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ação tradicional: “[é] determinada por um costume arraigado [ ] ela se encontra na fronteira com o mero hábito, ficando às vezes fora do âmbito da aplicabilidade

21 Deve-se lembrar de que se trata de modelos típicos ideais e seu uso é analítico, sendo que os próprios tipos não encontram exemplificação imediata ou totalmente correlata na realidade.

do que Weber denomina “ação com sentido” strictu sensu. Ela sugere o acostumar-se a certas reações que, pela repetição, se tornariam habituais, como normas comuns do agir social [é] atitude arraigada” (Saint-Pierre, 2004, p. 98). Por exemplo: um muçulmano não pensa que tem obrigação de rezar tantas vezes por dia, em direção a Meca, porque simplesmente não se trata de obrigação, mas sim de convicção. De tanto que o gestual se repete, torna-se hábito que também será repetido, como norma comum do agir social. Esse comportamento circular é a camisa de força do hábito e do costume, uma vez que todos devem agir dessa forma e, uma vez que se acredita piamente nisto, não há porque ser diferente – não há lógica em outro tipo de ação. Em outro caso, notadamente quanto à ação rotineira (o famoso “sempre foi assim”), a dialética senhor-escravo é ótima referência, pois tanto será difícil, muito custoso remover a idéia de que o senhor sempre foi senhor, quanto será duro deixar o escravo de se convencer de que a escravidão sempre existiu. Ou em outro caso, mais simples, em que pai e mãe, ambos, são machistas: porque a cultura é machista.

A ação política, por sua vez, promoveria um misto de ações racionais, quanto aos

fins e quanto aos valores. Será uma ação racional (pensada, calculada) orientada aos fins,

pois além de ter um objetivo traçado a ser alcançado, ainda terá de escolher os meios adequados22 – e, não raramente, os valores (éticos, morais, democráticos) ficam postergados, relegados ao segundo plano. Mas, pensando nos fins, naquilo que se quer de fato, no grande objetivo a ser alcançado, na ânsia que se torna verdadeira fixação quanto ao poder, será uma ação racional orientada por valores muito bem demarcados (o valor máximo de se chegar mais longe, de se alcançar o cume do poder – aonde ninguém mais o alcançaria: a própria soberania, como ápice da Razão de Estado). Neste caso, o valor está nos fins, no objetivo, na finalidade que foi projetada – conquistar o poder – ao contrário da ação racional orientada pelos valores, pois aí os valores estariam nos meios: como no caso de “ser honesto, para permanecer honesto” ou, segundo o ditado popular, quando se diz que “não basta parecer honesto, é preciso ser honesto”23. Portanto, na ação política, por um lado, tende a predominar a ética da convicção quanto aos fins, ou seja, há uma convicção íntima de que se deve buscar a conquista, a garantia e a manutenção do poder; por outro lado, há a ética da responsabilidade que obriga o agente político a escolher de forma

22 Porém, escolher meios adequados já pressupõe em si, a escolha de valores-guia, uma certa teoria de

escolha entre variáveis.

23 Como lembrava Weber, essa esperteza é básica: a idade não nos faz ver o diabo, mas nos permite dele ver

racional e acertada entre os meios dispostos a fim de que atinja seus objetivos. A ação

política “[é] racional orientada a valores nos fins e racional orientada a fins nos meios” (Saint-Pierre, 2004, p. 99). Porém, como também se trata de um modelo típico para análise, é certo dizer que toda ação política tem uma intenção, um objetivo (e ainda que não seja ético). Isto fará com que a ação racional, quanto ao fim, tenha certo objetivo político, uma vez que os políticos sempre têm objetivos: “... a ação política não poderá ser considerada apenas um tipo de ação racional orientada a fins, pois na mira do político sempre está a realização de valores” (Saint-Pierre, 2004, p. 106). O político faz uso do modelo como meio, instrumento prático de ação racional orientada ao fim que ele próprio deseja, utiliza portanto como prudência e razão:

