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2.7 – Prefeitura, laboratório político e administrativo

O Censo do IBGE de 1960 registrou em Goiânia uma população de 151.013 habitantes. O Censo de 1970, 380.773. A população cresceu vertiginosamente naquela década: 152%. Iris elegeu-se no meio da década, quando a cidade assistia a esse crescimento veloz: mais pessoas, mais demandas e uma prefeitura que não conseguia

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Mapa totalizador da 1ª Junta Apuradora da 2ª Zona Eleitoral de Goiânia – Arquivo do Cartório Eleitoral da 1ª Zona em Goiânia.

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Entrevista em 17/4/2007. Na realidade Iris comete um equívoco: o MDB elegeu 12 vereadores e a Arena, 5, para a 6ª Legislatura (1967–1970), segundo a Revista Câmara Municipal, p. 21.

responder com agilidade às necessidades que se multiplicavam. O prefeito Hélio de Brito (UDN) foi antecessor de Iris. Ele governou a cidade entre 1961 e 1965, um período de grandes dificuldades políticas e financeiras no município.

A Prefeitura de Goiânia não tinha autonomia administrativa até o governo de Hélio de Brito. “O Estado administrava Goiânia do Lago das Rosas para cá [ele concedia esta entrevista no Setor Oeste]. Até os cemitérios eram administrados pelo Estado. A prefeitura só mexia em Campinas, e como não havia nada [recursos], Campinas ficava lá, abandonada.”133 Hélio de Brito defendeu a emancipação político- administrativa de Goiânia da tutela do Estado durante sua campanha eleitoral. Eleito, Brito enviou ofício ao governador Mauro Borges solicitando a emancipação. “O Mauro assinou um decreto transferido à Prefeitura todos os serviços, mas não transferiu o recurso e o dr. Hélio enfrentou muitas dificuldades.”134

Os problemas da cidade não apareceram na cobertura da campanha eleitoral feita pela imprensa, comprometida com os candidatos da UDN. Um artigo de Alfredo Nasser “A cidade que acabou” (O Popular, 17/8/65), é a única referência ao tema, assim mesmo para minimizá-lo. O deputado federal em campanha à reeleição ironiza as críticas da oposição e defende o prefeito da UDN, seu aliado político. Ele admite que a cidade tinha problemas, mas responsabiliza o governo estadual, pois Goiânia ficara sob a tutela do governo desde sua fundação, em 1933, até sua emancipação administrativa já no governo de Mauro Borges, na década de 60, longo período comandada pelo PSD.

Independentemente do embate político, o fato é que os problemas existiam. Se a imprensa foi omissa durante a campanha, ela falava abertamente deles três anos antes da eleição, antes do golpe militar. A leitura de algumas edições de jornais de 1962 revela as dificuldades da cidade e de seu prefeito, Hélio de Brito. Com o título “Nas ruas da cidade” (29/3/62), O Popular informa: “Motivo de desalento: buracos, bancos quebrados, lâmpadas queimadas, pistas asfálticas destruídas, sujeira na cidade.” A foto de lixo espalhado em plena Avenida Paranaíba ilustra o texto, confirmado o “aspecto de Goiânia abandonada.”

A coluna Notas e Fatos do Popular, assinada pelo jornalista Domiciano de Faria, tratava os problemas da cidade com bom humor. Em uma edição, um quadrado

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Entrevista, ibidem.

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preto, no formato de uma foto, ilustra a seguinte legenda: “Vista de Campinas à noite” (30/3/62). Em outro dia, um texto ironizava: “O editor-chefe [o jornalista Wagner de Góes] pediu uma reportagem sobre buracos. E não foi nada difícil ao repórter encher a página. Logo em Goiânia, gente” (13/3/62). Todos esses problemas foram agravados pelo crescimento vertiginoso da cidade.

