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Recepção de telenovelas, mediações sociopolíticas e gênero

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Academic year: 2021

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(1)UNIVERSIDADE FEDERAL DE SANTA MARIA CENTRO DE CIÊNCIAS SOCIAIS E HUMANAS PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM COMUNICAÇÃO MESTRADO EM COMUNICAÇÃO MIDIÁTICA. Hellen Panitz Barbiero. RECEPÇÃO DE TELENOVELAS, MEDIAÇÕES SOCIOPOLÍTICAS E GÊNERO. Santa Maria, RS 2018.

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(3) Hellen Panitz Barbiero. RECEPÇÃO DE TELENOVELAS, MEDIAÇÕES SOCIOPOLÍTICAS E GÊNERO. Dissertação apresentada ao Curso de Mestrado do Programa de Pós-Graduação em Comunicação, Área de Concentração em Comunicação Midiática, da Universidade Federal de Santa Maria, como requisito parcial para a obtenção do título de Mestre em Comunicação.. Orientadora: Prof.ª Dr.ª Veneza Mayora Ronsini. Santa Maria, RS 2018.

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(5) Hellen Panitz Barbiero. RECEPÇÃO DE TELENOVELAS, MEDIAÇÕES SOCIOPOLÍTICAS E GÊNERO. Dissertação apresentada ao Curso de Mestrado do Programa de Pós-Graduação em Comunicação, Área de Concentração em Comunicação Midiática, da Universidade Federal de Santa Maria, como requisito parcial para a obtenção do título de Mestre em Comunicação.. Aprovado em 26 de março de 2018:. Santa Maria, 2018.

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(7) Dedico o esforço empreendido na realização desse trabalho à minha mãe..

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(9) AGRADECIMENTOS. Agradeço à minha família: mãe Claudia, Kelly e Hans por tudo. Amo vocês. Sou grata ao meu pai Carlos Alberto (in memoriam) porque este trabalho é fruto de todo o incentivo que passou para que eu estudasse. Ao Vinícius, pela calma que me passou e pela ajuda no momento de conclusão desse trabalho. À professora Veneza, por ter me apresentado o mundo da pesquisa e ter confiado a mim trabalhos que exigiam dedicação e seriedade, estes que foram fundamentais para encarar os desafios dessa investigação. Além disso, por todas as vezes que foi mais que orientadora, que não foram poucas. Às professoras Denise e Maria Catarina, pelas leituras generosas que fizeram desse trabalho e pelos apontamentos essenciais para a continuação dessa pesquisa. Às mulheres que tornaram essa pesquisa possível: muito obrigada por me acolherem, me ensinarem e me tornarem uma pessoa melhor. Ao Otávio e à Camila por todos os ensinamentos e pela parceria na academia e na vida. Muito obrigada. A todos os colegas do grupo de pesquisa Usos Sociais da Mídia, pelos conhecimentos compartilhados. Aos colegas do POSCOM com quem pude compartilhar disciplinas, a construção desse trabalho e aprender tanto. Agradeço também aos funcionários e, especialmente, aos professores do POSCOM, que ministraram com maestria disciplinas essenciais para a construção desta pesquisa. A Capes, pela bolsa concedida há aproximadamente um ano que auxiliou a realização dessa pesquisa. Por fim, agradeço aos meus pais por terem me proporcionado as condições necessárias para o ingresso em uma universidade pública que me ofereceu, desde 2012, educação de qualidade..

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(11) ―Companheira, me ajuda Que eu não posso andar só Eu sozinha ando bem Mas com você ando melhor‖ (Ciranda de autoria anônima).

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(13) RESUMO. RECEPÇÃO DE TELENOVELAS, MEDIAÇÕES SOCIOPOLÍTICAS E GÊNERO AUTORA: Hellen Panitz Barbiero ORIENTADORA: Dra. Veneza Mayora Ronsini. Esta pesquisa é um estudo sobre a recepção de telenovelas com cinco mulheres integrantes de uma Associação baseada nos princípios da Economia Solidária. As entrevistadas têm entre 39 e 65 anos de idade e residem em Santa Maria/RS. O objetivo do trabalho foi investigar como as mediações sociopolíticas Associação e família conformam os usos que as receptoras fazem das representações sobre gênero na telenovela no que se refere à construção da feminilidade. Buscamos compreender quais sentidos adquire a telenovela, articulada com a socialidade das mulheres, nas identificações e nos questionamentos realizados por elas sobre as representações do feminino no âmbito das relações de gênero. Teórica e metodologicamente adotamos a perspectiva dos Estudos Culturais latinoamericanos e o modelo das Mediações Comunicativas da Cultura (MARTÍN-BARBERO, 2002) nos termos da totalidade possível para a recepção (RONSINI, 2011). Analisamos as mediações da socialidade através da investigação das relações na família e Associação, da ritualidade, pelos modos de ver e ler novelas, e tangenciamos as representações nas narrativas das telenovelas para englobar a tecnicidade. As técnicas para a coleta de dados foram: observação participante (PERUZZO, 2006) com diário de campo, entrevista semiestruturada (VILELA, 2006) e o texto em ação (WOOD, 2008a; 2008b). A participação na Associação amplia o capital social, que as leva ao conhecimento de problemas comuns a outras mulheres e ao reforço do exercício dos princípios da solidariedade e da cooperação. A educação conservadora que receberam no tocante às relações de gênero apresenta sinais de enfraquecimento principalmente nos ensinamentos que transmitem aos filhos – marcados pelo incentivo à divisão igualitária das tarefas, pelo estudo e trabalho como forma de independência, pelo combate à violência contra as mulheres e pela educação sexual. Nas famílias é vigente a divisão social do trabalho baseada no sexo, que é questionada nos encontros da Associação principalmente pela presidente, que tem maior nível de instrução e relação com movimentos sociais. A maternidade ideal é defendida e exercida por elas, sendo legitimada pelos usos que realizam das novelas. Elas percebem a necessária valorização do trabalho feminino e nas telenovelas identificam-se com personagens consideradas trabalhadoras, questionando comportamentos daquelas que não o fazem. Desaprovam comportamentos e a índole de mulheres vulgares e admiram a beleza e modos de se comportar daquelas tidas como sensuais, o que reafirmam nas leituras das telenovelas. De acordo com suas experiências, essas mulheres endossam relacionamentos afetivos igualitários e um indício dessa conquista parcial de autonomia é a projeção e/ou a identificação com personagens femininas que reagem a violências, além das críticas aos homens e personagens considerados ―machistas‖. Inferimos que os avanços no tocante às percepções e vivências nas relações de gênero mais igualitárias podem ser discretos, mas são crescentes. As telenovelas proporcionam a criação de um espaço-tempo de sociabilidade permeado por representações sobre gênero que permite às mulheres discutir sobre igualdades e desigualdades entre homens e mulheres nos lares e na Associação.. Palavras-chave: Mediações Comunicativas da Cultura. Recepção Midiática. Telenovela. Relações de Gênero. Economia Solidária..

