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O IBGE utiliza oito classes de localização da área do domicílio nos censos. Para contabilizar a população rural e urbana o instituto agrupa essas classes. Segundo o IBGE a população urbana é formada pelos habitantes das seguintes localizações de área:

1. Áreas urbanizadas de cidades ou vilas: “são aquelas legalmente definidas como urbanas, caracterizadas por construções, arruamentos e intensa ocupação humana; as áreas afetadas por transformações decorrentes do desenvolvimento urbano, e aquelas reservadas à expansão urbana.” (IBGE, 2000. v.7, não pag.).

2. Áreas não-urbanizadas de cidades ou vilas: “são aquelas legalmente definidas como urbanas, caracterizadas por ocupação predominantemente de caráter rural.” (IBGE, 2000. v.7, não pag.).

3. Áreas urbanas isoladas: “áreas definidas por lei municipal, e separadas da sede municipal ou distrital por área rural ou por um outro limite legal.” (IBGE, 2000. v.7 não pag.).

A população rural é classificada segundo cinco localizações da área: 1. Aglomerado de extensão urbana:

são os assentamentos situados em áreas fora do perímetro urbano legal, mas desenvolvidos a partir da expansão de uma cidade ou vila, ou por elas englobados em sua expansão. Por constituírem uma simples extensão da área efetivamente urbanizada, atribui-se, por definição, caráter urbano aos aglomerados rurais deste tipo. Tais assentamentos podem ser constituídos por loteamentos já habitados, conjuntos habitacionais, aglomerados de moradias ditas subnormais ou núcleos desenvolvidos em torno de estabelecimentos industriais, comerciais ou de serviços. (IBGE, 2000, v.7 não pag.).

2. Povoado:

é o aglomerado rural isolado que corresponde a aglomerados sem caráter privado ou empresarial, ou seja, não vinculados a um único proprietário do solo (empresa agrícola, indústrias, usinas, etc.), cujos moradores exercem atividades econômicas, quer primárias (extrativismo vegetal, animal e mineral; e atividades agropecuárias), terciárias (equipamentos e serviços) ou, mesmo, secundárias (industriais em geral), no próprio aglomerado ou fora dele. O aglomerado rural isolado do tipo povoado é caracterizado pela existência de serviços para atender aos moradores do próprio aglomerado ou de áreas rurais próximas. É, assim, considerado como critério definidor deste tipo de aglomerado, a existência de um número mínimo de serviços ou equipamentos. (IBGE, 2000, v.7 não pag.).

3. Núcleo:

é o aglomerado rural isolado vinculado a um único proprietário do solo (empresa agrícola, indústria, usina, etc.) dispondo ou não dos serviços ou equipamentos definidores dos povoados. É considerado, pois, como característica definidora deste tipo de aglomerado rural isolado, seu caráter privado ou empresarial. (IBGE, 2000, v.7 não pag.).

4. Outros aglomerados

são os aglomerados que não dispõem, no todo ou em parte, dos serviços ou equipamentos definidores dos povoados e que não estão vinculados a um único proprietário (empresa agrícola, indústria, usina, etc.). (IBGE, 2000, v.7 não pag.).

5. Área rural exceto aglomerado: são as áreas não classificadas como urbanas ou aglomerados rurais.