Iris tomou posse em janeiro de 1966 no mesmo dia em que começariam a ser distribuídas as cobranças dos impostos predial e territorial urbanos (IPTU e ITU). Sua primeira decisão foi mandar recolher os talões. Iris conta que inspirando-se em Mauro Borges, se imbuiu da mesma coragem que percebera nele para tomar medidas impopulares e decidiu revisar os valores do IPTU e do ITU. Foi um trabalho lento, que levou entre 40 e 50 dias, porque era tudo feito a mão. “Revisamos tudo: Goiânia, Campinas, Vila Coimbra, esses setores mais ricos. Esqueci os setores pobres. Aumentamos mesmo [ele coloca ênfase na palavra mesmo]. Quando saíram esses talões foi aquele grito, parece que Goiânia ia acabar.”135

As reclamações chegaram ao ouvido do chefe político do PSD, o senador Pedro Ludovico Teixeira, que mandou chamar o prefeito para tirar satisfação.

Ele me disse: “Ô Iris, você exagerou na dose de aumento desse imposto.” Eu falei: “Dr. Pedro esse sofrimento, esse vexame do dr. Hélio [de Brito] foi pela falta de coragem de cobrar imposto, porque o Mauro deu autonomia à administração, mas não deu dinheiro para a prefeitura. Eu não vou esperar que o governo carregue a prefeitura para mim. Não adianta, então eu tenho que cobrar mesmo.” “Mas Iris, modere, aí.” “Dr. Pedro, o senhor recebeu algum pobre aqui reclamando, sua casa é cheia também de pobres?” “Não.” “Pois quem está reclamando, enchendo a sua cabeça, é o seu cunhado (que era dono do prédio de eletromecânica), é fulano, é beltrano.” Falei os nomes [das pessoas] do relacionamento dele. Eu tive coragem de aumentar no primeiro ano; tive coragem de aumentar no segundo também.136

A pressão foi tão forte que Iris afirma que teria recuado se fosse uma pessoa fraca. Ele acha que, se tivesse voltado atrás, sua administração teria sido arrasada, “porque ficaria sem recursos para fazer os investimentos que a cidade reclamava.” No segundo ano, ele aumentou os impostos novamente e teve outra vez de prestar contas a Pedro Ludovico. “Dr. Pedro não deu, foi insuficiente [o aumento das alíquotas], mas não vou aumentar mais, dou minha palavra.”137 Iris calcula que, quando foi cassado, 90% da população de Goiânia sentiu, “ou mais ou menos”, pois “foi um momento de

135 Entrevista em 14/9/2007. 136 Entrevista, ibidem. 137 Entrevista em 20/2/2008.

absoluta decepção e de tristeza”, mas que, nos primeiros meses de sua administração, “se tivessem feito uma pesquisa eu não teria sido eleito nem vereador. Então o líder tem de ter atitude, convicção do que decide, tem de enfrentar.”138

A medida repercutiu no caixa do Tesouro municipal. Uma nota na coluna “Notas e Fatos” revelou que a prefeitura conseguira elevar “a arrecadação de 220 milhões (fevereiro) para 685 milhões (abril)” (O Popular, 26/6/66). Não havia pesquisa, mas Iris conta ter percebido na época que a repercussão negativa do aumento de impostos, a falta de recursos para resolver os problemas mais urgentes da cidade e os salários atrasados do funcionalismo desgastaram sua imagem.

Foi quando eu senti que precisava convocar o povo ao trabalho para ajudar a prefeitura. Me lembrei dos mutirões, do meio em que eu passei a infância, vivendo aquilo, o trabalho participativo. Idealizei então fazer o primeiro mutirão. [Houve] muita reserva por parte de alguns auxiliares, temendo que aquilo não pegaria na cidade. Eu entendia, por outro lado, que grande parte da população de Goiânia era oriunda do meio rural. Fizemos o primeiro, foi um sucesso; fizemos o segundo, o terceiro e despertou a atenção nacional.139

