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Como já referido, entre as commodities, sem dúvida, o petróleo é a que mais recebeu a

atenção dos pesquisadores, por sua importância como principal fonte de energia e por suas implicações em diversas atividades produtivas no mundo. O trabalho pioneiro significativo envolvendo correlações desta commodity com outras variáveis agregadas da economia foi

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publicado por Labys e Granger (1971), já se valendo das distribuições de variação de preço elucidadas por Mandelbrot (1963) e dos testes de causalidade de Granger (1969).

Hamilton (1983), em um trabalho abrangente sobre o desempenho da economia americana, revela que sete das oito recessões da economia americana, durante o período pós-segunda guerra mundial, estão relacionadas com a alta do preço da commodity, excetuando a recessão de 1960–

61. Este trabalho instigou outros pesquisadores a investirem na busca de correlações entre o preço do petróleo e as flutuações da demanda, da oferta e de alguns índices de mercado. Destacam-se, além dos trabalhos de Hamilton (1983, 2005, 2009a e b), as publicações de Burbidge e Harrison (1984), Gisser e Goodwin (1986), Kim e Loungani (1992), Mork et al. (1994), Lee et al. (1995),

Hooker (1996), Ferderer (1996), Jones e Kaul (1996), Ewing e Thompson (2007) e Kilian (2009). Em todos estes trabalhos, a conclusão de Adelman14 (1993, p. 537) mostrou-se inconteste: ''O petróleo é tão importante na economia internacional que as previsões de crescimento econômico são invariavelmente qualificadas com a seguinte ressalva: desde que não haja choque do petróleo''.

Burbidge e Harrison (1984), por exemplo, decifraram os impactos devidos ao preço do petróleo durante o período de janeiro de 1961 a junho de 1982, utilizando-se de um vetor autorregressivo VAR com 7 variáveis econométricas, aplicando-o com dados mensais de 5 países da OCDE (USA, Japão, Alemanha, Reino Unido e Canadá). As conclusões destes autores complementam as publicadas por Hamilton (1983) no que se refere aos efeitos do choque do petróleo de 1973–74 sobre a economia americana. Diferente daqueles, este último fez uso de um modelo VAR com 6 variáveis15.

Gisser e Goodwin (1986), utilizando-se de quatro indicadores macroeconômico (PIB, nível de preço, taxa de desemprego e investimento), examinaram e ratificaram algumas noções já sedimentadas entre os pesquisadores quanto ao efeito do preço do petróleo sobre a economia americana. Dentre estas noções estão:

14. Um dos pioneiros a publicar livros sobre o mercado mundial de petróleo. Seu primeiro trabalho foi de 1972.

15. As variáveis analisadas por Hamilton (1984) foram as mesmas propostas por Sims (1980b). Este sistema é composto de duas variáveis de saída (PIB e taxa de desemprego), três variáveis de preço (deflator de preço implícito da renda americana excetuando o agronegócio, preço de importação e compensação horária do trabalhador) e uma variável do mercado financeiro.

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(i) O impacto dos choques de preços do petróleo reflete em grande parte na forma de inflação de custos;

(ii) Os preços do petróleo antes e depois de 1973 afetaram a macroeconomia de muitos países de modo distinto e;

(iii) Os preços da commodity foram determinados de modo distinto sob o regime

institucional do setor pré-1973 e pós-1973.

Sobre este último item, de fato o preço do petróleo pós-segunda guerra mundial até 1973 era ditado em parte pela Texas Railroad Commission (TRC)16, ao passo que a partir do período pós-1973 até final da década de 1990 o preço foi influenciado em parte pelos embargos de produção impostos pela OPEP.

Kim e Loungani (1992) examinaram os efeitos de choques tecnológicos sobre os ciclos da economia particularizando o papel da energia nestes ciclos. Eles utilizaram dados anuais dos ciclos econômicos dos Estados Unidos entre 1949 a 1987 em conjunto com duas séries anuais: o consumo de energia de origem fóssil (petróleo, carvão e gás natural) medidas em BTU e o preço da energia por BTU dividido por um deflator do PIB americano. Estes autores, fazendo uso do modelo RBC17 de Kydland e Prescott (1982) e Hansen (1985), trataram o consumo de energia como variável de entrada na função de produção e o preço com um processo estocástico exógeno. Como conclusão ficou demonstrada que a abordagem indicada reduz a volatilidade dos modelos tradicionais de RBC.