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(15) ABSTRACT. RECEPTION OF TELENOVELAS, SOCIOPOLITICAL MEDIATIONS AND GENDER. AUTHOR: Hellen Panitz Barbiero ADVISOR: Dra. Veneza Mayora Ronsini. This research is a study about a reception of telenovelas with 5 women that are integrated in an Organized Association based on principles of Solidarity Economy. The interviewed are between 39 and 65 years old and live in Santa Maria/RS. The objective of this work is to investigate how the Association and Family sociopolitical mediations conform the use the receptors make of the representations about gender in the telenovela concerning the construction of femininity. Which directions the telenovela acquires, articulated with women‘s sociality, have been comprehended here, in the identifications and questionings realized by them about the representations of female in the scope of gender relations. Theoretical and methodologically, the perspective of the Latin American Cultural Studies and the model of Cultural Communicative Mediations (MARTÍN-BARBERO, 2002) have been adopted, in terms of discussion about the possible totality for reception (RONSINI, 2011). It has been analyzed the sociality mediations through the investigation of meanings and Association and family relationships, of rituality, through ways of seeing and interpreting the telenovelas and touched the female representations in the narrative of telenovelas to encompass the technicality. The techniques used for data collection were: participant observation (PERUZZO, 2006) with a field diary, semi-structured interview (VILELA, 2006) and the text in action (WOOD, 2008a; 2008b). The participation in the Association increases the social capital, which takes them to be aware of common problems to other women and the enhancement to the exercise of principles of solidarity and cooperation. The conservative education they have received regarding to gender relations it presents signs of weakening, mainly concerning the teaching they pass to their children – marked by the incentive to the equal division of tasks, by studying and working as a way of independence, by combating violence against women and by sexual education. In families, it is current the working social division based on gender, which is questioned in meetings at Association, mainly by the president, who has a higher level of education and relation with social movements. The ideal maternity is defended and exercised by them, being legitimized by the uses they perform in telenovelas. They realize it is necessary to value the feminine work and in the telenovelas, they identify themselves with characters considered to be workers, questioning the behavior of those who are not. They disapprove behaviors and the nature of vulgar women and they admire the beauty and the behavior of those sensual women, which confirms in the interpretation of the telenovelas. According to their experiences, these women give signals of endorsement to equal affective relationships and a clue of this partial conquest of autonomy is a projection and/or identification with feminine characters who react to violence, as well as the criticism to men and characters considered chauvinist. In general, it has been inferred that the advances regarding to perceptions and experiences in gender relationships more egalitarian can be more discreet, but are increasing. The telenovelas provide the creation of a space-time of sociability permeated by representations about gender which allow women to discuss equalities and inequalities between men and women in their homes and in the Association.. Keywords: Cultural Communicative Mediations. Media Reception. Telenovela. Gender Relations. Solidarity Economy..

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(17) LISTA DE ILUSTRAÇÕES Figura 1 – Modelo das Mediações Comunicativas da Cultura ............................................... 39 Figura 2 – Quadro com dados socioeconômicos das entrevistadas..........................................45 Figura 3 – Quadro com trecho do resultado do texto em ação aplicado com Rafaela .............50.

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(19) LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS. EES UFSM. Empreendimento Econômico Solidário Universidade Federal de Santa Maria.

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(21) SUMÁRIO 1. INTRODUÇÃO ................................................................................................. ESTUDO DE RECEPÇÃO PELA VIA DAS MEDIAÇÕES COMUNICATIVAS DA CULTURA.............................................................. 2.1 ENTENDENDO A RECEPÇÃO COM JESÚS MARTÍN-BARBERO........... Pressupostos Metodológicos.............................................................................. 2.1.1 2.1.1.1 Mais uma Associada? Notas sobre a imersão no campo................................. 23. 2. 3 3.1 3.2 3.2.1 3.3 3.3.1 4 4.1 4.1.1 4.2 4.2.1 4.2.2. MULHER EM CONSTRUÇÃO, ECONOMIA SOLIDÁRIA E TELENOVELA.................................................................................................. ―NÃO SE NASCE MULHER; TORNA-SE‖ E MAIS....................................... ECONOMIA SOLIDÁRIA: DESENVOLVIMENTOS E ARTICULAÇÕES COM GÊNERO E MULHERES......................................................................... Articulações entre gênero e classe social para pensar a amostra................... DO FOLHETIM À TELENOVELA: PENSANDO AMÉRICA LATINA E BRASIL............................................................................................................... Contexto anglo americano: mídia e o feminismo como ruptura................... MEDIAÇÕES SOCIOPOLÍTICAS: ASSOCIAÇÃO E FAMÍLIA............ ASSOCIAÇÃO, MOVIMENTOS SOCIAIS E RELAÇÕES SOCIAIS E PESSOAIS........................................................................................................... Trabalho: trajetórias e percepções................................................................... FAMÍLIA COMO MEDIAÇÃO.......................................................................... Maternidade........................................................................................................ Relações Afetivas – Sexualidade........................................................................ TECNICIDADE E RITUALIDADE: OS USOS DAS REPRESENTAÇÕES DAS TELENOVELAS POR MULHERES AUTOORGANIZADAS................................................................................................ 5.1 ACESSO E CONSUMO DE MÍDIAS............................................................... 5.2 TECNICIDADE: REPRESENTAÇÕES SOBRE GÊNERO NAS NARRATIVAS.................................................................................................... As novelas pelos olhares e leituras das mulheres............................................. 5.2.1 5.2.1.1 Maternidade......................................................................................................... 5.2.1.2 Trabalho............................................................................................................... 5.2.1.3 Relações Afetivas – Sexualidade.......................................................................... 5.3 RESULTADOS E REFLEXÕES SOBRE TEXTO EM AÇÃO......................... Entre mediações e leituras das representações de gênero das novelas.......... 5.3.1. 33 33 45 51. 59 59 67 78 84 90 97 100 113 126 138 142. 5. 6. CONSIDERAÇÕES FINAIS............................................................................. REFERÊNCIAS................................................................................................... APÊNDICE A – FORMULÁRIO EXPLORATÓRIO....................................... APÊNDICE B – INSTRUMENTO SOCIOECONÔMICO............................. APÊNDICE C – INSTRUMENTO ACESSO E CONSUMO DE MÍDIAS........ APÊNDICE D – INSTRUMENTO GÊNERO................................................... APÊNDICE E – INSTRUMENTO RITUALIDADE – TELENOVELA............ APÊNDICE F – INSTRUMENTO SOCIALIDADE........................................... 151 151 158 171 181 185 188 197 202 211 217 229 230 231 232 234 236.

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(23) 23. 1. INTRODUÇÃO. A partir da perspectiva dos Estudos Culturais e com base na investigação das Mediações Comunicativas da Cultura (MARTÍN-BARBERO, 2002) faz-se primordial uma concepção sociocultural que investigue a recepção midiática como processo além da assistência televisiva, que se articula com instituições sociais e culturais envoltas nas experiências dos sujeitos. Seguimos o protocolo de Ronsini (2011), cuja totalidade possível para a recepção concentra-se no contexto social e cultural, no receptor e na sua posição de classe, bem como no texto midiático. Quanto ao último aspecto, esclarece que a pesquisa empírica de recepção não necessita examinar os processos produtivos, podendo apenas tangenciá-los. No plano teórico, os investigadores podem discorrer sobre os processos produtivos da indústria das comunicações de modo menos rigoroso. Nesta pesquisa tratamos sobre as maneiras como mulheres auto-organizadas através da Economia Solidária concebem a feminilidade na e a partir da telenovela, em um movimento que vai para além da recepção midiática, mas que está também nela contida. Para tal, trabalhamos com cinco integrantes de uma Associação criada – como um grupo - em 2010 por duas moradoras de um bairro da cidade de Santa Maria/RS, onde atualmente todas as entrevistadas moram e se encontram como Associação. Por consenso das próprias mulheres entrevistadas e das demais integrantes da Associação, o nome verdadeiro do grupo não é utilizado nesta pesquisa. Ao propormos a definição de um nome fictício, as integrantes optaram por não o fazer por questões de identidade da Associação. Os nomes das integrantes, a serem apresentados ao longo do trabalho, são fictícios e foram escolhidos por elas próprias. A Economia Solidária é entendida aqui com base em Guerín (2005) e Singer (2002) como um modo de produção que envolve um conjunto de atividades econômicas que aposta no interesse coletivo e na solidariedade mais do que na busca de lucro, sendo o objetivo dos sujeitos envolvidos a promoção da Economia Solidária tanto para oferecer trabalho e renda, quanto para difundir um modo democrático e igualitário de organizar atividades econômicas. O grupo foi criado pela constatação da precária possibilidade de inserção no mercado de trabalho por mulheres que apresentam baixo nível de escolaridade, o que as leva, segundo uma das fundadoras, a uma situação marcada por dominação e exploração, assim, com o intuito de promover a organização e a autonomia feminina1, cerca de dez mulheres maduras e. 1. Apesar de a Associação só ter sido criada burocraticamente após a incubação do projeto em uma instituição em 2017, trataremos o grupo de mulheres estudado aqui como Associação por ser assim que elas o designam, além de isso vincular os âmbitos teórico e empírico..

