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A presença muçulmana no concelho

Devido aos conflitos internos que enfraqueceram o reino visigótico, este não conseguiu resistir às invasões islâmicas vindas do Norte de África, em 711. Ao período visigótico segue-se o longo período muçulmano que trouxe uma forte influência civilizacional à Península Ibérica. No plano artístico, uma vez que não era permitida a representação figurativa desenvolveu-se a decoração anicónica. Este tipo de decoração encontra a sua máxima expressão, no concelho, na pintura da cerâmica. O costume de revestir os edifícios, exteriormente e/ou interiormente, influenciou profundamente a decoração das igrejas cristãs. Todas as igrejas do concelho de Rio Maior são decoradas interiormente com silhares de azulejos. Os motivos, na sua maioria, são geométricos. Só a partir do século XVII/XVIII existem registos de representações antropomórficas nomeadamente, na Igreja Paroquial de Santa Maria Madalena, nas Alcobertas; na Igreja Paroquial

104 Vide José António Ferreira de Almeida (orientador e coordenador), “Romanos e Visigodos”, Tesouros Artísticos de

Portugal, Porto, Selecções do Reader’s Digest, 1980, p. 18.

105 Cit. Herbert Read, “Introdução à arte cristã”, O Significado da Arte, op. cit., p. 82.

106 Vide João Medina (dir.), “A Antiguidade Tardia e a Desagregação do Império”, História de Portugal: Dos tempos

pré.históricos aos nossos dias, O Mundo Luso-Romano (II), Portugal Medieval (I), op. cit., pp. 214-215.

107 Vide Idem, Ibidem, p. 230 108

Vide Peter Brown, “Os Cristianismos Regionais”, A Ascensão do Cristianismo no Ocidente, op. cit., pp. 235-236.

35 de Nossa Senhora do Rosário, na Azambujeira; e na Igreja Paroquial de Santo António, nas Fráguas.

Do ponto de vista administrativo, a região de Rio Maior pertencia ao distrito de Santarém e à província de Balata110, que desapareceu em 1147, com a conquista de Santarém e de Lisboa. Deste período, no concelho de Rio Maior, subsiste um importante património imaterial, nomeadamente, lendas locais e topónimos alusivos à presença muçulmana como a “Torre mourisca de S. João da Ribeira”, a “Fonte Mourisca de Assentiz” e os Silos das Alcobertas, que a tradição popular denomina de “potes dos mouros”. As denominações deste património imóvel são fruto da memória local mas não existem estudos científicos que comprovem de que se trate de construções muçulmanas.

De acordo com a tradição local, a Igreja Paroquial de São João Baptista é uma adaptação de uma antiga mesquita que existiria neste local, construída em 1111. A torre, que a população denomina como a “Torre Mourisca”, teria como função a vigia dos territórios. Esta torre circular coroada por merlões assemelha-se ao modelo de minarete agulha111, como o seu tecto cónico pontiagudo.

Nesta região é ainda de destacar uma lenda associada à presença árabe, descrita num painel de azulejos na praça da Igreja, que conta que durante a ocupação muçulmana os mouros terão enterrado dois potes no Monte de S. Gens. Um terá ouro e enriquecerá quem o encontrar e o outro terá a peste e trará a desgraça.

Considera-se ainda que a influência islâmica no concelho de Rio Maior ainda se fez sentir na economia: houve um desenvolvimento das técnicas agro-pecuárias, dado que os terrenos do termo de Santarém eram considerados férteis112; e melhoraram a exploração de sal-gema de Rio Maior113.

Portanto, grande parte dos vestígios da ocupação muçulmana desapareceram nos territórios que formam actualmente o concelho, mas a sua presença foi preservada na memória do povo através de lendas e da toponímia.

