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A própria modernidade e o Estado Racional são tipos ideais Assim como a Razão de Estado que precede ao Estado de Direito (dominação recional-legal) e a

exceção já posta na Weimar de 1919 e que Weber tão bem conheceu.

Neste sentido, a sociologia para Weber é a ciência do saber nomológico ou que busca um saber nomológico (Nomos = regra, norma, regulamento de ação humana e de cunho social, da ação social). Assim, teríamos algumas possibilidades, a fim de

compreender a sociologia como um sistema de regras de saber social, mas logicamente

arquitetado: a) Sistema lógico de regras sociais; b) Sistema de regras lógicas vigentes; c)

Sistema de saber lógico; d) Sistema de regras de saber lógico. De outra forma, também

complementar, Weber estará atento para os sentidos, para as próprias intenções sociais – os

sentidos ocultos do chamado senso comum – que não estão ao alcance pleno e imediato de

todos os envolvidos nas próprias relações sociais. A pergunta clássica que o próprio Weber direciona a este aspecto é a seguinte: quem (re)conhece o verdadeiro significado de uma lei? Weber se refere tanto à Lei, no sentido dogmático, quanto ao sentido empregado para

lei social (fato social), e que lhe propicie conhecer em profundidade um determinado

conjunto de relações sociais. Digamos que esta seja uma forma de se abordar um objeto

social, especialmente quanto aos seus aspectos globais/gerais - e que estes seriam definidos

como modelos típicos ideais. Mas, a sociologia também não irá desprezar o individual, os caracteres individuais para análise, pois, o que se colocará como restrição, para Weber, é somente a certeza de que o investigador está livre dos preconceitos e das prescrições. Dessa forma, seriam duas medidas complementares e solidárias: da explicação pelas leis gerais e da compreensão do individual (livre dos preconceitos). De tal forma, a sociologia também seria compreensiva porque abriria novas perspectivas à sociologia tradicional (esta última talvez portadora de um positivismo mais angular). Daí que Weber insistirá na integração das disciplinas. Tomemos alguns momentos da reflexão sociológica a fim de

demonstrar essa colocação: 1) as observações psicanalíticas, políticas ou,

essencialmente, estatísticas, consistem em circunstâncias e condições para o desenvolvimento da ação social.

1. São consideradas ações sociais, desde que estabelecidas na própria relação social.

2. “É ação em que o sentido subjetivo do sujeito ou sujeitos está referido à conduta de outros, orientando-se por esta em seu desenvolvimento”.

O sentido de ações na vida social também pode ser resumido da seguinte forma: 1. Ação tradicional; 2. Ação carismática; 3. Ação afetiva: orientada pelas emoções e sentimentos (sentimentalidade); 4. Ação social racional. Mesmo um objeto artificial, uma máquina, é significativo somente quando intervém na dinâmica da vida social. De outro modo, quando tal equipamento é investigado em termos de implicações individuais, será objeto da psicologia – sobretudo a psicologia experimental.

Para efeito didático, o capítulo dedicado a Max Weber (1864-1920) está dividido em partes: na primeira, construiremos o argumento que identifica e solidifica a idéia de racionalidade como Weber fez compreender no âmbito das ações e das relações sociais. Julgamos oportuno esse debate porque, além de apresentar dois conceitos-ideais em Weber, ainda nos permite verificar a estrutura ou lógica que constitui a própria perspectiva do “desencantamento do mundo”. Porque, é a mesma “razão ou lógica” que move a “dominação racional-legal”, base ou espírito que estaria presente na formulação do Estado- Nação (especialmente se tomarmos personagens como Bonaparte ou Bismarck) e este, como se sabe, resulta e é resultado direto da organização e da centralização dos Estados — a própria Razão de Estado. Na segunda, trataremos do próprio “desencantamento do mundo”, como expressão humana de entendimento, compreensão (e depois dominação) da natureza, quer fosse o mundo natural, quer fosse uma possível “natureza humana” (e que necessitava ser domada por técnicas de auto-controle, presentes tanto no taoísmo, quanto na “arte da guerra”). Na terceira parte veremos um típico desencantamento da vida.

