• Nenhum resultado encontrado

2. ESTUDO DE RECEPÇÃO PELA VIA DAS MEDIAÇÕES COMUNICATIVAS DA CULTURA

2.1 ENTENDENDO A RECEPÇÃO COM JESÚS MARTÍN-BARBERO

2.1.1 Pressupostos metodológicos

Como já apresentado na introdução, por consenso das próprias mulheres entrevistadas e das demais integrantes da Associação, o nome verdadeiro do grupo não é utilizado nesta pesquisa. Ao propormos a definição de um nome fictício, as integrantes optaram por não o fazer por questões de identidade da Associação. Os nomes das integrantes, a serem apresentados ao longo do trabalho, são fictícios e foram escolhidos por elas próprias.

As mulheres que participam desse trabalho aceitaram participar da pesquisa estando cientes de todos os procedimentos metodológicos realizados, os quais foram explicados durante um dos encontros com as informantes: observação das participantes durante as reuniões da Associação, observação do cotidiano das entrevistadas e da assistência da telenovela nas residências – que ocorreu em menor medida - entrevistas semiestruturadas, individuais e gravadas e aplicação individual do texto em ação. A dinâmica da assistência coletiva, a ser explicada logo mais neste subitem, foi apresentada em um dos encontros da Associação e todas aceitaram fazer parte.

A seguir, na figura 2, apresentamos a amostra com base em dados socioeconômicos:

Figura 2 – Quadro com dados socioeconômicos das entrevistadas

Fonte: Elaboração própria da pesquisadora.

Todas as entrevistadas pertencem às classes populares e são moradoras do mesmo bairro em Santa Maria/RS. Luanda, Maria Luísa, Cenira e Alice afirmam auxiliar nas despesas dos lares, mas são os maridos os maiores responsáveis pelo sustento das casas.

Somente Rafaela considera que sejam ambos. Os demais dados das entrevistadas são apresentados no subitem IV.

Inicialmente, a amostra desse projeto foi composta por sete mulheres, entretanto, duas delas saíram da Associação em 2017 e quando questionadas em conversas informais alegaram, entre outras questões, a disparidade entre investimento e lucro durante suas participações nas feiras, fazendo-me entender que a participação na Associação deve vincular- se às formações13. No final de 2017, período em que o grupo estava na transição para a Associação e cooperativa foi sempre reforçada a necessidade de engajamento das mulheres no trabalho como um todo, em função de que os lucros desejados e mencionados no período que precedeu a incubação do projeto ainda não haviam sido alcançados.

Após essa breve apresentação da amostra, que é aprofundada no capítulo IV, faz-se necessário refletirmos sobre a combinação de técnicas aplicadas para alcançarmos nossos objetivos. Como apontam Lopes, Borelli e Resende (2002, p. 23), ―o principal desafio que atravessa hoje os estudos latino-americanos de recepção está na tradução metodológica da teoria das mediações em projetos de investigação empírica‖. Na busca pela aproximação com a socialidade e com a ritualidade, fazemos uso de uma metodologia qualitativa composta pelas técnicas da entrevista semiestruturada, da observação participante com a construção de diário de campo e, ainda, do texto em ação, apresentado por Helen Wood como um método, mas que aqui é utilizado como uma técnica e nos permite avançar o estudo do funcionamento das medições situadas entre a esfera da produção da telenovela e a da recepção.

A estratégia de técnicas múltiplas nos permite, segundo Lopes, Borelli e Resende (2002, p. 40), enfrentar a questão da subjetividade dos dados a partir da tentativa de objetivá- los – ―levá-los a condição de dados de confiança e de afirmação‖ - através do que intitulam como ―processo de saturação de sentido‖ de um fato. Isso faz com que as informantes voltem a temas por meio da repetição de questões ou mesmo através de pontos de vista distintos. A combinação entre entrevistas, observações participantes e texto em ação faz com que consigamos ir além da verbalização de experiências e das percepções midiáticas que as mulheres elaboram ao nos permitir tangenciar suas práticas.