Mork et al. (1994) investigaram o PIB de sete países da OCDE e concluíram que a maioria

apresentou correlação negativa do preço da commodity com o PIB, excetuando a Noruega.

Adicionalmente, concluíram que o padrão de correlação não é o mesmo para os casos de variações positivas e negativas do preço do petróleo, indicando claramente um comportamento assimétrico. Eles evidenciaram que, embora os Estado Unidos não sejam tão dependentes do petróleo quanto os países Japão, Alemanha e França, têm uma economia mais vulnerável às

16. Agência de estado estabelecida em 1891 na legislatura do Texas para regular a indústria de petróleo e gás.

17. Os modelos que descrevem os ciclos da economia real são chamados de RBC (real business cycle). O modelo pioneiro foi descrito por Solow (1956) em seu trabalho seminal sobre a teoria do crescimento econômico. Mais tarde, Kydland e Prescott (1982) e Hansen (1985) revisitaram o modelo RBC de Solow tratando a taxa de variação do investimento como uma variável estocástica.

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variações do preço da commodity. Esta vulnerabilidade da economia americana já havia sido

verificada uma década antes por Burbidge e Harrison (1984), utilizando-se de dados mensais de 1962 a 1982 aplicados em modelos de vetores autorregressivo VAR. Dos vários países da OCDE, os Estados Unidos e a Inglaterra apresentaram variações na produção industrial maiores que os demais. Quanto ao comportamento assimétrico da variação do petróleo com outras variáveis macroeconômicas, conclusões idênticas tiveram Lee et al. (1995), Hooker (1996), Ferderer

(1996) e outros.

Os argumentos de Lee et al. (1995), além do comportamento assimétrico da commodity,

sugerem que as variações no preço do petróleo impactam mais o PIB real em períodos onde o preço do petróleo apresenta-se estável, do que em períodos onde a variância do preço do petróleo é mais frequente ou irregular. Neste trabalho foram apreciados alguns dos princípios da moderna teoria de investimento em condição de incerteza fomentados por Dixit (1992). Por exemplo, durante períodos de alta volatilidade, uma vez que há poucas informações quanto ao futuro do preço do óleo, os agentes econômicos estariam relutantes em alocar recursos em projetos futuros, dados que os custos são certos.

Hooker (1996), usando um vetor autorregressivo (VAR), basicamente o mesmo empregado por Hamilton (1983) e Burbidge e Harrison (1984), avaliou o declínio do preço do petróleo a partir de 1982 e concluiu que o efeito do preço da commodity sobre variáveis macroeconômicas,

sobretudo na economia americana, não se comparava aos efeitos recessivos havidos em 1974–75 e 1980–81. De acordo com Hooker (1996), embora as decomposições de séries históricas expliquem bem a recessão 1974–75 devida aos choques de 1973, a recessão de 1980–81 já é pouco relacionada aos choques de 1979. Ademais, suas análises de dados posteriores a 1982 indicavam que a relação do preço do óleo com variáveis macroeconômicas havia mudada, não podendo mais ser apreciada pela simples teoria do efeito assimétrico.

Sadorsky (1999) chama a atenção da importância dos estudos de movimentos de alta do petróleo, pois resultam em pressões inflacionárias na maioria das economias e podem ter reflexos nas taxas futuras de juros e nos investimentos em geral. Ele utilizou para representar a volatilidade do preço da commodity, por exemplo, um modelo de variância condicional

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autorregressivo VAR. Os resultados deste estudo sugerem que mudanças no preço do óleo impactam a economia mais fortemente que mudanças na economia sobre o preço do óleo.