110 Vide Helema Catarino, “Ocupação Islâmica”, História de Portugal: Dos tempos pré.históricos aos nossos dias, O

Mundo Luso-Romano (II), Portugal Medieval (I), Vol. III, João Medina (dir.), João Medina (dir.), Amadora, Edita Ediclube, Edição e Promoção do Livro, 2004, p. 304.

111 Vide Gabriele Mandel Khân, “Cerâmica”, Dicionário das Religiões: Islão II, Milão, Electa, 2006, p. 57 112

Vide Idem, Ibidem, p. 317.

113 Vide Idem, Ibidem, p. 320.

“Torre mourisca” da Igreja Paroquial S. João Baptista, em S. João da Ribeira. Fotografia tirada a 22-02-2011.

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5. A presença de ordens religiosas durante a Idade Média

Os cristãos da Península Ibérica que não se submeteram ao domínio muçulmano foram empurrados para Norte, formando-se assim o Reino das Astúrias, que nunca esteve sob o jugo islâmico. A partir deste reino partiram ofensivas contra os territórios árabes e formaram-se diversos Reinos Cristãos. Este período ficou conhecido como a Reconquista. Esta denominação teve origem no clero asturiano114 que associou a estas batalhas uma missão ideológica das monarquias cristãs contra os Infiéis.

Durante a formação de Portugal, era necessário reorganizar e repovoar as zonas recém- conquistadas, tanto para aumentar o seu proveito económico como para a defesa dos territórios contra a ameaça islâmica. As políticas aplicadas no Reino variaram tanto no espaço como no tempo ao longo da Idade Média115. Todavia, em traços gerais, nesta época predominava a sociedade senhorial, em que os monarcas doavam grandes áreas de território à aristocracia guerreira (senhorios laicos) e às ordens religiosas (senhorios eclesiásticos). Para além dos senhorios, e das propriedades régias (reguengos) o território estava dividido em concelhos, que eram constituídos por comunidade de homens livres que gozavam de relativa autonomia administrativa, directamente subordinadas ao rei.

Devido a continuar inédito um vasto espólio documental, dispersos por vários arquivos, existe pouca informação disponível sobre Rio Maior durante as Idade Média e Moderna. Porém, sabe-se que a aldeia de Rio Maior pertencia ao termo de Santarém, mas que era considerada património real116, à semelhança de outras terras ao redor desta vila, tais como, Alpiarça, Azóia de Baixo, Tojosa e Valada. Este facto é novamente confirmado nas Inquirições de 1258117, durante o reinado de D. Afonso III. O que também comprova a importância económica desta aldeia, que assentava nas salinas, na exploração mineira, na produção agrícola e na pastorícia. As produções agrícolas mais importantes eram o trigo, centeio, cevada, milho-alvo, painço e vinho118. A localidade de Rio Maior apresentava, durante a Baixa Idade Média, uma organização urbana com a

114 Vide Bernardo Vasconcelos e Sousa, “Do Condado Portucalense à Monarquia Portuguesa (Séculos XI-XII)”,

História de Portugal, Rui Ramos (coord.), Lisboa, A Esfera dos Livros, 2009, p. 18.

115

Aconselha-se a obra de José Mattoso (coord.), História de Portugal: A Monarquia Feudal (1096-1480), Segundo Volume, Lisboa, Círculo de Leitores, 1993.

116 Vide Joaquim Veríssimo Serrão, História de Portugal: Estado, Pátria e Nação (1080-1415), Vol. I, Lisboa, Editorial

Verbo, 1978, pp. 329-330.

117 Vide Joaquim Veríssimo Serrão, História de Portugal: Formação do Estado Moderno (1415-1495), Vol. II, Lisboa,

Editorial Verbo, 1978, p. 73.

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37 construção de um Paço Real (1370?119) e que recebeu várias visitas ao longo da sua história: D. Fernando terá frequentado Rio Maior para caçadas; a Rainha D. Leonor Telles ter-se-á hospedado no Paço Real da localidade, na altura do assassinato do seu amante, Conde de Areeiro; e o infante D. Pedro deu aqui descanso às suas tropas120.

