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Pressupostos processuais

No documento TEORIA GERAL DO PROCESSO (páginas 53-58)

São os requisitos necessários de existência e de validade do processo, sem os quais o processo não se desenvolverá regularmente, podendo ser anulado, ou sequer existirá. É a primeira categoria onde repousará a cognição do juiz, para que, então, possa analisar o mérito da causa.

6.3.1 classificação dos pressupostos processuais

✓ pressupostos processuais de existência: necessários para o processo existir. Se subdividem em:

a) subjetivos => estão ligados ao juiz (jurisdição – pois não existe processo perante oficial de justiça, professor etc) e às partes (capacidade de ser parte – só quem é dotado de personalidade jurídica, como pessoas físicas, jurídicas e, excepcionalmente, entes despersonalizados).

b) objetivo => demanda. Só há processo se houver provocação/exercício do direito de ação, o qual se dá por meio de um ato processual denominado demanda. Este ato, por sua vez, materializa-se através de um instrumento denominado petição inicial.

✓ pressupostos processuais de validade: dizem respeito ao desenvolvimento regular do processo, que já existe. Também se subdividem em:

a) subjetivos: também estão ligados:

EM SUMA: Só haverá processo se alguém, com capacidade de ser parte,

53 a.1) ao juiz: competência - se o juízo for incompetente, o processo estará viciado. Entretanto, tal vício é corrigível, podendo os autos ser deslocados para o juízo competente. Se tal fato ocorrer nos Juizados, o processo é extinto; e imparcialidade, pois se o juiz conduzir o processo quebrando sua imparcialidade ou isenção, maculado estará o processo. O juiz pode se declarar suspeito ou a parte poderá alegar a suspeição ou o impedimento do juiz dentro do prazo legal (defesa), sendo ele substituído por outro magistrado na condução do feito.

a.2) às partes: capacidade processual ou de estar em juízo (corresponde à capacidade civil, prevista no art. 5º do CC/02); capacidade postulatória (para praticar os atos processuais, que requerem técnica específica, deverá a parte estar representada por um advogado , devidamente inscrito nos quadros da OAB, mediante um contrato de mandato, o qual se instrumentaliza pela procuração); e, por fim, a legitimidade das partes (antes entendida como condição da ação). Quanto à esta última, merece se fazer algumas observações:

Legitimidade é diferente de capacidade. Nem toda pessoa capaz pode estar legitimada para a prática de determinado ato jurídico. A legitimação traduz numa capacidade

específica para determinados atos da vida civil. O tutor, por exemplo, embora maior e capaz,

não poderá adquirir bens móveis ou imóveis do tutelado, sendo ilegítimo para tanto. Dois irmãos, da mesma forma, maiores e capazes, não poderão se casar entre si. Falta-lhes legitimidade ou capacidade específica para o ato.

A mesma avaliação pode ser feita com relação às partes de um processo. Só serão capazes especificamente para travarem uma relação jurídica processual aqueles que hipoteticamente figuraram também na relação jurídica material. É, nos dizeres de Carnelutti,

“a pertinência subjetiva da ação”, ou seja, a pertinência entre as partes processuais e as da lide.

Portanto, numa ação de despejo, serão autor e réu o locador e o locatário, respectivamente. Aquele que tiver fora da relação de locação, como, por exemplo, o sublocatário, será considerado terceiro interessado, e não parte legítima.

Quando coincidirem as partes do processo com as da lide, diz-se que a legitimidade é

ordinária.

Entretanto, existem casos em que a lei autoriza outrem, que não titular do direito ou interesse material, a pleiteá-lo em juízo em seu lugar. Assim, se não houver correspondência entre os sujeitos do processo e da lide, de modo que quem figura na relação processual não é o mesmo da relação material, ocorre o que denominamos de legitimidade extraordinária ou substituição processual, prevista indiretamente no art. 18, NCPC, que diz: “ninguém poderá

54 Exemplos: 1) o Ministério Público quando, pela natureza da lide ou qualidade da parte, houver interesse público na causa (ação civil pública, ação de improbidade administrativa etc) – art. 177, NCPC;

2) o sindicato, na defesa dos interesses da categoria – art. 8º, III, CF/88; 3) o condomínio, na defesa dos interesses comuns – art. 1348, III, CC. A legitimidade extraordinária, portanto, só é admitida excepcionalmente, quando houver previsão legal, o que faz dela a exceção e não a regra.

b) objetivos: subdividem em intrínsecos e extrínsecos:

b.1) intrínseco => deve-se respeitar o procedimento (por exemplo, a comunicação dos atos processuais – citação /art. 239).

b.2) extrínsecos => positivo (está de fora do processo e deve existir para que o processo seja válido) ou negativos (não podem existir para que o processo seja válido).

É considerado pressuposto extrínseco positivo a então condição da ação interesse de agir, pois que é fato que deve existir para que a instauração do processo se dê validamente. Se faltar interesse de agir, o pedido não será analisado.

Consiste na utilidade de obter um proveito, um resultado mediante o provimento jurisdicional, bem como na necessidade de se recorrer ao Judiciário para obter este proveito. Está previsto no art. 17, NCPC. Ex: ação de cobrança => expor o crédito e a impossibilidade de obtê-lo diante da recusa de cumprimento espontâneo do devedor; ou ação monitória quando se tem um documento sem força executiva; inventário judicial quando há herdeiros menores.

O réu tem também interesse, mas de reagir, embora não precisa demonstrá-lo, pois decorre do próprio fato de haver sido citado para a ação.

Por outro lado, são considerados pressupostos extrínsecos negativos:

- litispendência: quando se repete a ação que está em curso (coexistência de duas ou mais ações idênticas, ou seja, que tenham as mesmas partes, mesma causa de pedir e mesmo pedido) – art. 337, §3º, NCPC.

