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O editorial da primeira semana de maio de 1963 cobrava do Congresso Nacional mais rapidez na aprovação das reformas dentre quais a mais urgente, a Reforma Agrária:

O ilustre Congresso Nacional, através de alguns de seus membros, alega, agora que o mesmo necessita de tempo para discutir a Reforma Agrária e que a Reforma não se faz da noite para o dia. Eles acham pouco vinte anos, pois, há cerca de vintes ou mais anos que a Reforma Agrária se encontra no Congresso. (Fôlha Trabalhista, 05 de maio de 1963, p. 02).

Portanto, a proposta de reforma agrária estava no Congresso há pelo menos 20 anos e, no entanto, ainda era pedido mais tempo para sua discussão. Ou seja, “as forças reacionárias, através de suas vozes no Parlamento, tinham, segundo o jornal, ainda o “cinismo” de alegarem que precisam de tempo, que não discutiram sob pressão do povo". Assim, segundo o editorial, depois de todo esse tempo o povo tomava consciência do assunto e passava a “exigir uma solução, sem mais delongas, por já ter esperado demais.

Diante da atitude dessas “vozes” que movidas pelo “cinismo” se dizem resistente à pressão do povo, o jornal ironiza: “Brilhante rasgo de coragem. Não discutem nada sob pressão. Entretanto, mudaram o regime, numa noite, por covardia de enfrentarem uma baionete”. (Fôlha Trabalhista, 05 de abril de 1963, p. 02). Portanto, mais uma vez, estaria o Congresso agindo covardemente, se antes agira assim quando da crise de sucessão presidencial em 1961, agora essa deslealdade se expressava na alegação de que era preciso mais tempo para estudar, discutir e votar as reformas.

Em tom de revolta, afirma o editorial que alguns membros do congresso não estavam pedindo “mais tempo” com o intuito de analisar o assunto, na verdade, queriam mesmo era retardar mais e mais a reforma agrária. E ironiza novamente: "Querem mais outro ano, mais 20 ou 30 ou 50 anos, para se conservarem em seus privilégios, enquanto o povo permanece nas mesmas condições de miséria, pois eles necessitam estudar mais cuidadosamente o assunto”. (Fôlha Trabalhista, 05 de abril de 1963, p. 02)

Porém, enquanto era pedido mais tempo para estudar, discutir e votar o projeto em questão, como ficaria o povo? Em tom dramático responde o editorial que,

o povo vá se aguentando como puder, que eles vão cuidar do assunto. É questão de tempo. Se os estômagos dos ilustres parlamentares estão cheios e,

naturalmente, podem esperar, justamente porque estão cheios, o povo em grande parte passa forme e esta tem de ser atendia com urgência. (Fôlha

Trabalhista, 05 de maio de 1963, p. 02).

Para solucionar a situação acima mencionada e agilizar o processo de votação, é recomendado aos leitores que ficassem de sentinela em relação ao Congresso, e, sobretudo oferecessem apoio aos "autênticos representantes" do povo. Da mesma forma, era preciso repudiar os "traidores”, "os representantes das classes dominantes", aos quais interessava que as reformas não avançassem e, consequentemente, a situação em nada fosse alterada.

Assim, dentre os congressistas que estariam ao lado do povo, e que, portanto, eram favoráveis às reformas, o editorial cita o deputado Brizola, a quem as classes dominantes:

odeiam porque, embora parlamentar, não compactua com as irregularidades do Parlamentar, não compactua com as irregularidades do Parlamento, com suas traições ao povo e, mais ainda, porque ele lá dentro, conhecendo de perto tudo que ali se faz, está dizendo e mostrando ao povo o que é e o que tem sido ao Congresso Nacional. (Fôlha Trabalhista, 05 de abril de 1963, p. 02).

E ainda em defesa de Brizola, o jornal afirma que este se caracteriza como “um agitador de consciências” visto que estava despertando o país para a solução dos seus problemas à medida que pressionava os outros parlamentares para o cumprimento do seu dever.