A combinação de técnicas supre ainda uma demanda apresentada pela perspectiva dos usos sociais da mídia, qual seja, ―a captação das práticas/formas culturais em fonte primária, vale dizer, um conhecimento oriundo do trabalho de campo prolongado com nossos informantes/interlocutores‖, assim, ―sujar as mãos na cozinha empírica é o que podemos fazer

13 Em alguns momentos optamos por utilizar a primeira pessoa para melhor compartilhar a experiência de

na recepção, tentando descobrir, na relação com nossos informantes, o sentido que se produz a partir da experiência cotidiana com os meios‖ (RONSINI, 2011, p.76-77).

Na busca por me inteirar minimamente acerca das entrevistadas e da Associação como um todo, apliquei, em 2016, um formulário exploratório a quatro mulheres - das quais três continuaram a fazer parte do grupo entrevistado - com questões relativas aos dados socioeconômicos, à participação na Associação, à relação com movimentos sociais e o consumo de mídia. O formulário fez-me crer na possibilidade de trabalhar com a recepção de telenovela pela afirmação da assistência do gênero ficcional. Para além desse contato exploratório, no decorrer dos encontros percebi que as mulheres frequentemente citavam situações vistas na novela no intuito de tecerem comentários opinativos e/ou compararem-se no sentido de aproximar ou distanciarem-se das representações femininas e de relacionamentos afetivos veiculados pelas tramas.

As entrevistas de tipo semiestruturado são realizadas com a combinação de questões abertas e fechadas que compõem um roteiro pré-estabelecido de questões divididas por temáticas, permitindo ao pesquisador intervir na fala do entrevistado quando o assunto for desviado do tipo de informação que se deseja obter (BONI; QUARESMA, 2005, p. 75). Como técnica, a entrevista é concebida como uma tentativa de abordar o outro para conhecê- lo ou com o objetivo de obter uma informação que ele possui e almejamos conseguir (VILELA, 2006, p. 47). Os instrumentos de entrevistas foram divididos em cinco: Socioeconômico; Acesso e consumo de mídias; Ser mulher – Gênero; Ritualidade; e Socialidade, totalizando 230 questões apresentadas aqui em apêndices.

A observação participante é complementar em uma pesquisa realizada no marco dos Estudos Culturais por consistir na inserção do pesquisador no contexto de ocorrência do que se pretende investigar, colocando-o frente ao fenômeno e ao contexto (PERUZZO, 2009, p. 125). Esta técnica permitiu-me entrar em contato com as entrevistadas nos encontros da Associação e nas feiras, nas quais percebi como ocorrem as relações de poder que se estabelecem entre elas, a família e a Associação. Para além da investigação da socialidade, em pesquisas que examinam as relações entre receptores e mídia, a infiltração do pesquisador no cotidiano dos sujeitos permite observar como se processa a decodificação das mensagens dos meios de comunicação (PERUZZO, 2009, p. 136), bem como as práticas realizadas pelas receptoras que podem ser associadas à telenovela. Como arquivo da observação participante, o diário de campo facilita a organização das informações obtidas e auxilia nas recordações dos pontos interessantes dos encontros.

A tradição dos Estudos Culturais, por vezes, nos faz estudar e conhecer a relação da audiência com a televisão em momentos separados, como demonstra a técnica da entrevista, o que parece realçar um distanciamento entre texto e público (SADLER, 2010, p. 180). Frente a isso, existe a necessidade de unir o texto midiático e as percepções dos receptores. Em junho de 2017, optamos por realizar o que denominamos como assistência coletiva de cenas de telenovelas com o grupo de mulheres, de forma a apresentar no exame de qualificação um panorama geral acerca dos sentidos que a telenovela (recortada) pode adquirir nas experiências das entrevistadas. Há uma inspiração na técnica de grupo focal, já que as mulheres estavam reunidas e conversaram durante a proposta, sendo que das sete integrantes da Associação presentes no encontro desse dia, somente uma não é parte da amostra da pesquisa.

Para a realização da dinâmica, levei até o espaço onde ocorrem as reuniões uma televisão de 32‘‘ e um notebook que possibilitaram a apresentação de seis cenas das telenovelas A Viagem (Rede Globo, 1994), Senhora do Destino (Rede Globo, 2004-2005), Laços de Família (Rede Globo, 2000-2001), A Lei do Amor (Rede Globo, 2016-2017) e Novo Mundo (Rede Globo, 2017). A escolha das cenas e das telenovelas apresentadas foi realizada na reunião anterior com base naquelas citadas como as que chamaram a atenção e/ou que as entrevistadas assistem/assistiram.