1ª PARTE

A

AAAÇÇÃÃOOPPOOLLÍÍTTIICCAAEEAA VVIIRRTTUUSSCCOOMMOO ÍÍCCOONNEESS DDAAMMOODDEERRNNIIDDAADDEE

A primeira parte do capítulo está dividida em questões gerais e/ou específicas, para facilitar sua exposição e compreensão, como: o conceito de ação social; uma ligação entre a ética da responsabilidade, de Weber, e a virtú, de Maquiavel; o conceito de relação social, em Weber; o processo de racionalização e de desencantamento do mundo. Portanto,

a primeira parte do capítulo se aproxima um pouco do que se convencionou chamar de Sociologia Política, pois tentaremos compreender o tipo de ação social que recobre o homem político.

Ação Social

Para Weber, a modernidade nasce com a racionalidade e com a subjetividade, como marcos do problema da história universal: a racionalização do Ocidente gera um desencantamento progressivo: “Para Weber ainda era evidente a relação interna, e não a meramente contingente, entre a modernidade e aquilo que designou como racionalismo ocidental. Descreveu como “racional” aquele processo de desencantamento ocorrido na Europa” (Habermas, 2002, p. 03). Assim, se já é devedor de Hegel, o que Max Weber vai perceber e retomar em Maquiavel e de certo modo em Hobbes é a separação, desfiliação da política em relação à moral e à religião. Esta desfiliação é já um claro prenúncio da dessacralização, da laicização e da própria racionalização porque a política iria passar desde então.

Nesta parte do trabalho, portanto, deveremos ver de que modo a virtú (Maquiavel) é parte constitutiva da modernidade, porém, será mais fácil perceber este caminho se tomarmos a virtú como ação política. Todavia, devemos ter claro que a ação política é uma das modalidades da ação social (Weber). Com início em Max Weber, entende-se Ação

Social a partir da própria realidade objetiva dos indivíduos que se expressa na

singularidade de cada agente social ou, então, subjetividade coletiva, cultural - agora como relação social:

[...] existem certas regularidades na ação social, ou seja, de que certos processos de ação repetem-se ao longo do tempo, tornando-se rotina e incorporando-se ao cotidiano de múltiplos agentes [...] A passagem para o nível propriamente sociológico da análise requer, portanto, conceitos capazes de dar conta tanto dessas regularidades de conduta quanto do fato de que elas têm caráter coletivo, no sentido de que múltiplos indivíduos agem significativamente de maneira análoga (Cohn, 1989, pp. 29-30).

O conceito de ação social envolve expectativa e reciprocidade, em razão das ações perpetradas pelos outros. Por isso, a ação social deve ser vista como parte de um amplo conjunto definido como: Ação tradicional: processam-se de acordo com as tradições seculares, usos e costumes sagrados. Ação carismática: inova e não só observa tradições. Funda-se na crença do autor ser dotado de poderes sobre-humanos e sobrenaturais que agem, livremente, sem se reduzir às normas estabelecidas ou tradicionais, mas sim por novas formas, normas e tradições — incluem-se o “líder carismático religioso”, o “líder

carismático populista” (político populista), “o líder carismático militar” (guerreiro). Ação afetiva: orientada pelas emoções e sentimentos (sentimentalidade). Ação social racional: é causal ou logicamente compatível com os fins propostos20. Ação Política: A finalidade ideal da ação política é a instituição, conquista ou a manutenção, perpetuação do poder. Portanto:

Por “ação” entende-se, neste caso, um comportamento humano (tanto faz tratar-se de um fazer externo ou interno, de omitir ou permitir) sempre que e na medida em que o agente ou os agentes o relacionem com um sentido subjetivo. Ação “social”, por sua vez, significa uma ação que, quanto a seu sentido visado pelo agente ou os agentes, se refere ao comportamento de outros, orientando-se por este em seu curso (Weber, 2004, p. 03).

Vejamos os mesmos tipos de ação social divididos de outra forma: racionais e irracionais. Quanto às ações racionais:

1) Ação racional orientada aos fins: “[é] determinada pela expectativa depositada