O 1º de maio é uma data “consagrada ao trabalhador, a todos que, indistintamente, constroem a riqueza da sua nação” e naquela chuvosa quarta feira, a primeira do mês de maio de 1963, segundo noticiou o periódico, essa data foi comemorada “entusiástica e festivamente” em Estância, mesmo que não em praça pública como estava previsto. O fato é que, naquela oportunidade,

usaram da palavra o comerciário João Freire Amado, pela Associação da Classe, o reverendo Sebastião Armindo, pelo Diretório Estudantil Gumersindo Bessa, levando aos trabalhadores o apoio e a solidariedade dos estudantes as suas justas reivindicações, o sr. João Rosa do Nascimento, presidente do Sindicado dos Trabalhadores nas Indústria de Fiação e Tecelagem da Estância e, por último, o Prefeito Pascoal Nabuco ressaltando a data e chamando a atenção de todos para o momento que vivemos. (Fôlha

A partir desse trecho é possível notar como o jornal apoiava os movimentos e as lideranças sindicais e estudantis, mostrando-se representante dessas entidades. Tanto que, o Prefeito Pascoal Nabuco aproveitou a ocasião e

reuniu em seu Gabinete, a tarde, os lideres estudantis da nossa cidade e com um representante do CPC, o jovem Alexandre Diniz, que fez ligeira, mas eficaz exposição do que seja o CPC e sua missão, resultando de positivo, daquela reunião, a criação de um CPC aqui em Estância, como era do desejo do nosso Prefeito. [...] O prefeito Pascoal Nabuco está vivamente

interessado na criação e funcionamento do CPC, pois vê nele um

instrumento eficiente para a educação e politização do nosso povo. (Fôlha

Trabalhista, 05 de maio de 1963, p. 01. Grifos nossos).

Como se nota, havia o interesse em criar um centro popular de cultura nos moldes do que já existia em Aracaju em outras cidades do Brasil. A propósito, O Centro Popular de Cultura (CPC) surgiu em 1962 no Rio de Janeiro por um grupo de intelectuais de esquerda com a colaboração com a União Nacional dos Estudantes (UNE), com o propósito de produzir e divulgar uma "arte popular revolucionária". Os artistas e intelectuais do CPC entendiam que toda manifestação cultural deveria ser concebida justamente "sob a luz de suas relações com a base material". Defendiam também que a arte popular só existe dentro da política, ademais alertavam para a necessidade urgente de o homem brasileiro entender o mundo ao seu redor, e com isso romper os limites da situação atual marcada pela opressão.

Ainda referindo-se às reformas, o jornal, através do artigo acima, intitulado “Leonel Brizola, reformas a qualquer preço”, Cita o deputado e esclarece que “o líder nacionalista” declarou – quando esteve em Natal - que não estava ali para pedir votos, mas para “atear mais fogo na fogueira” e anunciar a pressão contra o Congresso de “entreguistas e brasileiros vendidos”, que se mantinham indiferentes aos anseios do povo e às reformas de base, afirmando categoricamente que estas seriam conseguidas a qualquer preço, e que naquele momento o povo estava realmente diante de uma “encruzilhada” a partir da qual o futuro do país teria de ser decidido de qualquer maneira. O periódico acrescenta ainda: “Em sua fala o deputado Brizola advertiu o povo contra a ação dos militares gorilas que querem levar o país ao caos e instaurar um regime de exceção comandado pelas forças mais retrógradas do país”. (Fôlha Trabalhista, 05 de maio de 1963, p. 01).

Como é perceptível, através desse artigo o jornal procura manifestar o posicionamento firme do deputado Leonel Brizola, destacando que este se mostrava irredutível com relação as

reformas de Base. Segundo Brizola, o Congresso estava cheio de “gorilas” que queriam levar o Brasil uma ditadura cujo controle seria das "forças mais retrógradas do país”. De fato, diante dessa "encruzilhada", na qual se encontrava o povo brasileiro, os rumos do país teriam que ser decididos.

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