Esse encontro foi distinto dos outros observados porque foi permeado por discussões sobre gênero, começando por minha introdução acerca da atividade, quando versei brevemente sobre as identidades femininas e sobre as posições das mulheres na sociedade, para instigar as entrevistadas a refletirem, ainda mais, sobre suas vivências, bem como de contribuir com nossos conhecimentos para com a Associação, algo que senti a necessidade e que vi surtir resultados naquele momento14.

Apresentado como método por Helen Wood15, o texto em ação busca levar em conta a produtividade do receptor quando em contato com a mídia, sendo o espaço de diálogo entre televisão, público e contexto compreendido como um lugar de articulação e criação de novos significados (WOOD, 2008b, p. 13). A necessidade da autora do método em desenvolver o texto em ação surge justamente do intuito de ativar e capturar as relações vivas constituídas entre os sujeitos e as mídias, assim como apanhar interações verbais e não verbais, o que em

14

No texto final, a análise dos dados obtidos na assistência coletiva da telenovela foram misturados com aqueles coletados durante as entrevistas, de forma a conseguirmos realizar algumas sínteses das percepções acerca da telenovela.

15 Helen Wood é professora na School of Media and Cultural Production na De Monfort University, em

nosso entendimento, eleva a coleta de dados para além da lógica da prioridade do cognitivo e do racional durante as dimensões afetivas das relações com a mídia (WALKERDINE E BLACKMAN, 2001 apud SKEGGS, THUMIM E WOOD, 2008, p. 17).

O texto em ação foi aplicado na pesquisa intitulada Talking With Television: woman, talk shows and self-reflexivity, na qual Wood buscou analisar como as conversas das mulheres com a televisão colocam em prática um tipo de autorreflexão mediada. Para isto, após a seleção de edições dos talk shows estudados, a autora apresentou às entrevistadas em suas televisões, capturando o áudio durante o contato das entrevistadas com a mídia. Após transcrever e colocar lado a lado, em três colunas, a descrição visual da imagem do programa, o áudio e as interações das entrevistadas, percebeu que elas conversam com a televisão contando suas próprias histórias (WOOD, 2008b, p. 15), o que resultou no conhecimento da socialidade das entrevistadas com a TV e transpareceu a interação dinâmica entre ambos.

Wood, em pesquisas de recepção realizadas com Skeggs, buscou com o texto em ação explorar a parte emocional e afetiva do reality show, sendo significativa a ―quantidade de informações paralinguísticas – suspiros, onomatopeias de desagravo, sustos (exprimidos pelas informantes)– que revelam as dimensões afetivas e emocionais destes programas‖ (WOOD, 2008b, p. 17), o que ela denomina como encontros textuais afetivos. Em outra pesquisa de recepção midiática realizada por Skeggs, Thumim e Wood (2008), esses envolvimentos afetivos foram traduzidos em julgamentos morais sobre as representações midiáticas.

A partir da pesquisa de Wood (2008a), bem como em Barbiero (2015), neste trabalho realizamos algumas adaptações para o estudo de recepção da telenovela. A transcrição do texto em ação ocorreu por meio da construção de um quadro com duas colunas, uma com a transcrição do áudio da novela juntamente com a breve descrição visual das imagens apresentadas e outra com a transcrição dos comentários das entrevistadas no momento da assistência. De forma estrutural, outra distinção com relação à aplicação original do método foi a intenção de capturar a sociabilidade das entrevistadas com a televisão e com a telenovela com base nas categorias das Mediações Comunicativas da Cultura, com o intuito de percebermos o atravessamento das experiências das mulheres sobre suas produções de sentido.

Figura 3 - Quadro com trecho do resultado do texto em ação aplicado com Rafaela

Fonte: Elaboração própria da pesquisadora.