(24) 24. idosas apostam em formações pessoais e profissionais e têm como estratégias de obtenção de renda a realização de artesanatos, brechós e a produção de alimentos para comercialização. A partir da relevância que pode adquirir a mídia na formação dos sujeitos, em suas visões de mundo e de si mesmos, essa investigação busca responder a seguinte questão: quais sentidos adquire a telenovela, articulada com a socialidade das mulheres, nas identificações e nos questionamentos realizados por elas sobre as representações do feminino no âmbito das relações de gênero? O objetivo geral é investigar como as mediações sociopolíticas na Associação e na família conformam os usos que as receptoras fazem das representações sobre gênero na telenovela no que se refere à construção da feminilidade. Para tal, objetivamos especificamente: a) descrever as atividades individuais e coletivas realizadas pelas integrantes da Associação; b) compreender o significado do grupo nas trajetórias de vida das entrevistadas; c) mapear as relações das mulheres com a instituição família; d) tangenciar as representações sobre gênero, em especial as femininas, veiculadas pelas telenovelas e com base em pesquisas já realizadas; e) identificar convergências e divergências existentes entre as mediações sociopolíticas (Associação e família) e como elas medeiam as produções de sentido das mulheres sobre as representações de gênero nas novelas. A partir do Mapa das Mediações Comunicativas da Cultura, apresentado por Jesús Martín-Barbero, nosso foco de investigação concentra-se principalmente nas mediações da socialidade, da ritualidade, e, em menor medida, da tecnicidade, como forma de abarcar as relações que se estabelecem entre experiências femininas e telenovelas. A socialidade, que recebe destaque nessa pesquisa pela relevância que adquire ao tratarmos do âmbito empírico, é investigada a partir do que Martín-Barbero (2009) estabelece como cotidianidade familiar, pelas competências culturais e pelo estudo da Associação da qual as entrevistadas fazem parte, constituindo o que consideramos como mediação sociopolítica. Para a investigação da tecnicidade apresentamos um panorama geral sobre as representações femininas na novela com base em trabalhos já realizados. A ritualidade abarca os modos de ver e de ler a telenovela com foco nas relações de gênero. A análise empírica para investigação das experiências e dos usos das representações das. telenovelas. é. baseada. nas. categorias. da. maternidade,. do. trabalho. e. da. sexualidade/relações afetivas, definidas a partir de leituras teóricas, de trabalhos empíricos e da pesquisa de campo. Teoricamente, partimos da relevância da categoria gênero como constituinte dos sujeitos, entendendo que, mesmo cada corrente feminista enfatizando um determinado aspecto.

(25) 25. do gênero existe um campo, limitado, de consenso que estabelece que ―o gênero é a construção social do masculino e do feminino‖ (SAFFIOTI, 2004, p. 45). A partir do termo relações de gênero buscamos entender as construções da feminilidade com base nas relações de poder que se estabelecem entre o masculino e o feminino, que podem seguir vetores em diferentes direções, consolidando-se como mais ou menos igualitárias e possíveis de serem verificadas a partir das percepções e vivências femininas. Por construção da feminilidade compreendemos ―modo de pensar, agir, sentir e valorar que são tidos como ―femininos‖‖ (RONSINI et al, 2017, p.1), aqui investigados pelas representações elaboradas do feminino. A importância da categoria gênero não enfraquece a necessidade de realizarmos uma breve articulação com classe social, que nos permite conhecer melhor as inserções das mulheres na Associação e na família para, posteriormente, tencioná-las com as interpretações e os usos realizados das representações nas telenovelas. A noção de classe vai além da visão economicista - que percebe os extratos sociais apenas pela ótica dos lugares ocupados por eles na produção - e seu tratamento empírico parte da classificação das entrevistadas pela ocupação do membro melhor situado na família, proposto por Quadros (2008). Para o estudo da Associação partimos da premissa de que a subordinação das mulheres pelos homens é de ordem simbólica e material, constituindo-se como dominação-exploração feminina que tem vetores abertos, mas que é constantemente reforçada pelo sistema capitalista. Isso ocorre pelas tentativas constantes de legitimação de mentalidades masculinistas que levam à desvalorização do trabalho realizado pelas mulheres e pelas consequências desta e de outras atividades2. Tal argumento é reforçado a partir de dados apresentados pela pesquisa realizada em 2010, pela Fundação Perseu Abramo, intitulada Mulheres Brasileiras e Gênero nos Espaços Público e Privado, para a qual foram entrevistadas mais de 2.300 mulheres de 25 UFs das cinco regiões do país. Quando as mulheres foram questionadas sobre o que fariam para que a vida de todas elas melhorasse, 28% citou a necessidade do combate às discriminações no mercado de trabalho e 15% à violência de gênero. Conjuntamente, o projeto Retrato das Desigualdades de Gênero e Raça, divulgado em março de 2017 e realizado pelo Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), pela Entidade das Nações Unidas para a Igualdade de Gênero e Empoderamento das Mulheres 2. Como se verá no capítulo III e na análise dos dados empíricos, a partir do conceito de relações de gênero consideramos que os vetores de dominação e exploração femininos são abertos, ou seja, não buscamos unificar as condições femininas como inseridas em regimes iguais dessas dinâmicas, entretanto, fizemos uso de dados que nos auxiliam em justificativas acerca de quem são as entrevistadas dessa pesquisa por suas inserções em um grupo baseado na Economia Solidária..

