• Nenhum resultado encontrado

Preferências dos atletas sobre o comportamento do treinador

CAPÍTULO 2 – REVISÃO DE LITERATURA

2.2 M ODELOS TEÓRICOS DE LIDERANÇA NO ESPORTE

2.2.3 Modelo Multidimensional de Liderança

2.2.3.4 Estudos baseados no Modelo Multidimensional de Liderança

2.2.3.4.1 Preferências dos atletas sobre o comportamento do treinador

A preferência dos atletas por determinados tipos de comportamento do treinador foi investigada em diversos estudos, por meio da ELE versão preferência. Apesar de alguns resultados contraditórios, de forma geral as pesquisas indicam que o sexo, idade, nível de habilidade e nacionalidade dos atletas, além do tipo de modalidade esportiva, afetam a preferência dos atletas. Isso não é surpreendente, tendo em vista que essa relação entre o comportamento preferido, as variáveis situacionais e características dos atletas está contemplada no MML (Figura 3).

Uma relação direta entre a experiência e a habilidade dos atletas com a preferência por comportamentos autocráticos e suporte social foi observada em alguns estudos (Chelladurai & Carron, 1983; Chelladurai & Saleh, 1978). Por exemplo, Chelladurai e Carron (1983) avaliaram atletas de basquetebol de quatro níveis competitivos e concluíram que a preferência por comportamentos de suporte social aumenta diretamente com o nível competitivo. Já Riemer e Toon (2001) estudaram tenistas de dois diferentes níveis de competição e verificaram que atletas menos habilidosos preferem que seus treinadores forneçam mais

feedback positivo em comparação com atletas mais habilidosos. Ainda nesse estudo, os tenistas que tinham treinadores do sexo masculino apresentaram maior preferência por suporte social em comparação com os tenistas treinados por mulheres, o que sugere uma influência do sexo do treinador na preferência dos atletas.

A maneira como a idade influencia a preferência dos atletas não está bem definida. Alguns estudos mostraram que atletas jovens têm preferência por comportamento democrático (Chelladurai, 1978; Chelladurai & Carron, 1981; Chelladurai & Saleh, 1978). Por exemplo, Lopes et al. (2004) identificaram o perfil ideal do treinador de voleibol, segundo as preferências de atletas da seleção brasileira juvenil feminina e masculina. Os resultados indicaram a preferência por comportamentos direcionados ao treino e instrução e ao suporte social. O estilo de decisão mais desejado pelos atletas foi o democrático, e não houve diferença na comparação entre os sexos.

Em outra análise relacionada à idade, Chelladurai e Carron (1983) demonstraram que a preferência pelo comportamento voltado para o treino e instrução diminui com o aumento da idade de atletas escolares, e depois volta a aumentar em atletas universitários. Já Hernandez e Voser (2012) constataram uma correlação positiva entre a idade dos atletas (10 a 78 anos) e a preferência pelo comportamento democrático, treino e instrução e feedback

autocrático e suporte social. Ou seja, conforme aumentou a idade dos atletas, aumentou também a preferência por comportamento democrático, treino e instrução e feedback

positivo, e diminuiu a preferência por comportamento autocrático e suporte social.

De acordo com alguns estudos de Chelladurai e colaboradores (Chelladurai, 1978; Chelladurai & Arnott, 1985), os atletas do sexo masculino tem preferência por comportamentos autocráticos, enquanto as mulheres preferem o estilo de decisão democrático do treinador. Porém, outros estudos mais recentes mostraram que o sexo dos atletas não exerce influência significativa na preferência dos atletas, sobretudo quando se trata de esporte de alto nível competitivo (Andrew, 2004;Riemer & Toon, 2001;Sumoski, 2002; Lopes et al., 2004).

