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Conforme vimos na seção anterior, a atual lei de educação regulamentou a educação da primeira infância e o funcionamento dos centros de educação infantis privados, estabelecendo a obrigatoriedade da autorização ou habilitação às instituições que desenvolvem atividades educativas. Foi a primeira vez que uma lei de educação incluiu a idade de zero a 3 anos como parte do Sistema Nacional de Educação. Anterior a essa legislação, o país tinha a lei nº 16.802/1996, denominada Ley de Guarderías, que regulava as instituições de “guarda e cuidado” para crianças, conforme exposto no artigo 1º:

Se entiende por “guardería” a los efectos de la presente Ley, toda institución, propiedad de persona física o jurídica, cuya actividad predominante esté constituida en forma onerosa o gratuita, por la protección, atención o el cuidado de niños de cualquier edad y condición física o psíquica (URUGUAY, 1996, art. 1º).

Dez anos depois da sua promulgação, um levantamento realizado pelo Ministério da Educação apontou a existência de 780 guarderías, porém somente

143 cumpriam com os requisitos da lei, como ter, no mínimo, um professor titulado em educação primária e outro de nivel terciário com formação específica em educação inicial. Diferentente do Brasil, as guarderías não poderiam funcionar sem a prévia autorização, sob pena de receberem multas ou até mesmo serem fechadas:

Las guarderías solamente podrán desarrollar su actividad específica una vez que hayan obtenido las habilitaciones que correspondan y la autorización de la Comisión Honoraria, que se otorgará una vez verificados los requisitos exigidos por la presente ley y su reglamentación. (URUGUAY, 1996, art. 13).

Com a entrada da mulher no mercado de trabalho, muitas famílias buscaram, nas guarderías e em outros espaços infantis, um local para deixarem seus filhos, antes mesmo da obrigatoriedade de matrícula a partir dos 4 anos, em jornadas de 4, 7 ou até mesmo 12 horas. Diante desse panorama, em 2010, o Consejo Coordinador de la Educación en la

O MEC e os centros infantis

Primera Infancia (CCEPI - UY), aprovou novos requisitos mínimos para a autorização dos centros infantis privados, que incluíam as características de edificações, organizativas e de relação entre número de adultos e crianças. Esses requisitos ganharam respaldo de lei a partir do Decreto nº 268, promulgada em 2014.

Em 2015, o MEC publicou os avanços das instituições regulamentadas, utilizando como fonte de consulta os dados censitários. Segundo o gráfico abaixo, dos 425 centros de educação infantil privados em 2014, 360 já haviam sido autorizados, e outros 65 ainda estavam em processo de tramitação.

Gráfico 6: Regulamentação dos CEIP entre os anos 2009 e 2014

Algumas instituições, inclusive, passaram a estampar a autorização do MEC em faixas ou cartazes defronte ao estabelecimento, como vemos no destaque da imagem ao lado.

O Decreto 268/2014 (Marco Normativo

para los Centros de Educación Infantil Privados) serviu para alinhavar os padrões mínimos dos centros educativos. Dos 18 artigos promulgados, dois merecem destaque:

Artigo 3: Projeto Educativo

Esse artigo determinou que a instituição fundamente o projeto pedagógico no Marco curricular para la atención y educación de niñas y niños uruguayos – desde el nascimiento a los seis años, detalhando o horário de funcionamento, atividades oferecidas, o trabalho com as famílias e a comunidade, as metas e modalidades de trabalho.

O Projeto Pedagógico representa uma opção filosófica, política, socio-antropológica e pedagógica, no sentido de expressar uma educação desejável, constituindo- se em instrumento privilegiado que, ao definir a função social da escola, orienta a ação pedagógica.

Enquanto a ANEP segue uma lógica escolarizada

Fonte: MEC, 2015, p.19.

