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Preparação de citotóxicos e medicamentos biológicos

Capítulo III Relatório de Estágio em Farmácia Hospitalar

2. Organização e gestão dos Serviços Farmacêuticos

4.2. Preparação de citotóxicos e medicamentos biológicos

Tal como nas preparações anteriormente referidas, a preparação de citotóxicos também necessita de ser efetuada em meio asséptico. Mas a toxicidade associada a estes impõe uma manipulação muito cuidadosa pelo que devem ser executadas por pessoal devidamente habilitado e respeitando as normas instituídas14

.

Nos SFH do CHCB, tal como para a preparação de NP, também existe uma sala limpa exclusiva para a preparação de citotóxicos. Esta sala limpa difere da anterior, no que toca à pressão, que neste caso é uma pressão negativa (<0 mmH2O) de forma a que partículas

tóxicas existentes na câmara não saiam aquando a abertura de portas; e no que toca ao tipo de câmara, que neste caso é uma câmara de fluxo laminar vertical classe IIb, que fornece proteção do operador em relação ao preparado (a câmara de fluxo laminar horizontal não oferece esta proteção) e proteção do preparado e do ambiente de possíveis contaminações1.

equipa. Em relação ao equipamento, a diferença está no facto de este ser mais resistente e impermeável (p. ex. luvas de material resistente e impermeável próprias para a manipulação de citotóxicos, máscaras bico de pato e batas de manga comprida com fecho posterior reforçado)1. Também aqui existe o transfer para permitir passagem de material de e para a

sala limpa. O material é colocado num tabuleiro metálico, de modo a evitar possíveis acidentes e, tal como na preparação de NP, todo o material é pulverizado com álcool a 70%.

A preparação de citotóxicos é sempre realizada mediante uma prescrição médica com base em protocolos internacionalmente aceites e requere confirmação telefónica por parte do enfermeiro do serviço clínico em como o doente está capaz de realizar o tratamento, de modo a evitar possíveis desperdícios. A confirmação é registada num impresso próprio com a hora, permitindo avaliar o tempo médio de entrega das preparações. Este constitui um indicador de qualidade do serviço, na qual o tempo não deve ser superior a 2 horas3. Após a

confirmação, o farmacêutico efetua a validação da prescrição, regista informaticamente os lotes e validades de todos os fármacos e soluções de diluição, a utilizar na preparação. Após a validação é gerado o perfil farmacoterapêutico do doente, onde consta o seu nome, número do processo, idade, peso, superfície corporal, diagnóstico e protocolo prescrito. Este perfil é atualizado ao longo de novos tratamentos, servindo de consulta ao farmacêutico. Seguidamente é emitido o formulário de citotóxicos de cada doente, que contêm as informações referidas anteriormente, qual o protocolo e pré-medicação prescrita, com respetivas indicações acerca da administração (vias, ordem e tempo de administração) e volume de solvente utilizado para diluir o citotóxico, assim como as indicações do dia e do ciclo e médico prescritor. O formulário é impresso em duplicado, em que uma segue com a medicação para os serviços clínicos e a outra é arquivada junto ao perfil farmacoterapêutico do doente nos SFH. Também são impressos os rótulos contendo as informações anteriores, sendo a palavra "citotóxico" destacada com marcador fluorescente.

A câmara de fluxo laminar deve ser ligada 30 minutos antes do início da preparação e aquando a manipulação, as superfícies da câmara são limpas e desinfetadas com álcool a 70%, tal como é procedido aquando a preparação de NP1. A manipulação destes medicamentos

necessita de cuidados especiais de modo a evitar possíveis derrames: não se utilizam agulhas nas seringas, mas sim spikes em seringas com conexão luer-lock; utilizam-se seringas com capacidade acima do volume necessário; utilizam-se compressas esterilizadas aquando o manuseio de ampolas contendo citotóxicos e os citotóxicos sobrantes são colocados em

bioboxes para posterior incineração. Caso o citotóxico sobrante possa ser utilizado é feito o

seu registo com data, operador que manipulou e respetivo prazo de validade. Outra medida implementada de forma a evitar possíveis acidentes foi o transporte destes medicamentos em recipientes de plástico resistentes devidamente identificados. Em caso de um derrame, os SFH possuem “kits” SOS em várias zonas. Estes “kits” são constituídos por vestuário descartável e impermeável, utensílios para a manipulação dos resíduos existentes e por material de demarcação para sinalizar que a zona se encontra vedada.

Após preparação, todas os citotóxicos são embrulhados em papel de alumínio, de modo a ser identificado rapidamente o tipo de produto aquando a sua presença nos serviços clínicos, e são colocados os rótulos. A medicação preparada e a pré-medicação são colocadas em sacos individualizados por doente, acompanhados da ficha de preparação. Os sacos são dispostos em maletas térmicas devidamente identificadas com a sinalética de cor vermelha com a designação “citotóxico” e são enviadas para os serviços clínicos. No final de cada dia é registado num mapa para cada doente, os fármacos administrados e respetiva dose, assim como as quantidades de solventes utilizadas, sendo verificado os respetivos lotes e validades e imputado o seu consumo. Desta forma é verificado se está tudo em conformidade.

O controlo da qualidade das preparações é efetuado de forma igual ao controlo da NP, através do registo diário da temperatura e da pressão da câmara e o controlo microbiológico mensal e trimestral, sendo estes últimos indicadores de qualidade desta área3.

Todos os operadores de citotóxicos possuem uma vigilância médica regular e periódica, de forma a detetar possíveis patologias relacionadas com a manipulação de citotóxicos1. Durante o estágio tive a oportunidade de colaborar na reconstituição de

irinotecano e cetuximab para um doente com neoplasia do cólon metastizada.