(26) 26. (ONU Mulheres) e pela a Secretaria de Políticas para as Mulheres do Ministério da Justiça e Cidadania, apresenta dados3 que expressam as desigualdades as quais as mulheres ainda estão submetidas. Entre os anos de 1995 e 2015, as taxas de participação feminina no mercado de trabalho ―pouco oscilaram‖ entre 54-55%, não tendo ―jamais‖ chegado a 60%, indicativo de que quase a metade das brasileiras em idade ativa (entre 16 e 59 anos) encontra-se fora do mercado de trabalho (IPEA et al, 2017, p. 2). O percentual masculino chegou a alcançar 85% e vem caindo, beirando a 78% em 2015. Os prejuízos no mercado de trabalho ainda predominam entre as mulheres negras, sendo que 13,3% delas encontravam-se desocupadas em 2015, enquanto 11,6% das mulheres brancas passaram pelo mesmo. Entre os homens negros, a taxa de desocupação foi de 8,5% e entre os brancos de 7,8%. Estes números indicam a hierarquia ainda predominante na desocupação do mercado de trabalho, sendo que, em ordem decrescente, a primeira posição é a das mulheres negras, na sequência as mulheres brancas, homens negros e homens brancos com os percentuais mais baixos de desocupação. Ainda, aproximadamente 17,4% das mulheres negras com ensino médio completo ou incompleto estão desocupadas. Em 2015, somando-se as horas trabalhadas no âmbito doméstico e no público, as mulheres em geral trabalhavam 53,6 horas semanais e os homens 46,1 horas, sendo que a renda apresenta-se como um fator essencial na análise do tempo dedicado aos afazeres domésticos. As mulheres das faixas mais altas de renda gastavam cerca de 13 horas por semana nesse tipo de ocupação, quase 11 horas a menos que as mulheres mais pobres. Como consequência dos desajustes entre homens e mulheres no mercado de trabalho, a renda segue decrescendo na ordem: homens brancos, mulheres brancas, homens negros e mulheres negras. Esses dados acerca da inserção feminina no mercado de trabalho fazem com que nos situemos sobre as condições em que se inserem as mulheres na sociedade como um todo. Eles nos fazem refletir acerca da necessidade de dar voz e visibilidade às formas pelas quais elas concebem as relações de poder que se estabelecem entre os gêneros a partir de suas experiências, bem como sobre o porquê da criação e participação em uma Associação assentada na Economia Solidária. Como Almeida (2013), entendemos que a mídia tem a capacidade de produzir construções simbólicas através da apropriação de elementos já circulantes na cultura e consegue, mais do que isso, reforçar e normalizar determinados elementos, constituindo representações sobre gênero que podem ser consideradas hegemônicas. Apesar de auxiliar na 3. Os dados foram coletados em 2015 a partir de indicadores da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad) do IBGE..

(27) 27. legitimação de uma estrutura invisível que favorece aos homens, entendemos que a mídia tendo a telenovela um papel fundamental neste ponto - tem veiculado paulatinamente representações sobre relações de gênero que podem ser lidas como mais igualitárias, podendo auxiliar no reconhecimento das posições ocupadas pelas receptoras. A assistência de telenovelas pelas entrevistadas foi constatada ainda em 2016, com a aplicação de um formulário e pelas conversas que tivemos com elas antes de iniciarmos as pesquisas. No momento de realização das entrevistas todas as mulheres afirmaram estar assistindo A Força do Querer (horário das 21h), Novo Mundo (horário das 18h) foi citada por Alice e Maria Luísa, Rock Story (horário das 19h) foi mencionada por Luanda, Malhação (horário das 17h30) foi citada por Maria Luísa e Senhora do Destino (horário das 16h – Vale a Pena Ver de Novo), Tempo de Amar (horário das 18h) e Pega Pega (horário das 19h) foram citadas por Rafaela. Ao tratarem sobre outras novelas já assistidas, as mulheres citam tramas veiculadas ainda na década de 70, como A Escrava Isaura. A novela mais mencionada pelas entrevistadas foi A Força do Querer, o que, inferimos, ocorre por ser a trama transmitida pela Rede Globo no momento da realização da maior parte das entrevistas. Ainda, o longo da pesquisa elas mencionaram outras telenovelas que foram utilizadas como parte da técnica do texto em ação. A partir desse panorama, percebemos a preponderância da novela das 21h, supostamente pelo sucesso que tem, em parte, pela maneira como atinge um público mais diversificado em termos de idades, classes sociais e gêneros (JUNQUEIRA, 2009, p. 227). Partindo do pressuposto de que a telenovela é um gênero que tem a capacidade de ativar a correspondência do habitus do mundo narrado com do vivido (LOPES, 2009), entendemos que é devido ao seu caráter policlassista (HAMBURGER, 2005) que o melodrama ocupa a posição de segundo gênero televisivo mais assistido pelos brasileiros, sendo acompanhada por 48% dos sujeitos (homens e mulheres) segundo dados da Pesquisa Brasileira de Mídia realizada em 20144. A partir de dados como esses, entendemos que as relações que se estabelecem entre os usos realizados das representações nas telenovelas e o papel que as instituições sociais exercem na vida das mulheres precisam ser investigados levando em conta as individualidades das formas como elas se relacionam com tais esferas, mas acima disso, devem ser vistas como complementares em suas formações como sujeitos. Ao tratar da mediação da ritualidade, Martín-Barbero (2002) afirma que ela se relaciona, entre outros fatores, às formas de convivência dos sujeitos com a cultura escrita, 4. A pesquisa brasileira de 2016 não apresenta os resultados sobre a assistência de telenovelas e até o momento da finalização desse trabalho não haviam sido publicadas as de 2017 e/ou 2018..

(28) 28. oral ou audiovisual. Isso nos faz pensar na incidência desta última no Brasil, demonstrada pela Pesquisa Brasileira de Mídia realizada em 2016, segundo a qual 89% dos brasileiros continuam a se informar pela televisão e 73% tem acesso predominante à Rede Globo de Televisão, números que demonstram a importância que recebe a televisão mesmo em uma época marcada pelo uso crescente da internet como fonte de informação e entretenimento. A aproximação com os estudos de gênero, com a teoria feminista e com as ciências sociais tem feito com que nos deparemos com a ideia de que todo o conhecimento é uma prática, social, situada, parcial, contingente, refutável, condicionada pelo sujeito e sua situação particular (espaço-temporal, histórica, social e cultural) (ALVARADO, 2014, p. 20). Do mesmo modo, nos aproximamos da concepção feminista de que ―o pessoal é político‖. A aproximação com essa ideia e com essa concepção tem servido para refletirmos acerca de nossas condições como pesquisadoras e mulheres em sociedades estruturadas por instituições que, em maior ou menor medida, constantemente reproduzem os privilégios masculinos, o quê é refletido nos âmbitos público e privado. Mesmo ocupantes de posições privilegiadas, por sermos brancas e pertencentes às classes médias, a partir de nossas vivências percebemos a necessidade de dar voz às mulheres dentro do ambiente acadêmico. Investigar as condições femininas, reconhecer e representar as diferenças existentes dentro de uma minoria social são movimentos que se consolidam através da crescente aproximação da Universidade com as demandas sociais e culturais das minorias em uma sociedade marcada pela diversificação e fragmentação de classe social, gênero e etnia. Fazemos uso de concepções de teóricas feministas para realizarmos um estudo sobre gênero por compreendermos, com Saffioti (2004, p. 43), que ―[...] o próprio interesse pela temática já revela um compromisso político-ideológico com ela‖. O desejo de estudar, tanto as trajetórias de mulheres de classes populares, quanto a recepção midiática, é um projeto que mescla os âmbitos pessoal e acadêmico e angaria fôlego desde a graduação, com o ingresso, em 2013, no grupo de pesquisa Usos Sociais da Mídia, coordenado pela Prof.ª Dr.ª Veneza Mayora Ronsini (UFSM), que tem se dedicado nos últimos sete anos ao estudo das relações entre mulheres de diferentes classes sociais com a mídia pelo ângulo da recepção. Em 2015 realizamos o trabalho de conclusão de curso intitulado A recepção do Jornal Nacional por mulheres de classes populares, cujo principal objetivo foi compreender como as receptoras – não engajadas com movimentos e causas sociais - constituíam as representações das mulheres das classes populares a partir do texto televisual e com base nas mediações da família e do trabalho. Com este trabalho concluímos que as mediações estudadas foram.

