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3. A Caieira da Barra do Sul

3.5. Preservação Ambiental: Parque da Serra do Tabuleiro

O Parque Estadual da Serra do Tabuleiro foi criado em 06 de junho do ano de 1975 através do decreto 1260/75. É a maior unidade de conservação do Estado, ocupando uma área de 1% do território de Santa Catarina, com extensão de 87.405 hectares. Abrange a área de nove municípios: Florianópolis, Palhoça, Santo Amaro da Imperatriz, Águas Mornas, São Bonifácio, São Martinho, Imaruí, Garopaba, Paulo Lopes. Engloba também as Ilhas de Fortaleza de Araçatuba, Ilha do Andrade, Papagaio Pequeno, Três Irmãs, Moleques do Sul, Siriú, Coral, dos Cardos, e aponta sul da Ilha de Santa Catarina, ou seja, Naufragados.

O Decreto nº 2.335, de 17 de março de 1977, declara de utilidade pública e interesse social, para fins de desapropriação, áreas de terras destinadas ao Parque Estadual da Serra do Tabuleiro.

V - a Ponta dos Naufragados, situada na extremo sul da Ilha de Santa Catarina, no Município de Florianópolis, com limites, ao norte, a partir da foz de um córrego sem denominação, que deságua no Costão da Guarita, e subindo por ele, em direção a leste, até a sua nascente; daí, por linha seca, sempre em rumo leste, até encontrar outro ribeirão, também sem denominação, em um local onde forma acentuado cotovelo, subindo por ele até a nascente, no sentido do leste, dali, por linha seca, ainda mesmo rumo, até encontrar a nascente do outro córrego, descendo então por ela até sua foz no Oceano Atlântico, entre a Ponta do Pasto e Saco da Baleia; deste ponto, pela linha do mar contornando a ponta sul da Ilha de Santa Catarina até encontrar o córrego sem denominação inicialmente referido;27

Apesar do decreto de desapropriação das terras ser de 1977, apenas no inicio dos anos 90 foi feito um levantamento das casas existentes naquela praia, pela FATMA juntamente com a Polícia Ambiental do Estado de Santa Catarina, e passou a haver, da parte dos órgãos competentes, alguma fiscalização nas construções irregulares. Na prática, o que há desde então é a permissão para os antigos moradores continuarem a residir naquela praia, e uma recusa em permitir outros moradores no local. Não houve até a presente data nenhuma desapropriação efetiva de terras na praia dos Naufragados, com o pagamento da indenização às famílias. Com relação aos morros em torno da área da Reserva, há uma constante fiscalização para que não

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haja caça, nem desmatamento para plantio de roças. E isso tem sido relativamente respeitado, em parte por causa da fiscalização que atua sempre que há alguma denúncia28, e em parte porque os moradores nativos deixaram de ser agricultores (ou de viver apenas da agricultura) para tornarem-se assalariados.

Com a Ponta dos Naufragados fazendo parte da reserva ambiental, a Caieira passou a ser considerada área de entorno da unidade de conservação, e com isso, ficou sujeita à legislação de proteção ambiental. Na lei número 1260/75 fica definido que a área que engloba a Caieira passa a ser zona de amortecimento:

ZONA DE AMORTECIMENTO: o entorno de uma Unidade de Conservação, onde as atividades humanas estão submetidas a normas e restrições específicas, com o propósito de minimizar a pressão e os impactos decorrentes da ação humana nas áreas vizinhas à área protegida;29

Se na incorporação da Ponta dos Naufragados à reserva da Serra do Tabuleiro não houve pagamento de indenização, mesmo que a legislação assim determinasse, com a incorporação dos morros da Caieira na zona de amortecimento do entorno da reserva ambiental, não houve sequer a intenção ou projeto de pagamento de indenizações pelos prejuízos que a população da Caieira pudesse ter.

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E elas ocorrem com alguma freqüência, principalmente pelos próprios moradores. Num lugar em que todos sabem da vida de todos, é muito difícil se ter uma roça no morro escondido dos outros moradores. De certa forma o discurso da preservação foi assimilado pelos moradores nativos e é o que faz os moradores não nativos e os veranistas freqüentar e ir morar na Caieira.

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(http://www.mp.sc.gov.br/legisla/est_leidec/lei_estadual/2001/le11986_01.htm) arquivo ministério publico; pesquisa feita em 03/05/05 - LEI Nº 11.986, DE 12 DE NOVEMBRO DE 2001.