Mediante o uso deste modelo, o ator não só maximizará sua ação em função da correta adequação dos meios, como também poderá calcular os riscos de sua ação, as conseqüências inevitáveis, a repercussão social, a possível resposta de seus adversários ou competidores, os custos de sua ação, a necessidade de atingir primeiramente fins intermediários e, fundamentalmente, o resultado efetivo da aplicação de sua ação no vir-a- ser dos acontecimentos. É clara a importância do uso desse tipo de ação para o ator político [...] Entre a determinação dos fins desejados e a execução da ação inicial, a função prática da racionalização delibera sobre as conseqüências diretas e laterais que a ação pode desencadear e também, que é o que nos ocupa especialmente, sobre a precisa adequação dos meios para a realização dos fins determinados de antemão (Saint- Pierre, 2004, pp.107-108 – grifos nossos).

Apesar desta adequação dos meios aos fins, então, é óbvio, o emprego da ação racional orientada aos fins, terá – vale dizer mais uma vez – um uso instrumental, prático, rotineiro, pragmático pelo ator político que deseja realizar seus objetivos políticos. A ação será um meio racional, de cálculo político, que deverá orientar sua ação direta24:

O trabalho da razão prática começa quando surge um problema. Este surge quando, por exemplo, um indivíduo A (sujeito da ação, ator, agente) deseja, necessita, intenta um certo estado de coisas B (“fim” da ação ou objetivo). Em termos da teoria da ação a pergunta seria: dadas as condições externas C, C’, C”, o que pode fazer A para obter B? para isso ele terá de modificar as condições C, C’,C”, para que o desenvolvimento esperado pela alteração destas conduza ao resultado B. A ação completada terá a ação modificadora de A sobre as condições como causa, e B como efeito (no caso de lograr-se, pois o efeito nunca é necessário, só possível) (Saint-Pierre, 2004, pp. 109-110).

De modo direto e simples, como poderá o sujeito A modificar as condições C, C’,

C”, a fim de que alcance B? À pergunta do político, o que fazer? o homem da ciência, o

24 Daí a idéia de que não cabe a especulação ética, pois se aguarda o resultado prático – e ainda que a falta de ética possa ser uma conseqüência complicadora da própria ação política, mas isto apenas se, por exemplo, os demais atores julgarem e desabonarem gravemente a falta da ética na ação política.

cientista deverá oferecer os meios e os cálculos que o conhecimento científico tenha à disposição. Assim, o uso que faz a política de outras ciências, como a matemática, e de algumas técnicas como a estatística, demonstra claramente a formação e o uso recorrente da razão instrumental25.

Uma vez que a racionalização da adequação meios-fins é parte intermediária da ação política, Weber abre nesta um espaço para o uso prático da razão. O homem de ação pode fazer uso dos meios técnicos do homem de ciência na avaliação de sua futura ação26. Se, por um lado, como

diz Weber, só mediante a ação é que progride a ciência, agora fica claro que, mediante a ciência, a ação se faz efetiva. O homem de ação racionaliza seus próximos passos e, para isso, faz uso de todos os meios técnicos que tenha a seu dispor, tais como estatística, cálculo de probabilidades etc. Ele pode prever sua ação, decidir tecnicamente os meios mais adequados, calcular os efeitos colaterais, as conseqüências não desejadas, as repercussões de sua ação, as possíveis respostas a seus adversários, suas reações a tais respostas, tudo racionalmente, embora em termos de probabilidade. O homem de ação pode agir “inteligentemente”; por isso, o cientista que posteriormente analisará tal ação poderá reconstituí-la e até supor os motivos subjacentes (Saint-Pierre, 2004, p. 111).

Por outro lado, a ação social tem conseqüências ou motivações um tanto diversas da própria relação social, pois enquanto a ação social requer certa imediatividade, causalidade e até espontaneidade, a relação social, por seu turno, tem por substância a previsibilidade, a probabilidade, a reciprocidade, a regularidade.