(29) 29. essenciais para as dinâmicas do ver televisivo e para as interpretações do texto do telejornal, sendo que as entrevistadas maduras e idosas avaliaram como positivas e identificaram-se com representações de mulheres trabalhadoras que economizam; representações que evidenciam a importância da figura materna no cuidado com a família, das melhoras nas condições de empregabilidade das mulheres e as representações de incentivo a autoestima feminina. Por outro lado, de acordo com suas experiências, elas perceberam negativamente a invisibilidade e a desvalorização feminina no telejornal, a discriminação, a representação do sofrimento da trajetória das mulheres e mães populares, a falta de condições para a realização de atividades básicas, a associação das mulheres populares ao tema da violência e às representações de mulheres fumantes e/ou que tem vícios (BARBIERO, 2015, p. 115). A realização da monografia e o ingresso no mestrado em comunicação, acompanhados por uma aproximação paulatina com as pautas sobre gênero, fizeram surgir o interesse pela investigação da recepção midiática por mulheres auto-organizadas. Desde o trabalho de Silva (1985), um dos primeiros estudos de recepção que foi realizado com trabalhadores organizados através de sindicatos, foi revelado o potencial crítico dos receptores da televisão, especificamente, do Jornal Nacional. Segundo o autor, ―a simples disposição de participar de qualquer tipo de atividade coletiva‖ já era um elemento que diferenciava os trabalhadores dos demais colegas (1985, p. 136), o que nos instiga a realizar este trabalho. A opção inicial pelo objeto midiático telenovela foi impossibilitada pelas normas institucionais estabelecidas pelo colegiado do curso de Jornalismo da UFSM, assim, na dissertação resolvemos retomar o objeto em função de nossa trajetória de pesquisa desde a iniciação científica no grupo de pesquisa do qual fazemos parte. A construção do conhecimento é vista aqui como um exercício constante de inovação e atualização, movimentos que se constroem sobre o saber já existente e consolidado. Com base nessa ideia, faz-se primordial para a elaboração de um projeto de pesquisa o levantamento5 de pesquisas já realizadas relacionadas ao tema deste trabalho. Buscamos por pesquisas nos seguintes locais: Biblioteca Digital Brasileira de Teses e Dissertações (BDBTD), na Biblioteca Digital de Teses e Dissertações da Universidade de São Paulo (USP), nos anais da Sociedade Brasileira de Estudos Interdisciplinares da Comunicação (INTERCOM), nos anais da Associação Nacional dos Programas de Pós-Graduação em Comunicação (COMPÓS), no livro Meios e Audiências II: a consolidação dos estudos de 5. De acordo com os eixos teóricos e empíricos propostos para o projeto, as buscas foram realizadas através das seguintes palavras-chaves: Mulher, Gênero, Relações de gênero, Feminismo, Feminista, Movimento Feminista; Melodrama, Telenovela, Novela, Ficção, Ficção seriada; Recepção, Consumo, Mídia, Comunicação; Economia Solidária. Todas as buscas foram realizadas com o cruzamento entre as palavras-chaves..

(30) 30. recepção no Brasil, organizado por Nilda Jacks, no Meios e Audiências III: reconfigurações dos estudos de recepção e consumo midiático no Brasil e na Revista Estudos Feministas. Dentre os onze trabalhos que mais se aproximaram da temática desta pesquisa, apenas um se apresentou como estudo de recepção midiática por mulheres organizadas: O fenômeno Rádio Mulher: Comunicação e Gênero nas Ondas do Rádio, defendido por Ana Veloso (2006), que consistiu em um estudo da produção e da recepção radiofônica por integrantes de movimentos de mulheres. Essa pesquisa foi útil ao projeto pela densa construção teórica realizada pela autora que conseguiu, a partir de teóricas feministas, sintetizar as relações entre o movimento de mulheres e o movimento feminista. Outras duas pesquisas de recepção encontradas no levantamento contribuíram com as definições deste projeto principalmente com relação às possíveis articulações teóricas e metodológicas a serem feitas, nos fazendo refletir sobre as possibilidades e os empreendimentos a serem suprimidos. São elas: Telenovela e identidade feminina de jovens de classe popular, defendida por Lirian Sifuentes (2010), que tratou da relação entre identidade feminina e telenovela articulando classe e gênero e a tese da pesquisadora: ―Todo mundo fala mal, mas todo mundo vê”: Estudo comparativo do consumo de telenovela por mulheres de diferentes classes (2014), que tratou sobre o consumo de telenovelas por mulheres de distintas classes sociais. Nosso entendimento é o de que esta pesquisa contribui para o estado do conhecimento no campo da comunicação e para o subcampo de recepção latino-americano por tratar do processo de recepção de telenovela por mulheres auto-organizadas. O esforço empreendido com a articulação dos eixos visa superar, mesmo que em pequena escala, a separação entre os trabalhos da área da comunicação daqueles que tratam da Economia Solidária, que são realizados em boa parte na área do Serviço Social. Conforme indicou o levantamento, os trabalhos realizados na área da comunicação têm focado em pesquisas de recepção cujas amostras não são compostas por mulheres engajadas em movimentos ou causas sociais6. Quanto à divisão e a estrutura do trabalho: no capítulo II, em 2.1, apresentamos o entendimento da recepção pela via dos estudos culturais latino-americanos e das Mediações Comunicativas da Cultura como base, principalmente, em autores como Gomes (2004), Escosteguy (2001; 2010), Sifuentes (2014) Ronsini (2011) e Martín-Barbero (2002). No subitem 2.1.1 versamos acerca das técnicas de pesquisa empregadas para a investigação e, em. 6. Isso não significa que tais pesquisas não tenham se dedicado à análise sociocultural dos processos de recepção..

(31) 31. 2.1.1.1 apresentamos notas relativas à inserção da pesquisadora no campo empírico da pesquisa. No capítulo de número III, em 3.1, tratamos acerca da construção social da mulher, baseando-nos em teóricas vinculadas à teoria feminista que nos auxiliam a pensar a questão de gênero como uma categoria de análise relacional. São elas Scott (1990), Adelman (2009), Piscitelli (2002) e Saffioti (1992; 2004; 2013). Além disso, como forma de situar a pesquisa sobre gênero na América Latina e pensar a partir das particularidades da amostra, trazemos Lagarde (1996) e Alvarado (2014) Em 3.2 a economia solidária é tratada e relacionada às questões de gênero com base em Lima (2006), Gohn (2008; 2011), Singer (2002) e Guerín (2005). Nesse mesmo item versamos sobre o histórico de cidade de Santa Maria como polo de ação de Economia Solidária, bem como sobre a trajetória de um Projeto ao qual as entrevistadas se vinculam. Após, em 3.2.2, tratamos sobre a articulação entre classe social e gênero para o estudo da recepção midiática por mulheres que se auto-organizam com base na economia solidária, trazendo como referência principal Saffioti (1992; 2004; 2013). No subitem 3.3 apresentamos um breve histórico de surgimento e consolidação da telenovela a partir Junqueira (2013) e Meirelles (2009) e a forma como definimos o gênero televisivo com Lopes (2009) e Hamburger (2005). Em 3.3.1 abordamos ainda as relações que se estabelecem entre a crítica feminista e os estudos culturais de origem britânica para compreendermos as relações entre o feminismo e o melodrama com Escosteguy (2001; 2010; 2016) e Meirelles (2009). No capitulo IV, que trata da socialidade, iniciamos pela apresentação das entrevistadas com base em pequenos perfis acerca de suas trajetórias como mães, esposas e trabalhadoras. Após essa parte, em 4.1 apresentamos o histórico de formação e de organização da Associação, enfatizando desde quando essa existe, os porquês, como e com quem ocorrem as reivindicações e ações das mulheres. Tratamos das aproximações das entrevistadas com os movimentos sociais - enfatizando o feminista - e sobre algumas mudanças percebidas por essas mulheres a partir de suas participações na Associação, principalmente no que se refere às relações de gênero. Em 4.1.1 aprofundamos suas trajetórias no âmbito do trabalho e versamos sobre as representações que elas elaboram sobre essa esfera. Também são tratadas nesse capítulo, em 4.2, as relações que elas tiveram e têm com as famílias, que nos permite entender essa esfera como uma mediação. Em 4.2.1 tratamos as percepções das entrevistadas acerca da maternidade e em 4.2.2 sobre as relações afetivas – sexualidade, com base em suas experiências..