Conhece-se a presença de duas Ordens Religiosas no Concelho durante a Idade Média: a Ordem militar dos Templários e a Ordem de Cister. Em relação à primeira sabe-se que o comendador da Ordem dos Templários, João Domingos, comprou em 1177, um poço nas Marinhas do Sal a Pero Baragão, como comprova a “Doacom de falinas e Rio mayor”121. E quanto à Ordem

de Cister teve um papel essencial no desenvolvimento da economia e da fixação da população em Portugal122, que foi um dos países que mais sofreu a sua influência, nomeadamente na zona da Estremadura. A sua fundação principal foi o Mosteiro de Alcobaça, construído na segunda metade do século XII. Rio Maior não pertencia aos domínios do couto de Alcobaça, estando o seu limite marcado pelo Arco da Memória123, nos Casais da Memória, como é possível observar no mapa Os

concelhos da Nazaré e de Alcobaça e, em sobreposição, os limites dos Coutos Cistercienses124.

Porém, esta ordem possuía unidades de exploração nos territórios que formam actualmente o concelho de Rio Maior, como granjas, casais ou quintas, que exploraria em seu proveito. A sua produção principal, nesta região, seria a vinha125 e possuía propriedades126 e “indústrias transformadoras”127

, como moinhos de água e azenhas. De acordo com as Ordenações Afonsinas, competia à Coroa a exploração dos vieiros de metal. Porém, o monarca podia alienar esse direito, o que parece que ocorreu com Alcobaça, que teve acesso a um vieiro muito próximo de Rio Maior. Em suma, a Ordem de Cister detinha uma influência económica nesta zona.

119 Vide

http://www.igespar.pt/pt/patrimonio/pesquisa/geral/arqueologico-endovelico/sitios/?sid=sitios.resultados&subsid=56215.

120 Vide Ricardo Santos Pinto, “Evolução histórica”, Rio Maior, Maior Futuro…, op. cit., p. 33. 121 Vide “Doacom de falinas e Rio mayor” in Anexos.

122

Vide Joaquim Veríssimo Serrão, História de Portugal: Estado, Pátria e Nação (1080-1415), op. cit., pp. 173-174.

123 No concelho de Rio Maior existe uma reconstituição do denominado Arco da Memória que se julga tratar-se de um

dos marcos dos limites do couto de 8 de Abril de 1153, que estaria alinhado com o outro marco limite, a Nascente, da Serra dos Candeeiros e a Poente, com a Foz do Rio Vau em Salir do Porto. Este Arco da Memória era encimado pela Estátua de D. Afonso Henriques e com a seguinte inscrição: “O Sancto Rei Dom Afonso Henriques Fundador de Alcobaça”.

124 Mapa cedido por Alberto Guerreiro, Técnico Superior de Museologia, CMA -Pelouro da Cultura, Comissão

Instaladora do Museu dos Coutos de Alcobaça, a 22-12-2010.

125 Vide Iria Gonçalves, O Património do Mosteiro de Alcobaça nos séculos XIV e XV, Lisboa, Universidade Nova de

Lisboa, Faculdade de Ciências Sociais e Humana, 1989, página 83.

126

Vide Idem, Ibidem, p. 108

127

38 Mapa cedido por Alberto Guerreiro, Técnico Superior de Museologia, CMA -Pelouro da Cultura, Comissão Instaladora do Museu dos Coutos de Alcobaça, a 22-12-2010.

A povoação de Rio Maior era ainda servida por importantes vias de comunicação128, que a ligavam a Alcobaça, Leiria, Lisboa, Óbidos, Santarém e a Turquel. Logo, é de concluir que esta povoação seria um ponto de passagem relativamente importante.