A diferença entre “ação social” e “relação social” é importante: na primeira a conduta do agente está orientada significativamente pela

conduta de outro (ou outros), ao passo que na segunda a conduta de cada

qual entre múltiplos agentes envolvidos [...] orienta-se por um conteúdo

de sentido reciprocamente compartilhado. Assim, um aperto de mão é

uma ação social, porque a conduta de cada participante é orientada significativamente pela conduta de outro; já a amizade é uma relação social, porque envolve um conteúdo de sentido capaz de orientar regularmente a ação de cada indivíduo em relação a múltiplos outros possíveis e que portanto se manifesta sempre que as ações correspondentes são realizadas [...] a ocorrência de qualquer relação social só pode ser pensada em termos de probabilidade, que será maior ou menor conforme o grau de aceitação do conteúdo do sentido da ação pelos seus participantes (Cohn, 1989, p. 30).

Há uma diferença de grau, de profundidade, de superficialidade ou de

enraizamento: no exemplo, trata-se do aperto de mão versus a amizade.

25 E mesmo que essa escolha racional, técnica tenha um fundamento político (Saint-Pierre, 2004, p. 111 – nota 23). De outro modo, a decisão política que necessita invariavelmente da ciência é mais do que evidente, e basta-nos pensar nos exemplos do dia-a-dia, como alocação de recursos públicos em determinados setores

da saúde pública.

Por “ação” deve entender-se um comportamento, tanto faz que se trate de um comportar-se externo ou interno ou de um permitir ou omitir, sempre quando o sujeito ou os sujeitos da ação ligam a ela um sentido subjetivo. A “ação social”, portanto, é uma ação na qual o sentido sugerido pelo sujeito ou sujeitos refere-se ao comportamento de outros e se orienta nela no que diz respeito ao seu desenvolvimento [...] A ação social (incluindo tolerância ou omissão) orienta-se pelas ações dos outros, as quais podem ser ações passadas, presentes ou esperadas como sendo futuras (por exemplo: vingança por ataques anteriores, réplica a ataques presentes, medidas de defesa diante de ataques futuros). Os “outros” podem ser indivíduos e conhecidos ou até uma pluralidade de indivíduos indeterminados e inteiramente desconhecidos (o dinheiro, por exemplo, significa um bem de troca que o agente admite no comércio porque a sua ação está orientada pela expectativa de que muitos outros, embora indeterminados e desconhecidos, estejam dispostos também a aceitá-lo, por sua vez, numa troca futura27) (Weber, 1992, pp. 400-415).

No fundo, o que determina a qualidade ou o tipo da ação social é sua aproximação para comparação a um modelo típico ideal28, pois, na realidade, a ação social se apresenta como resultado de vários fatores e de muitas conseqüências. No crime passional, por exemplo, o que predomina: a racionalidade ou a irracionalidade? Neste tipo de crime (passional), cometido por razões estritamente irracionais (de caráter afetivo-emotivo), predomina a perda de juízo ou a arquitetura do próprio crime, na articulação minuciosa e na cuidadosa escolha dos meios empregados? Ao tempo de Weber, por exemplo, a esgrima era um fator cultural que ainda vigorava e, a fim de se demonstrarem em razão de uma

vaidade machista, muitos se desafiavam em duelos — os motivos normalmente refletiam a

ofensa à moral (mesmo que o agressor soubesse se tratar de uma inverdade, o objetivo era simplesmente provocar e justificar o duelo). Neste caso, onde está a razão ou, ao contrário, a desrazão dos atos?

Quanto à política, em outro exemplo, ou mais especificamente quanto à virtú, como a explicitava Maquiavel, qual homem de ação, homem prático em termos políticos, é capaz de se desvencilhar completamente de certos valores? Na política, portanto, nem sempre prevalece a ação racional quanto aos fins. Mas, por outro lado, é bem verdade que os chamados pragmáticos — sobretudo hoje em dia — têm levado inteira vantagem em relação aos analistas críticos da ética e da moral política. Entretanto, isto explicaria toda a

27 Mesmo que sob uma conotação monetária, é interessante notar como Weber sinaliza para o reconhecimento do Outro, por intermédio da sua proposta de análise da relação social.