(32) 32. No capítulo V, sobre a ritualidade, primeiramente, em 5.1, apresentamos um panorama geral sobre o acesso e consumo de mídia das entrevistadas. De forma a nos aproximarmos da tecnicidade com foco no texto midiático, em 5.2 realizamos uma explanação acerca do conceito de representações sociais e midiáticas com base em Jodelet (2001) e França (2004). Trataremos mais especificamente das representações sobre gênero em telenovelas com base naqueles personagens e tramas mencionados por elas ao longo da pesquisa de campo. Para finalizar essa parte, nos basearemos em Almeida (2013) e em Meirelles (2009), assim como a partir das conclusões das pesquisas de Sifuentes (2010; 2014), de Wottrich (2011) e Silva (2011). Em 5.2.1 apresentamos informações a respeito de como e quando as mulheres começaram a assistir telenovelas. Em 5.2.1.1 versamos as percepções sobre maternidade nas tramas. Em 5.2.1.2 são apresentadas suas percepções do trabalho nas novelas e em 5.2.1.3 as relações afetivas e sexualidade. O item 5.3 é composto pelos resultados e reflexões acerca da aplicação do método texto em ação. Em 5.3.1 intentamos retomar o papel das mediações nas experiências e produções de sentido das mulheres sobre as telenovelas. Em 5.4, alguns apontamentos gerais sobre as mediações e suas relações com os contextos em que se inserem as mulheres. Em 6, as considerações finais do trabalho..

(33) 33. 2. ESTUDO DE RECEPÇÃO PELA VIA DAS MEDIAÇÕES COMUNICATIVAS DA CULTURA. 2.1 ENTENDENDO A RECEPÇÃO COM JESÚS MARTÍN-BARBERO. Ao versarmos acerca das relações que se estabelecem entre os estudos de recepção e o modelo das mediações é imprescindível apresentar, mesmo que de forma não prolixa, as contribuições dos estudos culturais latino-americanos para o subcampo da recepção. Entendemos que essa vertente considera as peculiaridades da América Latina, advindas de um histórico marcado pela colonização e – consequentemente ou não – por distintas formas de dominação (GOMES, 2004, p. 74). Ainda, a compreensão de que os estudos culturais são a vertente em que aparecem situados os chamados estudos de audiência ou de recepção (COGO, 2007, p. 1) implica na apresentação das relações entre a perspectiva e o subcampo. Alertamos para o fato de que esta discussão não preza pelo ineditismo, na medida em que é realizada frequentemente por pesquisadores da área, mas segue sendo compreendida como essencial para a construção do conhecimento nesse âmbito. De acordo com Johnson (2010, p. 18-19), cada abordagem disciplinar consegue revelar um pequeno aspecto da cultura, o que, entendemos, gera a necessária inter, trans ou mesmo anti disciplinaridade do campo dos estudos culturais, vistos como ampliadores de avenidas entre disciplinas para o entendimento de diversos fenômenos que se relacionam à cultura e/ou aos processos comunicacionais. Isso leva à compreensão de que também se faz possível uma abordagem conjunta da vertente britânica e da latino-americana que não abdique das peculiaridades dos processos ocorridos em cada território nos diferentes períodos de institucionalização do campo. Nos anos 1960, a pesquisa em comunicação na América Latina portava marcas das análises de cunho funcionalista advindas da América do Norte, forma essa de pesquisar o processo comunicativo que entendia as audiências como passivas e sujeitas à manipulação advinda dos meios de comunicação, vistos como instrumentos de transformação social (JACKS E OROZCO-GÓMEZ, 2015). Já as análises advindas da Escola de Frankfurt, de origem europeia, eram latentes nas pesquisas em comunicação na América Latina a partir do conceito de Indústria Cultural, apresentado por Adorno (1978). Nessa perspectiva, a ênfase recaiu na crítica da mercantilização das formas culturais, que levaria a compreensão dos meios de comunicação, entre eles, principalmente a televisão, como possuidores de um caráter.

(34) 34. ideológico negativo que atingiria a consciência e a inconsciência das massas através do reforço do status quo. Foi no contexto de ditaduras e de redemocratização, a partir do surgimento de movimentos de resistência aos governos autoritários e suas estratégias de repressão e discriminação, que as práticas de comunicação alternativa e popular surgiram, apresentando um status distinto dos receptores, que passam, então, a serem considerados como agentes históricos e cidadãos. Dessa forma, a resistência e a comunicação popular são as chaves para o desenvolvimento dos estudos de recepção na América Latina7 (JACKS, OROZCO, 2015). Como visto até final dos anos 70, a existência de um paradigma hegemônico era predominante no estudo da comunicação na América Latina, constituído pelo que MartínBarbero (2003, p. 280-283) intitula como ideolologismo e informacionismo – que inferimos, referem-se às concepções da Escola de Frankfurt e aquelas de cunho funcionalistas, respectivamente. De forma geral, esse paradigma tinha como foco a análise da comunicação pela concepção teológica do poder – onipresente e onipotente - advindo dos meios, que levava à crença de que a análise de objetivos econômicos e ideológicos desses meios era suficiente para a compreensão dos usos realizados pelos consumidores. Esse modo de compreender os processos comunicacionais, situados fora do exame das condições sociais de produção do sentido, acabava por eliminar a configuração das lutas pela hegemonia e a uma espécie de dissolução do político, ou seja, da ―emergência da opacidade do social enquanto realidade conflitiva e cambiante, emergência esta que se realiza através do incremento da rede de mediações e da luta pela construção do sentido da convivência social‖ (MARTÍNBARBERO, 2003, p. 284). Para além das limitações desse paradigma dominante de pesquisa, a partir de processos sociais ocorridos em solo latino-americano, como a transnacionalização e envolvimento com uma concepção renovada do político, se pode visualizar uma valorização do âmbito cultural pela compreensão deste como algo que assinala percepções inéditas de conflito social, formação de novos sujeitos e formas de rebeldia e de resistência (MARTÍNBARBERO, 2003, p. 287) - que vão além do âmbito objetivo. A partir das reconfigurações das relações entre cultura e política (a primeira adquire um status relativamente autônomo principalmente no contexto dos regimes ditatoriais, inserindo-se no âmbito político) torna-se fundamental a compreensão da natureza comunicativa da cultura, movimento que leva a. 7. No terceiro capítulo abordaremos o desenvolvimento dos estudos de comunicação latino-americanos e brasileiros que tiveram como objeto a telenovela (em relação à categoria de análise gênero), trajetória essa que de certa forma remonta o caráter de resistência da cultura popular assinalado aqui..