128

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6. Arte cristã medieval

Ao longo da Idade Média os rituais e os objectos de culto cristão foram-se modificando. Esta evolução religiosa foi acompanhada por novas expressões artísticas. A arte cristã entre os séculos XII e XV conheceu duas correntes artísticas: o estilo românico e o estilo gótico. A arte românica caracterizava-se pela incorporação de elementos artísticos nórdicos (ornamentos entrelaçados e símbolos abstractos) e por uma continuidade dos modelos romanos visível na sobriedade das obras arquitectónicas e escultóricas. São raros os exemplos de peças escultóricas móveis que chegaram até à actualidade129. A maioria das que se conhecem está incorporada nos edifícios como elementos decorativos das suas fachadas e paredes. Pertenciam, assim, a um determinado contexto arquitectónico.

A arquitectura gótica tinha como característica dominante o predomínio da verticalidade à horizontalidade. A escultura tinha a finalidade de decorar as fachadas dos edifícios e, a partir daqui, ocorreu um desenvolvimento em número e qualidade da escultura móvel130, independente do contexto arquitectónico.

O material de eleição utilizado para as estruturas arquitectónicas românicas e góticas era a pedra, durável, mas era cara e inacessível para as pequenas povoações. Estas usavam a madeira, material perecível, para a construção dos templos. Logo, no concelho de Rio Maior não existe nenhuma igreja ou capela que se possa afirmar que pertence a uma dessas correntes artísticas. Por outro lado, existem obras móveis que pertencem ao estilo gótico.

Os territórios que formavam o concelho localizavam-se geograficamente num local privilegiado que permitiu o contacto com várias povoações detentoras de obras-primas desta época: Rio Maior pertencia ao termo de Santarém, a “capital do Gótico”131

; o Mosteiro da Batalha, obra do século XV do mestre Afonso Domingues, a cerca de 40 km de Rio Maior, era uma “autêntica escola de escultores e arquitectos cuja influência se fez sentir em todo o País”132; e, como já se observou, o Mosteiro de Alcobaça que tinha nestes territórios interesses económicos. Portanto, houve várias vias para a introdução da arte gótica neste concelho que teve como consequência a produção de obras escultóricas que se podem atribuir a este período.

129 Vide José António Ferreira de Almeida (orientador e coordenador), “Românico”, Tesouros Artísticos de Portugal,

op. cit., p. 21.

130 Vide Penelope J. E. Davies e outros, “Arte Gótica”, op. cit., p. 431.

131 Vide Vítor Serrão, “Santarém medieval: a capital do Gótico”, Santarém, Lisboa, Presença, 1990, p. 20. 132

Vide José António Ferreira de Almeida (orientador e coordenador), “Gótico”, Tesouros Artísticos de Portugal, op. cit., p. 22.

40 No concelho de Rio Maior, durante a época medieval, são de destacar as seguintes peças: a imagem de Santa Maria Madalena, que se encontra na fachada da Igreja Paroquial de Santa Maria Madalena, nas Alcobertas; a imagem que se pensa ser de São Martinho de Dume, na capela do Espírito Santo, em Teira; a imagem de Santo Antão, na Igreja de São João Baptista, em São João da Ribeira; a imagem de São João Baptista, na Igreja de São João Baptista, em São João da Ribeira; a imagem de Nossa Senhora do Leite, na Igreja de São João Baptista, em São João da Ribeira; a imagem de Nossa Senhora da Escusa, na capela de Nossa Senhora da Escusa, em Atágueda; a imagem de Nossa Senhora da Barreira, que se encontra na capela de Nossa Senhora da Barreira, em Ribeira de São João; a imagem de São Brás, na capela de São Brás, em Malaqueijo; a imagem de São Gregório Magno, na Igreja Paroquial de S. Gregório Magno, na Arruda dos Pisões; a imagem de Jesus Cristo, na Igreja Paroquial de Nossa Senhora da Conceição, em Rio Maior; e a imagem de Santo André, na capela de Santo André, na Ribeira de Santo André.