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Teste da hipótese da congruência

CAPÍTULO 2 – REVISÃO DE LITERATURA

2.2 M ODELOS TEÓRICOS DE LIDERANÇA NO ESPORTE

2.2.3 Modelo Multidimensional de Liderança

2.2.3.4 Estudos baseados no Modelo Multidimensional de Liderança

2.2.3.4.4 Teste da hipótese da congruência

A tese central do MML é que a congruência entre os três estados do comportamento do líder (requerido, preferido e atual) influencia o desempenho e a satisfação dos atletas. O comportamento requerido pode ser evidenciado nos estudos apenas pela descrição das características contextuais e dos atletas, já que não é medido por uma escala. Dessa forma, a hipótese tem sido testada objetivamente pela análise da congruência entre os comportamentos preferido e atual, sobretudo sob a perspectiva dos atletas – através das preferências e percepções (Andrew, 2009; Chelladurai, 2007, 2012b; Riemer & Toon, 2001; Shields, Gardner, Bredemeier & Bostro,1997). Portanto, de forma simplificada, pode-se dizer que a hipótese da congruência pressupõe que quanto mais o treinador se comportar de acordo com as preferências dos atletas, maior será a satisfação e o desempenho.

As investigações iniciais sobre a hipótese da congruência obtiveram resultados inconsistentes (Chelladurai, 1984; Horne & Carron, 1985). Segundo Chelladurai e seus colaboradores (Chelladurai & Riemer, 1998; Riemer & Chelladurai, 1995; Riemer & Toon, 2001), isso se deve à forma inadequada pela qual a congruência foi analisada. Nesses estudos,

os pesquisadores criaram uma variável independente híbrida, derivada da discrepância entre dois tipos de comportamento (ex.: subtraindo as pontuações do comportamento percebido pelo preferido). Posteriormente, essa nova variável foi associada ao desempenho e satisfação dos atletas para verificar a hipótese da congruência. Esse procedimento gerou problemas na validade e confiabilidade dos dados, assim como produziu correlações espúrias (Andrew, 2009; Chelladurai & Riemer, 1998; Riemer & Chelladurai, 1995).

Portanto, embora intuitivamente atraente, a utilização dos escores derivados da discrepância entre as variáveis mostrou-se problemática (Riemer & Toon, 2001). Uma solução para essa questão foi sugerida por Riemer e Chelladurai (1995). Segundo esses pesquisadores, Cronbach (1958) demonstrou que a interação entre dois componentes (ex.: preferência x percepção) é equivalente à diferença entre esses mesmos componentes. Assim, para evitar os problemas gerados com a utilização de escores derivados da discrepância entre duas variáveis (ex.: preferência - percepção), dever-se-ia testar a hipótese da congruência por meio do modelo de regressão linear múltipla (MRLM), com as variáveis medidas e a interação entre elas. Nesse procedimento, os componentes principais (preferência e percepção) devem ser inseridos primeiramente na regressão, seguidos pela resultante da interação entre eles (preferência x percepção). Esse procedimento permite testar se a interação aumenta a variância explicada pelos componentes principais. Dessa forma, a hipótese da congruência é considerada válida se a interação entre os termos (preferência x percepção) aumentar significativamente a quantidade de variância explicada.

Esse método foi utilizado em diversos estudos (Andrew, 2004, 2009; Asli Çakioglu, 2003; Chelladurai & Riemer, 1998; Lopes, 2006; Riemer e Chelladurai,1995; Riemer & Toon, 2001) e tem sido considerado adequado para testar a hipótese da congruência. Por exemplo, Riemer e Chelladurai (1995) avaliaram o impacto da congruência entre a liderança preferida e percebida na satisfação de atletas de futebol americano. Os autores relataram que

a hipótese da congruência foi suportada apenas para a dimensão suporte social. Além disso, em relação às dimensões treino e instrução e feedback positivo, as percepções dos atletas foram melhores preditores da satisfação quando comparado com a preferência e a congruência.

Riemer e Toon (2001) também empregaram a MLRM para testar a hipótese da congruência com a satisfação dos atletas. A amostra foi composta por 148 atletas de tênis de dois níveis competitivos. Os atletas responderam a ELE (percepção e preferência) e a QSA-L, sendo que a análise foi feita considerando as quatro dimensões da satisfação separadamente. Como os termos de interação nas análises de regressão não foram significativos, os autores do estudo concluíram que a hipótese de congruência não foi suportada em qualquer das dimensões da satisfação.

A hipótese da congruência com a satisfação de tenistas também foi testada por Andrew (2009), por meio da MRLM. Porém, a amostra composta por 245 atletas respondeu uma versão modificada da ELE, além da QSA-L. Os resultados indicaram que a congruência entre apenas duas dimensões do comportamento (treino e instrução e comportamento autocrático) tiveram um impacto significativo sobre a satisfação. Tais resultados confirmam apenas parcialmente a hipótese da congruência.

Embora a o teste da congruência seja tradicionalmente realizado sob a perspectiva dos atletas (preferências e percepções), Shields et al. (1997) propôs que essa análise fosse feita a partir de dois tipos de congruência. Primeiramente a value congruence, que se refere à congruência entre as percepções e preferências dos atletas. Este é o método predominante nos estudos. Adicionalmente, a perceptual congruence, que se refere à congruência entre as percepções dos atletas e a autopercepção do treinador. Ou seja, indica a extensão na qual o atleta e o treinador concordam sobre o comportamento apresentado pelo treinador. A proposta de Shields et al (1997) é baseada em estudos de outras áreas que indicam que

divergências na perceptual congruence foram associadas a problemas interpessoais, tais como conflitos conjugais. Ao avaliarem a relação entre o comportamento dos treinadores e a coesão das equipes, Shields et al (1997) verificaram que embora ambos os tipos de congruência tenham sido associados à coesão, a associação foi mais forte no caso da

perceptual congruence. Os autores desse estudo concluíram que é fundamental que atletas e treinadores tenham percepções semelhantes sobre o comportamento do treinador. Essa proposta precisa ainda ser testada por outros estudos.

Este capítulo apresentou uma revisão de literatura sobre liderança, oferecendo uma descrição sucinta das principais abordagens teóricas. Foram destacados os resultados de algumas pesquisas sobre a liderança e satisfação no esporte, a partir da perspectiva do MML. Ficou evidenciada a escassez de trabalhos produzidos no Brasil sobre essa temática. O presente estudo baseia-se no MML e pretende contribuir na ampliação dos conhecimentos acerca da liderança e satisfação no esporte, tendo como contexto o esporte escolar.