(35) 35. pensar os processos de comunicação a partir dela e enfraquece a redução desses processos à problemática das tecnologias e dos meios. Segundo Escosteguy e Jacks (2005), de forma alternativa às análises funcionalistas, da dependência cultural e frankfurtianas emergem, assim, pesquisas que privilegiam conexões entre comunicação e cultura em um movimento teórico crítico expresso pela passagem de um marxismo determinista para um de corte gramsciano. No contexto latino-americano, o marxismo foi criticado por Martín-Barbero e García-Canclini, autores que rejeitam as teses do reducionismo e do determinismo econômico e a concepção marxista de ideologia como forma de pensar a mídia – enquanto discurso ideológico em um sentido negativo, tal qual as pesquisas funcionalistas -, a sociedade e as relações entre sujeitos. A ênfase marxista, segundo os estudiosos latino-americanos, mantinha a cultura como um reflexo da estrutura econômica da sociedade e o termo ideologia era diretamente relacionado com a dominação exercida pela classe dominante. O enfoque no espaço cultural do receptor permitiu que se investigasse ―o papel das mediações na configuração da relação entre sujeito receptor e meios de comunicação e não apenas as indicações da sua influência ideológica, das leituras diferenciadas do seu discurso ou da atividade do receptor‖ (ESCOSTEGUY E JACKS, 2005, p. 87). Para Hall, GarcíaCanclini e Martín-Barbero a cultura não é determinada pela estrutura e a ideologia não é mero reflexo das condições de produção, sendo que são constituídas e constituem a estruturação da sociedade (ESCOSTEGUY, 2010, p. 91). Assim, a cultura é vista como um espaço de produção social e não somente de reprodução, constatando a indissolubilidade entre o simbólico e o econômico, o material e o cultural, mas não tratando nenhum desses como determinantes sobre os outros. De acordo com o conceito de hegemonia de Antonio Gramsci, a ideia de cultura popular consiste na capacidade dessa em expressar e constituir relações de poder. Os interesses e as demandas advindos das culturas populares emergem nas análises 8, sendo que o foco dos pesquisadores passa a recair sobre as formas de escape ao poder das indústrias midiáticas nacionais e internacionais. Pela ênfase que a pesquisa de recepção oferece à valorização da cultura como local que incide na estruturação das relações entre receptor e mídia, ―as análises de recepção são as investigações empíricas sobre a relação entre 8. No caminho que Martín-Barbero trilha para se inserir na investigação acerca dos usos do massivo pela cultura popular, o autor vê no Romantismo uma forma de valorizar a cultura que advém do povo, entretanto, nessa perspectiva, a originalidade da cultura popular residiria na não contaminação pelas culturas dominantes. Para o autor, isso negaria o sentido social das diferenças culturais, ponto em que justamente ele adentra quando parte da investigação dos movimentos sociais e das mediações a partir da valorização da cultura nos processos de redemocratização vividos na América Latina..

(36) 36. mídia e audiência realizada dentro do quadro teórico-metodológico dos estudos culturais‖ (GOMES, 2003, p. 29). Os estudos culturais, como um todo, propõe, assim, uma redefinição da cultura como um processo que produz sentidos, substituindo a produção canônica e pregando a valorização da cultura popular como discurso social de relevância (ESCOSTEGUY, JACKS, 2005, p. 39). Segundo Gomes (2004), leitor, espectador e receptor não são sujeitos textuais, mas sujeitos sociais, o que significa, para os estudos culturais, sujeitos que têm uma história, vivem em uma formação social particular (que deve ser compreendida em relação a fatores sociais tais como classe, gênero, idade, região de origem, etnia, grau de escolaridade) e que são constituídos por uma história cultural complexa que é ao mesmo tempo social e textual. Essa necessidade de inserir as apropriações no contexto estruturado do receptor nos faz entender, assim como Lopes, Borelli e Resende (2002, p. 14) que a recepção midiática é um momento que ultrapassa o momento do ver televisivo e se torna um processo amplo que engloba processos subjetivos e objetivos, os considerados micro, controlados pelos receptores e os macro, que se referem às estruturas sociais e de poder que não estão no controle da audiência. De acordo com Escosteguy (2001, p. 53) para os estudos culturais como um todo, interessa, em primeiro lugar, especificar o que caracteriza seu objeto de estudo, considerado de forma genérica dentro da ideia de ―atividade da audiência‖. Esta deve ser vista em relação aos processos e estruturas sócio-políticos, isto é, em relação aos processos e estrutural e cultural através dos quais a audiência é constituída. Desta forma, a aproximação à ―atividade da audiência‖ está sempre relacionada com operações do poder social, isto é, como as relações de poder estão organizadas dentro de práticas diversas e heterogêneas de consumo dos meios.. Nesse sentido, como reforça Johnson (2010, p. 22), a luta deve ser travada sobretudo contra a falta de conexão que ocorre ―quando os Estudos Culturais são dominados por propósitos meramente acadêmicos ou quando o entusiasmo pelas formas culturais populares é divorciado da análise do poder e das possibilidades sociais‖. De forma geral, então, é a partir da perspectiva dos estudos culturais que os estudos da recepção midiática foram deslocados das abordagens que priorizavam o efeito dos meios e das mensagens para o enfoque no momento da recepção propriamente dita, o lugar em que se consolida o processo comunicativo, que é entendido não apenas como uma etapa do processo de comunicação, mas, sim, um lugar novo que possibilita o pensamento dos estudos e da pesquisa em comunicação (MARTÍN-BARBERO, 2002, p. 39). Assim, mais que interessante,.

(37) 37. é primordial destacar que a recepção é, antes de qualquer coisa, uma perspectiva de investigação, e não uma área de pesquisa sobre mais um dos componentes do processo de comunicação, neste caso, o público. As contribuições de Martín-Barbero9 são fundamentais para pensar a recepção midiática, já que o autor se propõe a situar a comunicação no campo da cultura, isso significa deixar de pensar os processos comunicacionais como isolados dos contextos em que estão imersos os indivíduos; fato comum no estudo de bairros considerados populares. Nesse sentido, a cotidianidade passa a ser percebida como possível espaço de criatividade e de liberdade, o consumo começa a ser entendido não somente através de uma concepção reprodutivista e/ou culturalista, permitindo, assim o que Martín-Barbero denomina como ―uma compreensão dos diferentes modos de apropriação cultural, dos diferentes usos sociais da comunicação‖ (MARTÍN-BARBERO, 2003, p. 292). Assim, passa-se a fazer pesquisa não pela análise das lógicas de produção e recepção para depois procurar suas relações de enfrentamento ou imbricação, mas partindo das mediações, ―dos lugares dos quais provem as construções que delimitam e configuram a materialidade social e a expressividade cultural da televisão‖ (2003, p. 294). O mapa noturno, apresentado em De los medios a las mediaciones (1987) assinala o estudo de três lugares de mediação: cotidianidade familiar, temporalidade social e competência cultural, que, mais tarde, no artigo De los medios a las practicas (1990), transformam-se em três dimensões: socialidade, ritualidade e tecnicidade (RONSINI, 2011, p. 84). Ao partir das Mediações Culturais da Comunicação para um mapa teórico que trata das Mediações Comunicativas da Cultura – socialidade, ritualidade, tecnicidade e institucionalidade - no livro Ofício de Cartógrafo (2002), Martín-Barbero sinaliza a importância de olhar a cultura a partir da comunicação. Isso expressa, segundo Ronsini (2011, p. 82), ―a complexidade envolvida na relação entre comunicação, cultura e política e o protagonismo dos meios na sociedade da informação‖, o que leva a pesquisa de recepção a enfatizar a análise da constituição do cultural pelas mediações comunicativas. Martín-Barbero (2002, p. 228-229) afirma que nos anos 90 é necessário compreender a comunicação como um movimento que atravessa e desloca a cultura porque ―a mediação 9. Apesar da ligação direta que realizamos aqui entre Martín-Barbero e García-Canclini e os estudos culturais, Meirelles (2009, p. 109) aponta que estes autores se associam ―à teoria latino-americana da comunicação, que na virada dos anos 1980 para 1990 contribuiu, entre muitos aspectos, para a divulgação e a discussão das propostas dos estudos culturais, notadamente das ideias de (Raymond) Williams e (Richard) Hoggart‖, considerados, juntamente com Edward Thompson, os pais fundadores da vertente britânica dos estudos culturais..