Aiube (2005), autor de livro sobre modelos estocásticos para o petróleo, estimou um modelo estocástico para a commodity com filtros de partículas, motivado pelo fato deste tipo de

filtro dispensar a hipótese Gaussiana para o termo errático. Ewing e Thompson (2007), com uso de processos heterocedásticos, examinaram a correlação entre o preço do óleo e diversas variáveis macroeconômicas (preço ao consumidor, taxa de desemprego e mercado de ações). Eles utilizaram a mesma metodologia de Serletis e Shahmoradi (2005) aplicada ao gás natural. Aqueles trabalharam com 3 diferentes filtros aplicados aos logaritmos das séries empíricas: filtros de Baxter e King (1995), de Hodrick e Prescott (1997) e de Christiano e Fitzgerald (2003). Os resultados são expressos em graus de correlação entre a commodity e as variáveis

macroeconômicas citadas.

Foi com uso de vetores autorregressivo VAR, que Kilian (2009) contribuiu com duas conclusões importantes:

(i) Os choques na demanda agregada de petróleo ocorrem devidos aos ciclos econômicos globais, e choques na demanda preventiva de óleo são devidos às incertezas quanto à oferta futura, sendo esta função das expectativas da demanda futura da commodity;

(ii) Os choques do lado da oferta são choques exógenos e ocorrem basicamente devidos à redução da disponibilidade do petróleo bruto.

Arouri et al. (2011), com uso de modelos VAR–GARCH, estudaram o contágio da

volatilidade da commodity sobre o mercado de ações da Europa e Estados Unidos em nível de

setor. Eles verificaram que alguns setores reagem de modo distinto. O objetivo principal deste estudo era indicar estratégias de diversificação de carteiras para investidores dos dois mercados citados.

Filis et al. (2011) investigaram a correlação entre o mercado de ações de 6 países entre

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exportadores foram o México, Brasil18 e Canadá e os importadores foram a Alemanha, Holanda e Estados Unidos. Eles concluíram que a correlação basicamente não difere entre importadores e exportadores. Não obstante, choques nos preços de petróleo ocasionados por guerras ou flutuações observadas devidas às crises econômicas, a correlação cresce positivamente (ou negativamente) em resposta à demanda agregada ou demanda preventiva (demanda de precaução). Pelo lado da oferta, tais flutuações não influenciam a correlação entre o preço do óleo e o mercado de ações. Para o período amostrado (1987 a 2009), os choques havidos nos preços da

commodity afetaram negativamente os mercados de ações, exceto durante a crise financeira de

2008, onde o pico do preço do óleo exibiu uma correlação positiva com estes mercados.

Rahman e Serletis (2012) investigaram a relação da incerteza do preço do óleo com a atividade econômica do Canadá usando dados quadrimestrais entre 1974:1 a 2010:1. Neste trabalho foi testado o modelo VARMA, GARCH e o modelo assimétrico BEKK19 conforme detalhado por Engle e Kroner (1993). Eles evidenciaram, para o período analisado, que o aumento da volatilidade no preço do óleo está relacionado com baixas taxas de crescimento real da economia do Canadá. No Brasil, especificamente, Da Silva et al. (2012) examinaram a relação

entre o preço do petróleo internacional (NYMEX) e as ações preferenciais da Petróleo Brasileira S.A (PETR3), onde concluíram haver forte relação contemporânea entre a commodity e a ação da

petroleira.

Aloui et al. (2013) examinaram a dinâmica do preço do petróleo utilizando-se de cópulas e

modelos de processos de variância condicional da família GARCH. Neste artigo são avaliados os movimentos conjuntos entre as cotações diárias da commodity (WTI e Brent) e cinco taxas de

câmbio relacionadas ao dólar americano (euro, dólar canadense, libra esterlina, franco suíço e o iene). Eles concluíram que a cópula t se adapta melhor aos dados quando o objetivo é evidenciar

uma relação de dependência entre a commodity e as demais taxas de mercado.

18. O Brasil exporta óleo pesado e importa óleo leve para compor sua estrutura de refino. Considerar o Brasil um país exportador de óleo revela desconhecimento dos autores.

19. Este modelo é o ARCH multivariado, que antes era denominado de BEKK (Yoshi Baba, Robert Engle, Dennis Kraft e Ken

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