasil a ofertar curso de graduação em Agroecologia para agricultores rurais.

Lembrando Freire (1998), não é possível ler as palavras sem a leitura de mundo, e o que podemos ver nessas páginas, nessas reportagens e artigos acerca da educação do campo, é que, sim, a leitura do mundo precede a leitura da palavra, mas como o próprio Freire reporta em seus escritos, a leitura da palavra leva a uma conquista do caminhar coletivo.

Segundo Júnior e Netto (2011), o histórico da educação do campo é efetivado no meio rural brasileiro e seus princípios são pela busca da autonomia; uma luta pela identidade e pela organização educacional camponesa como direito. Os autores nos apontam os princípios e as proposições dos Movimentos Sociais do Campo, nos quais a educação é colocada como uma questão coletiva, que sejam respeitados os direitos camponeses, evidenciam ações de negligência por parte do Estado brasileiro e dos grupos hegemônicos com a educação do campo e para o público camponês quando trata essa educação como inferior ou, ainda, como resíduo do sistema educacional brasileiro, no qual, até mais da metade do século XX, a educação era privilégio de poucos, sobretudo no meio rural, trazendo questões de descasos que levaram a falta de educação do campo a contribuir com o êxodo rural e nos dias atuais não se faz muito diferente esses fatos, se não nos atentamos a algumas políticas do Estado brasileiro.

Quando a Educação do estado abre caminhos para o crescimento comunitário, por meio da educação do campo, como no caso da turma de PRONERA em agroecologia da Universidade Federal de Alagoas, alimenta a esperança, os sonhos e as utopias de luta pela libertação. Contudoo, quando gera descaso e impossibilita o acesso à educação com ações de fechamento de escolhas e falta de atendimento a essas escolas, mas que retirar direitos se priva o outro de sonhar.

Casos de descasos com a educação camponesas são demonstrados cotidianamente, como podemos notar em Silva (2015) no artigo “Estágio supervisionado numa escola itinerante do estado de alagoas: um modelo de ensino ainda “desconhecido”, no qual relata que por vezes

a escola funciona apenas com estrutura mínima de um canto para onde se possa se aglomerar educandos e educadores.

Para além do estado de Alagoas é preciso que o Estado brasileiro veja a educação do campo como essencial e necessária às comunidades e movimentos rurais, de forma que o compromisso pedagógico não seja meramente institucional, mas humano.