O objetivo de Iris com os mutirões era mostrar serviço, ganhar tempo, e popularidade, até que a prefeitura tivesse recurso para investir em obras. “Nós começamos com aquele trabalho, aquilo foi crescendo, crescendo, até que a prefeitura tivesse algum dinheiro para começar alguma coisa.”140 Era mais do que uma estratégia administrativa para resolver problemas imediatos de bairros carentes de toda infra- estrutura. Era uma estratégia política: ele misturava-se ao povo para conquistar apoio e se fortalecer politicamente enquanto a prefeitura angariava recursos para iniciar as obras físicas e atender às demandas da cidade. Sua intuição surtiu efeito, e os próprios adversários começaram a se incomodar com os mutirões.

Começou uma campanha política. Segundo Iris, seus adversários tentaram conquistar apoio dos militares com argumentos muito em voga na época: “Mutirão era coisa de comunista [...], coisa do [Francisco] Julião lá do Pernambuco, de Fidel Castro.”141 Preocupado, “porque na época não tinha pecha maior para destacar um cidadão no regime militar do que a pecha de comunista”, Iris decidiu visitar o 10º Batalhão de Caçadores. Era sua segunda visita ao 10º BC depois de eleito. A primeira

138 Entrevista, ibidem. 139 Entrevista em 4/7/2007. 140 Entrevista em 25/6/2008. 141 Entrevista em 17/4/2007.

ocorrera antes da posse por convocação do comando militar. Ele tinha sido chamado porque o prefeito Hélio de Brito reclamou de sua interferência na Câmara de Goiânia para impedir a aprovação de um projeto de lei. Hélio de Brito chegou a anunciar que, em represália a essa interferência, pediria ao Ministério da Justiça para fechar provisoriamente a Câmara de Goiânia com base no AI-2, decretado na última semana de outubro (O Popular, 4/11/65). O prefeito não tomou essa atitude, mas procurou socorro no 10ª BC. O comando convocou o vereador Luiz Sampaio, presidente da Câmara e aliado de Iris, e determinou que os vereadores aprovassem a mensagem do prefeito. O presidente ouviu a ordem e, antes de cumpri-la relatou o episódio ao prefeito eleito.

Aí eu fui lá [no 10º BC] e ele me disse que eu não podia interferir na Câmara, porque eu ainda não era o prefeito. Com muita calma eu disse: “Coronel, isso é uma questão de interpretação. O senhor chama um soldado daqueles ali (a gente estava diante de uma janela) e diz ‘amanhã você vai tomar conta daquele jipe.’ Se ele presta, se ele tem responsabilidade ele já passa a ter ciúmes do jipe, antes de pegar no volante. Assim sou eu. Eu não fui eleito prefeito para brincar. Eu já estou com ciúmes da prefeitura (...).” Chamei o Luiz Sampaio e agi.142

Iris acha que teve facilidade para convencer os militares em várias ocasiões, porque sabe dialogar. “Ele viu que eu não estava tremendo para ninguém.” A segunda visita ao 10º BC foi para reclamar da “campanha injustificável” contra o mutirão. “Eu estou na prefeitura não é para desenvolver ideologia política alguma. O senhor poderia colocar um paradeiro nisso.” Para deixar claro que seu objetivo não era ideológico, mas administrativo, ele pediu ao comandante que enviasse soldados para ajudar nos mutirões.