Mapa sul da Ilha de Santa Catarina, a área demarcada com pinheirinhos é a do Parque Estadual Serra do Tabuleiro.

3.6. A Caieira sob a perspectiva da cena turística

O passado colonial “açoriano” é resgatado nos guias e folhetos turísticos como um elemento importante que caracteriza todo o distrito do Ribeirão. O casario antigo do tempo da colonização, os restaurantes a beira mar que servem frutos do mar e comida açoriana, a natureza preservada, a tranqüilidade do lugar, uma população com muitos idosos são aspectos listados como definidores da açorianidade. Tudo isso faz parte da “natureza” destes descendentes de açorianos que guardam desde os tempos da colonização as características trazidas por seus antepassados.

A Caieira é apresentada nos guias turísticos com ênfase em dois aspectos: sua geografia e sua gente. A primeira é enfatizada na apresentação de um lugar em que as matas são preservadas, e as trilhas são boas para caminhadas e para turismo de aventura. As gentes são pacíficas, e guardam características do passado colonial açoriano. Geralmente a Caieira é associada com a praia dos Naufragados e com o distrito de que faz parte, o Ribeirão da Ilha (IPUF, 2000).

Um dos mais importantes jornais diários de circulação estadual publica a Revista de Verão DC, com matérias sobre lugares para o turista visitar em Florianópolis e municípios próximos. Em todos os anos são publicadas matérias sobre o distrito do Ribeirão da Ilha, Caieira da Barra do Sul e a praia dos Naufragados. Em todas estas reportagens a ênfase recai sobre o aspecto tradicional do bairro, em que a população guarda características de seu passado colonial e a mata preservada. Privilegia-se nestas matérias o sossego do lugar, e a natureza, com fotos da paisagem, do casario em estilo colonial açoriano, e de pessoas idosas que aparecem dando depoimentos sobre suas memórias dos tempos antigos.

Ao procurar nos mecanismos de busca da internet30 pelo nome Caieira da Barra do Sul temos uma lista de homepages, todas com o mesmo teor: apresentam a Caieira como um lugar lindo, de matas preservadas, sossegado, bom lugar para se fazer caminhadas e o turismo de aventura com passeios de barco e trilhas. A tranqüilidade do lugar e os caminhos no meio da mata são atrativos para aqueles que pretendem fugir dos grandes centros urbanos e entrar em

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contado com a natureza. No entanto, esta é uma forma um tanto caricaturizada de se retratar o lugar e seus moradores.

Todos os guias turísticos de Florianópolis que pesquisei referem-se ao nome Caieira da Barra do Sul. No entanto, mesmo que a Caieira conste nos guias turísticos e receba diversos visitantes nos dias de verão a localidade é relativamente pouco conhecida. Os turistas quando vêm à Caieira passam pelo lugar sem se aterem demasiadamente ao bairro. Como a intenção é ir até os Naufragados, a Caieira serve como um lugar de passagem, e muitas vezes passa desapercebida. São muitos os turistas que passam pela Caieira na visita à praia dos Naufragados. Em dias de verão a estrada fica movimentada e os estacionamentos bastante cheios. Poucos são aqueles que se detêm nas praias da Caieira.

Na ilustração abaixo temos um exemplo da forma como as informações sobre Caieira são dispostas nas páginas da internet que incentivam o turismo.

Praias:

Caieira

da

Barra

do

Sul

Pequenos sítios dão à Caieira da Barra do Sul um aspecto interiorano. No final da comunidade está a trilha para a praia de Naufragados. Quando o tempo está bom, pescadores locais fazem o transporte de barco para a histórica Fortaleza de Nossa Senhora da Conceição de Araçatuba. Para mais informações sobre Caieira da Barra do Sul , clique aqui. Data da última foto incluída nesta página: 13/04/2004 31

Apesar de haver um link propondo mais informações sobre a Caieira da Barra do Sul, só é possível encontrar informações sobre um roteiro sul de visitas, que instrui o turista a seguir do aeroporto até os Naufragados. Pode-se ler sobre os Naufragados e sobre o Ribeirão, a Caieira fica esquecida, ou é indicada como parte do caminho para os Naufragados. A Caieira praticamente não tem estrutura turística para atender os visitantes. Não há restaurantes, pousadas, e nem mesmo um bar que sirva lanches e petiscos a beira-mar, e os bares que existem não são atrativos para os turistas das classes médias urbanas que freqüentam a praia dos Naufragados.

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