10.2.5. Migração

O balanço da migração entre os estados brasileiros nas décadas de 1980 e de 1990 é semelhante. Em cada uma dessas décadas, cerca de oito milhões de pessoas mudaram de estado. Na década de 1990 esta população foi de 8.691.756 habitantes, sendo que em 2000 7.626.404 pessoas residiam em áreas urbanas dos municípios de destino e 1.068.352 em áreas rurais. O estado de São Paulo é o que recebe os maiores fluxos migratórios, com 2.638.297 novos habitantes provenientes de outros estados na década de 1990. O segundo estado que mais recebeu migrantes na década de 1990 foi Goiás, com acréscimo de 598.356 habitantes (gráfico 10.5). Se tomarmos somente a população que migrou na década de 1990 e residia em zonas urbanas do município de destino em 2000, também São Paulo é o estado que mais recebeu população, sendo seguido pelos estados do Pará e de Mato Grosso. Em dados relativos ao total da população do estado, Roraima foi aquele que recebeu mais migrantes na década de 1990, que representavam 25,8% da população total em 2000, enquanto que em São Paulo esta proporção era de 7,1. Os estados do Centro-Oeste estão entre os que mais receberam população em valores relativos, apresentando as seguintes porcentagens em 2000: Distrito Federal (19,7%), Mato Grosso (14,5%), Goiás (12%) e Mato Grosso do Sul (8,5%). Na região Norte, além de Roraima destacam-se Amapá (19,7%), Tocantins (14,7%) e Rondônia (12,6%).

GRÁFICO 10.5 – Migração interestadual nas décadas de 1980 e 1990 - 500.000 1.000.000 1.500.000 2.000.000 2.500.000 3.000.000 Acre Alagoas Sergipe Roraima Amapá Rio Grande do Norte Piauí Paraíba Maranhão Amazonas Rio Grande do Sul Ceará Tocantins Rondônia Mato Grosso do Sul Pernambuco Espírito Santo Bahia Santa Catarina Pará Mato Grosso Distrito Federal Paraná Minas Gerais Rio de Janeiro Goiás São Paulo

migrantes de outros estados

Década de 1980 Década de 1990

Os mapas da prancha 10.7 indicam que a região em que a migração tem maior importância na população total é aquela da fronteira agropecuária, para onde se destinaram os migrantes de todas as regiões principalmente a partir de 1950. Esta região compreende o sudeste do Pará, Mato Grosso, Rondônia e o sul de Roraima. Os mapas mostram que os migrantes provenientes da região Norte são significativos apenas no noroeste e nordeste do Mato Grosso, imediatamente no limite entre as regiões Centro-Oeste e Norte, o que indica um movimento migratório no interior da própria fronteira agropecuária. Os migrantes nordestinos são importantes particularmente na região da fronteira agropecuária, mais intensamente no Pará e no norte do Tocantins, e em menor grau em Rondônia, Roraima e também no Centro-Oeste. Os nordestinos também são o contingente de migrantes que mais tem representatividade no estado de São Paulo. Os migrantes do sudeste são representativos nas regiões de divisa de São Paulo com Mato Grosso do Sul e Paraná, de Minas Gerais com Goiás, no oeste de Mato Grosso e no estado de Rondônia. Os sulistas são representativos em Mato Grosso e Rondônia, resultado do grande fluxo de gaúchos e paranaenses para a região da fronteira agropecuária. Por fim, os naturais do Centro-Oeste são importantes no limite da região com o Norte, o que indica o avanço da fronteira agropecuária e da migração interna da fronteira.

PRANCHA 10.8

Outro indicador que pode fornecer pistas sobre a dinâmica populacional é a taxa de masculinidade. Ao analisarmos os mapas da prancha 10.8 verificamos que de forma geral, as regiões com maiores taxas de masculinidade coincidem com as regiões com

maior importância da população de migrantes (prancha 10.7). As altas taxas de masculinidade nessas regiões são explicadas pela natureza dos trabalhos aí realizados, principalmente atividades braçais como a lida com o gado, cultivo e desflorestamento. As regiões com baixas taxas de masculinidade possivelmente são aquelas de onde esses trabalhadores são originários.