Aí ele disse assim, eu nunca me esqueço: “Olha eu fui criado na roça, vivi também conhecendo os mutirões. Agora o senhor evite os discursos.” Eu disse “discurso só tem um, o meu, de agradecimento. E o senhor podia mandar uns soldados.” E ele mandou uns 20 soldados, uma roçadeira. Eu o convidei a aparecer lá e almoçar com a gente. O coronel acabou entrando na fila comigo, comendo em prato de papelão, talher de plástico. [...] Castro Filho [relações-públicas da prefeitura] tinha um programa na TV, filmou o coronel. Aquilo mexeu com a cidade e não encheram mais a minha paciência.143

A popularidade que Iris começara a construir não passou despercebida ao governo estadual. O governo de Otávio Lage alimentou a esperança de que ele ia aderir à Arena. “No governo [de Otávio Lage] já não subestima a capacidade de mobilização e a popularidade de Iris, até já se lhe enaltece os méritos do político hábil, que está se revelando. O governo está aberto a negociações com Iris e Iris também está disposto a negociar” (O Popular, 18/6/66). 142 Entrevista, ibidem. 143 Entrevista, ibidem.

Apesar dessa informação, na mesma edição havia uma reclamação sobre a “indefinição de Iris” que, supostamente, queria apoio do governo estadual e federal “sem a correspondência de um compromisso de natureza política.” A correspondência era a adesão à Arena. “Eu comecei a receber mensageiros do governo federal.”144 O governador Otávio Lage também fez a sua parte nesse processo de cooptação. Em 20 de junho de 1966, ele visitou Iris na prefeitura para retribuir duas visitas dele ao Palácio das Esmeraldas. Iris recebeu bem o governador, pois diz que fora educado a respeitar as autoridades e também pelo seu estilo de evitar o enfrentamento direto. Mas continuou a dizer não aos convites de mudança partidária, só que sem provocar os interlocutores.

Paralelamente, dedicava-se ao que mais lhe interessava, a administração da cidade, pois, planejara seu futuro político a partir do trabalho que desempenharia na prefeitura. Seis meses depois de empossado, a prefeitura começa a investir em obras. Em 4 de junho, Iris promoveu uma festa que começou às 9 horas da manhã e se estendeu até as 22 horas para inaugurar a sede provisória da Prefeitura de Goiânia, instalada onde hoje é a Praça do Trabalhador. O prédio tinha 2 mil m2 e foi construído em 84 dias. “É provisório, mas é a melhor sede que a prefeitura já teve” (O Popular, 5/6/66). Na inauguração, pela manhã, que teve a presença dos senadores Pedro Ludovico Teixeira e João de Abreu, e de cerca de “5 mil pessoas”, Iris citou o nome de todas as empresas que doaram material de construção para a obra. “O custo do prédio, graças à colaboração oferecida por diversas firmas comerciais e industriais, foi a tal ponto reduzido que, somente com a economia de aluguéis feita até agora, ficou pago o preço da sede provisória” (Oásis, 1967, p. 17).

O próximo passo era iniciar a principal meta de Iris, a pavimentação asfáltica. Na primeira entrevista ao Popular depois de diplomado prefeito, em 5 de janeiro de 1965, Iris anunciou que concentraria nessa meta a maior “soma de esforços, criando inclusive uma autarquia, a Pavicap”, para fugir da burocracia da Secretaria de Obras. O vice-prefeito Gabriel Elias Neto, concluiu a entrevista, prometendo asfaltar toda a cidade em cinco anos de gestão e Campinas, em dois anos. “Eu descobri que a prefeitura poderia cobrar o custo total do asfalto. Comecei a fazer reunião de rua em

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rua, pegava o compromisso [do proprietário do imóvel] de pagar à vista e a prefeitura, que asfaltava uma rua por ano, passou a asfaltar uma rua por dia.”145

Para asfaltar uma rua por dia, Iris revela que começou a planejar o cumprimento dessa promessa antes de ser empossado. Ele recorda-se da visita a Goiânia do presidente do Banco Hipotecário de Minas, Vicente Araújo, que também era dono do Banco Mercantil de Minas Gerais. Como prefeito eleito, ele conseguiu um espaço na agenda do banqueiro para um encontro reservado, à noite, depois que ele cumpriu toda a sua agenda. O futuro prefeito levou o presidente do banco para conhecer os bairros nobres da cidade, todos sem asfalto, e apresentou-lhe seu projeto de criar a Pavicap, a autarquia que administraria o asfaltamento e receberia o pagamento dos moradores. Iris explicou a Vicente Araújo que precisava de capital, porque nem todo mundo poderia pagar pelo asfalto. “Ele me perguntou: ‘quanto o senhor precisa?’ ‘De 1 milhão e 500 mil. Se o senhor me ajudar, eu ponho todo o dinheiro da prefeitura em seu banco.’”146