(38) 38. tecnológica da comunicação deixa de ser meramente instrumental para se converter em estrutural‖. Atualmente, segundo o autor, mais que a novidade de alguns aparelhos, a tecnologia consiste em ―novos modos de percepção e de linguagem, novas sensibilidades e escritas, à mutação cultural que implica a associação do novo modo de produzir com um novo modo de comunicar que converte o conhecimento em uma força produtiva direta‖ (MARTÍNBARBERO, 2002, p. 228-229). O lugar da cultura muda também quando processos de globalização econômica e informacional reavivam as questões das identidades culturais, sejam elas étnicas, raciais, locais, regionais, etc.. São estas mudanças, no âmbito da tecnicidade e das identidades, que levam o autor a formular o mapa das Mediações Comunicativas da Cultura, que precisa dar conta. da complexidade das relações constitutivas da comunicação na cultura, pois as mídias passaram a constituir um espaço chave de condensação e interseção da produção e do consumo cultural, ao mesmo tempo em que catalisam hoje algumas das mais intensas redes de poder. (MARTÍN-BARBERO, 2002, p. 229).. O modelo apresentado pelo autor é formado por dois eixos: o diacrônico (de longa duração) liga as Matrizes Culturais (MC) e os Formatos Industriais (FI) e um eixo sincrônico, que tensiona as Lógicas de Produção (LP) e as Competências de Recepção ou Consumo (CR). Segundo Ronsini (2011, p. 88), as MC ―condensam a produção hegemônica de comunicação baseada no capital e nas transformações tecnológicas e sua cumplicidade com o imaginário subalterno‖; os FI consistem no ―tratamento das formas simbólicas e sua transformação em discursos, gêneros e programas‖; as LP preocupam-se com a ―organização das formas culturais em termos de interesses do Estado e de mercado na regulação dos discursos pela técnica de atender às demandas da recepção e, ainda, aos interesses políticos e econômicos institucionalizados que incidem nas formas culturais‖ e, por último, nas CR encontram-se ―as práticas sociais que condicionam a produção de sentido‖ por parte dos receptores. As relações que se estabelecem entre MC e LP são mediadas por diferentes regimes de Institucionalidades, entre MC e CR existem as socialidades, entre LP e FI medeiam as tecnicidades e entre FI e CR estão as ritualidades. De acordo com Martín-Barbero e Munhoz (1992 apud LOPES, BORELLI E RESENDE, 2002, p. 39), as mediações são esse lugar de onde é possível compreender a interação entre o espaço da produção e o da recepção: o que se produz na televisão não responde unicamente a requerimentos do sistema industrial e a estratagemas comerciais, mas também a exigências que vêm da trama cultural e dos modos de ver..

(39) 39. Figura 1 – Modelo das Mediações Comunicativas da Cultura. Fonte: (RONSINI, 2011, p. 84 apud MARTÍN-BARBERO, 2003, p. 16). A socialidade, segundo Martin-Barbero (2002, p. 231), ―dá nome à trama de relações que tecem os homens ao se juntar, e nas quais se ancoram os processos primários de interpelação e constituição dos sujeitos e identidades‖. A comunicação, nesse caso, é mais uma questão de fins do que de meios, enquanto mundo da vida em que se insere, e de onde opera, a práxis comunicativa, sendo que nesse comunicar se mobilizam e se expressam dimensões básicas do ser social: da construção e permanecimento da coletividade, tecendo negociações que referendam o poder e outras que tentam minar sua hegemonia (MARTÍNBARBERO, 2002, p. 231). De uma forma prática, a socialidade ―concerne às relações sociais, ao indivíduo/sujeito e seus múltiplos pertencimentos identitários com base em referentes individuais, de gênero, etnia e geração que são estruturados a partir de uma posição de classe‖ (RONSINI, 2011, p. 92). Ao se situar entre as Matrizes Culturais e as Competências de Recepção ou Consumo, a socialidade conecta "a tradição cultural com a forma como os receptores se relacionam com a cultura massiva‖, sendo ―o lugar das práticas sociais, onde as pessoas estão em constante negociação com a ordem vigente‖ (RONSINI, 2011, p. 88). Entendemos que na socialidade estão embutidas a cotidianidade familiar – a relevância da família como espaço essencial de leitura e codificação dos textos midiáticos –, incluindo as competências culturais – que remetem a diferenças sociais mais amplas, como o pertencimento de classe – e, nesse trabalho, a Associação. Assim, investigamos as mediações.

(40) 40. sociopolíticas da família10 e da Associação com foco na forma como as mulheres que compõem a amostra da pesquisa foram educadas para ser mulheres, o quê elas aprenderam sobre ser mulher, com o que elas romperam ou o quê reproduzem na educação dos filhos e nos seus modos de viver; quais são os significados da Associação para cada uma, como elas vêm incorporando princípios que regem a Associação; como ocorrem as relações na Economia Solidária e com o movimento feminista; como se dão as divergências e convergências entre os valores e comportamentos endossados pela família e aqueles levados para si a partir da Associação; como elas se veem como mulheres, o que compreendem pela maternidade, pelo trabalho, pela sexualidade e relações afetivas e como tudo isso é atravessado pelas divergências e convergências citadas, entre outros pontos que nos permitem uma aproximação com as experiências dessas mulheres. Com Ronsini (2011, p. 75) compreendemos que na pesquisa de recepção podemos tangenciar os processos produtivos da indústria cultural, sendo que não necessitamos nos dedicar teórica e empiricamente ao exame das ideologias profissionais, das rotinas de produção, de produtos e de práticas. Em um sentido restrito, Ronsini (2011, p. 88) afirma que a tecnicidade pode ser adotada como ―o emprego das técnicas de produção audiovisual na produção de um texto que modela tanto as práticas dos receptores como seus modos de representação do social11‖. Mesmo que haja essa possibilidade, neste trabalho não abordamos a esfera da produção. Focamos aqui na necessidade de abarcar o estudo do texto, que, segundo a autora, eventualmente pode ser efetuado a partir de uma compilação de conclusões que já foram levantadas por pesquisadores do gênero em questão, neste caso, a telenovela (RONSINI, 2011, p. 76). Assim, nessa pesquisa apresentamos um panorama acerca das representações femininas nas novelas com base nas tramas que as entrevistadas citaram, bem como apresentamos as conclusões de pesquisas de recepção que focaram na análise das representações, painel que possibilita perceber a forma como o gênero ficcional também pode fazer parte da memória das mulheres. Martín-Barbero (2002, p. 233) afirma que a ritualidade remete aos diferentes usos sociais da mídia e aos trajetos de leitura, ―marcados pelos níveis da educação, pelos haveres e 10. O entendimento da família como uma mediação sociopolítica advém das possibilidades colocadas pelas problematizações realizadas no movimento feminista de segunda onda, que passa a tratar do espaço privado como permeado por relações de poder. 11 Em um sentido expandido, a autora supracitada afirma que a tecnicidade pode ser tomada como ―estatuto social da técnica, aí demandando outro tipo de pesquisa, tal como a desenvolvida por Castells (2000), em A sociedade em rede, na qual o autor constata o surgimento, no século XX, de uma nova fase de desenvolvimento do modo de produção capitalista baseada nas tecnologias de processamento da informação e de comunicação de símbolos‖ (RONSINI, 2011, p. 88)..

Referências

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