10.3. Produção e ocupação

A análise do PIB e da PEA fornece fortes indicações sobre a produção (e organização) do espaço geográfico. De acordo com a importância de cada um dos setores da economia é possível presumir como se dá a relação entre sistemas de objetos e sistemas de ações (SANTOS, 2002 [1996]) nos domínios de ação da sociedade na produção do espaço (BRUNET, 2001 [1990]). O PIB brasileiro apresenta crescimento constante, passando de 1,1 trilhão em 2000 para 2,6 trilhões em 2007. Na última década a participação dos três setores da economia na composição do PIB tem se mantido constante, com pequenas variações (gráfico 05). Em 2000 a participação dos setores primário,

secundário e terciário no PIB38 nacional foi de respectivamente, 8%, 37,5% e 58,5%, sendo

que na PEA esses três setores participaram com 18,7%, 21,4 e 59,8%.

GRÁFICO 10.6 – Evolução da participação dos setores da economia no PIB - 1990-2005 0 10 20 30 40 50 60 70 80 90 1990 1991 1992 1993 1994 1995 1996 1997 1998 1999 2000 2001 2002 2003 2004 2005 P a rt ic ip a ção d o set o r ( % )

Primário Secundário Terciário

Dados: IBGE - Org.: Eduardo Paulon Girardi

38

Embora os dados do PIB para anos mais recentes (até 2006) já estivessem disponíveis no momento de desenvolvimento da pesquisa, adotamos os dados de 2000 para que fosse possível realizar comparações com os dados do Censo Demográfico de 2000.

Em todas as cinco regiões brasileiras o PIB primário é o que possui menor representatividade entre os três setores da economia. O Centro-Oeste é a região em que o PIB primário é mais representativo (13,6%). Se tomarmos a Amazônia Legal, a representatividade do PIB primário no PIB total da região é de 15,6%. Quanto à participação do PIB primário regional no PIB primário nacional, o Sudeste é a região que mais contribui, com 32,4%, seguida pelo Sul, com 30,4%. O Centro-Oeste é a segunda região que menos contribui, com apenas 13%. Em relação à PEA primária, o Nordeste é a região onde ela é mais representativa, tanto na PEA regional quanto na PEA primária do Brasil. O Centro- Oeste é a região em que a PEA primária é menos representativa na PEA primária nacional e a segunda região em que a PEA primária é menos representativa na PEA regional. Isso reflete o modelo de agricultura da região, que se desenvolve em um campo sem gente.

GRÁFICO 10.7 – PIB primário regional - 2000

0.00 5.00 10.00 15.00 20.00 25.00 30.00 35.00

Norte Nordeste Sudeste Sul Centro-Oeste Amazônia Legal por c e nt a ge m

Participação do PIB primário no PIB da região

Participação do PIB primário regional no PIB primário nacional

GRÁFICO 10.8 – PEA primária regional - 2000 0.00 5.00 10.00 15.00 20.00 25.00 30.00 35.00 40.00 45.00

Norte Nordeste Sudeste Sul Centro-Oeste Amazônia Legal por c e nt a ge m

Participação da PEA primária na PEA da região

Participação da PEA parimária regional na PEA primária nacional

Dados: IBGE - Org.: Eduardo Paulon Girardi

Assim como a população brasileira, a PEA e principalmente o PIB são territorialmente concentrados, sendo os maiores valores verificados na região concentrada e na faixa que acompanha a costa. A PEA é menos concentrada porque nela o setor primário é proporcionalmente mais representativo do que no PIB.

Os mapas da prancha 10.10 representam os municípios brasileiros segundo a participação dos três setores da economia no PIB e na PEA. O mapa do PIB mostra que a classe que engloba o maior número de municípios é aquela na qual predomina o PIB do setor terciário. Essa classe apresenta regiões bem definidas no Norte, Nordeste e norte de Minas Gerais. Nos demais estados ela apresenta-se dispersa. A classe

predominância no setor secundário configura pequenas regiões que coincide com centros

regionais e capitais estaduais. A classe predominância do setor primário ocorre em uma grande região central do território brasileiro e também na região Sul, e a classe

predominância dos setores primário e terciário é importante principalmente no Centro-Oeste,

Sudeste e Sul. No mapa da PEA a classe que concentra mais municípios é a predominância

no setor primário. O diferencial territorial desta classe apresenta agrupamentos

territorialmente definidos e contínuos, localizados principalmente nas regiões Norte, Nordeste e Sul e também no estado de Minas Gerais. As classes de predominância do setor

terciário e predominância concomitante dos setores primário e terciário ocorrem notada e

conjuntamente na região Centro-Oeste, nos estados de São Paulo, Rio de Janeiro e Amapá, no norte do Paraná e no sul do Rio Grande do Sul. A primeira classe e as duas últimas opõem-se no sentido norte-sul.