Iris lembra-se de que Vicente Araújo prometeu ajudá-lo, mas lhe passou algumas instruções. O primeiro passo era encaminhar projeto de lei à Câmara Municipal, propondo a criação da empresa. Depois, Iris deveria fazer a mesma proposta a outros bancos, incluindo o Banco Mercantil de Minas Gerais. Vicente Araújo era um político da UDN, ligado ao governador mineiro Magalhães Pinto, relacionamento que lhe rendeu a presidência do Banco Hipotecário de Minas, uma instituição do Estado de Minas Gerais, e queria evitar que seus companheiros de partido reclamassem que estava ajudando um prefeito eleito pelo PSD.

Pra você ver, era uma pessoa experimentada. [...] Então, ele me disse: “você chama todos e, se quiserem, bem, vamos dividir; se não quiserem, eu faço sozinho.” Eu fiz como ele mandou. Ninguém estava sabendo o que eu estava aprontando. Encaminhei à Câmara [o projeto]. Fiz a reunião [com os bancos]. Dois gerentes se dispuseram a ajudar. Três, mas um ofereceu tão pouco... O gerente do Banco Bandeirantes, Claudito Meirelles, que tinha um prestígio muito grande na diretoria do banco, disse: “olha, a metade você pode deixar para nós.” Aí eu fui a Belo Horizonte e disse [ao Vicente Araújo], “o Banco Bandeirantes se dispôs a ajudar com a metade, agora a outra metade...” Aí ele chamou a diretoria e disse: “deixa esse dinheiro à disposição do Iris.”147

Iris encaminhou à Câmara o projeto de lei criando a Superintendência de Pavimentação e Obras da Capital (Pavicap) logo após sua posse, em 4 de fevereiro de

145 Entrevista em 17/4/2007. 146 Entrevista em 25/6/2007. 147 Entrevista, ibidem.

1966. Em seguida, procurou a Corterra, a mesma empresa que asfaltara a 5ª Avenida na gestão de Hélio de Brito. Entre seus sócios, estava o engenheiro Oton Nascimento, secretário de Planejamento de Otávio Lage. Sua intenção era iniciar rapidamente a pavimentação das ruas e esse fato político ficou pequeno diante de sua urgência. Iris conta que mandou conferir o contrato anterior, para saber se a empresa poderia prosseguir com as obras da prefeitura, e depois se reuniu com os sócios.

Quero saber se vocês estão dispostos a enfrentar comigo a pavimentação da cidade, porque eu quero asfaltar Goiânia inteira. Aí vira o Oton, muito tranqüilo, e diz: “Prefeito, até que topar, nós topamos, mas e dinheiro para nos pagar?.” “Vocês não se preocupem com isso. Entregou a medição [do asfalto], dois, três ou quatro dias a prefeitura conferiu, está tudo certinho, vocês receberão.” “Mas onde você vai arranjar dinheiro?” “Não se preocupem, eu tenho dinheiro, eu vou reunir [os moradores], muita gente vai pagar à vista (eu não tinha feito reunião, não).” “Mas olha, prefeito, nós temos de comprar muita máquina para fazer o que você está pensando.” “Comprem as máquinas.”148

Só então Iris iniciou as reuniões com os proprietários dos imóveis. Começou pelo Setor Oeste. Eram quatro por noite. Ele reunia os moradores de uma rua em uma das casas e informava do projeto e do custo do asfalto. Iris contou que pedia 50% do pagamento à vista; parcelava em seis vezes pra quem não podia pagar à vista e dava 10% de desconto para quem pagava 100% à vista. Ele enumera: o asfalto começou pelo Setor Oeste, depois foi para o Setor Sul, o Setor Aeroporto. Aí partiu para Campinas, Vila Coimbra. Em seguida vieram a Vila Nova, Nova Vila e o Setor Universitário.