Capítulo 4

com o programa curricular para a educação inicial, o MEC publicou o Marco Curricular com uma série de definições relacionadas à infância. Ele parte do reconocimiento de los niños y niñas como personas con derechos y de la competencia que posee la sociedad uruguaya para brindar y asegurar las oportunidades para que los ejerzan, actuando como garante de su cumplimiento. (MEC, 2014, p. 8).

O Marco define que cuidar e educar fazem parte do mesmo processo, e que é necessário avançar na construção de uma pedagogía fundamentada en una imagen de niño/a potente, curioso y ávido por conocer y aprender (PERALTA, 2002). Ele não deve confundir-se com os aspectos curriculares da educação primária, antecipando conteúdos que serão desenvolvidos mais adiante, mas promover experiências de afeto, com o corpo, com jogos, sensações, gestos, imaginação, criatividade, expressão, entre outros (MEC, 2014).

Artigo 6: Número de adultos por criança

As instituições devem manter uma proporção de número de adultos por crianças. No caso das idades serem mistas, deverão cumprir com o número que corresponda

à faixa etária de menor idade. O artigo orienta para que, nas turmas de: Zero a um ano, tenha um adulto para cada 3 bebês, e um auxiliar voltante66 na escola; Um a dois anos

– um adulto para cada 5 bebês, e um auxiliar voltante na escola; Dois a três anos - um adulto para cada 7 crianças, e um auxiliar voltante na escola; Três a quatro anos - um adulto para cada 15 crianças, e um auxiliar voltante na escola; Crianças de 4 e 5 anos – uma pessoa adulta para cada grupo de 20 crianças.

Essa referência de número de adultos por crianças é bastante significativa, visto que as ações de atendimentos individualizados devem prevalecer nessa etapa educacional. As escolas devem observar essa orientação, pois é nessa faixa etária, a partir da relação com os adultos e com as outras crianças, que estas se relacionam com o mundo e aprendem formas de comunicação, de socialização e interação. Portanto, a orientação do decreto sobre a proporcionalidade na relação adultos/crianças é percebida como compromisso à qualidade referente aos cuidados e educação, otimizando o atendimento mais personalizado da criança no ambiente social.

A partir da Ley General de Educación nº 18.437/2008, o Uruguai incorporou a Primera Infância como a etapa inicial do processo educativo e, através do artigo 99, criou o Consejo Coordinador de la Educación en la Primera Infancia (CCEPI) estabelecendo sua integração interinstitucional com representantes do MEC, ANEP e INAU. Entretanto, apesar dos documentos para a faixa etária reconhecerem as instituições educacionais como espaços de aprendizagem, de socialização, de construção coletiva do conhecimento, de integração e convivência social e cívica, de respeito e promoção dos direitos humanos, encontrei marcos curriculares diferentes para cada instituição (pública e privada) conforme os órgãos reguladores/fiscalizadores de cada faixa etária.

Durante a visita ao Colégio Y Liceo San José de la Providencia, por exemplo, pude manusear o Programa de Educación Inicial y Primaria (ANEP, 2008), um documento oficial que contém os conteúdos que devem ser ensinados nos jardins

públicos (regulados e supervisionados pela ANEP), bem como nas escolas ou colégios com classes de educação inicial, e centros privados supervisionados pela ANEP.

Segundo a Administração Nacional de Educação Pública, esse programa busca regular y legitimar las prácticas educativas, siendo su carácter de universalidad el que lo hace de aplicabilidad en todos los centros ya sean estos jardines de infantes, escuelas públicas o colegios privados habilitados (ANEP, 2008, p. 3). Ele está organizado em 6 áreas de conhecimento: Área del conocimiento de Lenguas, Matemático, Artístico, Social, de la Naturaleza y Corporal.

Están constituidas por campos o disciplinas, los cuales presentan una selección de saberes organizados a partir de redes conceptuales. En cada área se incluyen: la fundamentación, que consta de introducción, aspectos disciplinares y didácticos (como construcción metodológica), objetivos generales y bibliografia (ANEP, 2008, p. 10).

O Programa, inscrito em um livro com pouco mais de 400 páginas, apresenta quadros com