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2.1 LABORATÓRIO DE GESTÃO: DISCIPLINA CIENTÍFICA DA

2.1.2 Praticando conceitos econômicos

O uso de simuladores organizacionais para a dinâmica do jogo de empresas revela competências não captadas pelos métodos tradicionais de ensino, abrindo frente para a prática de conceitos teóricos não vivenciados em aulas puramente expositivas (Sauaia, 2006, 2008, 2010, 2013; Conejero, 2015). O mundo empresarial muda de forma rápida, contínua e inesperada. Na conjuntura econômica vigente, os administradores necessitam ampliar conhecimentos, habilidades, atitudes de modo a estarem mais atentos aos temas e às variáveis econômicas que afetam o desempenho global de uma empresa. É de extrema relevância o desenvolvimento de gestores estratégicos de nível corporativo, de negócios e funcional (Hill &

Jones, 2013, pp. 9-12), capazes de gerenciar mudanças em ambientes econômicos sob condições de incertezas.

Para isso, os simuladores organizacionais podem ser instrumentos valiosos a fim de praticar conceitos teóricos “estáticos” em um ambiente “dinâmico” com jogo de empresas (Sauaia, 2006, 2008, 2010, 2013; Conejero, 2015). A microeconomia traz fundamentos importantes para o processo de tomada de decisões, podendo contribuir na implementação de políticas (internamente) e/ou estratégias (externamente) que permitam melhorar a efetividade das empresas. Desta forma, a EAD672 possibilita que graduandos em Administração pratiquem conceitos econômicos em ambiente laboratorial de aprendizagem.

As empresas são agentes econômicos heterogêneos para os quais convergem os recursos de produção disponíveis. Como unidades de produção não subsistem isoladamente, interagindo com outras empresas na busca de perpetuidade (Rossetti, 2011). Um bem econômico caracteriza-se pela utilidade, escassez e por ser transferível (Mochon & Troster, 2002).

Os mercados eficientes na microeconomia pressupõem que a informação seja amplamente divulgada entre vendedores e compradores; no entanto, em transações econômicas, alguns agentes econômicos podem possuir mais informações que os demais, havendo informações escondidas e privilegiadas (hidden information) (Kreps, 2004, pp. 423-439). As ineficiências de mercado podem levar a intervenções governamentais, tais como, políticas tributárias e controle de preços (Pindyck & Rubinfeld, 2013, pp. 382-383).

O Laboratório de Gestão proporciona um ambiente de aprendizagem capaz de aprofundar a integração na prática de conceitos microeconômicos entre as diversas áreas funcionais no contexto organizacional (Stichweh, 1992, 1996). A tarefa de analisar ambientes (externo e interno), interpretando diferentes cenários organizacionais faz parte da formulação da estratégia; posteriormente, colocar os planos em ação com ciclo contínuo de feedback da tomada de decisões estratégicas faz parte da implementação da estratégia; e, por fim, a liderança com sentido de direção e o comprometimento para melhoria da tomada de decisões faz parte do controle da estratégia (Hill & Jones, 2013, pp. 24-35).

Para assimilar e compreender as regras econômicas do simulador organizacional, os estudantes, primeiramente, se deparam com o dilema da disciplinaridade, com o isolamento das áreas funcionais: presidência (ou administração geral); planejamento; marketing; produção, finanças e recursos humanos, o que representa uma fase preliminar da dinâmica do jogo de empresas a partir de análises econômicas sob certeza (Sauaia, 2013; Conejero & Sauaia, 2016). As empresas são agentes econômicos homogêneos no início da dinâmica do jogo de empresas.

O produto do simulador organizacional é um bem econômico e tecnológico (Sauaia, 2013) de consumo, transferível e escasso (Rossetti, 2011; Mochon & Troster, 2002).