Em 32 anos de existência, Goiânia recebera 1 milhão de m2 de asfalto; em um ano de ritmo de mutirão recebeu 200 mil metros. E com mais um ano terá mais 300 mil. Dois anos serão iguais a 50% de 32 [anos]. Ao final de seu governo, Goiânia terá o dobro de asfalto que possuía antes que ele iniciasse seu trabalho incansável [...] Em uma administração far-se-á mais asfalto que em toda a existência desta cidade. (Oásis, 1967, pp. 14–15).

A prefeitura abriu outras frentes de obras: urbanização de praças, construção de moradias populares, do Parque Mutirama, a duplicação da Avenida Anhanguera, entre a Avenida 24 de Outubro e o Dergo. Entre as praças que construiu, Iris se orgulha especialmente da Universitária. Ele diz que encomendou o projeto ao arquiteto Eurico Godói, um de seus importantes auxiliares. Passaram por ele os projetos do Parque Mutirama e das casas do mutirão de moradia,149 construídas no primeiro governo de Iris

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Entrevista, ibidem.

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Iris demonstra prazer em falar sobre as coisas de que se orgulha. Nessas ocasiões, fala compulsivamente, emenda uma história na outra e deslancha uma narrativa buscando eventos, que a princípio parecem não ter nexo com o assunto, mas que aos poucos vai fazendo sentido. Seu relato sobre o dia em que o governo fez o mutirão das mil casas em Goiânia entrou na conversa por acaso. Ele comentava sobre sua equipe na Prefeitura de Goiânia na gestão de 1966, quando se lembrou de Eurico Godói, um arquiteto que o acompanhou desde aquela época. Iris emocionou-se ao se lembrar dele,

(1983–1986), além da Praça Universitária. As faculdades começavam a se instalar no Setor Universitário e Iris achava que isso era um diferencial do bairro, que merecia uma praça diferente. “‘Eurico, temos de fazer uma praça aqui que seja exemplo para o Brasil e que o tempo não a transforme em algo obsoleto, que ela tenha um traço diferente’. Você pega aquele projeto [da Praça Universitária]: é o que existe de mais moderno. Você sobe e desce do mesmo lado da pista.” 150 A praça tem uma mão de trânsito no sentido anti-horário e uma mão em uma via interna no sentido horário.

Para construir a Praça Universitária e abrir as avenidas no bairro, o prefeito teve de desocupar uma invasão, com mais de mil moradores. Esta não era a única. Iris recorda-se de que quando assumiu a prefeitura havia invasão na beira dos córregos, em áreas públicas, como no Lago das Rosas e em frente à Pecuária. “A cidade, que tinha ruas planejadas até onde havia só mato, foi ficando cheia de favelas, de gente vinda do Norte ou da zona rural” (Realidade, p. 26). Iris conta que procurou três imobiliárias para conseguir ajuda para abrigar os moradores retirados da invasão da Praça Universitária:

A do Coimbra Bueno, que era administrada pelo Costinha (José Costa Arantes), a do [Elias] Bufáiçal e tinha uma outra. Eram três, três ou quatro existentes na época e pedi mil lotes para abrigar o pessoal da Praça Universitária. “Oh, se vocês não quiserem doar eu vou instituir imposto sobre o loteamento e vou tirar o dinheiro dos impostos.” Eu sei que deram, não resistiram muito, deram a escritura direto para as pessoas. Eu mandava o nome [do beneficiado] para a imobiliária e dava o dinheiro para ajudar a construir a casa. E assim fomos retirando e construindo a praça. Retiramos dali, do Lago das Rosas.151