- coisa julgada: quando se repete a ação que já foi decidida por decisão transitada em julgado – art. 337, §4º, NCPC.

- perempção: é a perda da faculdade de demandar contra o réu, pelo mesmo objeto, quando o autor já deu causa, em outras três oportunidades, à extinção do processo por abandono da causa – art. 486, §3º, NCPC.

- convenção de arbitragem: acordo prévio feito pelas partes de abrirem mão da jurisdição estatal e optarem pela arbitragem como meio de solução de seus conflitos.

55 6.4 Sujeitos do Processo

São sujeitos do processo (a relação jurídica processual é triangular):

- AUTOR: que ocupa o pólo ativo, pois foi quem procurou a jurisdição pelo exercício da ação. - RÉU: que ocupa o pólo passivo e que vai responder pela ação.

- JUIZ: que está numa posição soberana, porém eqüidistante das partes, pelo fato de exercer a jurisdição.

Os dois primeiros sujeitos -autor e réu - são conhecidos como PARTES. Logo, concluímos haver no processo apenas duas partes a ATIVA e a PASSIVA.

O conceito de partes é importante na medida em que determina os efeitos da sentença, os quais, regra geral, só alcançam elas, e também porque as diferenciam do chamando terceiro. Aliás, essa é a inteligência do artigo 506 do NCPC, in verbis: “A sentença faz coisa julgada às partes

entre as quais é dada, não prejudicando terceiros”.

Entretanto, quando a lei autoriza é possível ao terceiro ingressar, intervir no processo como parte. Nesse caso, o terceiro interveniente deixará de ser mero terceiro, adquirindo regra geral a condição de parte, o que incluir o fato de ser alcançado pelos efeitos da sentença. São espécies de intervenção de terceiros previstos no NCPC: a assistência (arts. 119 a 124); a denunciação da lide (arts. 125 a 129); o chamamento ao processo (arts. 130 a 132); o incidente de desconsideração da personalidade jurídica (arts. 133 a 137); e o amicus curiae (art. 138), os quais serão estudados separadamente no próximo semestre.

O MP também pode figurar como parte quando atuar na defesa de interesse coletivo. Nesse caso, a sua atuação dar-se-á como substituto processual, posto que a sua legitimidade é extraordinária (artigo 177 do NCPC).

Coisa diversa é quando o MP atua como fiscal da ordem jurídica (custos legis) quando a causa versar interesse de menor questão de estado ou interesse público (artigo 178 do NCPC). Ele o fará não na condição de parquet ou de terceiro, mas atuará como uma espécie de amicus

curiae (amigo da corte).

Advogados, peritos, assistentes técnicos, oficial de justiça, etc, JAMAIS poderão ser entendidos como partes. O primeiro é figura indispensável à administração da justiça e os últimos, auxiliares da justiça.

56 6.4.1 Pluralidade de Partes (ou Litisconsórcio)

a) conceito e cabimento

É o fenômeno processual consistente na pluralidade de partes litigantes no mesmo pólo da relação processual. Segundo o art. 113 do NCPC, é possível ocorrer quando:

I - entre elas houver comunhão de direitos ou de obrigação relativamente à lide => aqui é o direito material, que lhes são comuns que vai permitir a formação do litisconsórcio. Ex: solidariedade ativa ou passiva, vários credores solidários acionam do mesmo devedor, ou vários devedores solidários sendo acionados pelo credor comum.

II) entre as causas houver conexão pelo pedido ou pela causa de pedir => basta a coincidência com o objeto ou com a causa de pedir. Isso para evitar decisões contraditórias e também por razão de economia processual. Ex. vítimas de um mesmo acidente automobilístico demandando contra o responsável por perdas e danos.

III) ocorrer afinidade de questão por um ponto comum de fato ou de direito => não se trata do mesmo fato, mas de fatos semelhantes, análogos. Ex: Ações de cobrança movida pelo síndico de condomínio em face de dois ou mais condôminos.

b) Espécies de litisconsórcio:

b.1) quanto ao número de litigantes: ativo (mais de um litigante no pólo ativo); passivo (mais de um litigante no pólo passivo); ou misto (mais de um litigante em ambos os pólos do processo).

b.2) quanto ao momento em que se forma: inicial (concomitante com o processo - é a regra); ou ulterior (se forma no curso do processo. Ex: aquele que ocorre quando falece uma parte e se habitam vários herdeiros).

b.3) quanto à uniformidade da decisão para os litigantes: unitário (decisão uniforme para todos os litisconsortes por participarem da mesma relação jurídica material cujo objeto seja indivisível. Ex: dois proprietários de uma vaca; ação reivindicatória por pessoas casadas em regime de comunhão) ou simples (quando a decisão não tenha que ser uniforme para todos os co- litigantes).

57 b.4) quanto à obrigatoriedade de sua formação: necessário (quando somente se pode formar validamente o processo com a presença de todos os litisconsortes no feito; segundo o art. 114 do NCPC, isso ocorrerá quando a lei prever ou quando a relação jurídica controvertida assim exigir) ou facultativo (aquele cuja formação não é obrigatória; é determinado pelas partes por razões de economia processual; mas nada obsta ao autor litigar sozinho ou demandar contra cada réu separadamente em ação distintas)

Vale registrar que não existe litisconsórcio necessário ATIVO, mas só passivo, pois ninguém é obrigado a ir a juízo juntamente com o outro, sob pena de violação ao princípio constitucional do acesso ao Judiciário.

Isso significa que ao contrário de litisconsórcio necessário, que será sempre passivo, o litisconsórcio simples poderá ser ativo ou passivo.

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