28 Trata-se de uma representação mental ideal dos tipos como eles se apresentam na realidade, em que se exagera na fixação dos elementos predominantes, uma vez que na realidade as circunstâncias combinam elementos até mesmo contraditórios. Por exemplo, o tipo ideal de capitalismo não deveria ter escravidão, mas tem. Para análise e demonstração, o tipo ideal (mental) elaborado para o capitalismo excluiria toda forma de escravidão. Assim, vê-se que o capitalismo puro existe apenas no modelo, na cabeça do cientista social, mas não na realidade empírica.

verdade da política? O homem da virtú é, certamente, aquele que melhor identifica a adequação entre os meios dispostos e o resultado almejado, que é o poder. Porém, até que ponto este homem da virtú conseguirá eliminar todos os fatores não-racionais da ação política? Até que ponto conseguirá mobilizar valores para obter melhores resultados práticos (ação racional quanto aos fins)? Até que ponto (no que parece contraditório), conseguirá mobilizar as subjetividades de seus seguidores (ação racional quanto aos valores), até mesmo como ações afetivas (o discurso emotivo, nacionalista, patriótico), e assim obter ações práticas e bem sucedidas? Podemos ver que, na realidade, sempre estamos entre o racional e o irracional, entre o ponderável e o imponderável, entre o controlável e o incontrolável; a ação política descrita por Weber traria este misto de significados ou de implicações. A política e o próprio Estado, no fundo, para Weber, constituem uma representação capaz de mobilizar os homens em sua ação social:

Certamente temos de saber primeiro quais são as ações que têm

importância funcional, do ponto de vista da “conservação” (mas, além

disso e sobretudo, também da peculiaridade cultural) e do desenvolvimento em determinada direção de um tipo de ação social, antes de poder fazer a pergunta: qual é a origem dessas ações? Quais são os motivos que as determinam? Precisa-se saber primeiro quais são as tarefas de um “rei”, um “funcionário”, um “rufião”, um “mágico” — quais são as ações típicas (pois só elas o enquadram numa dessas categorias) que têm importância para a análise e nela serão consideradas [...] Também uma economia socialista teria de ser compreendida, pela Sociologia, de maneira “individualista”, isto é, interpretando-se as ações dos indivíduos (Weber, 1999, p. 11).

Por isso, em busca do papel social, da função social que também orienta a ação social, Max Weber irá propor o individualismo metodológico: não em busca das determinações históricas, mas sim das subjetividades29. Entre o que a realidade nos apresenta e o nível de representações que formulamos, é que se aplicam os tipos ideais, porque os casos reais não são puros (ou isto ou aquilo) e nem a representação de um caso concreto explica o caso em si: por exemplo, o que pensamos, no senso comum, sobre o

Estado não é exatamente o que o Estado é. Aliás, a representação pode guardar muita

distância do caso real que se quer compreender.

Mas os conceitos construtivos da Sociologia são típico-ideais não apenas externa como também internamente. A ação real sucede, na maioria dos casos, em surda semiconsciência ou inconsciência de seu “sentido visado”. O agente mais o “sente”, de forma indeterminada, do que o sabe ou tem “clara idéia” dele; na maioria dos casos, age instintivamente ou habitualmente. Apenas ocasionalmente e, no caso de ações análogas em

29 O que leva a concluir que a luta por reconhecimento deve principiar pela conjugação de subjetividades em “relação constante”, ou seja, na órbita da intersubjetividade.

massa, muitas vezes só em poucos indivíduos, eleva-se à consciência um sentido (seja racional, seja irracional) da ação. Uma ação determinada pelo sentido efetivamente, isto é, claramente e com plena consciência, é na realidade apenas um caso-limite. Toda consideração histórica e sociológica tem de ter em conta esse fato ao analisar a realidade. Mas isto não deve impedir que a Sociologia construa seus conceitos mediante a classificação do possível “sentido subjetivo”. Isto é, como se a ação, seu decorrer real, se orientasse conscientemente por um sentido. Sempre que se trata da consideração da realidade concreta, tem de ter em conta a distância entre esta e a construção hipotética, averiguando a natureza e a medida desta distância (Weber, 1999, p. 13).

Toda ação social é um tipo ideal, pois é fácil perceber como as características da racionalidade aplicadas aos fins estão exageradas, da mesma forma sabe-se perfeitamente

que não temos plena consciência ou domínio total de nossos atos. No próximo item ficará clara a relação entre a ética da responsabilidade de Weber e a virtù de Maquiavel.