Na análise conjunta dos mapas do PIB e da PEA observamos que as classes de predominância do setor terciário e de predominância do setor primário se opõem na região Norte e Nordeste. Enquanto no mapa da PEA a classe de predominância do setor

primário abrange grande área do Nordeste e Norte, essas mesmas áreas são abrangidas

pela classe de predominância do terciário quando os dados são referentes ao PIB. Talvez isso indique regiões onde a PEA do setor primário, mais representante, tenha baixos rendimentos e a maior fonte de rendimentos venha do setor terciário por meio de cargos públicos e aposentadorias.

PRANCHA 10.10

Os dados do Censo Demográfico de 2000 mostram que a população ocupada no setor primário é caracterizada predominantemente pelas baixas rendas monetárias. Naquele ano, 33,4% destes trabalhadores não tinham remuneração alguma; 53,9% recebiam até dois salários mínimos; 8,4% recebiam de dois a cinco salários e 4,1% ganhavam mais de cinco salários mínimos. A análise dos dados de rendimento da PEA primária nos municípios brasileiros, representada no mapa 10.2, mostra que territorialmente as baixas rendas estão principalmente no Nordeste e na Amazônia Ocidental, o que coincide com regiões onde a PEA primária é mais significativa. Ao contrário, os maiores rendimentos da PEA primária são verificados no Sudeste e no Centro-Oeste, coincidindo com as regiões onde a PEA primária tem menor participação na PEA total. O Sul é bastante heterogêneo, o que talvez seja indicador da diversidade da agricultura camponesa regional.

O rendimento monetário da PEA deve ser analisado com cuidado, pois o campo não é um lugar somente de produção econômica, é também um lugar de vida. Quando analisamos a produção camponesa, nem tudo que é produzido tem como destino o mercado, o autoconsumo é importante neste sistema. Isso não quer dizer que os camponeses não necessitem participar do mercado, pelo contrário, isso é necessário para que possam vender seus produtos e adquirir bens e serviços para gozarem de melhores condições de vida. A análise conjunta dos mapas 10.2 e 10.3 indica relação entre renda e local de residência da PEA primária. As regiões onde a PEA primária tem maiores rendas monetárias são as mesmas em que maior parte da PEA primária reside em áreas urbanas, o

que indica o assalariamento; ao contrário, as regiões em que a PEA primária tem menores rendimentos são aquelas em que a PEA primária reside predominantemente em áreas rurais. Isso indica que as regiões de maiores rendimentos são aquelas em que o campo é predominantemente um lugar de produção e as pessoas ocupadas na agropecuária são dependentes do rendimento monetário. Essas são as regiões onde predominam as relações capitalistas na agricultura. Já as regiões onde os rendimentos monetários são menores e a PEA primária reside em zonas rurais, o campo é um lugar de produção e de vida. Essas regiões são caracterizadas por baixos rendimentos monetários. Parte deste rendimento monetário inferior pode estar ligada à produção de autoconsumo, porém não há dúvidas de que essas são regiões em que a população rural goza de qualidade de vida inferior. Esta segunda constatação indica as regiões onde o campo é local de vida e trabalho e precisa ser valorizado para a melhoria das condições de vida desta parte significativa da população brasileira que aí vive.

GRÁFICO 10.9 – PEA do setor primário por classe de rendimento (salários mínimos)

Dados: IBGE – Org.: Eduardo Paulon Girardi

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