Mesmo que a partir do método texto em ação cenas de telenovelas sejam apresentadas para as entrevistadas, não realizamos uma análise do texto, o que também não está previsto no trabalho de Wood (2008a; 2008b). Apesar disso, como forma de situar as novelas e personagens mencionados pelas mulheres durante a pesquisa de campo, no capítulo V apresentamos: a) as sinopses dessas novelas; b) os perfis dos personagens com base nos materiais disponibilizados no site da Rede Globo e Memória Globo.

A escolha das telenovelas, cenas e temáticas apresentadas para as entrevistadas no texto em ação ocorreu com base naquelas que as componentes da amostra citaram quando questionadas sobre novelas e cenas que chamaram suas atenções, através do instrumento sobre a mediação ritualidade. Para além dessas, fizemos uso das cenas utilizadas na assistência coletiva, que também foram definidas pelas próprias entrevistadas16. Acreditamos que a repetição das cenas das telenovelas durante o texto em ação não tenha sido prejudicial porque a segunda apresentação ocorreu após cerca de cinco meses, além do que, as situações de assistência televisiva foram distintas; marcadas, primeiro pelo coletivo e depois pelo individual.

Esta pesquisa não contempla somente uma telenovela, mas foca na recepção do gênero ficcional como um todo porque o entendimento teórico das tramas compostas por uma ação pedagógica implica considerar as maneiras como, através das representações no decorrer dos seus 50 anos de transmissão, fixam-se na memória das receptoras que tem contato com o gênero televisivo desde tenra idade. A validade desse argumento se comprova, por exemplo,

16

O download de parte dos vídeos foi realizado do YouTube porque no mês de dezembro constatamos a impossibilidade de realizar o download das cenas no site Globo Play por configurações próprias do site – o que não muda o fato de sermos assinantes.

pelo fato de as mulheres citarem cenas e temáticas de telenovelas veiculadas a partir do ano de 1976 durante a realização da entrevista sobre a ritualidade, tendo em suas trajetórias representações de personagens marcantes na teledramaturgia dos últimos 30 anos da Rede Globo, tempo de convivência que as faz mencionar atrizes, atores e diferentes personagens interpretados pelos mesmos.

Bem como afirmamos com Ronsini (et al, 2017, p. 2) em pesquisa com mulheres de classes populares, mesmo que as entrevistadas mencionem novelas de outras emissoras – que aqui foram mencionadas e não comentadas – as que são produzidas pela Rede Globo ―continuam a ser referência crucial para a produção das representações das relações de classe e de gênero das receptoras‖.

Mesmo que o foco desse estudo de recepção de telenovelas seja compreender a construção da feminilidade com base nas relações de gênero, é necessário classificar as entrevistadas conforme as posições que ocupam socialmente devido às maneiras como gênero e classe social conformam suas experiências e percepções. Discordar da definição das classes sociais através da utilização exclusiva do critério econômico não implica abandoná-lo para classificar as informantes a partir dele, bem como descrever os demais critérios que foram levados em conta para entender a posição de classe e a experiência da classe trabalhadora.

Realizamos a classificação pela ocupação do membro mais bem situado das famílias das entrevistadas com base em Quadros (2008), na qual a classe popular é constituída pela baixa classe média assalariada, pelos segmentos operários e demais assalariados populares e pelos segmentos inferiores dos trabalhadores autônomos. Esse critério de classificação baseado na ocupação pressupõe que, embora os rendimentos variem em ocupações semelhantes, exista um padrão médio de vida conforme a ocupação (SIFUENTES, 2014, p. 38). Assim, segundo Sifuentes (2014, p. 39) ―escolhemos tomar como ponto de partida para identificação das classes a estratificação por ocupações, pois essas carregam consigo aspectos econômicos, educacionais e de reconhecimento social‖.

2.1.1.1 Mais uma Associada? Notas sobre a imersão no campo

Desde agosto de 2016 o contato com as mulheres vem sendo realizado nas reuniões, nas casas das entrevistadas, nas feiras de Economia Solidária e nas festas realizadas pelo grupo. Para além dessas observações, busquei frequentar eventos que elas participam, como o ato organizado em Santa Maria no dia 8 de março de 2017, Dia Internacional da Mulher e a participação da Associação na Semana Acadêmica de um curso de graduação, realizada em

2017. Apesar de meu contato ter sido realizado ainda em 2016, em março de 2017 comecei uma imersão mais aprofundada, participando das reuniões da Associação e conhecendo - pela falta de um espaço físico destinado aos encontros - as casas de todas as entrevistadas. Em maio 2017, elas começaram a realizar as reuniões em um espaço localizado na casa de uma das entrevistadas que, juntamente com o marido, cedeu o local para uso semanal por parte da Associação.