Além dos fatores já citados, o tipo da tarefa (modalidade esportiva) parece exercer também o papel de moderador no processo de liderança. Segundo Chelladurai (1984), as modalidades podem ser classificadas de acordo com o nível de dependência e de variabilidade. A dependência está relacionada à extensão na qual o sucesso no desempenho esportivo exige a interação coordenada com outros integrantes da equipe. Nessa perspectiva, as modalidades esportivas podem ser classificadas como individuais (ex.: atletismo) ou coletivas (ex.: voleibol). Já a variabilidade está relacionada ao grau de mudanças no ambiente esportivo. Atividades de baixa variabilidade são classificadas como tarefas fechadas, onde se exige comportamentos relativamente estáveis (ex.: natação, levantamento de peso). Por sua vez, alta variabilidade envolve tarefas abertas, onde objetos ou pessoas se deslocam no ambiente esportivo e exigem ajustamento espacial e temporal por parte dos atletas (ex.: judô, basquetebol).

Considerando apenas o nível de dependência da tarefa, Beam, Serwatka e Wilson (2004), Chelladurai (1978) e Lindauer (2000) indicaram que os atletas de modalidades coletivas (basquetebol, beisebol, futebol americano, softball) preferem comportamentos

autocráticos e direcionados ao treino e instrução, enquanto os atletas de modalidades individuais (levantamento de peso, atletismo, golf, ginástica, natação) preferem o estilo democrático e feedback positivo. No entanto, ao analisarem atletas japoneses, Chelladurai et al. (1987) encontraram resultados opostos. Os praticantes de modalidades coletivas (basquetebol e voleibol) manifestaram preferência por comportamento democrático do treinador, enquanto os atletas das modalidades individuais (judô, kendo e kiudo) preferiram comportamento autocrático. Uma possível explicação para a contradição nesses resultados seria a diferença em relação à variabilidade das modalidades estudadas. Enquanto Chelladurai et al. (1987) estudou modalidades individuais abertas (judô, kendo e kiudo), os demais estudos investigaram modalidades individuais fechadas (levantamento de peso, atletismo, golf, ginástica, natação). Essa possível influência da interação da variabilidade e dependência da modalidade na liderança precisa ainda ser investigada.

Ainda considerando a relação entre o tipo da tarefa esportiva e a liderança, Hernandez e Voser (2012) realizaram um estudo com atletas brasileiros de ambos os sexos em ampla faixa etária (10 e 78 anos). Esses pesquisadores verificaram a influência do tipo de modalidade (individual x coletiva), da variabilidade da tarefa (fechada x aberta), do sexo e idade na preferência de liderança dos atletas. Os atletas das modalidades individuais (atletismo, judô e natação) apresentaram maior preferência por comportamentos do treinador direcionados ao treino e instrução, feedback positivo e comportamento democrático. Por outro lado, os atletas de esportes coletivos (futebol) apresentaram preferência por comportamento autocrático. Considerando a variabilidade da tarefa, os atletas de tarefas abertas (judô) mostraram maior preferência por suporte social e comportamento democrático, enquanto os atletas de tarefa fechada (natação e atletismo) preferiram comportamento autocrático e feedback positivo. Por último, considerando a interação das variáveis sexo e tarefa, os resultados indicaram que atletas do sexo masculino de tarefa aberta (judô) tiveram

maior preferência por comportamento democrático em comparação com atletas masculinos de tarefa fechada (natação e atletismo) e atletas femininos de tarefa aberta e fechada.

Por sua vez, Chelladurai et al. (1988) realizaram um estudo intercultural com atletas universitários japoneses e canadenses das modalidades badminton, basquetebol, hóquei, natação, atletismo, voleibol e luta greco-romana. Os pesquisadores compararam as respostas sobre as preferências dos atletas sobre o comportamento de liderança do treinador. Os resultados demonstraram que os atletas japoneses preferiram comportamento autocrático e de suporte social, enquanto os atletas canadenses preferiram treinamento e instrução, indicando a influência da nacionalidade nas preferências dos atletas.