Os estudantes enfrentam o desafio de compreender os conceitos microeconômicos relacionados às: estruturas de mercado vigentes (monopólio, oligopólio, concorrência monopolística e concorrência perfeita) para planejarem suas estratégias de decisão (descritas na forma de planos de gestão), objetivando a princípio um ganho de competitividade; e às previsões e análises da oferta e da demanda. O que se busca é a colaboração de cada área funcional para formular, implementar e controlar estratégias e o estudante com sua capacidade crítico-analítica pode criar um orçamento de metas a perseguir na dinâmica do jogo de empresas (Sauaia, 2013), conduzindo um esforço coletivo para que haja uma gestão integrada na empresa laboratorial (Conejero & Sauaia, 2016).

Ao longo das rodadas do jogo de empresas os estudantes enfrentam novos desafios potenciais, mais complexos que os anteriores, da multidisciplinaridade (soma de olhares sem cooperação entre as áreas funcionais) e da pluridisciplinaridade (somas de olhares com cooperação entre as áreas funcionais e sem coordenação). Neste caso, precisam expandir o campo de análise das variáveis endógenas (preço, investimento em marketing, investimento em pesquisa e desenvolvimento e produção efetiva) e das variáveis exógenas (previsão de inflação – Índice Geral de Preços / IGP; sazonalidade – Índice de Variação Estacional / IVE; previsão da atividade econômica – Índice Geral da Atividade Econômica / IAE e as ações da concorrência) (Sauaia, 2013), além de se desafiarem na competição com a aplicação dos conceitos microeconômicos relacionados à teoria da oferta versus teoria da demanda, e suas integrações e/ou combinações com as áreas funcionais (produção e recursos humanos versus marketing e planejamento, respectivamente) (Conejero & Sauaia, 2016).

Os estudantes analisam os cenários organizacionais vigentes repetidas vezes, tomam decisões estratégicas e recebem feedback para um novo ciclo de aprendizagem vivencial (Kolb, 1984) e, nestas transações emergentes, alguns agentes econômicos podem extrair do mercado mais informações que os demais participantes, beneficiando-se com melhores resultados econômico-financeiros (Kreps, 2004).

A assimetria informacional pode ocorrer na forma de seleção adversa, quando os estudantes possuem informações adicionais a nível pré-contratual, ou antes do início da disciplina, quando grupos de estudantes procuram turmas de semestres anteriores para extrair ao máximo informações sobre o Laboratório de Gestão; ou, até mesmo, na forma de risco moral a nível contratual, ou após o início da disciplina, quando as empresas laboratoriais não conseguem recuperar mais sua sustentabilidade econômico-financeira ao longo das rodadas e

tendem a possuir gestores estratégicos que não mais se engajam e/ou questionam suas decisões coletivas, nem se esforçam para mudar a atual situação de crise revelada (Conejero & Sauaia, 2016).

Para o desenvolvimento da pesquisa aplicada os estudantes passam a enfrentar desafios ainda maiores e mais complexos, advindos da interdisciplinaridade (soma de olhares com cooperação entre áreas funcionais e coordenação integrada) e da transdisciplinaridade (tematização de mesmos objetos por diferentes áreas funcionais) (Ayres, 2001; Almeida Filho, 2005; Max-Neef, 2005). Os estudantes precisam repetidas vezes enfrentar o desafio de (re)avaliar os conceitos microeconômicos de mecanismo de mercado versus custos de oportunidade e suas integrações com as duas áreas funcionais mais estratégicas em termos de engajamento e liderança na busca da visão ampliada (finanças versus presidência), e por meio de análises das ociosidades evidenciadas nos relatórios gerenciais, tais como, caixa ocioso, custo de estocagem, capacidade produtiva e custos de ativação de novos turnos e/ou horas- extras (Conejero & Sauaia, 2016).

A reputação tem caráter transdisciplinar e evidencia como um objeto ou tema pode ser visto por diversas áreas funcionais: uma empresa laboratorial pode ter reputação em qualidade, em marketing e/ou em recursos humanos e assim por diante, evidenciando um constructo multidimensional para construir a sua reputação global. Por outro lado, uma empresa laboratorial pode também perder sua reputação se falhar repetidamente na dinâmica do jogo de empresas, deixando de cumprir suas intenções atuais (credibilidade) declaradas no plano de gestão em 4 etapas (Sauaia, 2013).