Relação Social

Já a relação social tem um conteúdo de sentidos, de significados bem mais compostos, orgânicos, estruturais do que a mera correspondência de ação (é bem mais do que simples ação-reação), não é um ato-contínuo, mas requer um substrato comum, compartilhável, disposto na subjetividade, na cultura – portanto, não deixa de exercer um tipo de amálgama, de ligação, e que tem algo de muito mais permanente, mais duradouro entre os sujeitos e os agentes sociais. Em suma, a relação social é duradoura e recíproca:

Por “relação social” deve-se entender um comportamento de vários — referido reciprocamente conforme o seu conteúdo significativo e orientando-se por essa reciprocidade. A relação social consiste, pois, plena e exclusivamente, na probabilidade de que se agirá socialmente numa forma indicável (com sentido), sendo indiferente, por ora, aquilo em que a probabilidade repousa. Um mínimo de reciprocidade nas ações é, portanto, uma característica conceitual. O conteúdo pode ser o mais diverso: conflito, inimizade, amor sexual, amizade, piedade, troca no mercado, “cumprimento”, “não-cumprimento”, “ruptura” de um pacto, “concorrência” econômica, erótica ou de outro tipo, “comunidade” nacional, estamental ou de classe (nestes últimos casos, sim, se produzem “ações sociais”, para além da mera situação comum [...] O conceito, pois,

nada diz sobre se entre os agentes existe “solidariedade” ou exatamente o contrário [...] A relação social consiste só e exclusivamente — ainda

que se trate de “formações sociais” como “Estado”, “Igreja”, “corporação”, “matrimônio” etc. — na probabilidade de que uma determinada forma de comportamento social, de caráter recíproco pelo seu sentido, tenha existido, exista ou venha a existir [...] Um “Estado” deixa, pois, de “existir” sociologicamente quando desaparece a probabilidade de que ocorram determinadas ações sociais com sentido [...] Na mesma medida em que subsistiu ou subsiste de fato esta probabilidade (segundo a estimativa) subsistiu ou subsiste a relação social em questão [...] O que num é “amizade”, “amor”, “piedade”, “fidelidade

contratual”, “sentimento de comunidade nacional”, pode encontra-se noutros com atitudes completamente diferentes. Os participantes associam então à sua conduta um sentido diferente: a relação social é assim, para ambos os lados, objetivamente “unilateral”30 (Weber, 1992, p. 419 – grifos nossos).

A diferença clara está no fato da ação social basear-se na reciprocidade de

condutas (podendo ser mera reação), tem de ser provocada, e a relação social ter por base a

reciprocidade de determinados conteúdos, sentidos e sentimentos que possam ser

compartilhados (tem a condição de valores embutidos e socialmente referendados):

Neste ponto torna-se importante a consideração por um tipo específico de relação social: aquela cujo conteúdo de sentido é incorporado pelos agentes como uma regra orientadora da sua conduta na medida em que é aceito como legítimo. Neste caso, o conteúdo de sentido assim aceito assume a forma de validação de uma ordem (que pode ser convencional ou jurídica) legítima (Cohn, 1989, p. 30).

Como vimos, a ação política é uma modalidade de ação social, e da mesma forma se percebe que a política está sujeita à maleabilidade social. Por sua vez, a ação política se relaciona, ou é exercida por meio de três tipos de dominação: Dominação carismática: legitimada pela fé e pelas qualidades sobrenaturais do chefe. Dominação tradicional: legitimada pela crença na tradição. Dominação legal: legitimada pelas leis a partir dos costumes, tornando-se possível pela burocracia e pelo direito: a legitimidade é parte, portanto, da organização racional e legal das funções. Porém, tanto para a análise da política, do poder, quanto em referência ao método de investigação, para Weber, a idéia de

luta é uma constante:

A proposição ‘x é o único meio para y’ não passa, na realidade, da simples inversão da proposição ‘a x segue-se y’. O conceito de ‘adaptabilidade’ (e todos os similares) nunca oferece — e isso é essencial — a mínima informação acerca das avaliações últimas em que se fundamenta [...] Pois é impossível eliminar a luta de qualquer vida cultural [...] A luta encontra-se em toda parte e por vezes afirma-se tanto