A partir de março busquei aprofundar o conhecimento sobre o funcionamento da Associação e acerca do significado desta para as mulheres, seja em termos de renda e – ou consequentemente – das percepções sobre as relações de gênero. Em junho de 2017 tentei introduzir-me nas casas das entrevistadas, mas devido ao maior envolvimento delas com a Associação isso foi difícil.

O processo de minha aceitação nos encontros da Associação ocorreu de forma paulatina. Em agosto de 2016, mês em que fiz o primeiro contato com a Associação pela ida em um encontro, apresentei-me e comentei sobre a pesquisa de forma bastante breve, enfatizando a relevância de pesquisar os possíveis papéis que a mídia tem na formação dos sujeitos na sociedade atual. Mesmo que não tenha sido imposta diretamente pelas mulheres, senti dificuldade de entrar no encontro formado fisicamente por uma roda composta por cerca de 15 mulheres. Procurei aceitação nos olhares, mas ela nem sempre foi encontrada.

Nesse dia, ao final de minha apresentação, Luanda e Maria Luísa versaram sobre a necessidade que a Associação tem de receber retorno das pesquisas realizadas por alunos da UFSM. Como parte da instituição, aquele foi o momento de tentar reverter essa relação mantida com o bairro, e, para tal, tratei sobre o retorno dado às mulheres que compuseram a amostra do trabalho de conclusão de curso, finalizado em 2015 na mesma instituição. Isso parece ter amenizado o receio sentido pelas mulheres e auxiliado no aceite da realização da pesquisa. Importante observar que em junho de 2017, em um dos encontros no qual ajudava com a construção do plano de ação a ser encaminhado para a instituição responsável pela incubação, Luanda comentou sobre a forma como elas me ―assustaram‖, elogiando a persistência em continuar pesquisando a Associação.

No mês de outubro de 2016, outro passo foi dado rumo a minha maior aceitação. Um dos encontros contou com a presença de uma assistente social, que propôs uma dinâmica realizada em grupos, sendo que cada um deveria escrever em um cartaz as dificuldades e pontos positivos de participar da Associação. Durante a organização para a realização da dinâmica, mantive-me observando até ser chamada por Maria Luísa a compor um grupo, e pela suposição de ter a ―letra bonita‖, minha função foi escrever no cartaz.

Em novembro de 2016 passei a frequentar os encontros sem mais pedir autorização das integrantes da Associação, exceto quando sabia que haveria a presença de outras pessoas. Nesse mesmo mês, em um dos encontros houve a necessidade, por parte das mulheres, de transportar cerca de dez sacos de roupas para a realização do brechó no final de semana seguinte. Percebendo a dificuldade, realizei o deslocamento de carro.

No mês de março de 2017 realizei uma apresentação ampliada da pesquisa, tratei sobre minha trajetória marcada por uma infância simples e por uma convivência familiar com determinados tipos de violências. Percebi que algumas das mulheres emocionaram-se com as histórias, que tinham como intuito o compartilhamento e também a maior aproximação com as mulheres da Associação. Além de gerar mais proximidade e confiança por parte das mulheres, esse momento foi importante para a minha percepção do por que estar realizando essa pesquisa. Nesse encontro realizei uma leitura coletiva e completa do termo de consentimento livre e esclarecido, sanando todas as dúvidas relativas às entrevistas, ao texto em ação e, principalmente quanto às observações participantes. Desmistifiquei minha presença na Associação explicando que o intuito seria o de conseguir capturar suas vivências com a maior naturalidade possível, mesmo atentando sobre a influência que exerce a presença do pesquisador nesses espaços.

Após essa atividade, comecei a receber mensagens sobre a realização das reuniões, o que antes não acontecia e que com o passar dos meses se intensificou. Depois de um tempo, fiquei sabendo por Luanda que não era avisada sobre algumas reuniões porque estavam sendo